Psicologia e Odontologia podem e devem caminhar juntas: (En)Cena entrevista Eva Spangenberg

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Para além das questões estéticas, a Odontologia, como prática de saúde, promove a prevenção de doenças que possam ocorrer por não cuidar da saúde do sorriso. É importante ressaltar que um profissional de odontologia bem preparado, deve demonstrar confiança aos pacientes. Pois muitas vezes, alguns nunca passaram por procedimentos odontológicos o que faz com que sintam-se receosos e inseguros, portanto ter o profissional ali, que possa acalmar, conformar e trazer informações necessárias ao paciente se faz essencial.

Além disso, sabemos que a saúde mental é muito importante e que promove qualidade de vida tanto aos pacientes, quanto aos profissionais. Que por sua vez, enfrentam jornadas de trabalho intensas, onde se exige uma atenção maior durante os procedimentos realizados e os cuidados da saúde mental devem ser realmente levados em consideração.

Na presente entrevista, conversamos com Eva Spangenberg, formada em Odontologia e que está concluindo sua segunda graduação em Psicologia pelo CEULP ULBRA. Eva oferece uma visão muito interessante, que envolve sua trajetória profissional e sua relação com ambas as áreas de conhecimento.

Fonte: Acervo da entrevistada

En(Cena) – Você poderia nos contar um pouco acerca da sua trajetória profissional? E, se possível, da sua motivação para aliar Odontologia e Psicologia.

Eva Spangenberg – Quando prestei meu primeiro vestibular aos 19 anos, prestei para odontologia e psicologia. Na época havia passado somente em psicologia, naquele momento não era o que eu realmente queria fazer. Estava decidida que queria cursar odontologia, e fiz um ano de cursinho para um novo vestibular, desta vez prestei somente para odontologia. Fiz essa graduação em princípio na USC de Bauru, sendo que 2/3 do curso concluí nessa instituição, depois me mudei para Londrina e finalizei minha graduação na Unopar de lá, foi uma experiência muito enriquecedora de aprender com visões institucionais diferentes, mas que se complementavam.

En(Cena) – Ao longo da sua formação, como se deu essa relação entre a Odontologia e a Psicologia?

Eva Spangenberg – A Odontologia trabalha todo tempo com o emocional do paciente e do cirurgião, o contato é bastante próximo, tanto no atendimento, quanto na anamnese e na evolução dos casos. Cada vez mais pude perceber a necessidade vinda do paciente de uma escuta atenta e diferenciada, procuro sempre me manter atualizada em diversos segmentos, para que possa oferecer uma consulta e um tratamento de qualidade para meus pacientes. Sendo assim, e com o gosto por aprender e adquirir novos conhecimentos, que senti a necessidade e a vontade de ingressar no curso de Psicologia. Para aperfeiçoar antigos conhecimentos, para aprender tantos outros e me socializar mais num ambiente acadêmico que aprecio muito, pois na odontologia, passamos muitas horas sozinhos em ambientes fechados, voltar a estudar foi como refrigerar a alma.

En(Cena) – Existe um discurso que ouvimos muito acerca do “Medo de ir ao Dentista”, algumas pessoas inclusive demonstram pavor. Quanto a isso tem alguma técnica ou forma de acalmar esse paciente, para realização dos procedimentos e perder esse medo?

Eva Spangenberg – Acredito que muito do medo é pela insegurança e falta de informação, por parte do profissional, dos passos seguintes que serão dados. O paciente também, na maioria das vezes, já vem sensibilizado por tratamentos anteriores mal sucedidos, por vezes também, confunde pressão com dor. Procuro estabelecer uma relação de compromisso e confiança desde o primeiro encontro, com o compromisso firmado de ambas as partes, a minha como profissional e a do paciente, durante o atendimento. Antes do procedimento ser realizado, faço uma explicação de como será cada passo, diferencio para o paciente a diferença de pressão e dor, com toques nas mãos, o paciente informado se sente seguro e se mostra bastante colaborativo durante os atendimentos, isso já o acalma também.

En(Cena) – Na sua opinião é mais fácil lidar com pacientes adultos ou com as crianças? Por quê? Isso vale também para os que sofrem dessa fobia mencionado na pergunta anterior?

