A construção da Identidade e a Neurodiversidade

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“os diferentes não são um mundo à parte, sim parte do mundo” (        ).

O contexto atual da sociedade reflete suas diferenças e ao mesmo tempo seus padrões como linhas de corte entre saúde e doença, iguais e diferentes dialogam com muita dificuldade, assim trago uma discussão do pensamento sobre neurodiversidade e como os neurodiversos expressam sua participação no mundo.

Judy Singer, em 1999 cunhou este termo, para trazer em questão suas percepções e estudos a acerca do tema, que a incomodava, visto que era portadora da síndrome de Asperger (autismo leve), nome já não utilizado contemporaneamente, por ser incluída como parte do espectro autista. Por que não se pode ser normal uma vez na vida, por ser diferente (SINGER, 1999). Para Singer não se trata de uma doença, sim de uma diferença de conexão neurológica (neurological wiring) atípica ou neurodivergente. Não há o que curar, há um jeito de ser, que trás resultados e uma forma diferente de se relacionar e produzir.

Pessoas com tais diferenças foram autodenominadas por Singer de neurodiversos, considerando-se neurologicamente diferentes, ou neuroatípicos, tratando-se de uma diferença que merece respeito como outras diferenças, a exemplo raças, sexo.  Muitos denominados com autismo, principalmente autismo leve defendem que se a neuroatipicidade é uma doença então a neuroticidade também é, a crítica parte do pressuposto da inclusão, da igualdade de direitos entre os diferentes. Existe uma problematização que polariza a respeito do que é aceito e do que é produzido pelos especialistas, o questionamento de como os neurotípicos se comportam não conseguindo ficar sozinho, e os neuroatípicos não gostando de se relacionarem, trazendo a crítica de que nenhum estaria errado, que seriam apenas jeitos diferentes de se organizarem, produzirem e se sentirem bem (ORTEGA, 2008).

Essa problemática questiona algumas premissas e traz à tona questões paradigmáticas, referentes a curar o autismo compara-se a tentativa de curar o negro, o homossexual, canhoto ou autista, o que seria apenas parte da identidade do sujeito e não doença. Ortega (2008) sugere conceitos sobre o indivíduo, pessoa e sujeito, com o olhar de vários pensadores, sobre não ser uma categoria universal mesmo trazendo diferentes processos de individuação e de produção do indivíduo contemporâneo, assim agrega Louis Dumont (1992), Foucault (1976, 1984ª, 1984b), Charles Taylor (1989) Norbert Elias (1995), Alan MaFarlane (1992). Assim seriam muitas as formas de ser sujeito cerebral, em sua subjetividade construída histórica e socialmente.

Desafio trazido pelo movimento da neurodiversidade, registra a fala de autistas de alto funcionamento, com leves dificuldades, a complicação surge quando se fala de indivíduos autistas com baixo funcionamento, pois estes passam por muitas dificuldades, seus familiares também, como olhar com inclusão as diferenças de cada um. Se o autismo é um espectro não deve ser olhado como uma unidade fechada (ORTEGA, 2008).

Fonte: encurtador.com.br/deJV3

Pontos a serem discutidos são os efeitos ao desenvolvimento e as formas com que cada um lida, pois se a relação e o vínculo são vistos como fator de saúde como fica de lado este fator como sendo necessário a todos e demais pesquisas que indicam que pessoas vivem mais quando se relacionam bem e morrem mais quando se sentem sozinhas e ou isoladas, independente da motivação, isolamento não é visto como saúde (ORTEGA, 2008).

Faria e Souza (2011, p. 37) indicam que “A essência da identidade constrói-se em referência aos vínculos que conectam as pessoas umas às outras e considerando-se esses vínculos estáveis”. Na sociedade atual, em virtude dos inúmeros modelos identitários disponibilizados (ou impostos) – bem como pela sua volubilidade – e preponderância de vínculos impessoais, questiona-se: como pode-se construir uma identidade sólida? E quais as consequências ao sujeito mediante tais instabilidades e a neurodiversidade?

