Ansiedade à luz da Gestalt-Terapia: o aqui e agora corrompido

Compartilhe este conteúdo:

A Gestalt-terapia é uma abordagem construída a partir de inúmeros pressupostos, como a filosofia existencial, a teoria organísmica, a fenomenologia, entre outras. Esta abordagem percebe e considera que o homem é um ser único e capaz de se realizar durante sua existência. Considera, ainda, este como um ser para a relação, que se constrói a partir da experiência com o outro.

Ribeiro (2012) ressalta que

Tanto a proposta gestaltistica como a existencialista se encontram e se irmanam no sentido de privilegiar o homem como ser que se possui, como ser livre e responsável. (…) a crença no homem, aqui e agora presente, capaz de tornar-se cada vez mais consciente de si próprio, a partir da experiência vivida agora e da certeza de sua extensão para depois (…) (p.61).

A Gestalt-terapia possui inúmeros conceitos. Destacar-se-á alguns destes para melhor compreensão da temática deste trabalho como o campo, auto regulação ou homeostase, fronteira de contato, ajustamento criativo, Awareness e o aqui e agora.

O campo refere-se à relação entre o indivíduo e seu meio. Segundo Perls (1977 p. 31) esta relação homem/meio determina o comportamento do ser humano sendo que se a relação entre ambos é satisfatória o comportamento é tido como normal, mas se esta é conflituosa o mesmo já é colocado na posição de anormal. A auto regulação ou homeostase diz respeito ao equilíbrio do indivíduo na interação com seu meio. É onde este satisfaz suas necessidades na busca de equilibrar-se de forma dinâmica (SANTOS; FARIA, 2006, p. 268).

Quanto à fronteira de contato entende-se como o local da experiência do indivíduo-meio.

Fonte: https://bit.ly/2LmYVmi

As fronteiras são processos de separação e ligação, os quais possibilitam a diferenciação entre o organismo e o seu meio, bem como a seleção dos elementos nutritivos daqueles que são tóxicos, sendo que essa diferenciação ocorre por meio dos órgãos sensoriais e pelas respostas motoras frente ao ambiente. (SANTOS; FARIA, 2006, p. 267)

Já o ajustamento criativo consiste na natureza do contato existente na fronteira do campo onde o indivíduo se regula e se ajusta as situações ali experienciadas (DACRI; LIMA; ORGLER, 2012, p. 20-21). Outro conceito importante é o da Awareness que não tem uma tradução específica e pode ser compreendida como “tornar presente”, “presentificar”, “conscientização”. Refere-se à capacidade de discriminar aquilo que é bom e ruim o que resulta em crescimento no processo de ajustamento criativo (SANTOS; FARIA, 2006, p. 267).

Para melhor compreensão da temática ansiedade, faz-se necessária a compreensão deste ultimo conceito, o aqui e agora. Este se refere ao momento presente, Perls (1977 p. 77) acredita que “O agora nos mantém no presente e nos põe a par do fato de que nunca é possível uma experiência, exceto no presente.”. Portanto, entender o sujeito ansioso e os fenômenos que o cercam envolve a compreensão de que “a ansiedade é o vácuo entre o agora e o depois.” (PERLS, 1969, p.15).

A ansiedade é um fator que está presente com frequência nos sujeitos da atualidade, muito mais em uma época de globalização e capitalismo exacerbado com constantes oscilações de mercado, extrema velocidade de informações e novidades tecnológicas que terminam por contribuir para que as pessoas se sintam mais ansiosas, e assim desenvolvendo os adoecimentos e transtornos característicos dessa época.

Fonte: https://bit.ly/2v3QSQi

Desenvolvemos no mundo contemporâneo um cenário social de esvaziamento, banalização, solidão, insegurança, individualismo, e tantos outros sintomas que parecem sugerir, diante dos avanços científicos e tecnológicos que o problema não reside tão somente nesse contexto, e sim na forma como ele foi sendo construído, se formando sob as bases de um sistema complexo e calcado no capitalismo neoliberal, um crescimento político econômico e social que não considera a dimensão holística e subjetiva do homem, e das outras formas de vida. “Gestalt-terapia transcende a visão dicotômica, reducionista e pouco complexa do mundo, delineando uma visão de homem e de mundo que substitui a conjunção alternativa ‘ou’ – que separa e fragmenta – pela aditiva ‘e’ – que relaciona e integra”. (NUNES, 2008, p.187).

Lima (2009) acrescenta que as preocupações com a competência, a seriedade e a eficiência na vida diária do homem contemporâneo, muito mais por parte dos que vivem nos grandes centros urbanos, e que lutam pelo seu sustento, experimentando um processo de esvaziamento do contato, uma espécie de redução dos sentimentos e das sensações e emoções, em que nos tornamos mais distantes de nós mesmos e também dos relacionamentos afetivos mais profundos, tem afetado e, desse modo, vamo-nos tornando apenas repetidores de papéis, sem criatividade pagando um preço por vivermos um tempo de medo, que de certa forma paralisa nossa ousadia e criatividade. Com isso, os quadros de ansiedade, pânico e demais fobias são cada vez mais frequentes em nossa sociedade atual.