Eva Spangenberg – Fiz 11anos de Odontopediatria, é uma área bastante cansativa, mas de muitas satisfações pessoais. Normalmente, alguns dos pais se mostram negligentes nos cuidados com as crianças ou excessivamente zelosos e dão mais trabalho do que as próprias crianças, sendo assim é necessária uma postura de pulso e doçura ao mesmo tempo. Os movimentos precisam ser firmes e rápidos, porque um erro, pode ferir a criança. O tempo de atendimento infantil é reduzido também, pois elas se cansam mais rapidamente e passam a não colaborar, por vezes, medidas de contenção conforme técnicas específicas, podem ser utilizadas em casos complexos para o manejo da dor e execução segura do trabalho. Tudo deve ser muito bem conversado com a criança e não devemos subestimar sua capacidade de entendimento e participação durante os atendimentos, ao final dos atendimentos é sempre interessante usar um reforço positivo, que reforça o vínculo com o profissional e a autoconfiança da criança.

En(Cena) – Já houve alguma situação no consultório na qual o paciente tenha tido alguma crise ou entrado em pânico? Se houve, como foi o desfecho?

Eva Spangenberg – Por duas vezes tive pacientes em situação de pânico, uma delas foi durante a cirurgia de um adolescente e um colega médico de um consultório ao lado me ajudou no manejo da situação com sucesso. Em uma outra, o paciente tinha verdadeiro pânico de consultórios odontológicos, gritava e escorregava pela cadeira de atendimento sem sequer ser tocado. Nesse caso, para o conforto do paciente e segurança do profissional, ele foi encaminhado para atendimento hospitalar com sedação completa para execução dos procedimentos.

En(Cena) – Estudos recentes sugerem que pacientes que sofrem de Bruxismo costumam sofrer de ansiedade, depressão e raiva. Em sua experiência, já lidou com pacientes que apresentavam bruxismo? Se sim, você teve essa percepção?

Eva Spangenberg – O bruxismo tem se mostrado a cada dia mais presente. Inclusive, em crianças de tenra idade.  Os estímulos sensoriais exacerbados e por tempo excessivo, o excesso de tarefas e afazeres diários e a falta de um tempo de qualidade e com tranquilidade para si mesmo, tem aumentado a frequência e a intensidade dos casos. Além do acompanhamento odontológico, por vezes se faz necessário o acompanhamento psicológico.  O profissional deve estar atento aos primeiros sinais a fim de evitar maiores danos e proporcionar informações e qualidade de vida para esse paciente.

En(Cena) – Dra., sabemos que o contexto atual, por conta da pandemia, tem atingido as diversas áreas de nossas vidas. Como tem sido para você e para a Odontologia lidar com essas adversidades?

Eva Spangenberg – A pandemia expôs a nossa fragilidade como profissionais que lidam com sangue e saliva, com aerossóis altamente contaminantes. Particularmente, não necessitei fazer nenhuma mudança na execução dos atendimentos, pois sempre procurei ser bastante rigorosa no quesito biossegurança, no entanto, dobramos o cuidado com a desinfecção e espaçamos as consultas para melhor atender. Os pacientes se mostraram bastante assustados com a mídia, e os profissionais bastante fragilizados emocionalmente e financeiramente. Isso nos fez refletir muito sobre a necessidade de termos fontes de renda alternativas, que não demandem necessariamente de nossa presença física para que tenhamos retornos financeiros.

En(Cena) – Atualmente você é formada em Odontologia e acadêmica de Psicologia. O que você acredita que mudou?

Eva Spangenberg – Mudou minha forma de olhar, que antes era mais embrutecida, hoje tenho mais paciência, mais diretividade, um olhar mais atento e uma capacidade resolutiva em processo de melhoramento. Procuro refinar mais as conversas com os pacientes e permitir que se sintam acolhidos, validados e comprometidos com o tratamento, minha maior satisfação é quando retornam para outras manutenções.

En(Cena) – Dra. Eva, qual a sua opinião acerca da parceria, ou até mesmo da prática integrada entre Psicologia e Odontologia? Na sua visão, quais os benefícios futuros que essa parceria poderia proporcionar aos pacientes?

