Frozen – Uma Aventura Congelante

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Com duas indicações ao Oscar:

Melhor Animação e Melhor Canção Original por Let It Go

 

É bem verdade que faz algum tempo que as animações deixaram de conquistar somente o público infantil. A cada ano que passa mais filmes desse gênero convidam até mesmo os adultos a sentarem em frente à TV e se deliciar com as mais diversificadas histórias. Este é o caso de Frozen – Uma aventura congelante. A 53ª animação produzida pelos estúdios Walt Disney, inspirada levemente no conto de fadas A Rainha da Neve (1845), de Hans Christian Andersen. Frozen foge totalmente dos clichês de príncipes e princesas, trazendo uma aventura que nos faz sorrir e chorar, e sorrir novamente.

Frozen conta a história das princesas Elsa e Anna, que são separadas por um terrível dom. Elsa, a princesa mais velha, é detentora da capacidade mágica de produzir neve e transformar tudo aquilo que toca em gelo. No entanto, de uma hora para outra, por ser ainda criança, não tem o menor domínio sobre seu dom e, infelizmente, provoca um acidente levando quase a morte da irmã caçula, Anna. É então que Elsa é obrigada a manter-se reclusa.

 

 

As irmãs sempre foram criadas unidas, inseparáveis. Os poderes de Elsa não eram segredo para a família, Anna sempre pedia exaustivamente para que a irmã “fizesse acontecer”. Após o acidente o Rei apenas ordenou “Esconda, não sinta, não deixe que eles saibam” e colocando sobre as mãos da pequena Elsa luvas para protegê-la de si mesma.

 

 

Conforme a análise comportamental, a aprendizagem, inicialmente, se dá por meio da tentativa e erro, ou seja, aprendemos a executar aquelas ações que nos recompensam ou nos ajudam a evitar o sofrimento. No caso de Elsa, para evitar “seu” sofrimento era necessário esconder-se ao máximo, excluindo-se do convívio social, e até mesmo familiar.

Skinner apontou que os eventos que aumentam a probabilidade de ocorrência de um determinado comportamento são denominados Reforços. Um reforço pode ser uma recompensa palpável, um elogio, uma atenção ou uma atividade gratificante (Myers, 1999). A teoria do reforço, então, preceitua que as ações com consequências satisfatórias sobre o indivíduo fazem com que as práticas tendem a ser repetidas no futuro, enquanto o comportamento punido tende a ser evitado.

 

 

Mas quais os tipos de Reforço que Elsa recebeu? Elsa não recebeu nenhuma recompensa positiva por sua reclusão, por manter-se afastada, ao contrário, sentia-se cada vez mais triste, depressiva e sem nenhuma expectativa de vida. Manter-se afastada significava a segurança da sua família e do reino, mas não a sua segurança, não o seu bem estar. Neste caso temos o conceito de Punição, também atribuído por Skinner. Por ter sido inconsequente e colocado a vida de Anna em risco, como castigo e prevenção, os pais da criança resolveram mantê-la presa e distante de quem quer que fosse.

 

 

A punição suprime o comportamento indesejado, mas não orienta o indivíduo para um comportamento mais desejável. A punição também pode acarretar diversos problemas, pois, segundo Skinner (1983), a estimulação aversiva acarreta respostas do sistema nervoso, entendidas como: ansiedade, depressão, baixa autoestima. Além, é claro, de que o comportamento não é esquecido, apenas suprimido. Pode ser que, após a estimulação aversiva ter sido eliminada, o comportamento pode voltar a ocorrer.

 

 

“Esconda, não sinta, não deixe que eles saibam” era a frase proferida constantemente por Elsa. Ninguém poderia imaginar o que se passava dentro das paredes do castelo, em especial no quarto da filha mais velha do Rei. As pessoas sequer imaginavam quantas vezes Elsa teve que repetir essa frase para si mesma, até o ponto de acreditar que era uma aberração e um perigo eminente. Elsa se transformou na solidão em pessoa, não havia amigos para escutá-la, não havia solução para seus problemas, ao contrário, a jovem princesa precisava dia após dia ter um controle sobre seu dom, que estava cada vez mais forte.

O Rei havia dito que o melhor era manter tudo em segredo, e Elsa concordou. Mas, como dito anteriormente, um comportamento punido não é esquecido e pode voltar quando uma estimulação aversiva é eliminada. E foi o que ocorreu.

 

 

Anna não recordava do acidente e por isso não entendia o porquê da irmã nunca sair do quarto. Nem mesmo após a morte dos seus pais em um acidente marítimo. Inúmeras e incansáveis vezes Anna tentou fazer com que a irmã saísse do quarto, respirasse ao ar livre, brincasse com ela novamente. Mas sem sucesso.