Desse modo, sendo o termo “Gestalt”, enfatizando o sentido de totalidade, configuração e interdependência nas partes que formam um todo, e assumindo uma concepção revolucionária na qual o mundo, a pessoa ou qualquer outra coisa poderá ser compreendido para além das somas das partes que o compõem. “Ou seja, ao interagir no todo cada parte é superada, ao ser afetada e transformada pelas outras ‘partes’ com que se relaciona. Da mesma forma, o próprio ‘todo’ supera a soma das partes que o compõem, transcendendo-as”. (NUNES, 2008, p.187).

Henckes e Santos (2017) acrescentam que ansiedade para a Gestalt Terapia pode ser compreendida como uma interrupção, ou mesmo como um movimento e sintoma de que o sujeito procura se adaptar, na tentativa de lidar com situações, que porventura venha a trazer lembranças e pensamentos daquilo que muitas vezes o faz sofrer.

Fonte: https://bit.ly/2JOhU3L

Importante ressaltar que para a Gestalt Terapia, o sujeito é constituído na relação, com isso ele é parte de um contexto sócio cultural, devendo ser observado dessa forma; e ao trabalhar na clínica acerca do diagnóstico, é acima de tudo ter o cuidado de não usar uma visão que venha a reduzir ou mesmo despersonalizar a pessoa que está buscando ajuda. Portanto cabe ao terapeuta na clínica da Gestalt, uma busca pela valorização da singularidade do sujeito e ainda nas implicações que fazem parte da vida e do processo terapêutico desse cliente.

Santos e Faria (2006) apresentam a Gestalt-Terapia por meio da definição do self como a fronteira do contato em movimento. Falando ainda que ao tocar algo no mundo, imediatamente essa pessoa também é tocada, experiência essa que sustenta e define o self, como sendo também o self a experiência de contato que acontece com o mundo no aqui e agora, e por meio da fronteira, se dá o momento a momento. Esse é o leve movimento e processo do organismo que busca no meio uma forma de satisfação de suas necessidades e mesmo de um objeto que seja importante, no tempo e lugar determinado, e ainda relacionando-se assim com o que os autores chamam de auto-regulação organísmica; como sendo o processo por meio do qual acontece a interação entre o organismo e o meio, assim o organismo procura o equilíbrio homeostático.

Desse modo, e buscando essa homeostase e auto-regulação organísmica, apesar de tratar-se de um processo natural por meio do qual o organismo busca o equilíbrio, assim ao buscar a assimilação de um novo elemento, nesse movimento e busca de algo novo, apresenta-se a ansiedade que pode vir com níveis que termina por comprometer esse processo natural pelo qual acontece o contato com os elementos que são importantes e necessários ao organismo. Sendo assim, por ser incapaz de satisfazer suas necessidades organísmicas, é que o organismo adoece, e permanece em estado de desequilíbrio.

Por receio antecipado aos efeitos dos novos elementos, que são integrados no seu organismo é que o indivíduo ansioso, termina por inibir o processo natural que é o de contato e assimilação dos novos elementos que são necessários ao seu crescimento, assim diante da ansiedade, e ainda dessa constante renovação que acontece por meio da relação dialética que se dá com esse indivíduo, e deveria acontecer de forma espontânea, o mesmo não consegue priorizar o objeto principal e importante, que se apresenta no aqui e agora, assimilando e indo ao seu encontro.

Fonte: https://bit.ly/2LzGlXG

Santos e Faria (2006) verifica que o resultado para o surgimento da ansiedade deriva de situações por meio das quais as excitações não acham uma saída ou caminho em direção ao mundo, por assim dizer, não são expressas e também por não se transformarem em atividades, assim acontece a mobilização muscular por meio do sistema motor, processo resultante em ansiedade.

Henckes e Macedo (2017) verifica que os sintomas da ansiedade, apresenta em conjunto uma série de sintomas físicos, como por exemplo, a diminuição da respiração, que é por meio e de forma explícita que acontece o contato do sujeito com o meio externo; e ainda a distorção do tempo, como importante para apontar como um fator presente que o sujeito passa a sofrer em virtude de uma pressão muito grande.

A experiência, presente na fronteira de contato, acontece em configurações inteiras trazendo um significado direto para o organismo, e se não apresenta de acordo com essas características pode ser descrita como fora da fronteira, por assim ser ou uma abstração ou ainda potencialidades; ao contatar o ambiente o organismo passa a selecionar e também a assimilar apenas os elementos que são nutritivos e com isso acontece a rejeição para com os elementos tóxicos. Portanto, na manutenção do organismo, é que acontece a assimilação de elementos novos que possibilitaram esse crescimento necessário.

Importante abordar que outras teorias sobre a ansiedade complementam os textos gestálticos. Na psicanálise, Freud elaborou três teorias sobre a angústia, sucessivamente: “[…] a de 1893-1895, sobre a neurose de angústia; a de 1909-1917, em que examinou as relações entre angústia e libido reprimida; e a última, em 1926-1932, na qual retomou suas teorias anteriores, sobre o seu conceito do aparelho psíquico” (ROBINE, 2006, p.114). Assim, a abordagem da Gestalt-terapia, leva em consideração ao assemelhar-se à essas duas últimas teorias freudianas, levando-se em conta, algumas diferenças e reservas de suporte teórico (ROBINE, 2006).

