Aquele dia poderia ser como todos os outros, mais um turno no hospital, mais um paciente atendido, mais uma entubação, apenas mais um, mas isso estava muito longe de ser a realidade. Naquela tarde passando pela estrada paralela a cidade, havia um caminhoneiro, assim como todas as pessoas, cheia de vivências, pessoas que o amavam e histórias a serem escritas, em um momento de agonia decidiu parar no hospital.
Debilitado, pressão baixa, respiração alterada, esses foram apenas alguns dos sintomas que ele sentia, em meio a esse turbilhão de sintomas e sentimentos chega o diagnóstico, ele estava com Covid, mas não só isso, devido sua saúde fragilizada seu estado já estava deplorável, logo a equipe multidisciplinar já entende que será necessário a intubação.
Fonte: pixabay
A equipe tenta contato com a família e como de costume faz perguntas para investigar as nuances de seu estado de saúde. Ele fumava? Usava substâncias entorpecentes? Algo que o fazia ficar acordado?, todas essas e mais perguntas feitas. Sim, ele fumava, e para aguentar longos períodos na estrada também fazia uso de algumas substâncias, então anunciamos a necessidade da intubação.
O medo, desespero, agonia, todos esses sentimentos mistos que geram tamanha insegurança, fez com que a família negasse, muito mais do que negar a intubação, eles estavam negando a possibilidade de uma perda, um luto. Em meio a tudo isso, o caminhoneiro só pedia uma coisa: “Preciso falar com minha esposa!”, então ofereço meu celular e naquela pequena tela de celular vejo uma mulher, em prantos, com um bebe no colo buscando esperanças para acreditar que o pior não vai acontecer, mas falhando nisso.
O caminhoneiro a tranquiliza, diz que tudo bem ser intubado e que tudo vai ficar bem, diz que voltará para cuidar da filha e que não precisava se preocupar com nada. Então ele vai, e ao entrar na sala segura fortemente a mão do médico, e com uma firmeza ainda maior em seu olhar pede desesperadamente que façam de tudo para que ele viva, afinal ele precisava viver, tinha uma filha que há três dias estava no mundo, não podia deixá-la, nem ela e nem as suas outras duas filhas e muito menos sua mulher desamparada.
Fonte: pixabay
No meio do processo, todos os medos são concretizados, o caminhoneiro não suportou e naquele dia, que poderia ser tão comum, a equipe se olha, e ao perceberem, estão todos no chão, em prantos. Chorando pelo homem que partiu, pela filha que não conheceu, pela esposa que não vai ganhar mais um beijo e pela família que não vai tê-lo mais presente.
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Eu não estou sozinha: os desabafos após um relacionamento abusivo
Como um relacionamento abusivo pode impactar na recuperação da vítima, que permanece em sofrimento após o fim.
Relato anônimo
Eu tinha dezoito anos quando experienciei um relacionamento que, a princípio, foi a melhor coisa que já havia me acontecido. Ainda existe muito isso, essa confusão sobre o que é o amor, sobre como demonstramos o amor, e com ela vem o perigo: o disfarce entre abuso e carinho. Entrar nessa situação é extremamente fácil, parece o correto a se fazer, porque você está sendo muito bem cuidada e é o homem da sua vida. Por outro lado, sair é a decisão mais difícil que você precisa tomar, ainda que seja a melhor.
Relacionamentos abusivos são caracterizados por comportamentos e dinâmicas prejudiciais, onde uma pessoa exerce poder e controle sobre a outra, geralmente através de abuso emocional, físico, sexual ou financeiro. Esses tipos de relacionamentos são extremamente prejudiciais e podem ter consequências negativas tanto para a vítima quanto para o agressor. Os relacionamentos abusivos podem ocorrer em diferentes contextos, como namoro, casamento, parcerias domésticas ou relacionamentos entre familiares. É importante destacar que tanto homens quanto mulheres podem ser vítimas de abuso, e os agressores podem ser de qualquer gênero.
Lembro-me de me sentir cega, já que todo mundo parecia enxergar tanta coisa e eu não. Também recordo-me de me afastar aos poucos de todos ao meu redor, porque não aguentava tanta pressão, comentários e confusão em minha mente. Quando você percebe está sozinha. Sem amigos, sem família, ninguém sabe o que está acontecendo. Tudo começou com as redes sociais. Uma vistoria completa no celular, indagações absurdas sobre minhas intenções, acusações, até que tudo o que havia era culpa. Culpa por ter causado um desentendimento, por não entender as necessidades do meu parceiro, por errar tanto, por ter amigos, por tudo.
Ele se tornou controlador, exigindo que eu compartilhasse todos os detalhes da minha vida, controlando minhas interações com amigos e familiares. Eu me sentia presa em suas mãos, e qualquer tentativa de resistir às suas demandas resultava em explosões de raiva e ameaças.
Então o próximo passo era a punição, o sumiço que se seguia, sem responder mensagens, sem atender ligações, apenas o bom e velho “gelo”. A punição era o suficiente para gerar desespero e aumentar a culpa. Nessa época, não sentia que poderia contar nada a ninguém. Nova e ingênua, acreditava que os relacionamentos eram assim mesmo, que isso era o amor, e que aos poucos íamos nos encaixando e resolvendo as divergências. Passei a controlar todos os meus passos, a omitir informações e até mesmo a mentir sobre assuntos que certamente causariam atritos.
