A dor é minha

Marcos Carneiro – girassolpalmas@gmail.com

 

Passei por um processo depressivo que foi difícil de superar e longo de acabar. O que digo de minha experiência é que quando se está ali afundado numa inércia de tristeza consigo mesmo é muito difícil que se tenha força e energia para ir atrás das pessoas que sempre estiveram presentes em sua vida.

Dessa forma, é esperado – e isso não é um julgamento de valor, porque cada um sabe a dor e as questões suas próprias que já têm de carregar – que haja, naturalmente, uma percepção da depressão e uma consequente ajuda do amigo, do parente ou de quem estiver mais próximo.

No meu caso, eu tive pessoas que me ajudaram muito nesse processo que digo, meus caros, é algo de tirar você do seu próprio eixo. Mas outras pessoas, algumas próximas, deixaram de ser presentes, e pode ser por várias razões. Como disse, se sua própria dor já é difícil de carregar, que dirá a de uma outra pessoa que precisa de ajuda.

Quando tudo passou, me separei, mudei de casa, de hábitos e não me chateei com essas pessoas. Talvez me decepcionei um pouco. Mas isso não me torna, e não os torna melhores ou piores. Nós passamos a vida conhecendo as pessoas em todas as situações que vão aparecendo. Sendo assim não há como adivinhar a reação de todos diante de uma situação difícil como a depressão de uma pessoa próxima.

Eu fui muito bem assistido, tanto pelos profissionais que me guiaram como por outras pessoas.
E esse texto não se trata de uma cobrança. É um relato sobre a condição humana diante da dor do outro. As relações, elas acabam, recomeçam, ressignificam e esse é o ciclo tão difícil de compreender de nossas vidas.