Fonte: https://bit.ly/2JS9OHg

Com esse desdobramento, surge a abordagem da angústia. “Essa abordagem da angústia (ou ansiedade, pois no contexto de nosso comentário, podemos assimilar os dois conceitos limitando-nos a diferenciá-los apenas no que diz respeito ao aspecto quantitativo)“. (ROBINE, 2006, p.114).  Outrossim, o sentimento de angústia se manifesta por meio de uma excitação bloqueada, quando resulta da interrupção que se dá pela excitação do pensamento criativo. Com isso, o surgimento da angústia impede o sujeito de certa forma, a acessar, seja em si, ou no ambiente, recursos que necessita ao suporte.

 Segundo Vogel (2012, p.106) “Baseado na teoria de campo da física, Lewin propõe que as atividades psicológicas do homem ocorrem em uma espécie de campo psicológico, que ele denominou espaço vital”. Este campo ao qual Lewin pontua, é formado pelos eventos da vida da pessoa, ou ainda, que os mesmos possam influenciar o comportamento dela, quer estejam no passado, presente ou futuro. Espaço que é importante por ser construído e constituído, através da interação das necessidades que a pessoa tem com o ambiente psicológico, revelando assim algumas variáveis, que agem de acordo com as experiências que o indivíduo acumulou na vida.

Uma grande influência dentro da Gestalt-terapia foi a conceituação e suporte teórico construído pelo neurofisiologista Kurt Goldstein, com a Teoria Organísmica, no qual buscou uma explicação holística para as mudanças ocorridas na personalidade da pessoa, não acreditando sobre a possibilidade de explica-las a partir e somente no ambiente ou ainda nos aspectos físicos. “Para isso, baseia-se na lei de figura e fundo da Teoria da Gestalt, por ser um de seus adeptos, apoiando-se na ideia da percepção como uma dinâmica na formação de figuras e fundos”.  (VOGEL,2012 p.107). Acreditando com isso que seus estudos com pessoas lesionadas na guerra, serviriam para compreender os comportamentos adaptativos de forma geral. “Essa capacidade do organismo de interagir com o meio de forma que possa se atualizar, respeitando sua natureza, é o que Goldstein denomina auto-regulação organísmica”. (VOGEL, 2012, p.108).

Lima, (2009, p.88) lembra que “Para que a auto-regulação aconteça, é fundamental que o organismo possa ter respostas novas para as situações pelas quais ele passa na sua permanente interação com o meio ambiente”. Sendo assim, é possível perceber que ser criativo de certa forma é condição importante para o processo de auto-regulação, um critério básico para que a pessoa se considere em harmonia e satisfeita com o meio. (LIMA, 2009).

 Quanto à ansiedade, Goldstein entendia que o indivíduo ao se defrontar com a ansiedade e diante de situações que causam essa sensação, ou o indivíduo que tenha um funcionamento normal, reagirá evitando passar por essa situação que experimentará a ansiedade, desse modo criando certos padrões rígidos comportamentais, ou ainda por meio disso, ele entrará em contato com essas novas experiências, com isso criando uma expansão de novas possibilidades à ação e também à reflexão. De forma, que ambas são igualmente valiosas, com destaque para a criatividade, bem como a potencializar a autoregulação-organísmica (VOGEL, 2012).

Ribeiro (2005, p.178) ressalta que “Os sintomas têm a ver com partes, processo, totalidade. É essa totalidade que nos interessa no processo terapêutico”. Nessa direção, e buscando o jeito específico e íntimo, que o cliente tem de estar no que o mais torna singular no universo, desse modo, o psicoterapeuta está de certa forma, procurando nele e ainda com ele, a sua parte criadora, o seu “todo”. Nesse sentido, o autor refere-se ao todo, como a ipseidade, o resultado, ou o fruto do que foi se tornando a sua evolução, como foi sendo constituído, fazendo contatos e assim numa individualidade única.

Fonte: https://bit.ly/2LIaAIzed

O modo como “[…] as “doenças psicopatológicas” na Gestalt-terapia aproximam-se muito mais do que poderíamos considerar perda de flexibilidade nesta permanente interação com o meio do que a apresentação de um quadro sintomatológico […]”. (LIMA, 2009, p.91). Diante de padronizações de sintomas e doenças, a pessoa perde a fluidez, e com isso a impossibilidade de ser criativa, ou ainda criar respostas às demandas apresentadas pelo meio que vivencia. (LIMA, 2009).

Ribeiro (2005, p. 57) afirma, ainda, que “A abordagem gestáltica está solidamente edificada na psicologia da Gestalt, na teoria do campo e na teoria holística”.  Através desses conceitos-chave, o autor direciona o embasamento teórico e epistemológico, pois assim são os que lhes permitem fazer uma descrição da realidade, feitas a partir do que foi observado, acerca da experiência imediata.