Esse foi um grande erro, porque é muito fácil se sentir culpado sabendo que está fazendo algo errado. Então tudo era minha culpa. Sentia-me incapaz de ser namorada de alguém, de fazer alguém feliz, sentia-me substituível e inferior às outras mulheres, afinal, por que todo mundo conseguia se relacionar amorosamente e eu não? Do meio pro fim, os abusos físicos apareceram. Sutis, mas presentes em cada encontro. Empurrões e tapas “de brincadeira” eram, de repente, sua forma de demonstrar amor. Além disso, haviam os insultos, as provocações, as brincadeiras de mal gosto.
Aos poucos, essas frases entram na cabeça, sabe? A gente realmente acha que não é mais capaz de encontrar outra pessoa. E, ainda, acha que todo mundo tem defeitos, assim como ele tem os dele. Sem mencionar os comentários sobre nossa aparência física, que sempre existem, apenas para nos inferiorizar ainda mais na relação. O fim, de fato, aconteceu. Com dezenove anos me vi livre dessa relação por completo, já que ele nem mesmo morava na cidade. No entanto, não sabia dos prejuízos que esse relacionamento deixaria em mim: nas marcas profundas que me levaram anos para cicatrizar.
Imagem de uma mulher fragmentada. Fonte: Pixabay
As críticas constantes começaram a minar minha autoestima. Ele me humilhava, me fazia sentir inadequada e repetia constantemente que eu não era boa o suficiente. Eu comecei a duvidar de mim mesma, questionando minha própria identidade e valor como pessoa. A sensação de viver sob constante vigilância me deixava ansiosa e insegura.
Eu me sentia aprisionada em um ciclo vicioso de amor e medo. Apesar de todos os abusos, eu ainda acreditava que havia algo de bom nele, que talvez ele pudesse mudar. Eu mantinha a esperança de que o homem gentil e carinhoso que conheci no início retornasse. Essa esperança me manteve presa por muito tempo.
Soares (2005) abordou o assunto dizendo como o fim de uma relação violenta pode durar anos, já que muitas mulheres permanecem com seus parceiros por ameaças, esperam mudanças de seus comportamentos e possuem vergonha de assumir o fracasso da relação. Por isso, sempre imagino o que teria acontecido se eu não tivesse a oportunidade de sair desse relacionamento, de ter permanecido tão pouco tempo, o que já foi suficiente para deixar marcas em mim.
Com o tempo, a gente fica inseguro para amar novamente. Nunca somos bons o bastante, nosso corpo não é bom, nosso “jeito” não é bom e não somos suficientes para ninguém. Isso é um mal que acontece com muita gente depois de uma experiência assim, eu sei disso, mas é um processo tão individual e que, infelizmente, não tem uma receita de bolo para superar. As marcas permanecem, a desconfiança, a baixa autoestima, o sofrimento, tudo isso permanece com a gente, mesmo depois que ele já foi embora.
A gente se fecha para o mundo, ninguém pode ver nossos defeitos como ele viu tão bem, não podem reparar nas falhas. E é assim que nos esquecemos que pessoas reais possuem problemas reais, que aquelas características não eram defeitos, mas uma forma deturpada de se relacionar com outras pessoas. Que o problema não está em mim, não está em você, mas está nele. Mesmo assim, a insuficiência que sentimos é devastadora, afeta todos os nossos relacionamentos, nosso desenvolvimento enquanto estudante, profissional e pessoa.
Deixar o relacionamento abusivo foi o começo de um longo processo de cura e reconstrução. Levei tempo para reconstruir minha autoestima, aprender a confiar novamente e estabelecer limites saudáveis em meus relacionamentos futuros. Encontrei apoio na terapia, onde pude compartilhar minha história e receber o suporte necessário.
Após esse acontecimento, iniciei uma nova relação com outra pessoa. Lembro-me do choque ao perceber a facilidade de me relacionar com ele, do alívio que senti. Não foi nada fácil. Sentia-me insegura, tive dificuldade de me conectar e, principalmente, de me abrir novamente. Acho que isso é típico de quem sofreu tanto nas mãos de quem tanto estimou.
Ainda me dói lembrar da situação, como se aquela pessoa não fosse eu, porque na lucidez de hoje não consigo me imaginar me submeter àquilo. Porém, é assim que funciona. A gente se cega para a situação, acredita que aquilo é afeto, que esse é um jeito especial de demonstrar carinho e amor, que são apenas defeitos de uma pessoa insegura.
Além de mim, quantas mulheres não passaram por isso? Quantas pessoas caminharam lá fora com nada no peito além de incertezas? Quantas feridas foram cicatrizadas de forma dura e dolorosa? Não só isso, quantas mulheres perceberam o início de algo perigoso, mas se submeteram por se enganarem?
Fonte: Imagem de sweetlouise no Pixabay
O assunto também é abordado por Edwards (2011), ao alegar que entre 31% a 85% dos relacionamentos abusivos continuam por um tempo após o primeiro incidente de abuso. É importante lembrar que a vítima nunca é culpada pelo abuso e que deixar um relacionamento abusivo é um processo complexo e desafiador. É essencial oferecer apoio, compreensão e recursos para as pessoas que estão em relacionamentos abusivos, para que elas possam encontrar a coragem e os recursos necessários para buscar uma vida livre de abuso.
