Comunidade Red Pill: a misoginia nas redes sociais

Compartilhe este conteúdo:

A Comunidade Red Pill, criada por analogia ao filme Matrix, parece tratar-se de uma comunidade de Inteligência Artificial, não tem um fundador único e específico, fora acolhida e desenvolvida pela ideologia de homens que pensam e agem de igual forma.

Desenvolveu-se diante dos compartilhamentos de experiências e opiniões sobre questões de gênero e relacionamentos, via on line. É um “ projeto” construído a várias mentes, é filho de ninguém. Fazem uso da globalização de ideias especulativas, com o cunho em transformar e resgatar costumes dos másculos, com premissas em alijar incertezas e ambiguidades no agir dos homens, ou seja, uma “atividade” realizada em bando e orientada por objetivos futuros, quando produzem conteúdos onde defendem a condição do sexo masculino, a exploração destes pelas mulheres, as quais são retratadas, sendo a natureza da alma feminina, interesseiras, infiéis e manipuladoras. 

O cartão de visita é a pílula vermelha  (Red Pill), cuja pílula, simboliza o homem Red pill, de forma estratégica e persuasiva é exposta na mão direita, a mão da força e do vigor, quando representa a realidade, o despertar e a inteligência superior, contrapondo-se à azul (Blue Pill), representada na mão esquerda, simbolizando a  fraqueza, a fantasia e ignorância desse homem permissivo e manipulável por uma mulher, uma crítica negacionista.

Homens blue pill, são aqueles comprometidos afetivamente com mulheres, por longo tempo, são categorizados pela comunidade, como sendo frágeis, manipulados pela figura feminina, bem como, incapazes de impor-se, por viverem em um universo de fantasia. O falo representa o poder e, por que estes homens “falados” abdicam de seu poder e tornam -se blue pill, invertendo os papeis?

Inconteste que a comunidade em pauta, externa uma resposta à insegurança, à baixa tolerância à ambiguidade e à necessidade de redução das incertezas através da criação de um manual de normas rígidas, resistente à mudanças e de naturalização das desigualdades. Haja vista, que a presente militância, possui na sua forma o agir em grupo/ conjunto, visando derrotar o “inimigo”, a mulher, culpando -a pelos  seus sucessivos fracassos, frustações e insucesso social. 

Comunidade esta, com animus nocendi, elemento subjetivo que informa a intenção e motivação do agir nocivo. Uma visão distorcida, intemporal  e retrógada, com objetivos  específicos em desqualificar a figura feminina e propondo comportamentos masculinos, o retorno do homem alfa,  muito próximo ao da caverna, quando este suplantava o feminino pela força física, ainda resistente em nossa sociedade e, não pela eloquência. 

Imagem de Septimiu Balica

A mulher, um inimigo imaginário, que na verdade, apropriam-se dessa falácia para a construção de uma ameaça motivadora de uma desordem de massa, corrompendo e deslegitimando a ordem social natural, onde homens e mulheres são partes distintas, porém, que se completam para dar continuidade à raça humana.  

Os “Redes Pills”, conjunto de homens brancos de meia idade, os quais ainda arraigados aos seus antepassados do sexo masculino, sendo sua tática espelhar a trajetória e mesma contundência de seus precedentes, para garantir a tradição recebida e (re)estabelecê-la como referência do passado para ter sucesso financeiro, amoroso e profissional. No seu afã imaginário, “lutam”  bravamente para trazer de volta o homem do pretérito.

“A comunidade o red pill estimula a desvalorização e objetificação das mulheres, “o que é um prato cheio para a violência de gênero, .bem como, também pode gerar um impacto negativo na saúde mental do próprio público masculino, como problemas como ansiedade, ao pressionar por atitudes consideradas masculinas, como reprimir emoções”. Professora Jeane Félix- pesquisadora de gênero, sexualidade e juventudes, da Universidade Federal de Alagoas.

Redpillados, sustentam ainda que, o homem está à margem da legislação,  há misandria no ordenamento jurídico, não há imparcialidade, a mulher está sempre em evidência,  uma vez que, em vários países , as leis favorecem-nas, principalmente quando os assuntos versam sobre guardas de filhos, pensão alimentícia e violência contra a mulher, citam a Lei Maria da Penha -Brasil, a título de exemplificação da parcialidade da lei em detrimento ao sexo masculino.  