Desse modo, é possível afirmar que a experiência é formada por uma celeridade e concretude, como também uma ação aqui-e-agora. E, o corpo sendo visto como um veículo para a vivência, e por meio dele é que o mundo dá entrada em nós, desse modo nós fazemos e participamos do mundo, e assim somos alterados por ele, possibilitando ainda mudá-lo também. Por meio dessa interação dialógica com o mundo é que produzimos nossa experiência cotidiana, vivencial, intelectual e emocional. (ALMEIDA, 2010).

Diante da relação do sujeito com o mundo, Brum (2016) chama a atenção para um contexto atual da sociedade afirmando que “Estamos exaustos e correndo. Exaustos e correndo. Exaustos e correndo. E a má notícia é que continuaremos exaustos e correndo, porque exaustos-e-correndo virou a condição humana dessa época.”. Todas as condições em que a sociedade é submetida tornam-se disparadores para a instalação da ansiedade.

As projeções para o passado e futuro estão intimamente ligadas à noção de tempo existente. “O tempo, para o indivíduo ansioso, da mesma forma, apresenta-se contraído. O tempo é vivenciado como por demais estreito para conter satisfatoriamente o desenrolar dos fenômenos espaciais.” (SANTOS E FARIA, 2006, p. 271). Assim, a noção de tempo de um sujeito ansioso é também de redução, ou seja, o tempo nunca é suficiente. Além do mais há a pressão por desempenho e satisfação que não corresponde ao tempo existente.

A “falta de tempo” é geradora da não presentificação da experiência, algo muito comum de ser encontrado no contexto clínico. Falta tempo para tudo, mas o ideal de futuro e inúmeros planejamentos rígidos são frequentes e presentes, por que no “vácuo entre o agora e o depois” (PERLS, 1969, p.15) corrompe-se a experiência aqui e agora.

Fonte: https://bit.ly/2Oc762F

A não correspondência do tempo em relação às atividades cotidianas ocasiona o fenômeno já citado por Brum (2016) onde o corpo não se satisfaz e já não suporta a “correria” em que vive. Compreender a vivencia do aqui e agora é entender que o “aqui” diz respeito ao espaço em que se encontra e o “agora” diz respeito ao tempo (MESQUITA, 2011, p. 62).

Frente à discussão, é possível perceber que “o vácuo entre o agora e o depois” (PERLS, 1969, p.15) é o limbo da existência onde o sujeito ansioso se encontra. Vivemos a sociedade do cansaço, como afirma Han (2015) “A sociedade do século XXI não é mais a sociedade disciplinar, mas uma sociedade de desempenho. Também seus habitantes não se chamam mais “sujeitos de obediência”, mas sujeitos de desempenho e produção. São empresários de si mesmos” (p.22). Esta busca pelo desempenho tem a tendência de conduzir os sujeitos a evitação de contato e por isso experimentar da ansiedade com maior frequência.

É preciso encarar o contexto atual de maneira assertiva, onde filtra-se aquilo que deve ser introjetado ou não na construção do ser. A introjeção dessa condição, cujo foco é o desempenho e a independência por meio de ganhos financeiros e status social tornam os sujeitos dependentes e tolhidos da liberdade de serem fecundos em seus sentimentos, sejam eles bons ou ruins. É cansativo não ser autêntico e tolhido da liberdade própria do ser para gozar das experiências presentes.

Viver o aqui e agora numa sociedade ocidental capitalista é um grande desafio. Mas a verdade é que esta concepção ao passo que é imprescindível é também difícil de ser compreendida na prática. O aqui e agora pressupõe mudança e aceitação. Mesquita (2011) argumenta que

Para que haja mudança, segundo a visão gestáltica, o indivíduo precisa se apropriar de si e integrar suas polaridades. Tem que se reconhecer, aceitar-se para poder mudar. Quando isso não é feito, toda a energia de impulso e motivação é jogada para o futuro, para o que se deseja ser. Mas, como o futuro é sempre um sonho, um para além do presente, podemos dizer, então, que o momento atual esvazia-se de projetos, de impulsos e, consequentemente, nenhuma mudança real acontece. (p.63).

Uma realidade está ligada a outra e assim compõe a totalidade do ser. O indivíduo nunca é visto separadamente, conforme a Gestalt-Terapia. Este está se relacionando com o meio e atuando nele, se trata de uma relação de reciprocidade. Incansavelmente a Gestalt-Terapia trabalha o resgate do cliente que flutua no vácuo do agora e depois para que presentifique sentimentos e sensações a fim de atribuir a estes novos significados para si. (MESQUITA, 2011, p. 65).

 Viver o presente permite ao sujeito desenvolver as próprias potencialidades na medida em que se encontra, na certeza de que não se pode ser aquilo que não é. Perls (1969) afirma que “Se você estiver no agora não pode estar ansioso, por que a excitação flui imediatamente em atividade espontânea. Se você estiver no agora, você será criativo, inventivo.” (p.16). ainda segundo Perls (1969) o agora possui uma base segura na qual a preocupação com o futuro não possui, por isso que estar ansioso gera angústias.

Fonte: https://bit.ly/2A61Fzg

O autor também chama a atenção para os papéis sociais acreditando que a ansiedade também parte deste pressuposto. Como mencionado anteriormente por Han (2015), esta é a sociedade do desempenho. E diante disto há a busca exacerbada por status social, onde a performance do sujeito frente aos demais precisa ter um desempenho que indique que ele é competente o bastante. Por isso que Perls (1969) afirma que nem sempre a ansiedade é existencial, mas que pode ser uma preocupação com estes papéis que podem não ser socialmente aceitos. Todavia, para compreender de onde parte isto é necessário mergulhar em si mesmo e lá encontrar respostas.

