Ansiedade Infantil: aprendizados no Projeto Crescer

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O presente relato refere-se à participação no Projeto de Extensão Crescer, desenvolvido pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) – campus Palmas, vivenciado por Abigail Kássia Santos de Almeida e Ada Cristine de Araújo, sob a supervisão do Professor Mestre Sonielson Luciano de Sousa. O projeto se deu com crianças de 8 a 9 anos, cujo objetivo central foi promover a conscientização acerca da saúde mental infantil, com ênfase na compreensão da ansiedade como um sentimento comum e passível de enfrentamento mediante apoio adequado. O percurso vivido durante os cinco encontros revelou-se desafiador, enriquecedor e profundamente transformador, tanto para as crianças quanto para os facilitadores envolvidos. Entretanto, o projeto enfrentou desafios significativos, dentre os quais se destaca a dificuldade inicial para a obtenção de um campo de estágio apropriado, sendo necessárias visitas a duas instituições e diversos contatos até a confirmação do local, além da inconsistência na frequência das crianças, ocasionada por falhas de comunicação entre os responsáveis e a coordenação escolar. 

No primeiro encontro, estiveram presentes seis crianças. As atividades foram iniciadas com uma roda de conversa para conhecê-las melhor e estabelecer um vínculo inicial. Desde o início, percebemos que eram bastante agitadas, com grande energia para correr e brincar, o que exigiu adaptação imediata das estratégias planejadas. Realizamos a dinâmica “O Monstro da Ansiedade”, na qual cada criança foi convidada a desenhar como imaginava a ansiedade, representando-a como um monstro. Em seguida, cada uma apresentou sua criação e explicou as características escolhidas. Essa atividade permitiu a exteriorização visual da ansiedade, gerando uma rica discussão sobre sentimentos e possibilitando uma psicoeducação acessível sobre o que é a ansiedade, seus sinais e manifestações. Observamos que o conhecimento das crianças sobre o tema era superficial, o que tornou a troca ainda mais significativa. As crianças demonstraram interesse genuíno, fizeram perguntas e se mostraram engajadas, proporcionando um momento de grande impacto emocional e reflexivo para todos. Este encontro nos trouxe ânimo renovado e confirmou o potencial transformador da intervenção.

O segundo encontro foi marcado por um desafio importante: apenas uma criança compareceu, devido a uma falha de comunicação com os pais e a escola. Apesar disso, decidimos prosseguir com a atividade, acolhendo o participante de forma individualizada. Durante a espera por possíveis chegadas, conversamos com ele, promovendo a escuta ativa e fortalecendo o vínculo. Posteriormente, realizamos uma brincadeira musical chamada “Estátua das Emoções”, na qual o participante, ao som de música, congelava em poses representativas das emoções anunciadas relacionadas à ansiedade, seguida da aplicação da dinâmica “Termômetro das Emoções”. Esta consistiu na associação de situações cotidianas a níveis distintos de ansiedade, permitindo a reflexão sobre experiências pessoais.  A experiência, mesmo com apenas uma criança, foi extremamente significativa. Através do lúdico, conseguimos acessar conteúdos emocionais importantes e validar suas vivências. Tal experiência nos mostrou a importância da continuidade do projeto, mesmo diante de imprevistos e adversidades.

No terceiro encontro, participaram três crianças. A atividade principal foi a dinâmica “Furacão das Emoções”, voltada ao reconhecimento e à regulação emocional de forma divertida e movimentada. O espaço foi preparado com cartões representando diversas emoções (como alegria, raiva, tristeza, medo, ansiedade e vergonha) e cartões com estratégias de regulação emocional (como respirar fundo, contar até dez, pedir ajuda, entre outras). O encontro teve início com um aquecimento ao som de música animada, incentivando movimentação corporal. Ao grito de “Furacão!”, as crianças corriam até um cartão de emoção, dramatizando o sentimento indicado. Em seguida, dirigiam-se aos cartões de regulação emocional para experimentar uma estratégia que ajudasse a acalmar-se. Esse ciclo foi repetido de três a cinco vezes, mantendo o dinamismo com a música. O encerramento da atividade se deu com um momento de reflexão em círculo, no qual foram feitas perguntas sobre quais emoções foram mais divertidas de dramatizar e quais estratégias poderiam ser usadas em situações reais de raiva, tristeza ou medo. Para concluir, realizamos uma demonstração simbólica com água e glitter. A água representava a mente e o glitter os pensamentos. Ao agitar o recipiente, a água se tornava turva, simbolizando o estado emocional confuso; ao deixá-la repousar, tornava-se clara novamente, ilustrando o efeito da pausa e da autorregulação. A atividade foi muito bem recebida e contribuiu significativamente para o desenvolvimento da consciência emocional das crianças.

No quarto encontro, apenas uma criança esteve presente. Enquanto aguardávamos a possível chegada das demais, realizamos um momento de escuta e acolhimento, no qual conversamos de forma leve sobre como a ansiedade pode surgir em nosso dia a dia e como ela afeta nossos pensamentos e comportamentos. A escuta individual possibilitou um espaço seguro para a criança expressar suas experiências, sentimentos e dúvidas. Após constatarmos que não haveria mais participantes, seguimos com a atividade prevista, adaptando-a para um formato mais dinâmico e personalizado. Realizamos a dinâmica lúdica chamada “Explosão dos Pensamentos”, com o objetivo de trabalhar a identificação e a transformação de pensamentos ansiosos de forma divertida, utilizando movimento corporal, estímulo visual e expressão verbal.  A atividade consistia em estourar balões coloridos que continham tirinhas de papel com pensamentos ansiosos previamente escritos (como: “Vou errar”, “Não consigo”, “Vão rir de mim”). Ao estourar um balão, a criança encontrava o pensamento ansioso e era convidada a levá-lo até a “mesa de transformação”, onde, com apoio da facilitadora, reformulava o pensamento de maneira positiva e encorajadora, escrevendo-o em uma folha colorida. Por exemplo: “Vou errar” se transformava em “Eu posso tentar e aprender com meus erros”. Mesmo com apenas uma criança, a atividade foi realizada com entusiasmo, gerando reflexões importantes sobre os pensamentos automáticos e as formas de enfrentamento. Finalizamos com um momento de compartilhamento e reforço positivo, criando um espaço para que a criança percebesse que é possível transformar pensamentos ansiosos em afirmações fortalecedoras. Esse encontro evidenciou, mais uma vez, que a qualidade da intervenção não está necessariamente no número de participantes, mas na intencionalidade, no cuidado e na escuta presente.

No quinto encontro, foi realizada uma ação de psicoeducação na escola, na qual foram entregues, ao todo, seis cartazes contendo estratégias que haviam sido trabalhadas nos encontros anteriores, de forma lúdica, para o reconhecimento e o manejo da ansiedade. Essa trajetória, marcada por desafios e adaptações, proporcionou vivências únicas e reafirmou a importância da escuta ativa, do acolhimento e do olhar sensível no contexto da saúde mental infantil. Vivenciar esse processo exigiu abertura para o improviso, empatia constante e compromisso com o cuidado. O sentimento predominante ao final é o de gratidão pela oportunidade de contribuir com o desenvolvimento emocional das crianças e de aprender com cada experiência compartilhada.

Relato produzido por: 

  • Abigail Kássia Santos de Almeida
    • Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil – Palmas-TO.
  • Ada Cristine Araújo
    • Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil – Palmas-TO.

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Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil – Palmas-TO.

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