Grupos Redpill- yanka Romão/Metrópoles

Vocabulário próprio, como ocorre nas “ tribos”, acessível no canal do YouTube, sob o título de : “Atitude alfa”.  Há número expressivo de inscritos, os quais por certo, usam-nas, e o suficiente para pincelar o que está margeando o pensamento dessa comunidade:

  • Alfa: homem que tem uma postura que se confunde com o de o homem pré-histórico (liderança e confiança com meninas). Geralmente, são os mais “bonitos” e “privilegiados”;
  • Alfa buda:  é o alfa natural, que “ganhou na loteria da genética”, mas não necessariamente tem atitudes de homem alfa;
  • Beta: é o oposto de alfa e diz respeito a homens inseguros e submissos. Também é visto como uma mentalidade;
  • Beta provedor: homem que atrai mulheres pelo que ele tem, não pelo que ele é, nem pela aparência (Whinderson é um exemplo de beta provedor para eles);  
  • Bandida: Mulher que gosta de correr atrás de homem. Ela perde o interesse com qualquer sinal de validação masculina; 
  • Blue pill: É o homem que está dentro do mito da mulher perfeita e da alma gêmea. Coloca o foco todo na mulher e, quando ela trai, pode acabar com o foco dele;
  • Black pill: É o homem que saiu do mercado sexual e não se relaciona com mulheres. Geralmente sai só com garotas de programas;
  • Boomerang: É quando a mulher tenta trocar um homem por outro melhor, mas não dá certo e volta para o primeiro; 
  • Boomerang invertido: É quando o substituto é usado como objeto sexual, ou seja, a mulher fica com ele, mas não quer trocar o cara com que se relaciona;
  • CSV (capitão salva vadia): Homem que casa com garotas “rodadas”. É um “herói” para elas;
  • DB (budy call ou disque sexo): Seria a friendzone do homem ou a sexzone, é quando a mulher dá sexo para ele e ele não dá nada ou muito pouco de atenção para ela. Mesmo assim, a mulher nunca perde, foram elas que criaram o jogo, já que ela tem algum benefício, como o homem pagar o motel; 
  • Fêmea alfa: É a mulher com mais capacidade de atrair o sexo oposto, ou seja, que é muito bonita;
  • Fêmea alfa feminista: É a mulher que tem os valores masculinos, como sucesso no mundo dos negócios. Mas isso não quer dizer que ela é a mais atraente para os homens; 
  • Friendzone: É quando o homem é amigo de uma garota que ele tem interesse sexual. É diferente da relação da amizade, quando não há interesse. É uma relação em que o homem perde, porque dá atenção e não ganha sexo;
  • Monkey branch: Hipergamia. O conceito é mais relacionado à mulher, que estaria sempre em busca de um homem melhor;
  • Monkey branch invertido: É mulher troca um homem por outro com VSM mais baixo; 
  • Progressão sexual: escalonamento da relação até o homem transar com a mulher.
  • Purple pill: É o homem que usa o conhecimento da red pill para entrar em relacionamentos monogâmicos, para tomar as melhores decisões;
  • Red pill: É o homem que se despertou para a natureza feminina, não se envolve em relacionamentos em longo prazo e lida com mulheres de forma mais desapegada. Geralmente, eles descobrem red pills depois de um trauma. Mas, para eles, não significa que odeia as mulheres;
  • RLP: relacionamento de longo prazo;
  • RP (rotação de prato): Ficar com mulheres é rodar pratos, ter atitudes para manter eles girando e quanto mais pratos tiver, mais difícil é para manter;
  • Sabotagem: Quando a mulher está se relacionando com um homem, ela faz diversos testes. Se ele está apaixonado e não consegue passar, ela sabota o relacionamento, saindo com as amigas ou tendo amizade com homens, por exemplo; 
  • Shit test: São os testes de aptidão ou valor que a mulher faz. Eles são feitos de forma subconsciente e tentam medir confiança do homem;
  • Sigma: o homem acima do beta e abaixo do alfa na hierarquia, mas que, ao mesmo tempo, não se encaixa na hierarquia. Ele quer seguir fora das turbulências do relacionamento e vive mais isolado, focado em “paz e tranquilidade”; 
  • Unicórnio: Mulher que não é rodada, que não trai e que não existe;
  • Vadia de atenção: Garota que não quer ficar com você, mas manda sinais de interesse para o homem, pensando em valorizar a autoestima dela;
  • Viúva do alfa: Ao se relacionar com um alfa, a mulher tem um padrão emocional e não consegue abaixar o nível de exigência depois; 
  • VSM (Valor sexual de mercado):  O mundo dos relacionamentos seria ditado por um “mercado sexual” e cada indivíduo tem um valor, que é determinado pela lei de oferta e procura, e se baseia em três pilares: aparência, personalidade e sucesso. Aquele que é mais procurado pelo sexo oposto teria um VSM maior. Mas o “índice” é diferente para homens e mulheres: para elas, a beleza seria o principal fator; para eles, o sucesso. O homem seria um objeto de poder, e a mulher um objeto sexualizado;
  • VS ou VSM (Valor social de mercado): Está atribuído à carreira e suas atribuições. Quando o homem aumenta o valor social, aumenta também o sexual. O da mulher, não;
  • Wolverine: É a mulher que fica com os caras, mas não quer ter um relacionamento, ela não se apega, sexualmente falando. Não é ferida emocionalmente;
  • Zeta: é o homem que tem algumas características do alfa, como o respeito e a confiança, mas usa essas características “para o mal”. Ele não é virtuoso, é bandido. 