Os avanços tecnológicos têm possibilitado a comunicação instantânea entre partes distintas do globo, melhorando a inclusão dos mais tímidos, o que favorece os neurodiversos, pelas suas características. No entanto, a despeito da velocidade e quantidade de comunicação à distância, questiona-se o caráter das relações que se constituem nesse contexto. Escritores como Zygmunt Bauman (1998 apud SMEHA; OLIVEIRA, 2013) pontuam a ausência de relacionamentos verdadeiros enquanto resultado do medo de lidar com aspectos difíceis que os tais podem oferecer, bem como na forma de se desenvolver de cada um, visto que as relações genuínas são fontes de energia para o desenvolvimento genuíno da identidade desse sujeito.

O impasse dessas novas configurações reside no impacto das tais sobre a identidade. Se a pós-modernidade favoreceu o distanciamento das relações, somado ao que se oferece no mundo virtual, não há bases para a constituição de uma identidade, diga-se “segura”, no que tange a um suporte para melhor enfrentamento de crises. Primeiro, pela ausência de vínculos pessoais reais; e, segundo, pela instabilidade dos modelos oferecidos pelas mídias. Na conceituação de Bauman (2004a apud LEITE, et. al., 2016, p. 6), trata-se de um contexto de liquidez, “[…] onde tudo é temporário, e […] como os líquidos, ela caracteriza-se pela incapacidade de manter a forma. […] Quadros de referência, estilos de vida […] e convicções mudam antes que tenham tempo de se solidificar em costumes”. Fatores estes que sugerem um cuidado em incluir os neurodiversos, mas não deixar de entender que necessitam de amparo e apoio para que não se isolem mais que o necessário e deixem seu desenvolvimento saudável comprometido.

O isolamento e a busca de conforto nas redes sociais, através das máquinas são temas de pesquisas que comprovam que o gasto excessivo de tempo nas redes sociais favorece o sentimento de solidão e baixa autoestima (PAMOUKAGHLIAN, 2011 apud PIROCCA, 2012). A insatisfação a priori em áreas da vida também pode intensificar o uso das mídias, por implicar na ausência de habilidades para enfrentar contrariedades (BREZING, et. al., 2010; YOUNG, et. al., 2010 apud PIROCCA, 2012). Percebe-se, então, uma influência mútua entre ausência de suporte social e utilização exacerbada de redes sociais. Sem relacionamentos pessoais sólidos, aliado à fluidez dos modelos com os quais se mantém maior contato – através das mídias sociais –, tem-se um ambiente propício ao surgimento de distúrbios no funcionamento social e psíquico.

Fonte: encurtador.com.br/uGIY2

Fatos extremos que podem ser desencadeados a partir do isolamento social e sentimento de inferioridade e comparação é o problema de relacionamento, mais dificuldade de inclusão e até o suicídio. No entanto, ressalta-se que tal ato não pode ser reduzido apenas aos aspectos supracitados – visto que é um fenômeno complexo –, tampouco ser entendido como consequência inevitável do isolamento e uso excessivo das redes sociais.

Ao contrário do que acontece nas redes sociais virtuais, as relações sociais presenciais inevitavelmente requerem um sólido compromisso entre as pessoas envolvidas. Sendo assim mesmo que os comportamentos neurodiversos sejam acolhidos como tipológicos pelos que lutam pela neurodiversidade, deve-se respeitar os dados de pesquisas que enfatizam a necessidade das relações para o desenvolvimento saudável. Ornish (1998) afirma a relevância dos vínculos sociais, considerando que influenciam sobremodo a saúde física e psicológica do sujeito.

Leandro Karnal expressa em vídeo (PROVOCAÇÕES FILOSÓFICAS, 2016) o caráter desatento das relações, onde “ninguém ouve ninguém”. Em meio à “correnteza” da sociedade líquida, as relações, quando aparentemente “próximas”, são apenas episódicas e superficiais, não deixando, portanto, nenhuma consequência no que tange à reciprocidade (BAUMAN, 2007). Essa fragilidade dos vínculos e até a sua ausência tem sido associada a inúmeras patologias orgânicas e, como já mencionado anteriormente, pode predispor condições que levem ao ato extremo de autoextermínio, esta reflexão traz a dificuldade que muitas famílias com tais diferenças ou deficiências a lidar com a realidade. Como olhar apenas para um grupo que não sente o alto impacto do transtorno, assim o grupo de neurodiversidade segue sem o respaldo daqueles que necessitam de atenção para reabilitação e cuidados psicossociais.