A ansiedade pode ser compreendida como produto de um aqui e agora corrompido. O que corrompe esta experiência pode partir de diversos pontos tais como o contexto social, que citado anteriormente tem seguido um ritmo muito acelerado no qual fica impossível experienciar o contato com sentimentos e sensações, ou mesmo pela inautenticidade diante da sociedade, a preocupação com os papéis a serem desempenhados impedindo de ser quem se é.

O fato é que a ansiedade está cada vez mais presente na vida dos sujeitos ocasionando uma série de problemas nas relações interpessoais, na tomada de decisões, servindo de empecilho para o contato com os próprios sentimento, etc. Todos estão propensos a, em algum momento, desenvolver a ansiedade. Por isso, torna-se necessária a compreensão acerca do aqui e agora e de estudos relacionados, pois a ansiedade o afeta diretamente.

Perls (1969) destaca que “quanto mais a sociedade muda, mais ela produz ansiedade” (p.52), pois afeta não só a vivência do aqui e agora, como também produz inseguranças acerca das representações sociais que se tem. Desempenhar um papel socialmente aceito, viver no limbo da existência, são condições da ansiedade e que precisam ser trabalhadas na busca de homeostase. Para isso o sujeito precisa aceitar as condições em que se encontra e a partir disso elaborar estratégias de mudanças. É por isso que a ansiedade precisa ser compreendida com profundidade, levando em consideração a totalidade dinâmica de cada um, sendo este um ser inserido em ambientes diversos e exposto a situações variadas nas quais a ansiedade pode se instalar.

REFERÊNCIAS:

ALMEIDA, Josiane Maria Tiago de. Reflexões sobre a prática clínica em Gestalt-terapia: possibilidades de acesso à experiência do cliente. Rev. abordagem gestalt.,  Goiânia ,  v. 16, n. 2, p. 217-221, dez.  2010 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-68672010000200012&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  15  abr.  2018.

BRUM, Eliane. Exaustos-e-correndo-e-dopados. El PaÍs Brasil, Brasil, v. 00, n. 00, p.1-10, jul. 2016.

D’ACRI, Gladys; LIMA, Patricia; ORGLER, Sheila. Dicionário de Gestalt-terapia: “Gestaltês”. 2. ed. São Paulo: Summus, 2012.

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. São Paulo: Vozes, 2015

HENCKES, Aislin Cristina Corbellini; SANTOS, Maria Luisa Wunderlich dos. Ansiedade e Gestalt-Terapia. 2017. Boletim EntreSIS V.2, n.1 (2017). Santa Cruz do Sul- RS. Disponível em: <http://online.unisc.br/acadnet/anais/index/php/>. Acesso em: 28 mar. 2018.

LIMA, Patrícia Albuquerque. Criatividade na Gestalt-terapia. Estud. pesqui. psicol.,  Rio de Janeiro ,  v. 9, n. 1, abr.  2009 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812009000100008&lng=pt&nrm=iso>. acesso em  14  abr.  2018.

MESQUITA, Giovana Reis. O aqui-e-agora na Gestalt-terapia: um diálogo com a sociologia da contemporaneidade. Rev. abordagem gestalt,  Goiânia ,  v. 17, n. 1, p. 59-67, jun.  2011 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-68672011000100009&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  27  abr.  2018.

NUNES, Lauane Baroncelli. Pensando gestalticamente a contemporaneidade. 2008. Rev. IGT na Rede, v 5, n.9, 2008 p.185-199. Disponível em: <http://www.igt.psp.br>. Acesso em: 14 abr. 2018.

PERLS, F.. A Abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da Terapia, 2 Ed. Rio de Janeiro: LTC, 1977.

PERLS, Frederick Salomon. Gestalt-terapia explicada. São Paulo: Summus, 1977.

RIBEIRO, Jorge Ponciano. Do self e da ipseidade: uma proposta conceitual em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 2005. 206 p.

RIBEIRO, Jorge Ponciano. Gestalt-terapia: Refazendo um caminho. 8. ed. São Paulo: Summus Editorial, 2012.

ROBINE, Jean-marie. O Self desdobrado: perspectiva de campo em Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 2006. 254 p. Tradução: Sonia Augusto.

SANTOS, Letícia Pimentel; FARIA, Luiz Alberto de Freitas. Ansiedade e Gestalt-Terapia. 2006. Revista da Abordagem Gestáltica: Phenomenological Studies, vol. 12, n.1, jan., 2006 pp. 267-277. Goiânia-GO. Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa.=357735503027>. Acesso em: 28 mar. 2018.

VOGEL, Andréa Rodrigues. O papel do terapeuta na relação terapêutica de Família Sistêmica Construcionista Social.2012. Rev. IGT na Rede, v 9, n.16, p.97 de 152. Disponível em: <http://www.igt.psc.br/ojs/issn 1807-2526>. Acesso em: 14 abr. 2018.