Eva Spangenberg – O cirurgião dentista não é formado até os dias atuais, para o estabelecimento de parcerias, perde enormemente com isso e nesse caso, tem muito a aprender com os colegas médicos. São parcerias em materiais, em equipamentos, que apesar do grande investimento, em pouco tempo se tornam obsoletos e quando esses conhecimentos, esses materiais e equipamentos são partilhados, eles se pagam e abrem caminho para o novo.  Tem um conto, bem divulgado na odontologia, em que você entra no curso e se acha o máximo, porque agora tem uma bancada para aprender a trabalhar, de 1.50m, e um manequim de borracha. Passado um ano, você tem um paciente e chama o professor para atender não o paciente “fulano de tal “, mas o dente 46 com fratura, então, se não estivermos atentos a nós mesmos e ao nosso redor, nosso mundo se encolhe e perde significância. Vejo que a psicologia apura o olhar e a forma de atendimento do cirurgião dentista, inclusive para questões pessoais do paciente, presente durante os tratamentos. Um cirurgião dentista atento pode indicar um tratamento psicológico de qualidade aos seus pacientes, mostrando que não se trata de fraqueza, mas de coragem por parte do paciente de lidar com aspectos tão necessários na vida cotidiana. O mesmo vale para o profissional psicólogo, que deve também estar atento aos cuidados pessoais, à estética satisfatória por parte das demandas do cliente, à questões como halitose, por vezes despercebidas pelos portadores da mesma e ao autocuidado da saúde bucal, negligenciado principalmente em casos de viuvez, separações ou pacientes que vivem sozinhos. A boca faz parte na melhoria e consagração da autoestima com qualidade de vida, caso o profissional tenha a oportunidade e o interesse em aliar aos atendimentos a odontologia e a psicologia, o resultado será ainda melhor.

En(Cena) – Vale destacar aqui também o cuidado com a saúde mental dos profissionais da Odontologia, que muitas vezes se mostram com uma jornada de trabalho extensa, podendo chegar a ultrapassar o limite das 60 horas semanais permitidas por lei, quando estes trabalham como autônomos. Em sua opinião, quais riscos isso poderia trazer à saúde e quais mudanças podem ser possíveis nesse contexto entre a Psicologia e a Odontologia?

Eva Spangenberg – A abertura indiscriminada de faculdades de odontologia, que não necessariamente primam por excelência na sua formação, aliadas a políticas públicas de negligência e abandono nas áreas de saúde, a procedimentos mal remunerados e às dificuldades de progressão de carreira, têm em muito contribuído para o adoecimento, afastamento, mudança de carreira ou péssimas condições de vida e de trabalho de muitos profissionais, inclusive com imensas dificuldades para se aposentarem. Um profissional atento deve se informar sobre as diversas formas de contornar e ressignificar essas dificuldades, caso queira continuar atuando ou mesmo se aposentando com manutenção da qualidade de vida posterior, é preciso estar atento à necessidade de cuidados com sua psique, com seu corpo físico, com a qualidade de suas relações de trabalho e pessoais, pois além de trabalhar com a técnica, trabalha também com a arte e com a inspiração!

Fonte: Acervo da entrevistada
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Novembro Azul: medo ou vergonha?

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Novembro Azul é uma campanha que tem como objetivo conscientizar sobre a necessidade da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata. Devemos falar sobre esse tema, pois, muitas vezes o machismo e o preconceito do homem atrapalham a procura por atendimento para o cuidado da própria saúde. A dificuldade cultural faz com que muitos só busquem ajuda quando surgem os sinais de agravamento. Nesse caso, o tratamento é mais delicado e longo, aumentando também a necessidade de uma cirurgia.

Sabemos que os modos de dominação estabelecidos culturalmente pelo machismo oprimem mulheres e outras minorias, mas igualmente aprisionam sujeitos do sexo masculino. Existe a ideia de que o sujeito forte é aquele inabalável, que não tem nenhum problema de saúde, a falácia de que o homem não deve sentir dor. Esse pensamento é muito mais comum em gerações passadas, nas quais alguns homens se gabavam de nunca terem ido ao médico.  A negação do sofrimento, da doença e da dor pode ser entendida como um sinal de superioridade. 

A prevenção de câncer feminino entre as mulheres, ao contrário do que ocorre com a população masculina, já é um assunto corriqueiro. É comum também que as mães levem as meninas para os próprios exames ginecológicos e essa cultura naturaliza as falas e a necessidade de prevenção entre o público feminino. Lamentavelmente, o mesmo ainda não ocorre no que diz respeito à saúde masculina permanecendo incomum que os homens falem com seus filhos e mesmo entre si a respeito do tema. Contudo, essa cultura vem mudando ao longo do tempo e campanhas como novembro azul têm sido fundamentais para alertar sobre um problema que ocorre obviamente durante todo o ano. 

