A exaustão de estudar e trabalhar: relato de experiência

Meu sonho sempre foi fazer a graduação de Psicologia. É uma área que sempre me fascinou desde que eu estudava no Ensino Médio, mas um sonho que não pude realizar aos 17 anos quando terminei o terceiro ano. O principal motivo foi a condição financeira da época, já que Psicologia era um curso bem caro oferecido apenas por uma faculdade em Palmas em 2015. Naquele ano, fiz o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e passei para outro curso em uma universidade federal.

Cursei por quatro anos em um curso que, até então, não havia imaginado que seria a área que eu gostaria de ter uma carreira. Mas, foi nesse curso que expandi meu conhecimento e minha visão de mundo. Foram quatro anos de grandes aprendizados, descobertas e experiências. A vivência de ocupar esse espaço de ser estudante em uma federal me transformou em todos os aspectos da minha vida. Acredito que tenha sido o primeiro contato real comigo mesma nesse mundo. Foi também a primeira vez que eu trabalhei e estudei ao mesmo tempo. Eram oito horas de trabalho e três horas e meia de aula por dia. Era bem exaustivo e não sobrava muito tempo para fazer outras atividades.

Quando eu me formei, em 2017, voltaram os questionamentos se eu queria, de fato, exercer a profissão, que se misturaram com o sentimento de achar que eu não seria capaz de iniciar no mercado de trabalho. Assim, adiei essa entrada no mercado por mais de um ano e fui trabalhar com outras coisas. Mas, não conseguia afastar de mim o meu grande sonho. No início de 2018 finalmente me deparei com a oportunidade de conseguir cursar Psicologia, que foi quando ingressei no curso ainda na única universidade particular que o ofertava.

Entrar na graduação de Psicologia foi um passo rumo a grande sonho acompanhado de muitas expectativas. Em conjunto com esse sonho, veio também a inserção no mercado de trabalho pela profissão da minha primeira graduação. Com essa junção, os desafios de novas demandas passaram a ser muitos e foi esse o início de outra jornada dupla se repetindo entre trabalho e estudos.

Logo nesse início, me deparei com as dificuldades e a exaustão de estudar e trabalhar ao mesmo tempo. A diferença é que dessa vez era, de fato, o que eu tinha muita sede de aprender. E foi assim desde o primeiro período da minha graduação: vontade de descobrir e aprender tudo sobre a Psicologia. Em contrapartida, as horas que obrigatoriamente eu tinha e tenho que dedicar ao trabalho não me possibilitaram, nem matematicamente em relação ao tempo e nem em questão de esgotamento, dedicar todas as horas do meu dia que eu gostaria para esse projeto de aluna de Psicologia.

Então, também começaram as cobranças pessoais excessivas, frustrações por não conseguir lidar com as minhas próprias expectativas e, claro, as cobranças de produção que uma graduação exige do começo ao fim dos alunos: a rotina de incontáveis trabalhos, seminários, artigos, apresentações, estudos e provas. Em muitos momentos me senti desanimada com o sentimento de fracasso e isso acarretou em crises de ansiedade e medo de não conseguir dar conta de fazer o que deveria ser feito nos 10 períodos da graduação.

Em meio a tantas cobranças, como vivemos em uma sociedade que tem exigido cada vez mais produtividade das pessoas, essa imposição por produtividade contínua me sufocou também na área profissional e me fez ficar travada, estressada e incapaz de produzir inúmeras vezes. A sensação de viver em um looping de obrigações é sufocante e faz com que você se perca até nas coisas que gosta de fazer por simples prazer. No dicionário da Língua Portuguesa, exaustão significa “estado de grande cansaço físico ou mental”.

A jornada dupla de trabalhar e estudar é extremamente exaustiva, não permite que você participe de todos os eventos acadêmicos que gostaria, não dedique o tempo que deseja aos estudos, encontre obstáculos para as atividades complementares exigidas e compromete drasticamente o tempo de descanso do trabalho – essencial para a saúde mental -, o que gera fadiga e torna o dia a dia estressante e desgastante. 

Dentre esses e outros desafios, o mais difícil de enfrentar para mim foi a administração do tempo e os problemas e estresse que a falta dele trouxeram. Junto com essa falta de tempo vieram preocupações que, por muitas vezes, me tiraram o sono, me deixaram ansiosa e não me deram o tempo que hoje percebo o quanto era necessário para que eu pudesse me respeitar e me permitir descansar e fazer coisas que eu gostava sem ser por mera obrigação.

Com todos esses obstáculos no caminho, reviver essa trajetória nessa etapa final me faz perceber o quanto será recompensador passar de uma posição de estudante para Psicóloga daqui a dois meses. Me traz reflexões sobre o quanto foi enriquecedor e a grande recompensa de tanta determinação nesse processo. Valeu muito a pena persistir e me deixou o aprendizado de que não há nada como um grande sonho realizado.·.