Esse movimento de desconstrução da mulher, na verdade, revela uma fuga da possibilidade de construção de diálogos e mobilizações para que se converse sobre as dores que esses homens vivem, mas também sobre as dores que esses homens causam. 

Os “redpillados” na verdade, externar uma mulher figurativa e ideal, o sonho do homem em acreditar na universalização do ideal feminino, mas, que só existe em sua mente. 

Para Lacan, o homem sonha e sempre sonhou com a mulher universal, assim seria melhor entendê-las, pois, estariam em um mesmo “ balaio ” de gatos, tornando a vida do homem bem mais fácil, não precisam gastos energéticos, na sedução e conquista. Só para complicar suas vidas, cada mulher é ímpar, um infinito particular. 

O resultado desse perigoso discurso chauvinista e misógino, mais de bilhões de seguidores, que reverbera o planeta, é o reforço e a inoculação, de forma genérica, de ideias, sentimentos de ressentimentos e ódio pela figura feminina, cujo discurso, busca silenciá-las.

Questionarão: Mas, a mulher não é universal? Sim, porém à parte, e não estão dispostas a assumirem uma categoria universalizada. As mulheres já conquistaram parte de sua voz, tecendo suas vidas, onde criaram e criam os novelos familiares, amorosos e laborais em uma perspectiva que não estão dispostas em (re)tornarem-se afônicas ou pronunciar meros sussurros inaudíveis, ritos labiais  que se perdem ao ecoarem ao vento.

Compartilhe este conteúdo:

Carlos Rosa: Não existe psicóloga(o) perfeita(o), até porque é da natureza da psicologia clínica confrontar as demandas infantis da(o) paciente

Compartilhe este conteúdo:

(En)Cena entrevista o Psicólogo e psicanalista Carlos Mendes Rosa, Professor Adjunto do Curso de Psicologia da UFT, professor do Programa de Pós-Graduação em Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos da Universidade Federal do Tocantins – Campus de Miracema e Coordenador do FaLA – Percurso de Freud a Lacan. Carlos também transita pela Psicologia Social e se interessa muito por Saúde Mental. Instagram: @carlosrosapsi

Fonte: acervo pessoal do entrevistado.

(En) Cena – O que realmente pode-se entender como um planejamento de carreira?

Carlos Rosa: Do ponto de vista da psicanálise, planejamento de carreira é você estar alinhada(o) com os seus próprios desejos. Muitas pessoas compram metas profissionais pré-formatadas pela sociedade e acreditam que essa ou aquela carreira vai lhes satisfazer porque são “bem vistas” ou “rentáveis” e no final acabam infelizes porque não era aquilo que elas “realmente queriam fazer”.

(En) Cena – Como elaborar um planejamento de carreira do psicólogo?

Carlos Rosa: A primeira coisa a se fazer é procurar uma boa terapia ou análise. Ninguém vai ser psicóloga(o) sem passar por um bom processo terapêutico. A segunda coisa é saber que a universidade é um lugar de percursos variados e que estão sob sua responsabilidade. Ou seja, cabe a cada um aproveitar mais ou menos as oportunidades formativas da academia. E se formar de maneira correta, concreta, crítica e ética são quesitos fundamentais para uma carreira plena em qualquer área da psicologia.

(En) Cena – Quais são os principais desafios a serem superados por um psicólogo?