Compartilhe este conteúdo:

A origem da tragédia em Nietzsche

Compartilhe este conteúdo:

O Filósofo Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em Rocken, Alemanha, no ano de 1844. Suas principais obras são: O nascimento da tragédia; Assim falou Zaratustra; Para além do bem e do mal; Crepúsculo dos ídolos. A Origem da Tragédia – Proveniente do Espirito da Música, foi influenciada pelo compositor Richard Wagner e o filósofo Immanuel Kant, com a sua crítica da razão pura, que foram cruciais na compreensão da filosofia que se encontra por trás da obra de Nietzsche. Ademais, Arthur Schopenhauer e Platão estão entre as fortes referências que guiaram grande parte das obras do filósofo, filólogo, professor, crítico cultural, poeta e compositor alemão do século XIX.

Com o objetivo de empreender pela filosofia de Nietzsche, já nas primeiras páginas, a descrição dessa obra, segundo o prefácio do título, seria a que melhor descreve e explica a “essência do autor”, na qual se proclama como resultante de sentidos sobre “estados de dor e alegria”, tendo como pano de fundo uma filosofia em alusão a arte; o que explica a forte influência Wagneriana. Desde 1869, Nietzsche estava preocupado com a obra e em suas conferências desse mesmo ano e no ano subsequente, no Museu da Basiléia, em o “Drama Musical Grego” e “Sócrates e a Tragédia”, visualizava, referenciando o que seria a representação ainda que provisória das ideias do que se tornaria essa célebre obra “A Origem da Tragédia”, publicada no ano de 1872.

Nietzsche inicialmente desejou fazer um extenso estudo sobre os gregos, embora por outras razões, termina por mudar seus planos originais sobre esse trabalho na qual traz uma apologia do compositor Wagner. Porém, demonstrando o que viria a ser sua próxima filosofia; em que seria uma tentativa de segundo o próprio autor: “arrancar o homem da aparência”, e que mesmo sob o risco de vida, nada de sentir medo. Uma espécie de convite aos sentidos do viver e a própria experiência dolorosa da existência.

Fonte: http://zip.net/bdtKKT

O Filósofo traz em A Origem da Tragédia, a dualidade dos impulsos que são representados por divindades do mundo grego – Apolo e Dionísio; ambos se apresentam, cita o autor (NIETZSCHE, 1948), “como mundo de arte separados do sonho e da embriaguez; fenômenos fisiológicos entre os quais é possível notar uma contradição como a existente entre os apolíneos e o dionisíaco”. Assim, o autor encontra nessa oposição de instintos, as características essenciais da antiguidade clássica que eram dotadas de enorme sensibilidade para o sofrimento e também para a arte. Assim, a arte assume uma característica própria do homem e que o transcende, e o mundo seria tão somente, como o autor o define “um fenômeno artístico”.

Com o questionamento acerca da divindade sobre o que é o dionisíaco, Nietzsche afirma que no livro encontrará a resposta, ao que ele talvez “discorresse” com cuidado, porém com pouca certeza diante de um tema árduo e psicologicamente complicado como o da origem da tragédia grega (NIETZSCHE, 1948). Assim, a arte grega se expressa na religião e nos deuses olímpicos, buscando uma vida mais favorável. Em contrapartida, o autor aponta que Apolo é a figura que representa todo o mundo Olímpico, entendendo que ele se expressa pelas artes, assim como o povo grego sofredor que buscava na existência com os deuses uma fuga contra os horrores impostos nessa convivência, na qual a arte Apolínea seria uma reação, e assim a vida se tornaria mais fácil através da beleza artística. Uma obra intensa que dentro da concepção filosófica de Nietzsche abordará questões existenciais que visam a uma compreensão do percurso do homem pelo mundo e essa complexa busca pela felicidade.

O livro “A Origem da Tragédia” de Nietzsche abre uma forte crítica a cultura artística moderna, ele traz como discussão a forma estética da arte relacionando a forma e o processo artístico de Apolo e Dionísio (apolíneos e dionisíacos), uma oposição dualista. Para ele, a evolução no campo da arte está ligada diretamente com a dualidade. Não se preocupando com a sua forma de viver, e sim com o desenvolvimento da arte, ele aponta os gregos como irracionais, anárquicos e selvagens, pois eles criaram o mito trágico, onde é representada a dor e o sofrimento da tragédia e a alegria da tragédia grega era na verdade uma aparência determinada pela agonia do sofrimento dionisíaco.

Nietzsche começa seu livro apontando essa dualidade como metáfora para um modo de pensar o processo artístico, esclarecendo em termos de sonho e embriaguez. Para ele, os sonhos se caracterizam como um reino de belas formas e símbolos, e a embriaguez como um estado de paixões selvagens, esquecimento de si mesmo. O dionisíaco é a representação do irracional, da quebra da civilização e regras. Ao contrário dos dionisíacos, os apolíneos são o racional, a harmonia acreditando na moral. Mas embora suas diferenças possam ser destrutivas, elas também são necessárias para o processo.

Ainda sobre o mundo apolíneo, para Nietzsche, ele é o mundo da individuação, da consciência de si mesmo. É através do princípio de individuação que há a transfiguração da realidade que caracteriza a arte, ou seja, há foco na aparência, em algo que oculta um mundo.