A psicologia desempenha um papel fundamental no entendimento e abordagem dos relacionamentos abusivos. Os relacionamentos abusivos são compreendidos como um padrão de comportamento disfuncional e prejudicial, que envolve desequilíbrio de poder e controle. É crucial buscar apoio emocional e profissional durante a jornada de reconstrução. Isso pode incluir terapia individual, grupos de apoio ou aconselhamento especializado em violência doméstica. O apoio de amigos, familiares e redes de suporte também é valioso nesse momento.
Após um relacionamento abusivo, é importante dedicar tempo para refletir sobre suas experiências, identificar os padrões abusivos e reconhecer o impacto que tiveram em sua vida. Esse processo de autoconhecimento permite aceitar o que aconteceu e começar a trabalhar na reconstrução.
Lembre-se de que cada pessoa tem seu próprio ritmo de recuperação e reconstrução. Não há um caminho único e definitivo. Permita-se tempo para curar, seja gentil consigo mesmo e celebre os pequenos progressos ao longo do processo. A reconstrução da vida é um processo contínuo, e com o apoio adequado, é possível alcançar uma vida mais saudável, feliz e plena.Se você está passando por uma situação semelhante, saiba que você não está sozinho. Há ajuda disponível e pessoas dispostas a apoiá-lo. Tenha coragem para buscar esse suporte, pois você merece.
REFERÊNCIAS
EDWARDS, K. Deixando um Relacionamento de Namoro Abusivo: Uma Análise do Modelo de Investimento e da Teoria do Comportamento Planejado. 2011. Tese ou Dissertação (Tese ou Dissertação Eletrônica).
SOARES, M. B. Enfrentando a violência contra a mulher. Brasília: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. 2005.
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Entre parentes(es): imaginar-experimentar outras formas de criação
Sendo mulher, você não pode simplesmente dizer que não quer filhos. Você precisa ter algum grande plano ou ideia do que você vai fazer em vez disso. E é bom que seja algo incrível.
(Sheila Heti, Maternidade)
São diversas as camadas que envolvem um tema de complexidades como esse, e também as suas possíveis ramificações, que vamos apenas margear. Inicio, então, com algumas perguntas para fomentar diálogo e movimento: Qual o significado de “ser mãe” na sociedade moderna ocidental? Como você se sente ao imaginar a (im)possibilidade de “tornar-se mãe”? Qual a sua motivação e propósito para criar uma criança? Para você é importante passar pela experiência da gestação e parto? Você se imagina partilhando a criação de uma criança independente de tê-la gerado, gestado e parido?
Quero também colocar algumas provocações, desde já: Podemos pensar nomes e formas outras de/para vivenciar as experiências de “maternidade” e maternagem? Seriam essas experiências idênticas e uniformes?
O convite para essa escrita me chegou como pedido de um texto livre, algo que aprecio, pois permite desenvolver um estilo mais ensaístico que me é muito caro; ao mesmo tempo em que afrouxa os contornos do pensamento e demanda uma atenção mais concentrada, ainda que flutuante. Assim, num exercício de delinear alguns fios condutores para essa breve escrita-leitura, são três as inspirações que me animam: uma elementar contextualização histórico-cultural e social; algumas das encruzilhadas e atravessamentos de minhas próprias vivências pensantes sobre o tema; e a recente expressão de uma pessoa que atendo em processo psicoterapêutico: “Vivi a vida inteira não querendo filhos […]. Mas será que vou ter que ter filho para ter uma família grande de novo?” (sic).
Dito isso, é provável que as pessoas leitoras tenham percebido a ausência da palavra mulher até aqui (com exceção da epígrafe) e que essa percepção possa gerar um contrassenso com a temática proposta. Contudo, essa é uma falta deliberada, desde onde elegi estabelecer a marcação histórico-cultural e social a ser sobrevoada no texto.
Dessa forma, a noção hegemônica de maternidade, como a conhecemos ainda nos dias atuais, com o sentimento da infância e do amor materno romantizados, foi ganhando contornos mais nítidos a partir do século XVIII no cenário da Europa branca e burguesa (ARIÈS, 1981). Nesse mesmo contexto, de acordo com a tese foucaultiana, um conjunto de dispositivos estratégicos de controle e produção social foi se estabelecendo e se encadeando ao longo da história civilizatória moderna, forçando à histerização do corpo da mulher, à pedagogização do sexo da criança, à socialização das condutas de procriação e à psiquiatrização do prazer dito perverso (FOUCAULT, 1988). Tivemos, assim, o solo (in)fértil de contaminação patriarcal, colonizador e capitalista, de onde foram produzidas as normativas de gênero, de sexualidade e monogâmica; como também os próprios sujeitos que se constituíram e se assumiram dissidentes a essas mesmas normas.
Esse sobrevôo vislumbra o processo de construção histórico-cultural e social que determinou a imagem e subjetividade social dominante de mulher (num contexto branco e burguês), restrita à função e ao papel de esposa e mãe, isto é, a quem estava destinado imperativa e exclusivamente o espaço doméstico. Dessa maneira, o que estou colocando para perspectiva são outras formas possíveis de gerar vida, de gestação, de maternagem, para além dos literalismos biológico, consanguíneo e humano (justamente por ter em consideração seus valores).