Carlos Rosa: Manter-se firme em seus propósitos técnicos e ético-políticos diante da panaceia de teorias, técnicas e métodos ditos “fáceis e rápidos”, estar em constante aprendizado e diálogo com a realidade que se atualiza e se transforma a cada dia, conseguir manter a capacidade de se espantar com as violências e formas de sofrimento não naturalizando tais condições, sustentar uma posição de profunda empatia e acolhimento diante de todas(os), principalmente, em uma sociedade marcada pela indiferença como fenômeno individual e pela solidariedade negativa como marca coletiva. Há muitos desafios a serem enfrentados! Acrescentaria ainda, a tarefa sempre difícil de lidar com nosso próprio narcisismo (tanto na profissão quanto na vida pessoal). Digo isso porque, ao nos tornarmos psicólogas(os), podemos cair na tentação de nos acharmos em uma condição diferente das outras pessoas, especialmente, quando pacientes nos procuram e, ao longo do tratamento, desenvolvem sentimentos de respeito, gratidão e estima por nós. Isso pode causar um certo fascínio deletério para nós mesmos e para os outros.

(En) Cena – Como alcançar uma boa saúde financeira?

Carlos Rosa: Gastando menos do que se ganha? (risos) Analisar aspectos da rentabilidade pessoal é complexo por estarmos submetidos a um sistema exploratório neoliberalista que precariza a maior parte das funções e ocupações. Além disso, pessoas diferentes (diferenças de sexo, raça, etnia, classe) terão dificuldades diferentes para atingir patamares idênticos de renda e estabilidade. Não existe uma regra geral. Mas, se puder dizer alguma coisa sobre esse ponto seria, na maioria das vezes, aquela pessoa que gosta do seu trabalho e se sente realizada com o que faz tende a trabalhar melhor e de maneira mais competente e consistente. E essas características costumam ser apreciadas pelo mercado. O que pode levar essa pessoa a ser mais valorizada e ter mais condições de atingir o que está sendo chamado aqui de “saúde financeira”.

(En) Cena – Como você superou ou não teve problemas em lidar com o público?

Carlos Rosa: Lidar com o público é sempre uma experiência difícil. Primeiro, pela variedade de pessoas e demandas. Segundo, como diria Sartre tendemos a achar que “o inferno são os outros”. Ou seja, o outro é sempre um anteparo das nossas piores (e até melhores) projeções inconscientes. Acredito que, nesse ponto, também vale a recomendação da análise pessoal (terapia), pois uma pessoa bem resolvida consigo mesma é mais feliz, mais fácil de tratar e lidar com as outras e, via de regra, mais segura em suas posições. O que certamente ajuda bastante na hora de estar diante do público; seja numa consulta clínica, numa instituição (escola, empresa) ou outras áreas onde a psicologia é chamada a atuar.

(En) Cena – Quando procurar ajuda psicológica?

Carlos Rosa: Quando se está sofrendo. Uma paciente minha dizia que “análise não é uma coisa que a gente precisa, é uma coisa que a gente merece”. Eu concordo que todas(os) deveriam e merecem passar por um processo terapêutico, mas isso não é possível. Especialmente, porque o processo terapêutico é difícil, doloroso e requer desejo por parte da(o) paciente. Então, a hora mais adequada para se começar uma terapia é quando se está em sofrimento e se tem a noção (maior ou menor) de que aquilo precisa mudar. No caso de candidatas(os) a profissionais de psicologia seria ótimo que essa hora ocorresse antes da primeira atuação. De preferência, um tempo curto depois de iniciar o curso de graduação.

(En) Cena – Você pode dizer quando é que a pessoa sabe se encontrou o psicólogo perfeito para ela?

Carlos Rosa: Acho que um bom processo terapêutico é medido por seus resultados na vida da(o) paciente. Em geral, esses resultados podem nem ser exatamente aqueles esperados pelo(a) paciente. Não existe psicólogo perfeito. Até porque é da natureza da psicologia clínica confrontar as demandas infantis da(o) paciente. E isso vai gerar dissabores e tensões. Lacan dizia que o analista deve fazer o papel da tapada (mulher que não entende) para ser bom clínico. Explico, que ele se refere à mulher pois, para a psicanálise, a posição clínica é sempre feminina (no sentido de esperar a demanda de terapia de outrem) e segundo, ser “tapada” significa não entender completamente o que se está dizendo na sessão, ter dúvidas, dar espaços para a incerteza. Nesse sentido, ao procurar uma terapia, não se deve esperar encontrar a psicóloga(o) perfeita(o), mas alguém que possa acolher nossos sofrimentos e tratar deles de modo a que consigamos nos transformar. É sempre um luxo encontrar alguém que te acolha e te aponte caminhos.