 – Você quer brincar na neve? Um boneco pra fazer. Você podia me ouvir, a portar abrir, eu quero só te ver. Nós erámos amigas de coração, mas isso acabou também. – Vai embora, Anna.

– Você quer brincar na neve? De alguma coisa que eu não sei? Já faz tempo que não vejo mais ninguém, até com os quadros da parede já falei. É meio solitário, tão vazio assim, só vendo o relógio andar.

– Elsa, por favor me escuta. Todos perguntam sem parar e me encorajam para te dizer, mas espero por você. Me deixa entrar? Só temos uma a outra, o que vamos fazer? Temos que decidir. Você quer brincar na neve?

(Trechos da música Você Quer Brincar na Neve?)

 

É no dia em que Elsa se torna a rainha que as coisas tomam rumo diferentes. Todo o segredo é revelado por acidente e o reino de Arendelle é transformado em gelo. Com medo da reação da população a jovem rainha foge para as montanhas e Anna, que se sente culpada por tudo, sai em busca do paradeiro da irmã, ao lado do vendedor de gelos, Kristoff, sua rena Sven e do boneco de neve, Olaf – responsável pelos momentos mais cativantes, engraçados e apaixonantes da trama -.

 

 

Tem-se, então, uma das cenas mais belas do filme. Elsa finalmente se sente livre e com total controle sobre o seu dom. Ao assumir sua personalidade, aquela que sempre teve que manter escondida entre as paredes do seu quarto, Elsa entoa a canção Let it Go (Deixe fluir), enquanto constrói uma imensa fortaleza de gelo. Elsa está em seu próprio castelo, sendo ela mesma, mas, sozinha.

(…) um reino de isolamento, e parecia que eu era a rainha. (…) Não posso evitar, o céu sabe que tentei. Não os deixe entrar, não os deixe ver. Seja a boa garota que você sempre teve que ser.  Oculte, não sinta, não deixe que saibam. Mas agora que sabem, deixe fluir. Não pode segurar mais. (…) Eu não ligo para o que eles vão dizer. (…) O frio nunca me incomodou de qualquer modo. É incrível como algumas distâncias fazem tudo parecer menor. E os medos que uma vez me controlaram não podem mais me alcançar. É tempo de ver o que posso fazer. Para testar os limites e progredir. Sem certo, sem errado, sem regras para mim. Estou livre. (…) Eu nunca vou voltar, o passado está no passado. (…) A garota perfeita se foi, aqui eu fico na luz do dia.

(Trechos de Deixe Fluir)

 

 

Mas será que Elsa está realmente livre? Ou continua presa na condição de “perigo ao mundo” que os pais dela sempre destacaram? Por que ao invés de punir e excluir Elsa do mundo, o Rei não foi atrás de soluções para que a criança aprendesse a controlar seus poderes? Por que não treiná-la? Ensinar a como conviver com suas condições especiais?

 

 

Estas são apenas algumas das reflexões que Frozen desperta no público. Ao longo do drama diversas mensagens são passadas ao telespectador de forma impactante e realista. Este é mais um conto que promove a evolução dos contos de fada. Enaltecem o Amor verdadeiro e duradouro, os laços familiares, a importância da confiança e da amizade. Além de toda as relações construídas através da convivência.

 

 

Para encerrar com um toque de magia, temos a frase de Grande Pabbie quando diz que: Só um ato de amor verdadeiro pode descongelar um coração congelado. Fazendo com o que filme mantenha o que trouxe até as cenas finais, a certeza de algo inusitado e a quebra de qualquer clichê presente nas histórias de amor verdadeiro.

 

 

REFERÊNCIAS:

MYERS, D. Introdução à Psicologia Geral. Rio de Janeiro: LCT Livror Técnicos Cientificos Editora, 1999.

SKINNER, B.F. O mito da liberdade. São Paulo: Summus Editorial, 1983.

LIMA, A. A. T. Teorias da personalidade. Série Concursos Públicos: Resumos de Psicologia. Vol 1. 220p.

 

FICHA TÉCNICA:

FROZEN – UMA AVENTURA CONGELANTE

Produção: Walt Disney Animation Studios
Direção: Chris Buck, Jennifer Lee
Gênero: Animação, Comédia, Imaginação
Ano: 2013

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Participação da Sociedade na Execução Penal

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“Abandone toda esperança aquele que por aqui entrar.”
Inscrição da porta do Inferno por Dante Alighiere em A divina comédia: Inferno

Quero, neste espaço, traçar um relato de minha participação como acadêmico do curso de Psicologia no Seminário “PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE NA EXECUÇÃO PENAL: perspectivas de melhoria do sistema penal tocantinense”, que aconteceu no dia 22 de março de 2014, em Palmas – TO.