Fonte: encurtador.com.br/KY089

Cabe ressaltar que as diversas funções da presença feminina – mãe, esposa, amiga, namorada – podem representar uma força determinante na desconstrução da pretensa invulnerabilidade masculina. Considerando que a maioria dos chefes da família em nosso país são mulheres, essa colaboração se torna mais relevante quando pensamos em mudança de perspectiva sobre os cuidados à saúde masculina. Espaços público de socialização – escolas, mídia, internet – igualmente podem ser estimulados a dar visibilidade para a necessidade de acompanhamento.

Lembrando que 75% dos casos ocorrem a partir dos 65 anos, o que significa que cerca de 35% de homens abaixo dessa idade também podem apresentar o quadro de câncer prostático e isso representa um grande desafio para todos. O processo de diagnóstico de câncer de próstata gera inúmeros conflitos que serão mais árduos quando maior for o preconceito masculino. Um percurso de psicanálise pode ser de auxílio fundamental para ressignificar esse aprisionamento masculino de modo individual. A informação adequada replicada ao longo do tempo no tecido social pode naturalizar os cuidados à saúde masculina como ocorre com a saúde da mulher. São construções e como tais exigem um bom e necessário trabalho de todos.

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CAOS 2020: Relações familiares e escolares são tema em sessão técnica

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Sessão técnica é parte da programação do CAOS 2020 que acontece no Ceulp até o dia 07 de novembro.

Nesta quinta-feira (05), ocorreram remotamente as Sessões Técnicas do Congresso Acadêmico de Saberes da Psicologia – CAOS 2020. As apresentações de trabalhos por comunicação oral foram de acadêmicos e psicólogas mediados pela psicóloga e Profa. Cristina Filipakis (Ceulp/Ulbra).

A psicóloga Ester Maria Cabral apresentou o trabalho “As Relações Pessoais Da Família Pastoral E Suas Implicações Emocionais”. Discorreu sobre a compreensão das relações familiares e pessoais das famílias pastorais por meio do Pensamento Sistêmico a partir da Teoria Geral Dos Sistemas e Teoria Da Comunicação. Em sua pesquisa, Ester observou o impacto na saúde física e emocional da situação financeira, mudanças de moradia, adoecimento e solidão nas famílias de pastores presbiterianos.

As acadêmicas Isaura Rossatto e Yasmilsa Mesquita apresentaram o trabalho “Colaboração Entre Parceiros Em Relações Heterossexuais”. Pontuaram sobre a influência dos papéis de gênero na sociedade patriarcal sobre a colaboração em casais. Indicaram a importância das práticas colaborativas por meio do Pensamento Sistêmico Novo-Paradigmático e de formas de relacionar voltadas para a legitimação na convivência.

Os acadêmicos Leticia Antunes e Murilo Morais apresentaram o trabalho “Conflito Nas Relações Familiares: Parentalidade”. Discorreram sobre a família na contemporaneidade e triangulação na parentalidade a partir das relações de mãe-filha. Também refletiram acerca dos papéis femininos acumulados na família, no que tange as premissas dos indivíduos acerca do trabalho e do ideal que se têm da família socialmente.

Fonte: Arquivo Pessoal

Por fim, a psicóloga Talita dos Anjos Lima apresentou o trabalho “Psicologia Escolar: Identificando Possíveis Demandas De Dificuldades De Aprendizagem Por Meio De Protocolo De Rastreio”. Discorreu sobre a escola como campo de socialização e atuação da psicologia escolar, bem como sobre seu trabalho em atendimento educacional especializado por meio do Projeto de Atenção Interdisciplinar em Saúde Mental nas Escolas (PAISME) em Porto Nacional – TO.

Essa edição do CAOS, inteiramente de forma remota, tem como tema “Psicologia e Profissão: a avaliação psicológica em destaque”. A programação conta com palestras, mesas redondas, minicursos e sessões técnicas. Nessa edição, estar inscrito no evento é fundamental para receber certificação. Mais informações podem ser obtidas no site do evento.

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