(En) Cena – Nessa nova ordem dos coach é comum as pessoas dizerem que os coachs são mais precisos, suas respostas ao problema são mais rápidas, assim sendo, qual a diferença entre o coach e o psicólogo?

Carlos Rosa: A palavra “Coach” vem do inglês e costuma ser traduzida por técnico ou treinador. E seu escopo e abrangência está (ou pelo menos deveria estar) atrelado a essa função; qual seja treinar pessoas em determinadas habilidades de forma a melhorar e potencializar resultados dessas mesmas pessoas nas mais diversas áreas de suas vidas de relação. Nesse sentido, há bons profissionais que se oferecem como coachs nas áreas de finanças, trabalho, relacionamentos etc.

Trata-se de um grave erro confundir esse tipo de serviço ou profissional com o fazer de um psicólogo. Pois a psicologia, em sua origem, se propõe a acolher e tratar modalidades de sofrimento em estreita ligação com o seu compromisso social com a sociedade como um todo em sua diversidade e desigualdade. Só a mera comparação entre as ocupações já me parece absurda, haja visto que um coach não tem formação e muito menos competência para tratar pessoas, mitigar sofrimentos e propor estratégias terapêuticas para o enfrentamento de transtornos ou outras formas patológicas.

Um adendo importante aqui se faz necessário acerca da suposta rapidez de certos tratamentos, sejam eles comportamentais ou farmacológicos. Nossa sociedade elegeu a pressa como valor fundamental. Com isso, perdemos o direito ao tempo para a elaboração e vivência de certos processos. Dito de outra maneira, não respeitamos mais o nosso próprio tempo e muito menos os outros. Imagina que você levou anos para construir uma forma de sofrimento como uma crise de ansiedade. Será possível que uma intervenção “rápida” terá efeitos terapêuticos e duradouros sobre esse sintoma?

(En) Cena – Não muito raro, as pessoas confundem depressão como uma tristeza profunda,  qual a diferença entre depressão e tristeza ?

Carlos Rosa: Essa confusão tem origem num fenômeno atual que conhecemos como “patologização da vida cotidiana”. Que nada mais é do que a utilização de termos oriundos dos manuais de psiquiatria para definir comportamentos e estados que são apenas variações da norma. Desse modo, quase tudo que se apresenta como sintoma vira diagnóstico e acaba sendo medicalizado. É papel da psicologia também lutar contra essa cultura tão equivocada e nociva à saúde mental das pessoas.

Tristeza é um estado de espírito, um afeto, ou até mesmo uma paixão, se pensarmos como o filósofo Espinoza. A tristeza faz parte da vida de todas(os) e não pode (nem deve) ser eliminada ou desprezada. Acho que duas boas reflexões sobre a importância da tristeza podem ser encontradas no livro de Ruben Alves “Ostra feliz não faz pérola” e no filme “Divertidamente”. Depressão é um transtorno mental classificado nos manuais diagnósticos. Define um conjunto de sinais e sintomas clínicos que incluem a tristeza em grau profundo, mas também outras características como anedonia (incapacidade de experimentar prazer), apatia diante da vida, descuido com o próprio estado físico, pouca disponibilidade de investimento de afetos etc. Pessoas em depressão devem procurar ajuda profissional. Trata-se de uma condição clínica e não deve ser trivializada nem romantizada.

(En) Cena – Tu acreditas que seja a Psicologia a profissão do futuro? 

Carlos Rosa: É lugar comum dizer que a psicologia no século XX ajudou a construir a sociedade em que vivemos. Isso porque há mais de cem anos as pessoas passaram a se perceber e enxergar o mundo ao redor através de conceitos e palavras do arcabouço psicológico (afeto, consciência, motivação, neurose…). Por essa razão, acredito que a psicologia esteja presente de forma significativa desde o passado recente, passando pelo presente e ensaiando um futuro ainda mais efetivo em termos de importância e abrangência social. Pesquisas mostram que a psicologia se tornou um dos três cursos mais procurados e concorridos na imensa maioria das universidades do país. Junte a isso o aumento significativo dos índices de sofrimento psíquico (não gostamos do termo doença mental) na população geral… Acho que a nossa profissão terá muito campo de trabalho, muita demanda é de altíssima relevância social. O que só aumenta a nossa responsabilidade enquanto profissionais.