É evidente o papel protetor e acolhedor de relações interpessoais para lidar com os mais diversos problemas. Diversos estudos evidenciam que pessoas cujos relacionamentos são fortes e diversos podem lidar melhor com várias tensões como luto, estupro e doenças físicas, além de desfrutarem de saúde psicológica melhor. Assim sendo, o apoio social amortece potencialmente os efeitos de eventos negativos que poderiam resultar em suicídio, abandono ou perdas de desenvolvimento (REDUCING SUICED, 2002).

Considerando que o conceito de neurodiversidade apresentado é importante discussão para os dias atuais, vejo que incluir é primordial e cuidar para não se perder as bases comprovadas de desenvolvimento saudável da identidade do sujeito pelas relações, naturalizando as diferenças de forma a acomodar as angustias de um grupo e enfraquecer o desenvolvimento dos menos favorecidos mais agravados em suas dificuldades de comunicação, visto que os próprios familiares e pessoas portadoras das diferenças não concordam com tais ideias, pois percebem que viveriam a margem, por suas necessidades não atendidas. Muitos são os sofrimentos dos que tem diferenças cognitivas graves e a inclusão se torna desafiadora.

Considera-se que o isolamento não é tido como fator positivo para nenhum indivíduo, em nenhum momento da sua vida, a falta de diálogo e inclusão, o excesso em meios virtuais e o pensamento fragmentado do grupo de pessoas com o Transtorno do espectro autista  contribui ao enfraquecimento de políticas que possam auxiliar nas necessidades distintas de cada um, sendo que as necessidades do grupo com alto funcionamento sofrem aspectos voltados para aceitação social e neurodiversidade, enquanto outros necessitam de grande auxílio para seus cuidados e desenvolvimento acerca de vencer cada dia o transtorno.

Conclui-se que diferenças sempre chamam atenção, são em muitos momentos mau interpretadas e precisam ter seu lugar, é preciso conversar mais sobre cada necessidade, de cada grupo, falar sobre o tema para diminuir os pré-conceito e o julgamento entre os próprios diferentes, trazer mais desenvolvimento as demandas do indivíduo acerca de sua identidade, mais que isso aumentar inclusive a grau de aceitação dos próprios portadores destas diferenças, para que se importem menos com os nomes e mais com seus resultados.

Fonte: encurtador.com.br/gpNW2

Referências:

BAUMAN, Z. A vida fragmentada: ensaios sobre a moral pós-moderna. Lisboa: Relógio d’Água, 2007.

FARIA, E. de; SOUZA, V. L. T. de. Sobre o conceito de identidade: apropriações em estudos sobre formação de professores. Psicologia Escolar e Educacional. (Impr.), Maringá, v. 15, n. 1, p. 35-42, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572011000100004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 mai. 2017.

ORTEGA, Francisco. O Sujeito cerebral e o movimento da neurodiversidade. Rio de Janeiro, 2008.

ORTEGA, Francisco. Deficiênca, autismo e neurodiversidade. Rio de Janeiro, 2008.

OLIVEIRA, Bruno D.C., FELDMAN Clara, COUTO, Maria C.V., LIMA Rossan C. – REVISTA DE SAÚDE COLETIVA, Políticas para autismo no Brasil, entre a atenção psicossocial e a reabilitação, 2017.

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Neurodiversidade e autismo: aspectos da normalidade humana

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A neurodiversidade é um conceito que surgiu recentemente em 1996 em um livro escrito pela socióloga Judy Singer em Sydney na Austrália, sendo uma concepção bem abrangente sobre a formação cerebral e neurológica humana, que sugere uma perspectiva na qual as peculiaridades dos sujeitos autistas são variações humanas normais. Por meio dela é possível envolver uma gama de espectros que alteram o comportamento, sensações, comunicação, sociabilidade, dentre outros mais, das pessoas com o transtorno e como elas são afetadas em diferentes graus. Trazendo assim, uma perspectiva de tolerância das diferenças (CARDIERI, 2018).

