Psicologia e seu compromisso com a Transformação Social: Contribuições para uma Escola Democrática e Inclusiva

Byanca Oliveira de Araújo (psicologabyancaaraujo@gmail.com)

A relação entre escola e sociedade é inextricável, a Psicologia, então, emerge como uma ferramenta essencial para promover a educação democrática e inclusiva que o Brasil tanto precisa. Por meio da compreensão das dinâmicas psicológicas envolvidas no processo educacional, as psicólogas escolares desempenham um papel fundamental na construção de um ambiente escolar saudável que não apenas instrui, mas também humaniza, e transforma realidades.

Nesse sentido, além da Psicologia, o Serviço Social, historicamente, têm apresentado significativa contribuição para o campo da Educação, que se faz com diferentes saberes. Profissionais dessas áreas auxiliam tanto na construção do projeto político-pedagógico quanto nos processos de ensino-aprendizagem, contribuindo também para a melhora das relações entre docentes, alunos, comunidade escolar e famílias. Com a aprovação da Lei nº 13.935/2019, todas as instituições públicas de educação básica no país devem agora contar com a presença de psicólogas, psicólogos e assistentes sociais em suas equipes multiprofissionais. Essa medida representa uma ferramenta crucial para a consolidação de um ensino público inclusivo, de qualidade e que assegura direitos.

A participação dessas(es) profissionais no ambiente escolar desempenha um papel fundamental no aprimoramento de processos essenciais como o desenvolvimento, implementação e reformulação de currículos, projetos pedagógicos, políticas e procedimentos educacionais. O serviço deve aprimorar métodos, técnicas e instrumentos para subsidiar a formulação e o replanejamento de planos escolares e contribuir para a qualidade de vida da comunidade escolar, envolvendo-se em ações e projetos de combate aos preconceitos e à violência na escola.

A psicologia escolar tem como um dos guias principais, o documento Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas(os) na Educação Básica, edição revisada, elaborado no âmbito do Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP). As Referências Técnicas têm como propósito orientar a atuação de psicólogas(os) na Educação Básica, seguindo as diretrizes da Política Nacional de Educação e os princípios teóricos e éticos da Psicologia. Este documento visa contribuir para aprimorar a qualidade da Educação, buscando que as práticas psicológicas estimulem a reflexão e a abordagem crítica dos desafios presentes no contexto educacional brasileiro.

Entender que é necessário uma certa estrutura primária que precede o ato de aprender é a maior ferramenta da psicologia na escola, ou seja, a psicóloga escolar estar atenta à questões como por exemplo: Como garantir acesso a recursos e oportunidades educacionais de qualidade, independentemente da origem socioeconômica, etnia, gênero ou localização geográfica de cada estudante; Como criar ambientes educacionais inclusivos que atendam às necessidades de alunos com diferentes habilidades, origens culturais e estilos de aprendizagem; Como preparar os alunos para serem cidadãos globais, com uma compreensão ampla de questões globais, multiculturalismo e respeito à diversidade; Além disso, a psicologia escolar deve pensar em como melhorar a formação de professores para garantir que eles estejam equipados com as habilidades necessárias para enfrentar os desafios contemporâneos da educação.

A busca por uma educação democrática implica no reconhecimento e na valorização de todas as vozes na comunidade escolar, pois a atuação da psicologia escolar deve se comprometer a agir a partir da realidade específica de cada escola, levando em consideração sua história, seu território, buscando entender como essas complexidades são encontradas no ambiente educacional a fim de superar possíveis adversidades. Entender as necessidades dos diversos agentes escolares, desde os administrativos e pedagógicos até os estudantes, pais e membros da comunidade, é crucial para criar estratégias que contribuam efetivamente para a melhoria da qualidade de vida de todas essas pessoas. Nesse sentido, a Psicologia Escolar possui as ferramentas necessárias para compreender realidades e contribuir para esse ideal, na medida em que promove práticas que fortalecem a gestão educacional democrática. No contexto da educação pública, a psicologia pode ser capaz de potencializar e ampliar as possibilidades que a escola tem de proporcionar melhor qualidade de vida a seu público, a fim minimizar as desigualdades e injustiças vividas em nosso país.

O papel da psicologia na educação vai além de análises individuais e isoladas; por exemplo, um estudante faltoso nem sempre é um estudante desinteressado pelos estudos, pode ser um aluno que está sem material escolar, ou que está passando por alguma situação de constrangimento em sala de aula por parte dos colegas, ou muitas vezes é uma questão de não conseguir estar em sala de aula, o que pode ser sintoma de alguma transtorno a ser investigado.