Compartilhe este conteúdo:

Relato de uma servidora do judiciário tocantinense

Compartilhe este conteúdo:

A dificuldade da justiça em combater os instintos violentos do ser humano

Sou serventuária do Judiciário Tocantinense e gestora da 2ª Câmara Criminal. Na Câmara, cumprimos todos os despachos e decisões prolatadas pelos Desembargadores. Alí assiste-se todos os crimes cometidos no Estado, em grau de recurso ou impetração de Habeas Corpus e mandados de segurança, resguardando a garantia dos direitos do cidadão, seja ele vítima (sujeito passivo) ou autor (sujeito ativo) do crime. Cujos crimes, vão dos mais simples aos mais complexos.

Ouvir que a justiça pouco faz para dirimir a violência no país é um discurso corriqueiro entre os indivíduos quando reunidos ou diante de um fato de comoção nacional, no entanto, é a sociedade quem cria oportunidades para alterações nas leis. Elas só mudam, se se provocadas.

Créditos: Rondinelli Ribeiro

É de bom alvitre, definir o que seja crime e violência. Por um lado temos o crime,  um fato típico- tem que haver previsão legal, contido em lei incriminadora e antijurídico, é o comportamento do sujeito o qual descumpre , desrespeita, viola e infringe uma lei penal, reprimida com prisão ou detenção, o qual segundo o Decreto- Lei nº 3.914, de 9 de dezembro de 1941, in fine:

Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente.

Por outro lado, temos a violência, uma questão social e cultural quando se refere à violência contra a mulher. Violência, definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002) como sendo:

“uso intencional da força ou poder em uma forma de ameaça ou efetivamente, contra si mesmo, outra pessoa ou grupo ou comunidade, que ocasiona ou tem grandes probabilidades de ocasionar lesão, morte, dano psíquico, alterações do desenvolvimento ou privações.”

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay 

Pode-se aferir que a violência seja um indicador social e situação é gravosa e, quando trata-se de crime culturalmente aceito desde o pretérito, torna-se ainda mais complicado em extirpar- lo.  Dentre os tipos dessa violação, elenco a violência contra a dignidade sexual pois, uma vez ser a mais associada ao conceito de violência.

Sendo a mulher e a criança, os agentes passivos dessa infâmia pública e, de forma comum e corriqueira, as pessoas feridas, ainda são alvos do preconceito dos profissionais da justiça e da sociedade, razão esta, que muitas dessas vítimas deixam de denunciarem seus algozes. É o bis idem da dor, são incriminadas por terem sido vítimas de um crime. Desse modo, a sociedade as faz sentirem diminuídas, experienciando novos sofrimentos, levando-as vitimização secundária.

Desses anos de labor no judiciário, sou testemunha dos esforços das vítimas e/ou de parentes, clássico caso Daniela Peres, onde sua mãe Glória Peres , lutou de forma hercúlea, para tornar o homicídio em crime hediondo. É a sociedade movimentando-se para que os legisladores reconheçam e criem mecanismos e normas mais rígidas capazes de coibir os instintos primitivos e violentos do ser.

Somos testemunhas, em especial, da violência doméstica contra crianças e mulheres, antes velada, pela ausência de norma jurídica, hoje explicita, ocorrendo em nome do amor, assim definido pelo autor.

Isto posto, ela faz-se presente de forma contundente nos relacionamentos amorosos, em particular, sendo o agente ativo, pessoas íntimas, que possuem relação de confiança com o agente passivo. Neste rol, envolve-se também, filhos, pais, sogros e outros parentes, pessoas que dividem o mesmo teto e até mesmo vizinhos e amigos.

Irrefutável que a violência doméstica está enraizada sobremaneira na vida social de muitas famílias, e que passa a ser entendida como uma situação normal, “está seguindo o ciclo de violência familiar”, tratam-na como “maldição hereditária”.

Imagem de Ralf Seemann por Pixabay

Nesse diapasão, crianças e mulheres são tratadas como propriedade e objetos pessoais de  seus atormentadores e, para conter o ímpeto em combater a violência contra a criança e adolescente, fora decretada, sancionada e regulamentada a Lei   8.069/1990, ECA- Estatuto da Criança e Adolescente, cujo estatuto é definido como sendo o conjunto o ordenamento jurídico, com objetivos para ofertar proteção dos direitos da criança e do adolescente. A pedra oblonga legal e regulatória dos direitos humanos de crianças e adolescentes.

