Sobre a Morte e o Morrer

Já senti medo da morte, assim como qualquer outra pessoa. Já evitei falar sobre ela e consequentemente esquivei-me de conversas para não ouvir o que outros pensavam sobre a morte. Hoje já não sinto medo e nem insegurança, a morte mais parece uma história mal resolvida e que nos dá tristeza do que algo que nos provoca medo.

Diz Schopenhauer, filósofo alemão, que o homem é o único animal que sabe por antecipação da sua própria morte, isso devido ao privilégio de possuir a razão. No entanto, este privilégio traz sofrimentos, pois o homem sofre para além do presente, passado e futuro, pois sua única certeza está justamente no seu fim. É esse saber antecipado que faz com que as pessoas evitem falar, ou falam exageradamente sobre a morte. Morrer não é a questão, a questão está em como prosseguir com a vida depois que alguém próximo morre.

Para Sartre, até mesmo a própria existência é um absurdo, tendo em vista que, embora tenhamos sonhos, projetos e aspirações, também carregamos a consciência da morte. Logo, para que buscar tantos significados para a vida, tantos projetos, se um dia iremos deixar de existir? No entanto, da mesma maneira que a morte não tem razão ou explicação, a existência também não se justifica por si mesma (CUNHA, 2010).  A consciência da finitude retira o significado da vida, pois se tratando do fim, a morte nada mais é do que a eliminação dos projetos do homem, a certeza de que um universo que não se conhece, o espera. Assim, ao contrário de Heidegger o qual diz que a morte é o que dá sentido à vida, têm-se na teoria sartriana a morte como algo que transforma a vida insignificante (ARANHA, 1993).

Então a morte é algo egoísta. Digo isto porque ela leva somente uma pessoa e deixa para trás sonhos, família, amigos e realizações. E então parece que não há motivos que nos façam querer continuar aqui na terra se logo ali, no futuro, algo vem e nos tira todo o sonho.

Existem inúmeras explicações a respeito do que seria a Morte, numa visão organicista a morte nada mais é do que o término do funcionamento da vida de um organismo, isso compila também com a visão médica, quando descreve que a morte é o cessamento das atividades corpóreas. Torres (2003), no entanto, ressalta que apesar de inúmeros debates e discussões que buscam encontrar uma única definição para a morte, não se é possível enquadrá-la, devido a toda a diferença cultural existente. Segundo a autora “os problemas suscitados pela definição da morte são mais complexos do que poderiam parecer e, como a escolha das definições dependem, a rigor, de crenças, e posições científicas e filosóficas, a discussão provavelmente continuará” (2003, p. 479).

É bem verdade que a morte de uma pessoa querida causa sofrimento em qualquer fase da vida, e que até mesmo o simples fato de falar sobre ela parece ser uma tarefa difícil, uma vez que esta traz sentimentos de angústia e medo, não somente pelas suas incertezas ou por surpreender, mas pela saudade deixada, pelo sentimento de vazio provocado pela perda de um ente querido.  No entanto ela é uma parte da vida do ser humano, algo estritamente ligado a sua existência. Falar sobre a morte deveria ser o caminho mais simples para que as pessoas começassem a entendê-la e aceitá-la. Morrer é uma condição natural dos seres-vivos, ciclos existem para serem fechados, sofrer também é uma condição natural, conversar sobre a morte é, portanto, uma maneira de compreender que a vida também tem seu ponto final.

Se eu pudesse descrever o que é a Morte, diria apenas que a morte é uma saudade que não dorme, é um cochilo que não acaba.

Referências:

ARANHA, M. L. A. Filosofando: Introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1993.

CUNHA, A. S. Finitude Humana: A perplexidade do homem diante da morte. 5º Encontro de Pesquisa na Graduação em Filosofia da Unesp. Vol. 3, nº 1, 2010. Disponível em: <http://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/FILOGENESE//AndersonSantanaCunha%28182-193%29.pdf>. Acesso em 20 de set. de 2012.

SCHOPENHAUER, A. Da Morte, Metafisica do Amor e Do Sofrimento do Mundo. Ed: Martin Claret. 1833/2001.

TORRES, A.N. A Criança Diante da Morte: Desafios. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.