A universidade como um sistema de manutenção de desigualdade

Por Lílian Rosa Ribeiro Nunes (Acadêmica de Psicologia) – lilianrosanunescosta@gmail.com

O homem está mais perto de sua superpotência como jamais antes na historia, ele levanta cedo, toma seu café e parte para sua jornada de trabalho, produz como nunca, dedica horas a fio a seu trabalho de vital importância, habita espaços tão belos como nunca visto antes, nada se compara a tecnologia e arquitetura de seus espaços instragamáveis. As construções decadentes de outras épocas nem se aproximam do esplendor dos majestosos prédios de concreto espelhado, é tão evoluído que suas relações já não lhes tomam tempo, seus afetos são distribuídos em corações em redes sociais, logo ele tem capacidade de nutrir uma grande rede de amigos.

Nunca antes teve homem com tanta influência mundial na palma da mão, nunca mais precisou ler um livro inteiro, logo podia usar esse tempo para produzir, não precisava passar horas escutando conversas, pois sua conversa é na velocidade dois. Tem toda a diversão que precisa ao rolar infinitamente o feed em um milhão de conteúdos, e consequentemente está “dopaminado”; não precisa perder tempo com frivolidades, conta com a mais alta tecnologia para limpar, lavar e cozinhar, e a recompensa por suas árduas horas de trabalho é poder ir a magníficos shoppings que oferecem todas as possibilidades de cores, sons, cheiros e sabores. É a felicidade ao toque magnético do cartão, o super-homem está além da natureza. O calor e o frio não o alcançam. Tem ar-condicionado e aquecedor, enfim o super homem é belo, branco e magro. Não sofre preconceitos, racismo, violência e pobreza. Ele está acima do bem e do mal, alcançou a evolução a nível nunca sonhado antes, moldado e criado à imagem e semelhança do seu senhor sistema capitalista e neoliberal!

Essa é a imagem contemporânea do sucesso. Acredito que se fosse desenhar um modelo ideal de cidadão seria apresentado assim, é um modelo bastante vendido. Hoje o homem vem sendo moldado e projetado para seguir e servir a lógica de mercado, sem se importar com as implicações e adoecimento geral que esse modelo de existir provoca e os sistemas patriarcais e racistas que são perpetuados pelo mesmo. As instituições deveriam ser responsáveis para formar pensadores e criadores de novos sistemas capazes de provocar mudanças em si e em seus contextos de atuações através da formação de pensadores e intelectuais críticos, com profundidade, conteúdo e visão de mundo (aí entra a capacidade de o estudioso ir para além da sua bolha e contexto econômico e social).

Nunca antes na história se teve acesso a tantas áreas e dimensões de forma tão acessível como traz a internet e rede sociais, sem precisar se fixar em paradigmas únicos, mas ainda assim os modelos geradores de saber, as ditas universidades, estão quase que exclusivamente a serviço do mercado de trabalho, com sua atuação e orientação voltadas a formar mão de obra para o mercado. Vivemos um tempo de maior ascensão da universidade no Brasil, nunca antes na história foi tão acessível a entrada nesse mundo acadêmico (não quer dizer também que todos têm acesso, o buraco é muito mais embaixo). Porém a abertura dessas portas não é para formar mais pensadores que se desenvolvem humanamente. Visa mais a formação profissional, a finalidade das universidades tem sido formar mão de obra para o mercado de trabalho.

Essa crítica vem no nível de pensar que se as instituições que eram para criar sujeitos capazes de enxergarem os sistemas que estão inseridos, quais os seus interesses e a serviço de quem estão, nada mais são que massa de manobra replicadoras, que contribuem para a manutenção desse sistema injusto, desigual e precário.

É necessário pensar para além da atuação, sua formação está a serviço de que ou de quem? Serve a qual interesse? Não tenha pressa de chegar lá, se preocupe mais em como vai estar quando chegar. Agucem o senso crítico, embasem suas práticas e não me refiro só a métodos cartesianos. É ser capaz de mergulhar profundamente na realidade do nosso país que é tão rico em sua diversidade. É descolonizar suas teorias e práticas. Resista, faça da sua atuação uma potência e assim contribuir com a construção de um mundo mais justo e humano!