A Lei 12.015/09, a qual versa sobre os crimes contra a dignidade sexual contra crianças e adolescentes, veio corroborar com as alterações necessárias às vítimas, quando modificou o texto do   Art. 3o  o  Decreto-Lei nº 2.848, de 1940, Código Penal, o qual fora acrescido os seguintes artigos:

“ 217-A Estupro de vulnerável , 218-A Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente , 218-B “Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável , 234-A- Aumento de pena , 234-B-   Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de justiça.” e 234-C- fora vetado em virtude do tipo penal estar previsto no art. 218-B.”

Imagem de Sam Williams por Pixabay 

Os artigos 217-A e seguintes, são os mais corriqueiros nas pautas de julgamento do Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins. Antes dessa alteração, o crime de Estupro era próprio, exigia-se a condição de ser mulher para que ocorresse o declinado crime. Com advento dessa alteração essa figura desaparece e uniformiza, todas as crianças que sofrem violência sexual é estupro, seja ele menino ou menina.

Imagem de Alexa por Pixabay 

Corroborando com esse ordenamento, visando menor exposição da vítima, fora estabelecida a Escuta Especializada e Depoimento Especial, Decreto nº 9.603/2018, que regulamenta a Lei nº 13.431/2017, com fundamento em conceder tratamento diferenciado à criança e/ou ao adolescente que é vítima ou testemunha de violência, preservando-lhe a saúde física e mental, visando dirimir os danos para com o desenvolvimento moral, intelectual e social .

Anterior a este ordenamento, a criança e/ou adolescente, vítima ou testemunha de violência, era exposto a repetir a cena e o crime por várias vezes. Seu primeiro depoimento era na Delegacia, a coleta do depoimento era sem o menor critério e zelo pela identidade das vítimas. Logo após, outro depoimento, este acontecia perante o Luiz, Promotor de Justiça, Escrivão, e pasmem, diante de seu algoz. E, não muito raro, a vítima era convocada para novos depoimentos para confirmação dos fatos. Era uma exposição cruel, ilimitada e desnecessária a quem já estava tão ferido.

Imagem de Marcos Cola por Pixabay 

Em virtude dessas exposições e formas desarrazoadas de coleta de provas, muitos depoimentos foram invalidados e concomitantemente, o autor não fora punido em virtude da negativa das vítimas, pois, uma vez estando tete a tete com o autor, suas ameaças tornavam-lhes passivas de serem concretizadas. Vítimas de violência sexual, sofrem as piores e mais cruéis ameaças, haja vista, o autor, possuir relação de confiança e próximo afetivamente da vítima, tais como pai, padrasto, avô, tio, amigo da família e vizinho, estes são os mais clássicos.

Com o advento da Escuta Especializada e do Depoimento Especial, as vítimas são poupadas de quaisquer contatos, mesmo que visual, com o suposto autor ou acusado, e/ou de outra pessoa que lhe traga medo, ameaça, coação ou constrangimento.

Imagem de Mahmur Marganti por Pixabay 

Assisti e acompanhei a luta de uma mulher, para penalizar seu cônjuge por tentativa de homicídio, por ser vítima de maus tratos , dos arroubos e desmande de seu cônjuge , Maria da Penha Maia Fernandes, em 1983, fora vítima de 2 (dois) homicídios, cuja lei recebeu seu nome face à sua incansável luta em punir seu agressor. Sua luta chegou aos portais dos Tribunais  Internacionais, CEJIL (Centro pela Justiça e pelo Direito Internacional), e CLADEM (Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher) contra a decisão, proferida em desfavor do conjugue, estavam favorecendo o autor, e pela vítima Maria da Penha à CIDH/OEA (Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos). Primeira denúncia acolhida pela OEA de violência doméstica.

Imagem de Marcos Cola por Pixabay

Decretada e Sancionada a Lei 11.340/2006- Lei Maria da Penha, violência contra a mulher:

“Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.”

Imagem de akiragiulia por Pixabay

Destarte, é imprescindível o entendimento de que a violência doméstica não se resume somente à violência física, o Art. 7º da lei em voga, versa sobre as maneiras diversas de violência, que muitas vezes antecedem o uso da força física, a violência psicológica, a violência sexual, violência patrimonial, moral.

Por tratar-se de crime cultural, muitas mulheres só creem ser violentadas quando há a violência física. E, em nome da união da família, quando não há mais sentido em estarem juntos, justificam-se aduzindo que suas genitoras, avós, passaram por estas situações, “isso é normal”, fator este que dificulta o afastamento e punição do agressor, quando em muitos casos, esse argumento, resultam em feminicídio.