Maya, Margot (não-humanas) e Camila (humana). Foto de arquivo pessoal.
Nesse sentido, além da partilha da criação de Margot (companheira canina, in memorian) em seus oito anos e de comparticipar da criação de Marcelo (sobrinho) em seu um ano de vida até agora, as experiências que mais me transformaram foram gestar, parir e maternar a mim mesma (e me permitir ser maternada por pessoas amadas) nas cenas e reverberações de acontecimentos concomitantes dos últimos quatro anos: a separação em um casamento de dez anos, a pandemia da Covid19 e a ressignificação da relação com minha mãe biológica (e com o feminino e o materno arquetípicos); em simultâneo às dinâmicas psíquicas de um stellium (aglomerado) de planetas em trânsito por capricórnio na casa oito do meu mapa astral natal, conjunto ao stellium de planetas que já tenho nessas mesmas posições.
O que estou compartilhando, no intuito maior de (te) inspirar respiros nas/com as próprias experiências, é que, paradoxalmente, somente me permiti acolher de forma consciente as atribuições sociais do feminino (como vulnerabilidade, amorosidade e sensibilidade) ao ir me reconhecendo uma pessoa queer, que ainda assim tem (como todas as pessoas e singularmente) seu corpo e subjetividade marcados pelo sistema binário de sexo-gênero.
Camila e Marcelo (sobrinho). Foto de arquivo pessoal.
Por fim, para dialogar com a expressão supracitada de uma das pessoas que acompanho em processo psicoterapêutico (tendo em vista que não é pretensão analisá-la aqui), formo aliança com Donna Haraway ao provocar uma ampliação para outras maneiras de criar laços, vínculos e afetos no mundo contemporâneo e porvir: “Faça Parentes, Não Bebês!” (HARAWAY, 2016, p. 141). A professora e filósofa pós-feminista formula a seguinte questão ao construir seu pensamento fabuloso: “[…] e se os novos ‘normais’ se tornassem uma expectativa cultural que cada nova criança pudesse ter pelo menos três pais comprometidos na vida?” (Ibid., p. 145; aspas minhas).
Nessa altura, faço também uma entrada para mencionar que nos últimos anos, desbravando a validação e direito de existência nos espaços públicos e privados, pessoas trans nos possibilitam olhar mais explicitamente para as rupturas das construções de categorias, funções e papeis sociais ligadas ao sexo-gênero e suas reduções a determinantes biológicos. Desse modo, se ampliamos o olhar, é possível gerar, gestar ou maternar também relações, projetos e trabalhos, seres amigos, parentes humanos e não-humanos; tendo ovários, útero, vagina ou não. Ainda, mulheres trans e homens cis podem maternar. Homens trans e mulheres cis podem optar por não gestar. E pessoas queers e não-binárias vivem em seus corpos e subjetividades as suspensões e fissuras dessas próprias fronteiras.
Nesse sentido, está em reflexão a questão de que a “maternidade” e maternagem não são prerrogativas de “ser mulher”. O convite para a quebra de paradigma que vimos presenciando diz respeito ao rompimento com uma perspectiva binária e dicotômica de mundo, uma abertura para vivências e construções outras que reconheçam a pluralidade das possibilidades de existir e, ao mesmo tempo, a singularidade de cada vida e experiência.
Jequitibá (não-humano) e Camila (humana). Foto de arquivo pessoal.
Então, se vamos insistir na categoria maternidade, considero plausível ao menos seu uso no plural, maternidades, e, em nossa proposta imaginativa, maternagens, pois cada pessoa cria sentidos subjetivos únicos dessas (não) experiências. Coloco em questão a insistência no termo maternidade, considerando que dispomos de outras palavras (gestante, parturiente, lactante, por exemplo) que podem trazer consigo mais cuidado, além de sinalizarem o caráter singular dos diversos processos que compõem tais vivências, que acaba(ra)m por ser uniformizados e universalizados no uso das categorias mulher, mãe e maternidade, como se fossem umas simples extensões das outras.
Essa breve escrita, no intento de abrir novas zonas de sentidos acerca da singularidade e pluralidade dos modos de maternidades e maternagens, envolveu também um espaço para a (auto)indagação de se você já pensou/reparou esses significados e sentidos no curso dos acontecimentos da sua vida. Portanto, sigo compondo com a aposta de que não há escolha certa ou errada, o que talvez haja é o (des)conhecimento dos próprios desejos e motivos nessas experiências, bem como da forma de vivenciá-los inconsciente ou conscientemente.
REFERÊNCIAS
ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Trad. Dora Flasksman. Rio de Janeiro, RJ: LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora S. A, 1981.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: A vontade de saber. Trad. Maria Thereza C. Albuquerque; J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988.
HARAWAY. Donna. Antropoceno, Capitaloceno, Plantationoceno, Chthuluceno: fazendo parentes. Trad. Susana Dias, Mara Verônica e Ana Godoy. ClimaCom – Vulnerabilidade [Online], Campinas, ano 3, n. 5, 2016. Disponível em http://climacom.mudancasclimaticas.net.br/antropoceno-capitaloceno-plantationoceno-chthuluceno-fazendo-parentes/.
HETI, Sheila. Maternidade. Trad. Julia Debasse. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
Um relato do começo da minha adolescência com anorexia. Atenção: esse texto contém relatos sensíveis sobre transtornos alimentares.