Na oportunidade se reuniram membros da Escola Superior da Magistratura Tocantinense (Esmat), representados da Secretaria Estadual de Defesa Social, Promotoria de Justiça, Centro de Direitos Humanos de Palmas, Universidades, Reeducandas do Sistema Prisional de Palmas e Comunidade em geral para debaterem o tema.

Não posso esconder minha euforia em participar de um evento como este. Afinal, não é todo dia que os Magistrados abrem as portas do Tribunal de Justiça para colocar em pauta a participação da sociedade no sistema penal –  pelo menos foi esta a pretensão que eu tive ao ler o nome do evento.

No discurso de abertura, pôde-se ouvir frases como:

“Prender por prender não é a solução.”

                              “Não é por estar preso que o homem perde a sua dignidade.”

E, na minha opinião, a mais realista e coerente com a temática do evento:

“Não há soluções imediatas para se resolver o problema dos presídios no Brasil.”

Os debates se iniciaram com mesa intitulada “A Realidade Carcerária no Estado do Tocantins”, que cumpriu com seu objetivo ao situar os presentes sobre a atual condição do sistema prisional de nosso estado. A mesa trouxe dados precisos quanto a números de reeducandos(as) e locais onde estes cumprem suas penas. Na sequência, floreios aos Secretários Estadual da Defesa Social do Tocantins, Dr. Nilomar dos Santos Farias, que apresentou o projeto para criação de um novo presídio em nosso estado. Tal medida, à primeira vista, parece resolver o problema da superpopulação dos presídios, da falta de unidades específicas para cumprimento de penas semiabertas e da carceragem em delegacias, prática comum no estado.

Em seguida houve a fala de reeducandas da Unidade Carcerária Feminina do Município de Palmas, que foi, sem sombra de dúvidas o ponto alto da noite. Elas sintetizavam a dor das pessoas que mesmo tendo cumprindo suas penas, não escapavam do julgo da sociedade. As falas dessas mulheres aproximaram os convidados de suas realidades, e fez com que eles percebessem como é sofrer pelo resto da vida por um erro cometido no passado.

O debate seguinte frisou a função da pena e da reclusão na Ressocialização dos cidadãos que cometem crimes, mas que diante da realidade carcerária encontrada em nossos presídios, não acontece. Afinal, o sistema presidiários brasileiro não reeduca, apenas pune, em regime de reclusão. Em seguida o evento chega a seu fim com a distribuição gratuita do Manual do Conselho da Comunidade na Execução Penal lançado pela Esmat na ocasião.

Não posso em minha fala desmerecer o evento, estratégia louvável, tanto da Esmat em abrir-se para esse debate com a comunidade, como a das reeducandas que de tão livre consentimento se propuseram a falar abertamente sobre sua realidade a uma sociedade que, direta ou indiretamente, é sua algoz.

Mas não posso deixar de falar do meu descontentamento e das muitas dúvidas que me restaram após o evento. A primeira, claro, diz da minha condição de estudante de psicologia, uma ciência que ainda que próxima, se coloca tão distante do judiciário e do direito. A segunda, é sobre o evento não ter aberto espaço para perguntas e/ou participação efetiva da comunidade por meio de um debate aberto. O que é muito triste. Claro sinal de que, mesmo com essas tentativas – volto a dizer: louváveis – o Judiciário ainda está muito aquém do que se espera no que tange à participação popular.

Fato curioso, era de que uma das falas mais frisadas da noite, cobrava da sociedade sua (co)responsabilidade com a reabilitação das(os) reeducandas(os) do sistema carcerário brasileiro.

Justamente por não poder fazer perguntas, voltei para casa com vários questionamentos, no que cerne à criação da nova unidade prisional de Palmas. Num momento em que a sociedade busca formas mais humanizadas de reabilitação destes reeducandos, investir em mais presídios não seria, portanto, um retrocesso? Claro que há ressalvas, até mesmo porque a planta da unidade não foi apresentada à comunidade na ocasião, mas, independente disto, não seria o momento de se pensar em criação de instituições que presem pelas reinserção social destes detentos, muito mais do que pela simples detenção? O que está em jogo aqui, além de outras coisas, é má aplicação de dinheiro público.

A verdade é que, por mais que alguns esforços de personagens específicos tenham sido notadas naquela noite, ainda há muito o que se fazer pela melhoria do nosso sistema prisional, que, acredito eu, precisará de vários anos para que alguma mudança efetiva e humanizada aconteça, no que tange à reformas no sistema prisional brasileiro. Até lá, resta-nos participar de eventos como estes e esperar pela oportunidade de falar de pontos que não foram abordados, para assim, exercermos, enquanto comunidade, nosso papel na reeducação dessas pessoas, que mesmo destituídos de seu direito de ir r vir, são nossos iguais.

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