O transtorno do espectro autista (TEA) é uma síndrome neuropsiquiátrica que decorre em déficits de sociabilidade, comportamento e comunicação que são detectados ainda nos primeiros anos de vida da criança. Quanto mais precoce o diagnóstico, mais eficiente o tratamento e melhor a qualidade de vida do indivíduo. Acredita-se que o TEA esteja associado a fatores genéticos e neurobiológicos (GOMES et al, 2015).

Pelo viés de identidade, Foucault (2013) defende que, com base na neurodiversidade, existem as pessoas neurotípicas (molde o qual todos deveriam pertencer) e neuroatípicas (autistas), sendo que estes deveriam buscar cura e tratamento, sendo vistos como deficientes e possíveis de exclusão do convívio social. Com base nisto, pode-se afirmar que as famílias de crianças com TEA sofrem para incluir seu filho (a) no ambiente social, uma vez que, a criança já possui fatores decorrentes do transtorno que a diferencia dos “padrões de normalidade” e juntamente com a perspectiva social dificulta este convívio.

Compreender do que se trata o TEA e atuar para que a criança se sinta incluída no contexto social e familiar é um grande desafio para familiares e profissionais da equipe multiprofissional que acompanha o tratamento. Neste contexto, a neurodiversidade busca a dignidade e equidade para os autistas, uma vez que, todas as pessoas possuem concepções psíquicas distintas. Sendo isto, o que ocorre com pessoas autistas, elas possuem experiências, concepções, emoções, sensações e conhecimento individuais, elas têm uma constituição psíquica particular, isto é, “sua própria forma de ver o mundo”, assim como todas as pessoas “neurotípicas” (HENRIQUES; CARVALHO, 2018, p. 99).

As diferenças neurológicas são apontadas como diferenças naturais no genoma humano o que leva a compreensão de diversos significados na percepção da realidade dos sujeitos de síndromes e transtornos associados ao neurodesenvolvimento. O que temos de partilhar na sociedade é justamente as diferenças e não as semelhanças entre os indivíduos, pois o comportamento humano é evidenciado pelas experiências e vivências ao longo da vida (BENEDETTO, 2020).

Fonte: encurtador.com.br/fwNQ4

Assim, o autismo deveria ser visto como aspecto de normalidade humana e não o inverso. Para a neurodiversidade, respeitar e compreender as “deficiências” de cada criança autista é uma forma de enfrentar as dificuldades promovendo uma forma digna de cuidado e modelos educativos que buscam melhorar a assistência prestada.

 Para Henriques e Carvalho (2018, p. 101), a sociedade precisa estruturar um acompanhamento psicológico e psicanalítico para crianças autistas com base na “escuta das diferenças” que significa que modelos subjetivos permitem compreender melhor a necessidade de cada sujeito e assim propor a melhor forma de acompanhamento/tratamento, isto associado ao diagnóstico precoce, às classificações sintomatológicas e a trajetória do indivíduo.

Os atendimentos clínicos a sujeitos com autismo e suas famílias é de certa forma generalizado, um erro que traz dificuldades de se lidar com o transtorno e obter um diagnóstico específico.  É necessária uma ampliação de estudos e pesquisas que contribuam para a mudança no modo de aprender e lidar com o indivíduo com autismo tanto para inserção social como para vida familiar (CARDIERI, 2018).

Pois a vida familiar de indivíduos com autismo seja de sintomas, com menos ou maior severidade, em muito contribui para a formação de sujeitos que são capazes de conviver em harmonia socialmente e de se sentir parte de determinado núcleo social, bem como intervenções precoces, fortalecimento familiar e um acompanhamento profissional busca melhorar a qualidade de vida dos indivíduos. Embora, a cultura retrate o TEA como um transtorno que faz do indivíduo um ser “fora do padrão normal”, a neurodiversidade está aí para provar o contrário, que somos pessoas dotadas de características físicas e psíquicas únicas e nem por isso estaremos fora de um padrão cultural/social.

Fonte: encurtador.com.br/dkvFT

Referências

CARDIERI, Mariana Prates. Estudos culturais, neurodiversidade e psicanálise: um lugar para o autismo. 2018. Tese de Doutorado. Mestrado em Estudos Culturais Contemporâneas.

BENEDETTO, Mayne Souza. Autismo sem ismo: a neurodiversidade e a experiência interior por uma etnografia não normativa. 2020. Tese de Doutorado. Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.

FERREIRA, Nelcirema da Silva Pureza et al. Qualidade de vida dos familiares de pessoas com Transtorno do Espectro Autista. 2018.

FOUCAULT, M. História da sexualidade I. Rio de janeiro: Graal, 2013.

GOMES, Paulyane TM et al. Autismo no Brasil, desafios familiares e estratégias de superação: revisão sistemática. Jornal de pediatria, v. 91, n. 2, p. 111-121, 2015.

HENRIQUES, Bruna; CARVALHO, D.’Alincourt. Autismo e neurodiversidade: inclusão das diferenças. ANAIS VII CONINTER, p. 95. 2018.

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A Neurologia por trás de “My Beautiful Broken Brain”

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No documentário “My Beautiful Broken Brain” (2014) conhecemos a história da paciente Lotje Sodderland, 34 anos de idade, que sofreu um acidente vascular cerebral hemorrágico – o qual consiste no rompimento de um vaso sanguíneo, provocando sangramento no tecido cerebral e morte de células –  que teve como causa uma malformação congênita nos vasos cerebrais – Consequentemente, a paciente adquiriu afasia de Broca, afasia expressiva caracterizada pela dificuldade em expressar o que se quer dizer, e apraxia da fala, ou seja, dificuldade em programar e planejar as sequências dos movimentos motores da fala, o que causa erros ao reproduzir os sons. Além disso, ela também adquiriu problemas na visão, especificamente na percepção de cores estranhas e rostos disformes.

Aprofundando-se neste tópico, um acidente vascular cerebral hemorrágico ocorre quando há um rompimento de um vaso cerebral, o que provoca sangramento, ou hemorragia, em certo ponto do sistema nervoso, tal fenômeno é indicado por sintomas como desmaios e convulsão.  O AVC pode causar problemas em relação à comunicação se há dano decorrente desta condição nas partes do cérebro responsáveis pela linguagem, afetando a forma como se lê, fala, escreve e entende. Neste caso, são danosamente afetadas redes neuronais distribuídas em regiões corticais e subcorticais do hemisfério esquerdo, comumente o hemisfério dominante no que diz respeito à linguagem.

Destaca-se entre essas implicações a afasia de Broca, uma afasia motora cujos portadores têm dificuldade em encontrar palavras adequadas e, logo, de expressarem o que querem. A afasia de Broca é não fluente, o que significa que o paciente expressa poucas palavras, com um grande esforço em sua articulação. Embora o conteúdo verbal seja significativo, desenvolve-se dificultosamente. A paciente Lotje apresenta frases entrecortadas e incompletas, com uma nomeação pobre e compreensão deficiente de frases complexas. Vale frisar que a paciente é ciente de que tem a dificuldade na fala – um detalhe importante que diferencia a afasia de Broca de outros tipos de afasia – e por isso sofre frustração.

Fonte: encurtador.com.br/moyHY

A área de Broca situa-se no hemisfério esquerdo (ou dominante) do cérebro. Situa-se acima e detrás do olho esquerdo, justo acima do sulco lateral e próxima à zona anterior do córtex responsável pelos movimentos do rosto e da boca. A principal função da área de Broca é a expressão da linguagem. É vinculada à produção da fala, o processamento da linguagem e o controle dos movimentos do rosto e da boca para articular as palavras.

Ao redor do sulco lateral do hemisfério esquerdo há uma espécie de circuito neural envolvido na compreensão e produção da linguagem falada, no final deste circuito está a área de Broca, associada com a produção da linguagem, e no outro extreme, no lóbulo temporal superior, se encontra a área de Wernick, associada com o processamento das palavras ouvidas. Enquanto esta última área seria uma entrada de linguagem, a primeira se consistira nas saídas, produção, expressão. As duas áreas são conectadas por um feixe de fibras nervosas, o fascículo arqueado, e a comunicação é bidirecional, ou seja, ambos enviam e recebem impulsos.

Fonte: encurtador.com.br/htHUX

Considera-se que, quando se produzem as palavras, a área de Broca atua como intermediária entre a corteza temporal (que organiza a informação sensorial que chega) e a corteza motora (que leva a cabo os movimentos da boca). Assim sendo, a área de Broca coordena a transformação de informação através das redes corticais envolvidas na produção de palavras faladas. A figura abaixo mostra a proximidade das áreas supracitadas que, num cérebro saudável, possibilitam a boa expressão e compreensão da linguagem.

A paciente Lotje teve uma lesão nesta área de produção de linguagem, que, com suas conexões interrompidas ou profundamente deteriorada em virtude da hemorragia que afetou o fornecimento de sangue à área implicada, decresceu a uma fala pouco fluída, árdua e gramaticalmente incorreta, tendo problemas também com a leitura, embora a escritura, ao que nos parece, tenha sido conservada de alguma forma.

O comprometimento do córtex motor decorrente de lesões está relacionado não apenas com afasias, mas também com a apraxia. Em dada cena do documentário vemos Lotje ter dificuldade para inserir a chave na fechadura e destrancar a porta de sua antiga casa. Ela perdeu uma prévia habilidade motora, e isso é um exemplo de apraxia, condição neurológica cujo portador tem dificuldade, ou mesmo vê-se impossibilitado, em fazer certos movimentos embora seus músculos estejam normais.

Fonte: encurtador.com.br/bgxF2

Referências

Afasias. Disponível em: <http://www.apepalen.cyl.com/diversidad/diver/logope/AFASIAS.HTM>. Acesso em: 04 maio 2019.

Accidente cerebrovascular hemorrágico.  Disponível em: <https://medlineplus.gov/spanish/hemorrhagicstroke.html>. Acesso em 30 abril 2019.

AVC isquêmico e hemorrágico: sintomas, causas e sequelas. Disponível em: <https://www.minhavida.com.br/saude/temas/avc>. Acesso em 04 maio 2019.

Apraxia de Fala na infância – O que é isso? ttp://www.atrasonafala.com.br/apraxia-de-fala-na-infancia-o-que-e-isso.html

http://www.atrasonafala.com.br/apraxia-de-fala-na-infancia-o-que-e-isso.html

>. Acesso em 01 de outubro de 2020.

Área de Broca: Funciones, Anatomía y Enferdades. Disponível em: < https://www.lifeder.com/area-de-broca/>. Acesso em 04 maio 2019.

Cisura de Silvio (cerebro): qué es, funciones y anatomia. Disponível em: < https://psicologiaymente.com/neurociencias/cisura-de-silvio >. Acesso em 04 maio 2019.

Communication problems after stroke. Disponível em: <https://www.stroke.org.uk/sites/default/files/Communication%20problems%20after%20stroke.pdf>. Acesso em 04 maio 2019.

La corteza cerebral: áreas motoras, de asociación y del lenguaje. Disponível em: <https://www.psicoactiva.com/blog/la-corteza-cerebral-areas-motoras-asociacion-del-lenguaje/>. Acesso em 05 maio 2019.

La corteza motora: características y funciones. Disponível em: <https://lamenteesmaravillosa.com/la-corteza-motora-caracteristicas-y-funciones/>. Acesso em 05 maio 2019.

https://www.stroke.org.uk/sites/default/files/Communication%20problems%20after%20stroke.pdf

http://www.cerebromente.org.br/n05/opiniao/assembl.htm

Artigo originalmente publicado no site <https://comunidadepsi.com/>.

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