Autoria anônima
A adolescência é marcada por diversas mudanças fisiológicas e psicológicas, além de ser uma fase em que a influência das redes sociais é notável. Tendo isso em vista, muitas meninas adolescentes são atingidas pelas demandas da sociedade com relação ao corpo. Neste contexto, o desenvolvimento de transtornos alimentares pode ser um risco, uma vez que a cultura da magreza é posta como algo essencial para o valor feminino e isso é acentuado durante a adolescência.
Segundo Silva e Daniel (2020) os transtornos alimentares (TAs) são condições psiquiátricas determinadas por uma alteração crítica do comportamento alimentar, o que pode comprometer a saúde física e psicossocial. O transtorno que será tratado aqui é a Anorexia Nervosa (AN), que pode ser descrita como um distúrbio no qual o indivíduo faz uma restrição na ingestão calórica em relação às suas necessidades diárias, chegando até a parar de comer completamente. O temor persistente com o ganho de peso e a desordem na percepção do próprio corpo é uma característica observada em pessoas que apresentam esse transtorno.
Também existe a bulimia nervosa, que é caracterizada quando o indivíduo tem episódios regulares de compulsão alimentar, desordem na percepção do corpo e comportamentos de compensação pelo alimento ingerido durante a compulsão alimentar. Esses transtornos podem se tornar mais evidentes durante a adolescência devido às mudanças citadas.
Eu fui uma das adolescentes atingidas pela anorexia nervosa, me vi envolvida em demandas que nem sempre foram minhas e recorri ao que estava mais próximo de mim , ou seja, as redes sociais. Quando eu estava no auge dos meus 12 anos comecei a encontrar defeitos no meu corpo e não sabia o que fazer com eles, pra onde levar, como resolver? Vi no Tumblr a saída ideal: parar de comer. Claro que não consegui parar totalmente de um dia para o outro, mas fui aos poucos.
Comecei a não tomar café da manhã, algo que eu gostava tanto, para um sacrifício maior. Tudo o que eu estava fazendo fazia sentido na minha cabeça, se eu não tomar café meu corpo vai ficar com o aspecto mais magro por mais tempo, mas logo isso não foi o suficiente. Depois disso fui procurar dicas em site da internet de como poderia emagrecer mais rápido e encontrei páginas, perfis que além de dar essas dicas postavam fotos de meninas magérrimas (anoréxicas) e de como elas estavam felizes pois conseguiram atingir o objetivo maior, o único que importava, que era o de ser magra.
Parti de não tomar café da manhã para tomar somente água com gelo quando sentia fome e a almoçar sozinha, para que tivesse a cozinha somente para mim e pudesse jogar a maior parte da comida que estava no prato fora. Isso tudo trouxe consequências, me sentia fraca o tempo inteiro, estava irritada, dormia muito e me sentia terrivelmente triste, claro que eu achava que era porque eu não estava magra ainda mas era por falta de nutrientes. Isso não passou despercebido pela minha família.
Meus pais estavam preocupados comigo porque além de estar irritada o tempo inteiro eu estava engordando. Na época isso foi um dos motivos de ter continuado porque pensei como assim não está funcionando? Ficar sem comer por horas e saciar minha fome em “besteiras” parecia o caminho certo, o que mais eu precisava fazer? Recorri novamente à minha fiel plataforma social e procurei mais afundo dicas, formas, jeitos milagrosos de não sentir fome e finalmente emagrecer.
Nisso encontrei novos objetivos para mim que eram como metas, primeiro eu preciso que os ossos da minha clavícula estejam à mostra, depois que minhas pernas não encostem uma na outra, que os ossos das minhas mãos estejam mais acentuados e assim vai. Criei essa rotina de fantasiar meu corpo ideal constantemente quando estava com fome e comer muito pouco quando era obrigada.
Para as anoréxicas, os limites do corpo quase se apagam diante das circunstâncias em que vivem, do cotidiano de seus relacionamentos, dessa rede de relações concretas e afetivas em que estão submersas. Toda condição e situação que a rigor está matizada nessa imagem disforme que a anoréxica tem de si mesma e que se expressa pela insatisfação com o tamanho do seu corpo e a perda de peso (GIORDANI, 2006).
Depois de um tempo passei a notar pequenas mudanças, meu anel que usava todos os dias não ficava mais no meu dedo, meu cabelo começou a cair, se eu me machucava a ferida demorava o dobro do tempo para cicatrizar, meus ossos da clavícula finalmente começaram a aparecer e o pior de tudo, não conseguia dormir durante a noite. Em meio a essas mudanças, eu sentia vontade constante de não estar viva e não ter que lidar com meu próprio corpo, não queria mais ter os braços que eu tinha, o rosto que eu tinha e os peitos que eu tinha.
Quando aqueles ao meu redor notaram que eu estava mais magra me elogiavam e aquilo alimentava a minha fome, eu pensava que precisava ficar mais magra ainda porque só assim eu seria feliz, eu teria notas boas, eu teria mais atenção dos amigos e vestiria roupas mais bonitas. Além de notar minha nem tão repentina magreza, minha família notou a irritação, os fios de cabelo que eu deixava para trás e a tristeza aos poucos me consumindo.