Já a arte dionisíaca proclama a verdade, a contradição, é uma negação e esquecimento do indivíduo, da consciência, da história. Rompe com o princípio de individuação numa reconciliação do homem com a natureza, com os outros homens, há uma desintegração do eu. Porém, ela permite compreender a ilusão em que o homem vivia ao criar um mundo de beleza, vivenciando o instinto Apolíneo, em que se mascara a verdade, uma vez que a experiência dionisíaca destrói o sonho, pois o homem retoma o sentimento de dissabor pela vida. São dois princípios divergentes, porém necessários.

Fonte: http://zip.net/brtKdB

O desafio para ele passa a ser o de criar um sistema onde é necessário que os elementos apolíneos e dionisíacos se convirjam no sentido para criar a arte. No mito trágico, o elemento dionisíaco se sobressai ao do apolíneo, pois, este é civilizado e racional, e aquele é representado na própria tragédia, como o irracional. O mito, criado pelos gregos, se apresenta como um símbolo do dionisíaco que está presente no ser de todos os homens, sua representação é manifestada pelo apolíneo, que se preocupa com a boa aparência.

Pode-se dizer que há a tentativa de unir a aparência e a essência, em uma articulação dos dois instintos, das forças artísticas da natureza, uma vez que o apolíneo transforma em imagens os estados dionisíacos, e assim se cria música. Nesse sentido, a arte tem objetivo de revelar o ser, proporcionando alegria. O homem sente seu desejo e prazer de existir.

Fonte: http://zip.net/bvtKGH

Essa integração é chamada de Tragédia Ática, que preconiza a integração e não repressão do instinto dionisíaco ao instinto apolíneo. Nela, a música aparece como vontade, há a transformação do instinto dionisíaco em arte, integrando sua experiência exaltada ao mundo apolíneo aliviando, assim, sua força irracional e destruidora.

Dessa forma, cria-se a arte apolínea – dionisíaca ou tragédia ática, que caracteriza o momento mais importante da arte grega, pois faz a experiência dionisíaca possível. A arte trágica controla o instinto dionisíaco com o instinto apolíneo, como se um fosse a medida certa para o outro, unindo aparência e essência, articulando os dois instintos, as forças artísticas da natureza, dado que o apolíneo transforma em imagens os estados dionisíacos.

A argumentação de Nietzsche sobre a natureza dionisíaca encosta sobre sua concepção de música. Para ele, a música é algo que confunde as palavras, que incorpora a dor e a contradição, tendo seu significado para além das paixões humanas. Ele a descreve com um importante sinal cultural, onde sua distribuição universal assume um impulso dual do apolíneo e dionisíaco da natureza. Além disso, ela nos revela as limitações fundamentais da linguagem caracterizada por Dionísio que pode falar a todas as pessoas independentemente dos seus sistemas analíticos.

Nietzsche vê a existência do mundo como fenômeno estético e a essência, tem necessidade do instinto apolíneo. Ele se fundamenta na filosofia Kantiana que distingue o fenômeno da coisa em si, onde a estrutura racional não consegue exprimir a essência do mundo. O conhecimento não é capaz de separar verdade de aparência. Ele preconiza assim, o retorno da arte trágica, por causa da descrença na ciência.

Fonte: http://zip.net/bqtLcH

Na história triste do Édipo é possível perceber uma necessidade estranha e ao mesmo tempo bela do sofrimento. Édipo, homem nobre foi destinado a morte, para que só depois entendesse o seu sentido, com seu sacrifício um novo mundo pode ser construído sobre as cinzas do velho. “Por este modo de agir é que se traçará um círculo mágico, mais elevado de influências, influências estas que edificarão um mundo novo sobre as ruínas do velho e tombado” (NIETZSCHE, 1948)

O autor tenta explicar o destino de Édipo escrevendo que ele deve ter a sabedoria natural, o que aponta a sua frente um destino natural, a morte. Nietzsche (1948, p.53) indica-nos em primeiro lugar um processo, maravilhosamente enredado, que lentamente o juiz desfaz membro por membro, para a sua própria perdição; a alegria, genuinamente helênica, nesta solução dialética é tão grande, que por este meio penetra em toda a obra uma réstia de alegria, que quebra o gume às horrorosas condições desse processo.

A relação entre metafísica artista e metafísica conceitual vai além de uma questão estética, remetendo, em última instância, ao problema da verdade. Para Nietzsche, o saber trágico não foi vencido pela verdade, mas pela crença na verdade, por uma ilusão metafísica ligada a ciência. Nietzsche afirma que o problema da ciência não pode ser elucidado no nível da própria ciência, pois lutar contra a ilusão (aparência) é uma forma de ilusão. O pensamento de Nietzsche se fundamenta na filosofia Kantiana que distingue o fenômeno, que é o domínio da ciência, da coisa em si, desqualificando desta forma a ciência como forma de acesso ao ser. A estrutura conceitual racional é imprópria para exprimir a essência do mundo. A crença de que o conhecimento é capaz de penetrar consciente na essência, separando a verdade da aparência é um erro, uma ilusão metafísica. Nietzsche preconiza o retorno da predominância da arte trágica em seu tempo, exatamente por causa do retorno ao pessimismo prático, ocasionado pela descrença na ciência.