Nesse sentido, as intervenções psicológicas na escola não se limitam ao âmbito acadêmico, elas estendem-se aos arredores da escola através de escutas e pesquisas, se estende ao âmbito familiar através de visitas domiciliares de busca ativa, escutas, acolhimentos e orientações. Questões complexas da sociedade como a fome, a violência doméstica, uso de álcool e drogas, são identificadas neste serviço, sendo possível atuar e intervir através do acionamento da Rede de serviços de assistência social e psicologia se for o caso.

Dentro da escola, a psicóloga tem a responsabilidade e abordar temas pertinentens às questões sociais como o bullying, o racismo, uso de substâncias, gravidez na adolescência, trabalho infantil, abuso sexual, violação de direitos e prevenção ao suicídio por meio de ações preventivas e educativas, sempre com muita sensibilidade, ética e respeito. A Psicologia escolar não apenas reage a esses problemas, mas também trabalha proativamente para combater essas problemáticas, promovendo uma cultura de respeito e compreensão.

A relação entre aluno e professor é essencial para criar um ambiente propício ao aprendizado. O psicólogo social, nesse contexto, busca compreender as dinâmicas presentes, identificando possíveis desafios e promovendo intervenções que fortaleçam essas relações. Ao entender as necessidades de ambos os lados, trabalha para construir um ambiente onde a aprendizagem seja não apenas eficaz, mas também enriquecedora para todos os envolvidos.

A inserção da família no processo educativo é um aspecto muitas vezes negligenciado por ambas as partes, família e escola, mas é de grande importância. A psicóloga escolar atua como um elo entre ambos, buscando promover uma colaboração ativa compreendendo as dinâmicas familiares, desafios e expectativas do processo de aprendizado, nesse sentido, é fundamental criar uma parceria que beneficie o desenvolvimento acadêmico e emocional do aluno.

As dificuldades internas da unidade escolar, como a comunicação entre setores e a saúde mental dos profissionais, não devem ser ignoradas pela psicóloga escolar, pois a mesma deve ser facilitadora, promovendo a comunicação efetiva entre os diferentes setores da escola, criando espaços de diálogo e entendimento, promovendo estratégias que contribuam para um ambiente de trabalho mais saudável, mais coeso e colaborativo.

Reconhece-se que o bom funcionamento da escola depende do bem-estar de todos os envolvidos, então a preocupação com a saúde mental dos profissionais é um elemento central na atuação da psicóloga escolar. É necessário implementar ações que visam prevenir o adoecimento no ambiente de trabalho, promovendo estratégias de autocuidado, oferecendo suporte emocional e, quando necessário, encaminhando para profissionais especializados.

Outro ponto importante no trabalho desenvolvido na escola, é a escuta, o acolhimento e a orientação psicológica oferecidos aos estudantes e aos pais desempenham um papel crucial na promoção do bem-estar emocional e na construção de relacionamentos saudáveis, promovendo não apenas a integração da família no ambiente educativo, mas também fortalecendo os laços familiares.

Diante do que surge a partir de cada realidade escolar é necessário a realização de grupos e oficinas temáticas que contribuam com a discussão saudável de temas pertinentes a vivência de cada ser humano dentro ou fora da escola, a fim de alcançar o desenvolvimento social e emocional dos alunos, promovendo uma compreensão mais ampla de questões importantes que atravessam suas próprias vidas. Além disso, palestras sobre temas pertinentes, como sexualidade na adolescência, não apenas informam, mas também geram discussões significativas sobre questões relevantes na vida dos estudantes.

Por fim, a psicóloga escolar pode realizar pareceres psicológicos e encaminhamentos, uma prática que contribui para o entendimento mais profundo das necessidades individuais dos alunos, permitindo uma abordagem personalizada e eficaz.

Em resumo, a Psicologia desempenha um papel crucial na construção de uma escola que transcende seu papel tradicional, tornando-se um agente ativo na transformação social. A promoção de uma educação democrática e inclusiva não é apenas uma meta, mas uma jornada contínua que exige a colaboração de educadores, psicólogos, assistentes sociais, pais e toda a comunidade escolar. Ao integrar a Psicologia de maneira holística na educação, estamos moldando não apenas estudantes acadêmicos, mas cidadãos responsáveis e conscientes, capazes de contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 13.935 de 11 de dezembro de 2019. Dispõe sobre a prestação de serviços de psicologia e de serviço social nas redes públicas de educação básica. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/l13935.htm>

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (BRASIL). Referências técnicas para atuação de psicólogas(os) na educação básica / Conselho Federal de Psicologia. — 2. ed. — Brasília: CFP, 2019.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (BRASIL). A(o) psicóloga(o) e a(o) assistente social na rede pública de educação básica: orientações para regulamentação da Lei nº 13.953, de 2019 / Conselho Federal de Psicologia e Conselho Federal de Serviço Social. — 1. ed. — Brasília: CFP, 2020.