Em um dia que eu guardei comigo eu fui passear na chácara do meu tio e não tinha me sentido bem daquela forma em muito tempo, peguei sol, tomei banho no lago e fiquei longe do celular. Na volta fui olhando a natureza e sentindo o vento no rosto pensei que talvez a vida não fosse somente sobre o nosso corpo, sobre ser magra, talvez eu poderia pensar em outras coisas. Quando voltei para casa a realidade bateu no peito e senti que estava traindo tudo aquilo que “acreditava” e todas aquelas pessoas que eram da minha comunidade de anoréxicas.
Enquanto tudo isso acontecia eu já estava mais velha, com 14/15 anos e sentia que estava entrando em um buraco sem fundo, o sentimento de não me encaixar e de ter que emagrecer diminuiu e a tristeza tomou conta. Talvez foi uma consequência do que eu fazia antes ou de onde eu navegava pela internet mas me vi nesse lugar diferente mas muito parecido com antes.
Minha recuperação só começou porque enquanto eu estava pesquisando sobre como emagrecer ou como não existir mais de forma menos dolorosa eu também encontrava posts que diziam que eu poderia melhorar, que eu precisava de ajuda e que ser magra não é tudo. Procurei ajuda profissional quando senti que não aguentava mais, ou era isso ou não era mais nada.
Enquanto ia melhorando com a ajuda de medicação, psicóloga e dos meus amigos foi caindo a ficha do dano que eu tinha feito no meu próprio corpo, eu não lembrava de coisas que tinha estudado, não lembrava de acontecimentos importantes e menos cabelo e mais cicatrizes. Apesar de me sentir melhor, ainda existia uma voz na minha cabeça que dizia que eu precisava emagrecer, não era o suficiente ser feliz e me sentir bem, eu precisava daquilo para a minha vida fluir melhor.
Fui crescendo, melhorando, comendo e consequentemente engordando, era uma sensação estranha estar bem e ainda assim não ser magra. Atribui meu peso novo a minha felicidade e ao estar bem com o meu corpo e cheguei a conclusão que quanto mais magra eu era mais triste eu estava e vice versa, isso ia contra tudo o que as pessoas na minha comunidade acreditavam então larguei de vez o aplicativo, exclui todas as fotos de corpos magros que tinham no meu celular e segui a vida.
Hoje enquanto adulta vejo o real dano que tudo isso fez na minha vida, passei por coisas que ninguém deveria passar e pensei em diversas formas de destruir o meu corpo pouco a pouco, mas ao mesmo tempo me perdoei, porque eu não sabia pra onde jogar a cobrança da sociedade e era muito nova para entender completamente o que estava acontecendo.
A voz que diz que preciso ser magra ainda ecoa dentro de mim, ainda me pego com hábitos alimentares péssimos, me pergunto de onde eles vem e encontro a resposta na adolescente de 15 anos que absorveu tudo o que a cultura da magreza tinha para dar para ela. Mas encontrei pessoas que passaram pelas mesmas dificuldades, aos trancos e barrancos também se recuperaram e hoje temos o que pode ser chamado de rede de apoio para quando tudo isso voltar.
A influência que as redes sociais tinham sobre mim era imensa, eu estava me vendo como alguém no mundo e me deparei com defeitos e erros que nem sequer existiam visto que eu estava mudando e passando por um processo natural dos seres humanos. Eu me alimentava de ódio pelo meu corpo e por todos aqueles que se pareciam comigo, sem ver o que estava perdendo do começo da adolescência e comprometendo o futuro.
Se você se identificou com esse relato, saiba que é possível se sentir melhor. Busque ajuda e se acolha junto aos seus… você não está só. Abaixo estão as informações sobre como buscar ajuda. Acesse: https://www.wannatalkaboutit.com/br/ e busque por ajuda <3
Referências
DA-SILVA, Giulia Gomez; DANIEL, Natália Vilela Silva. Relação do uso de redes sociais com risco de transtorno alimentar e insatisfação corporal em adolescentes escolares. Artigo Original,[s. l], p. 1-9, 2020.
GIORDANI, R. C. F.. A auto-imagem corporal na anorexia nervosa: uma abordagem sociológica. Psicologia & Sociedade, v. 18, n. 2, p. 81–88, maio 2006.
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Alunos de Psicologia Analítica participam de mesa redonda sobre Terapia Junguiana e Ecopsicologia
Na última segunda-feira, dia 10, das 19h às 20h15, os acadêmicos de Psicologia da disciplina de TTP 2- Psicologia Analítica (da manhã e da noite) assistiram a uma mesa redonda virtual promovida pelo Instituto do Imaginário, de São Paulo – SP.
O evento, que contou com a participação dos professores doutores Malena Contrera, Marco Aurélio Bilibio e Jorge Miklos, discutiu a solidão a partir da perspectiva da Anima Mundi. O tema é fruto da interface entre a terapia junguiana e a ecopsicologia.
A mesa redonda alertou para o fato de a Psicologia voltar-se para a necessidade de os pacientes se (re)encantar-se com o mundo, sobretudo a partir de uma nova forma de se relacionar com a natureza, questionando o modo utilitarista e mecanicista de interagir com o mundo e com os seres. Isso seria um dos antídotos para a atual epidemia de sofrimentos psíquicos.
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Projeto Crescer realiza centenas de intervenções terapêuticas na comunidade
O CRESCER é um Programa de Extensão Interdisciplinar do curso de Psicologia da Ulbra Palmas que envolve as disciplinas de Processos Grupais, Intervenção em Grupos, Ética e Intervenção em Situação de Crise, tendo em vista a realização de atividades grupais e comunitárias com base nos saberes da Psicologia, que busca fomentar conscientização e autonomia para promover saúde mental da população, desenvolver habilidades de autorregulação emocional, a partir diferentes ações coletivas com o estabelecimento de práticas terapêuticas intra e intersubjetivas.
As ações deste semestre são coordenadas pelo prof. Sonielson Sousa e, em campo, são mediadas por acadêmicos(as) de Psicologia, em parceria com instituições públicas e privadas, mas também em ambientes informais de convivência coletiva (praças, feiras, espaço cultural etc).
O projeto garante o desenvolvimento de competências e habilidades dos acadêmicos para atuação em contextos de promoção de saúde mental em grupos. A proposta central é unir os diferentes saberes oriundos das disciplinas referidas para atuação em grupos em contextos de redução de estresse e ansiedade, além de gerar condutas de autocuidado e promoção de saúde mental, a partir do uso de Práticas Integrativas e Complementares (PICS), tais como meditação, fala e escuta compassiva, Dialética junguiana e comunicação não violenta.
Neste semestre, os acadêmicos atuaram em grupos terapêuticos nos seguintes segmentos: com Jovens de escolas públicas e privadas com sintomas de estresse e ansiedade; Educação emocional para Crianças de escola pública; Autocompaixão e atenção plena para professores da rede particular; Construção de sentido e reafirmação de valores entre idosos do CRAS; Mindfulness, Dialética e Autocompaixão entre usuários da Casa Vera Lúcia; Mindfulness, Dialética e Autocompaixão entre associados à Liga Feminina de Combate ao Câncer; Apoio emocional para mães; Escuta qualificada (com acolhimento) para mulheres vítimas de violência, dentre outros.
Todas as ações estão dentro da política de curricularização da extensão, o que garante que as disciplinas teóricas da Ulbra Palmas ofereçam condições para que os acadêmicos experimentem os pressupostos na prática, a partir do contato com a comunidade.
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A exaustão de estudar e trabalhar: relato de experiência
Meu sonho sempre foi fazer a graduação de Psicologia. É uma área que sempre me fascinou desde que eu estudava no Ensino Médio, mas um sonho que não pude realizar aos 17 anos quando terminei o terceiro ano. O principal motivo foi a condição financeira da época, já que Psicologia era um curso bem caro oferecido apenas por uma faculdade em Palmas em 2015. Naquele ano, fiz o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e passei para outro curso em uma universidade federal.
Cursei por quatro anos em um curso que, até então, não havia imaginado que seria a área que eu gostaria de ter uma carreira. Mas, foi nesse curso que expandi meu conhecimento e minha visão de mundo. Foram quatro anos de grandes aprendizados, descobertas e experiências. A vivência de ocupar esse espaço de ser estudante em uma federal me transformou em todos os aspectos da minha vida. Acredito que tenha sido o primeiro contato real comigo mesma nesse mundo. Foi também a primeira vez que eu trabalhei e estudei ao mesmo tempo. Eram oito horas de trabalho e três horas e meia de aula por dia. Era bem exaustivo e não sobrava muito tempo para fazer outras atividades.
Quando eu me formei, em 2017, voltaram os questionamentos se eu queria, de fato, exercer a profissão, que se misturaram com o sentimento de achar que eu não seria capaz de iniciar no mercado de trabalho. Assim, adiei essa entrada no mercado por mais de um ano e fui trabalhar com outras coisas. Mas, não conseguia afastar de mim o meu grande sonho. No início de 2018 finalmente me deparei com a oportunidade de conseguir cursar Psicologia, que foi quando ingressei no curso ainda na única universidade particular que o ofertava.
Entrar na graduação de Psicologia foi um passo rumo a grande sonho acompanhado de muitas expectativas. Em conjunto com esse sonho, veio também a inserção no mercado de trabalho pela profissão da minha primeira graduação. Com essa junção, os desafios de novas demandas passaram a ser muitos e foi esse o início de outra jornada dupla se repetindo entre trabalho e estudos.
Logo nesse início, me deparei com as dificuldades e a exaustão de estudar e trabalhar ao mesmo tempo. A diferença é que dessa vez era, de fato, o que eu tinha muita sede de aprender. E foi assim desde o primeiro período da minha graduação: vontade de descobrir e aprender tudo sobre a Psicologia. Em contrapartida, as horas que obrigatoriamente eu tinha e tenho que dedicar ao trabalho não me possibilitaram, nem matematicamente em relação ao tempo e nem em questão de esgotamento, dedicar todas as horas do meu dia que eu gostaria para esse projeto de aluna de Psicologia.
Então, também começaram as cobranças pessoais excessivas, frustrações por não conseguir lidar com as minhas próprias expectativas e, claro, as cobranças de produção que uma graduação exige do começo ao fim dos alunos: a rotina de incontáveis trabalhos, seminários, artigos, apresentações, estudos e provas. Em muitos momentos me senti desanimada com o sentimento de fracasso e isso acarretou em crises de ansiedade e medo de não conseguir dar conta de fazer o que deveria ser feito nos 10 períodos da graduação.
