Momento Waldo e a Procrastinação Grupal

No terceiro episódio da segunda temporada da série Black Mirror, escrita por Charles Brooker, observamos a história de Jamie Salter. Ele é um comediante responsável pela criação de Waldo, um mascote virtual caracterizado por seu modo debochado de se expressar, o uso de palavras e gestos obscenos e o senso de humor ácido presente em cada palavra proferida. Durante o decorrer do tempo, o número de fãs só aumenta. É tanto que solicitaram à equipe organizadora de desenho animado que o mesmo se candidatasse à presidência dos Estados Unidos.

Salter, diante da rápida eminência, começa a refletir sobre o fracasso de sua vida pessoal e profissional. Inicia o processo de se questionar sobre quem ele é, quais vínculos relacionais tem constituído, se é feliz. Tal realidade o faz ameaçar deixar de atuar como Waldo, uma vez que entende que a proporção conquistada podia não ser tão benéfica assim.

Ao povo era dado o que queriam, pelo que clamavam: entretenimento! Diversão! Gargalhadas! Precisavam de uma figura representativa. Esse contexto gera em nós alguns questionamentos: o que viam em Waldo? Quais figuras de liderança estavam presentes na história de vida da população? Os atributos de Waldo apontavam para que estilo de liderança? Ou isso era irrelevante? O comportamento grupal pode ser entendido como uma crítica aos políticos? Se sim, o que pretendiam com essa crítica?

Fonte: goo.gl/ZwgjKu

À vista da acessibilidade à informação que possuímos na contemporaneidade, o que, por consequência, nos possibilita a colher recursos informacionais para produzirmos o conhecimento, fica a indagação: o que nos impede de alcançar, no processo de busca, a condição de sujeito pensante e atuante? Que busca gerar mudança no ambiente habitual?
Uma possível resposta está no comportamento de procrastinar. Afinal, a permanência da saída da zona de conforto não é conseguida com a única emissão de apenas um comportamento.

Dessa forma, o presente texto se baseia na compreensão do comportamento de procrastinar, a partir de uma óptica da Análise Experimental do Comportamental (AEC).

Fonte: goo.gl/HeHHNs

Segundo o Dicionário Aurélio (2016, s/p) procrastinar pode ser assim definido: “deixar para depois; usar de delongas”. Definição que vai ao encontro do consenso geral. Conforme Skinner (2007) todo comportamento apresenta uma função. Diante disso e da consideração de que o comportamento operante é caracterizado por ser seguido de mudança ambiental, temos algumas observações a fazer: A punição diminui a frequência de o comportamento voltar a ocorrer. Assim, se na história de vida do indivíduo o mesmo já lidou com situações iguais ou similares à presente e não obteve êxito, não soube fazer ou recebeu críticas/gritos quando executou a chance de a circunstância se apresentar como estímulo aversivo é aumentada.

Outra possível explicação é que, diante da paridade (apetitivo e aversivo) de estímulos, o organismo provavelmente responderá ao que lhe for mais apetitivo. Exemplificando: dentre rir e provocar mudança na circunstância presente, é provável que haja emissão do comportamento de rir.

Sobre a perspectiva apresentada, Banaco (1997, p. 3) afirma:

Veja bem: de um lado, a tarefa multi exigente, de pequenos passos, distante do resultado final que é incerto (sempre tem um monte de gente que pretensamente sabe mais que você e vai avaliar seu trabalho – com frequência “detonando” o que você fez), versus uma tarefa bem fácil, ali, na sua mão, mais prazerosa, que depende só de você e de resultado imediato… mesmo que esta segunda tarefa não tenha lá grande importância, o “apelo” que sentimos para fazê-la é bem marcante. Com estas concorrências, gradativamente a tendência é deixar a tarefa de resultado atrasado, de valor mediano e incerto, mesmo que importante, e optamos por fazer as tarefas de resultado imediato, mais prazerosas, mesmo que de intensidade pequena.

Fonte: goo.gl/giKaZ6

A partir do que até agora foi exposto, citamos algumas relações mantenedoras do comportamento de procrastinar e, assim, compreendemos que se determinado indivíduo se comprometer a potencializar/reforçar respostas pelo menos do nicho social que está localizado, situações como as visualizadas no “Momento Waldo” tendem a ser menos frequentes, culminando num maior comprometimento social.

REFERÊNCIAS:

AURÉLIO, Dicionário. 2017. Disponível em: <https://dicionariodoaurelio.com/procrastinar> Acesso em: 04/09/2017.

BANACO, R. A. Sobre comportamento e cognição: Aspectos teóricos, metodológicos e de formação em análise do comportamento e terapia cognitivista. São Paulo: Arbytes. 1997.

SKINNER, B.F. Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2007.