Educação inclusiva: saberes e práticas para lidar com as diferenças

No dicionário podemos ler o significado de inclusão como o ato ou efeito de incluir. Ao lermos esse significado percebemos o quanto é necessário lutarmos para que haja verdadeiramente a inclusão dentro de nossa sociedade.

Aqui trataremos especificamente da inclusão de alunos com deficiências dentro das escolas. A presença cada vez maior de alunos com deficiência intelectual no sistema educacional convencional está fazendo com que as escolas reflitam sobre a necessidade de adaptar seus conceitos pedagógicos.  Segundo o Censo Escolar, entre 2005 e 2011, as matrículas de crianças e jovens com algum tipo de necessidade especial (intelectual, visual, motora e auditiva) em escolas regulares cresceu 112% e chegou a 558 mil.

O trabalho de inclusão de alunos com deficiência é um desafio para as escolas, uma vez que ainda é muito difícil lidar com a diferença, principalmente no ambiente escolar.

A inclusão é uma inovação, cujo sentido tem sido muito distorcido dentro das escolas e do ensino regular. Inserir alunos com déficits de aprendizagem dentro das salas de aula, nada mais é que garantir o direito de todos à educação, garantido pela Constituição.

Procuramos descobrir como de fato acontece essa inclusão dentro das Escolas de Ensino Regular e, para isso, fizemos algumas visitas à Escola Estadual Amâncio de Moraes, na cidade de Paraíso do Tocantins, que trabalha com salas de recursos para atender alunos com deficiência e também possui vários alunos especiais dentro das salas de Ensino Regular. A escola é referência no atendimento a alunos especiais, chegando até mesmo a ser procurada por outras escolas para auxiliar nesse trabalho.

O (En)Cena conversou com a Coordenadora Pedagógica da escola, Alcilene Caldeira, a fim de entender como é realizado esse trabalho tão desafiador.

(En)Cena Caldeira – Quantas crianças com algum tipo de necessidade especial estão matriculadas na escola?

Alcilene Caldeira – Atualmente são 21 alunos matriculados na sala de recurso, um local elaborado para atender os alunos com necessidades especiais. Além dos 21, há outros nove alunos que não estão inclusos na sala de recursos, pois não possuem laudo médico. Para que o estudante seja incluso na sala de recursos, é necessário que passe por um médico psiquiatra, psicólogo e neurologista, esses profissionais devem dar um laudo da doença.

(En)Cena – Quais os recursos adequados que a escola tem para dar assistência a esses alunos?

Alcilene Caldeira – Temos a sala de recursos, feita especialmente para os alunos especiais, na sala nós temos computador próprio para deficientes visuais e auditivos, jogos educativos acessíveis, ou seja, materiais apropriados pra eles. Também temos o privilégio de ter uma intérprete de libras.

(En)Cena – Quais os maiores desafios enfrentados por vocês professores em relação a lidar com os alunos especiais?

Alcilene – Diante das dificuldades, penso que a maior seja a da qualificação profissional ideal. Pelo fato de na sala de aula haver diversos deficientes, exigindo do professor uma capacitação adequada para cada tipo de deficiência, tornando o trabalho quase impossível..

(En)Cena – O conteúdo transmitido aos alunos especiais é o mesmo que é transmitido aos outros alunos?

Alcilene Caldeira  – O conteúdo passado para os alunos é o mesmo, a diferenciação vem na hora da avaliação.

(En)Cena – A inclusão aparece para mostrar que todas as pessoas são diferentes. Como a escola lida com essa diferença? Como é feita a inclusão na Escola Estadual Amâncio de Moraes?

Alcilene Caldeira  – Para que a escola possa lidar com essa diferença, o trabalho é contínuo. Aqui, os especiais são tratados normalmente. Claro que há problemas, pois os alunos são mais alterados que os demais, diante disso o cuidado com eles é redobrado, os horários entre os alunos são os mesmos, tanto no intervalo quanto nas salas de aula.

(En)Cena – Os alunos especiais sentem-se integrados com os demais alunos?

Alcilene Caldeira  – Os alunos especiais se sentem integrados diante dos outros. Escola nenhuma em Paraíso vocês encontram uma sala regular com alunos especiais. Alunos estes com Síndrome de Down, Deficiência Mental entre outras deficiências. Os pais ficam admirados com o trabalho que os professores fazem.

(En)Cena – A escola tem algum programa/programação específico(a) para os alunos com necessidades especiais?

Alcilene Caldeira – Quanto às programações específicas para os alunos, a escola desenvolve um projeto durante uma semana inteira voltado para os alunos especiais, todos se mobilizam para a realização do projeto.

(En)Cena – Como é o apoio do governo? O que ainda falta para melhorar o atendimento a esses alunos?

Alcilene Caldeira – Com relação à contribuição do governo, o auxilio é pouco. Porque em Paraíso, nós somos a única escola que trabalha com esta inclusão. Temos os alunos na sala de recursos, e também alunos matriculados na sala regular. Por exemplo, temos uma sala de 17 alunos onde 6 deles são especiais. É muito difícil pelo fato de ainda faltar material pedagógico e capacitação dos profissionais em sala de aula.

Ao conversar e vivenciar um pouco dessa realidade percebemos que a inclusão exige uma mudança de mentalidade de todos e requer muito mais que recomendações técnicas para que aconteça realmente. É necessário entendermos que somos seres humanos e vivemos em um contexto embasado na diversidade. Essa educação inclusiva só será feita verdadeiramente quando passarmos a valorizar a diversidade em que vivemos.

A escola inclusiva não faz distinção entre seres humanos, não seleciona, não diferencia baseado nos conceitos de perfeitos ou imperfeitos, “normais” e “anormais”. Ela oferece oportunidades livre de preconceitos.