Em meio a tantas cobranças, como vivemos em uma sociedade que tem exigido cada vez mais produtividade das pessoas, essa imposição por produtividade contínua me sufocou também na área profissional e me fez ficar travada, estressada e incapaz de produzir inúmeras vezes. A sensação de viver em um looping de obrigações é sufocante e faz com que você se perca até nas coisas que gosta de fazer por simples prazer. No dicionário da Língua Portuguesa, exaustão significa “estado de grande cansaço físico ou mental”.
A jornada dupla de trabalhar e estudar é extremamente exaustiva, não permite que você participe de todos os eventos acadêmicos que gostaria, não dedique o tempo que deseja aos estudos, encontre obstáculos para as atividades complementares exigidas e compromete drasticamente o tempo de descanso do trabalho – essencial para a saúde mental -, o que gera fadiga e torna o dia a dia estressante e desgastante.
Dentre esses e outros desafios, o mais difícil de enfrentar para mim foi a administração do tempo e os problemas e estresse que a falta dele trouxeram. Junto com essa falta de tempo vieram preocupações que, por muitas vezes, me tiraram o sono, me deixaram ansiosa e não me deram o tempo que hoje percebo o quanto era necessário para que eu pudesse me respeitar e me permitir descansar e fazer coisas que eu gostava sem ser por mera obrigação.
Com todos esses obstáculos no caminho, reviver essa trajetória nessa etapa final me faz perceber o quanto será recompensador passar de uma posição de estudante para Psicóloga daqui a dois meses. Me traz reflexões sobre o quanto foi enriquecedor e a grande recompensa de tanta determinação nesse processo. Valeu muito a pena persistir e me deixou o aprendizado de que não há nada como um grande sonho realizado.·.
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Psicologia Ulbra realiza o IV Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica
Ocorre de 17 a 19 de abril o IV SIMTAPSI – Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica, com o tema Neurodivergência em foco: do psicodiagnóstico à intervenção. O evento ocorre em parceria com o 1º SINITOC – Simpósio de Neurodivergência e suas interfaces no Tocantins.
O SIMTAPSI já é uma tradição no Tocantins. Realizado pelo LAMAP, pela coordenação de Psicologia da Ulbra Palmas e com apoio institucional da universidade. Neste ano, conta com a participação de dezenas de convidados que irão participar de mesas redondas, palestras e minicursos, numa ampla programação durante três dias.
Dentre os temas abordados, destaca-se: Da investigação à intervenção; Direitos das pessoas neurodivergentes; Avaliação psicológica no contexto do SUS; Avaliação multiprofissional no contexto do desenvolvimento atípico; Avaliação neuropsicológica e o método Denver; A importância da avaliação da inteligência para o raciocínio clínico; As medidas qualitativas na avaliação neuropsicológica; Avaliação psicológica: da infância a velhice; O olhar da equipe multiprofissional como aliada no processo do diagnóstico e reabilitação.
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Psicologia realiza evento extensionista com curso de Filosofia da UFG
O curso de Psicologia da Ulbra Palmas, a partir da disciplina de Teoria e Técnicas Psicoterápicas II – Psicologia Analítica, sob a condução do prof. Ms Sonielson Sousa, estabeleceu uma parceria interinstitucional com o curso de Filosofia da Universidade Federal de Goiás – UFG, sob o comando do prof. Dr. Pedro Gomes Neto, para a realização de uma ação extensionista com o objetivo de apresentar e problematizar as bases kantianas da Psicologia Analítica Junguiana.
A ação, denominada de Diálogos Ulbra e UFG: a teoria kantiana na psicologia complexa junguiana, irá ocorrer em dois sábados deste mês de abril (em datas a confirmar), pela manhã, e contará com a participação de alunos da Ulbra Palmas e da UFG, além da parceria do Instituto Olhos da Alma Sã, de Goiás, e do Coletivo Junguiano do Tocantins, que contarão com vagas para participar do evento. Espera-se que ação – que é gratuita – conte com a participação de 100 pessoas, entre docentes e discentes. As inscrições serão lançadas em breve, e os participantes receberão certificados.
O projeto tem como objetivos incentivar o olhar crítico dos acadêmicos, a partir de um estímulo à diversidade de epistemologias dentro do curso de Psicologia, sobretudo ao tentar abandonar a busca por uma verdade; Descrever e refletir sobre a teoria do conhecimento Kantiana; e apresentar e debater sobre a influência da teoria kantiana na psicologia complexa.
Kant no pensamento junguiano
O evento objetiva discutir, analisar e refletir sobre a importância da teoria kantiana na psicologia analítica, especificamente ao trabalho de Carl Gustav Jung (1875-1691). Kant revolucionou a teoria do conhecimento ao propor que o caminho seguro para as ciências é a investigação dos fenômenos, e não dos númenos (essência; verdade). A ciência, para Kant, deve se ater ao que pela sensibilidade se torna possível ter um conceito, entendimento, e isto só é possível se a investigação for direcionada por objetos sensíveis ou fenômenos. Esta reviravolta na teoria do conhecimento impactou decididamente as novas empiricidades, como afirma Foucault, ou as novas ciências emergentes no século XIX, inclusive a psicologia. Esta faz uso da teoria kantiana reconsiderando o próprio conceito de psicologia, bem como a sua atuação.