FICHA TÉCNICA DO LIVRO:

Fonte: http://zip.net/bgtKb8

Autor: Friedrich Nietzsche
Editora: Guimarães
Páginas: 152
Ano: 2004

REFERÊNCIAS:

AVELINO, A. L. Resumo da Origem da Tragédia, De Nietzsche. Graduando em Filosofia – FFLCH – USP. Disponível em: https://projetophoronesis.wordpress.com/2010/09/25/resumo-da-%E2%80%9Corigem-da-tragedia%E2%80%9D-de-nietzsche/ Acesso em: 08/maio/2017.

NIETZSCHE, F. A Origem da Tragédia. eBooksBrasil, Cupolo, 2006.

NIETZSCHE, F. A Origem da Tragédia: Proveniente do Espirito da Música. Tradução e notas: Erwin Theodor. eBooksBrasil, 1948. Disponível em: https://conecta.ulbra-to.br/turmas/2017/1/0806/filosofia/material-didático/ 9D3536AD-FD80-4455-92AF-F337F3ACAO11 Acesso em: 08/maio/2017..

O Livro da Filosofia. Tradução: Douglas Kiml. São Paulo:Globo, 2011.

Compartilhe este conteúdo:

Ressentimento: uma perspectiva provocante

Compartilhe este conteúdo:

Sou uma pessoa ressentida? Com tal questionamento, fomos inseridos ao oportuno e interessante tema, extraído da obra do filósofo Luiz Felipe Pondé: A Era do Ressentimento – Uma Agenda para o Contemporâneo. Um rico diálogo da Filosofia com a Psicologia, explanado no Psicologia Em Debate do dia 08/03/2017 pelo acadêmico em Psicologia Lenício Nascimento, oportunizou o entendimento das demandas dos relacionamentos atuais, principalmente quando traz como pano de fundo, o ressentimento gerado pela exteriorização e superficialidade, o consumismo e a individualidade, aos quais estamos nos adequando sem ao menos contestar o porquê desse embate entre o ter e o ser, e suas consequências.

Dizemos a nós mesmos que: “eu me basto”, não preciso de ninguém, gerando uma via para a solidão e o ressentimento; nesse ponto o palestrante intencionalmente nos remete a uma reflexão necessária. Por meio de uma contextualização e interação com os alunos, o palestrante aponta o tema do ressentimento, como um embate que travamos em nosso ego, com o que a contemporaneidade foi forjando para que a sociedade do consumo e dos relacionamentos superficiais chegasse à atualidade com os dramas que acabam por gerar em nós uma série de psicopatologias, além da solidão, pela qual estamos de certa maneira cercados.

Fonte: http://zip.net/bvtGDN
Fonte: http://zip.net/bvtGDN

Contudo, o autor nos alerta quanto ao fato de que a palavra ressentimento pode possuir em si mesma, forte conotação negativa; alegando ainda que podemos retirar dessa experiência, uma forma de superação contra as nossas próprias adversidades; lutar contra o ressentimento para que alcancemos nosso crescimento como pessoa. E, ainda segundo o autor, no desespero ou auto superação, podemos trabalhar esse sentimento negativo, transformando em algo positivo.

O autor, sinalizando para uma geração de pessoas ressentidas, que vivendo sob a ótica narcisista, enxergando-se a eles mesmos como pessoas singulares, sempre procurando um reconhecimento público para seus feitos; exemplificado pelo palestrante como as pessoas que levantam uma bandeira em defesa da natureza, porém não conseguem suportam a convivência com a própria irmã ou outro parente qualquer. Assim, seguimos negando que somos pessoas ressentidas, e a culpa sempre será do outro.

Para tratar desse problema, o autor tem como possibilidade de solução, não negar o ressentimento, e sim aceitar o que está sentindo e procurar a verdade, o sentindo verdadeiro da vida. Quanto a isso, essa obra que nasce do olhar filosófico e psicanalista do autor, observando nessa geração que são sete bilhões de pessoas no mundo inteiro, procurando seu pedaço de felicidade. Estamos afogados numa espécie de ressentimento, dado circunstâncias por estarmos sempre achando merecedores dessa felicidade, somos mimados, achamos que Deus nos abandonou. Em contrapartida, o problema se estende para além, já que estamos sempre ressentidos por algo ou alguém que não nos ouviu, não retribuiu nosso amor, enxergamos a vida do outro como melhor que nossa própria; assim vivemos com as nossas feridas narcísicas abertas, expostas.

Fonte: http://zip.net/bltFJM
Fonte: http://zip.net/bltFJM

Portanto, mapeando uma série de sintomas dessa contemporaneidade, o autor abre espaço para conferirmos a grande tragédia que estamos vivendo, conseguinte trocamos a vida real e seus dramas, por plataformas e redes sociais que mostra ao outro, o que queremos ser, ainda que esse outro não seja meu eu real. Assim, seguimos nossa jornada para no futuro sermos lembrados como pertencentes a “Era do Ressentimento”.

Compartilhe este conteúdo: