O grupo de acadêmicas de Psicologia da Ulbra Palmas, orientadas pelo professor Luiz Gustavo Santana, visando vivenciar a teoria da psicologia psicossocial, escolheu o Colégio Estadual São José, localizado na região sul da cidade de Palmas – TO, como campo da disciplina de Intervenção Psicossocial em 2024. A decisão foi motivada pela relevância social de atuar em um espaço marcado por intensas demandas psicossociais da adolescência, o que nos proporcionou um ambiente fértil para reflexões e aprendizados.
O Colégio São José tem o acolhimento como um de seus pilares educativos, compreendendo-o como prática essencial para aproximar estudantes, famílias e educadores. Segundo o Projeto Político Pedagógico (2024), trata-se de uma porta de entrada que apresenta as bases do projeto escolar e contribui para transformar a forma de conceber a educação. Em visita à instituição, a coordenadora confirmou essa perspectiva, mas ressaltou um desafio: a ausência atual de um psicólogo escolar, diante da rotatividade de três profissionais, sendo dois apenas em 2024.
Em diálogo com a coordenadora e a equipe técnica diretiva, as principais demandas foram elencadas em ordem de prioridade: (1) a ansiedade, sobretudo nas turmas de primeiro ano do ensino médio; (2) a inquietude, ligada ao choque de realidade de estudantes que vêm de escolas de meio período e passam a enfrentar a rotina integral; (3) violência sexual; (4) violência doméstica e roubo; e (5) problemas financeiros. Nesse cenário, ficou evidente a abertura tanto da instituição quanto dos alunos para receber intervenções e dialogar sobre essas questões. Para favorecer o processo de vínculo, a escola disponibilizou momentos prévios de encontro com os estudantes antes das intervenções, além de oferecer espaço e liberdade para a realização da pesquisa de campo, o que refletiu a confiança da instituição em nosso trabalho.
Diante disso, as intervenções foram direcionadas ao tema da ansiedade relacionada ao rendimento escolar e às pressões sociais por “ser alguém na vida”, conforme relato dos próprios alunos de uma turma de primeiro ano do ensino médio, com idades entre 14 e 16 anos, escolhidos a partir do levantamento realizado pela coordenação pedagógica, que identificou nessa faixa etária as demandas mais recorrentes, como ansiedade, inquietude e inseguranças diante do contexto escolar e social. O objetivo central da ação consistiu na compreensão das vivências a partir de trocas coletivas, estimulação de reflexões sobre a origem dessa ansiedade e, assim, a estimulação de debates que partissem das próprias demandas, oferecendo ainda psicoeducação sobre os temas trazidos.
A turma mostrou-se receptiva em relação à nossa presença e às propostas de intervenção nos três encontros realizados, tornando-se mais extrovertida no segundo encontro. Notou-se que os alunos eram agitados e conversavam bastante entre si, mas esse aspecto não comprometeu o manejo das atividades. Pelo contrário, o envolvimento espontâneo demonstrou interesse pelo que era trabalhado. Em suas falas, os adolescentes mencionaram que gostaram das atividades e participaram ativamente das discussões.
O primeiro encontro teve como foco a roda de conversa para apresentação mútua e levantamento das demandas do grupo. Foram utilizadas dinâmicas de quebra-gelo, que possibilitaram a aproximação e facilitaram a criação de vínculo com os alunos.
O segundo encontro abordou diretamente o conceito de ansiedade, discutindo onde e quando ela aparece, a partir de atividades como sharebox, “batatinha quente” e dinâmicas com balões. Esse momento foi marcado por maior descontração e abertura, quando os alunos se mostraram mais participativos e engajados.

Arquivo: Psicologia Ulbra Palmas
Já o terceiro encontro trouxe a temática “Criatividade na Resolução de Problemas dentro das Limitações da Vida”, utilizando técnicas como tempestade de ideias condicionada e a atividade “Redescobrindo filmes da Disney”. Essa proposta buscou desenvolver a criatividade como recurso para lidar com limitações cotidianas, além de promover engajamento por meio de um ambiente lúdico e descontraído, favorecendo tanto a análise crítica quanto a expressão individual.
De forma geral, acredita-se que os encontros foram proveitosos para os alunos, visto que eles verbalizaram apreciação pelas atividades e demonstraram envolvimento ao longo do processo. As intervenções possibilitaram não apenas reflexões sobre a ansiedade, mas também a vivência de um espaço de fala e escuta, essencial para que pudessem se reconhecer como protagonistas em suas próprias experiências. Observou-se ainda que alguns alunos, por se encontrarem em situação de vulnerabilidade, tinham maior dificuldade de vinculação com a turma. No entanto, os encontros puderam propiciar oportunidades para que refletissem sobre a importância de se apoiarem mutuamente, fortalecendo o sentimento de pertencimento e de solidariedade entre eles.
Por fim, apesar de terem surgido situações que poderiam ser mais aprofundadas, o tempo delimitado para a aplicação da proposta não permitiu avançar em questões que demandariam apoio contínuo. Ainda assim, a participação ativa e o retorno positivo dos adolescentes evidenciam a relevância da ação, tanto para o grupo quanto para a formação das acadêmicas. Para as estagiárias, a experiência foi especialmente positiva, pois possibilitou o contato com realidades que atravessam a Psicologia para além da clínica, ampliando o olhar sobre os diferentes contextos de atuação profissional e reforçando a importância de intervenções que unem teoria, prática e compromisso social.