Mesmo sendo declinado a necessidade de regulamentação e implantação de Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, ainda são poucas as Comarcas que os implantaram. Idealizados para dirimir outros crimes dos agentes públicos, pois, no ato do Registro do Termo Circunstanciados, quando ocorre nas Delegacias de crimes comuns, a mulher mais uma vez, tem que enfrentar situações constrangedoras e violadores de direitos.

Pode -se dizer que outra conquista da mulher, a Lei 13.104/15 – lei do Feminicídio, que alterou o art. 121 do Código Penal, incluindo o aludido termo, usado para o crime de ódio  baseado no gênero, assassinato de mulheres em violência doméstica ou por ter aversão ao gênero da vítima, misoginia,  sendo este uma qualificadora , aumento de pena:

“§ 7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado: I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; II – contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência ; III – na presença de descendente ou de ascendente da vítima.” (NR).

Imagem de Diana Cibotari por Pixabay

Em suma, diante de estudos para aumento de pena, classificar novas qualificadoras para aumentar as penas, recursos usados para incrementar a punição, parece que nada intimida ou retrai o instinto agressivo e assassino dos homens, aqui não de forma genérica e sim, sexo masculino, haja vista o crescente aumento da violência contra a mulher, criança e adolescente.

        Imagem de succo por Pixabay

Confesso, quando do julgamento de alguns crimes, diante de tantas atrocidades contra uma pessoa e, em especial uma criança, não há como não verter -me lágrimas.

Créditos: Rondinelli Ribeiro

 Muitos diziam-me que com o tempo eu deixaria de impactar-me, já se vão quase 30 anos de judiciário, não perdi a capacidade em indignar -me, tampouco de solidarizar com o sofrimento alheio. Pelo contrário, conhecendo a realidade dessa violência, enveredei-me para a graduação em psicologia, para, entender o ciclo da violência e idealizar forma de trabalhos sociais para associar o direito com a psicologia, pois, o direito, quase sempre é draconiano, apenas dirimi os efeitos e as causas não são trabalhadas. Creio que essa geografia da violência, somente será dirimida, quando categorizá-la como questão de saúde pública.   E assim, finalizo meu relato.

 

Referências

 

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988, Disponível  em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art226%C2%A78. Acesso em: 11 março 2023.

                   Decreto  – Lei nº 2.848, de 1940- Código Penal

_________Decreto -Lei nº 3.914, de 9 de dezembro de 1941.

                   Lei 11.340/2006

                   Lei n° 12.015/2009

                   Lei nº 13.431/2017

SITES ACESSADOS

http://www.bireme.br/

https://www.cnj.jus.br/

https://www.conjur.com.br/2023-mar-11/campanha-stj-reforca-apoio-mulheres-vitimas-violencia- Acessado em 10.03.2023

 

 

 

 

 

 

 

Compartilhe este conteúdo:

Os perigos da exposição de telas para crianças

Compartilhe este conteúdo:

Os estudos ainda são embrionários quanto aos perigos da exposição de telas para as crianças, sejam celular, iPad, televisão, computador, videogame, os denominados nativos digitais.

Estamos na geração dos “nativos digitais”, contudo, a ciência já declinou que nosso cérebro desenvolve-se paulatinamente após nosso nascimento, são as experiências e vivências da vida em curso que o “define”. Não há registros científicos de que crianças nasçam com habilidades digitais. O que ocorre é que os pais, acabam por (des)encaminharem as crianças, cada vez com idades mais tenras, para esse universo. No entanto, quem possui autoridade para conduzir e limitar seu acesso são seus genitores, porém, nota-se que estes buscam respostas frágeis, para justificarem a liberação do uso digital. 

Aduzem, ter sido a pandemia da Covid-19, no seu ápice de propagação, a responsável em normatizar o uso de mídias pelos pequenos infantes, pois, na impossibilidade das crianças cumprirem com seus compromissos sociais, ficaram ociosos dentro de casa sendo a liberação de uso de telas, o recurso mais plausível.

Será que antes da pandemia as crianças eram menos expostas às telas? Um diálogo um tanto controvertido, pois bem, não muito raro, os genitores sempre justificaram suas ausências em casa em virtude do trabalho, razão dos filhos serem viciados em telas. Há o pressuposto então que já usavam. Contudo, no período pandêmico mais crítico, para muitas famílias, fora declinado o teletrabalho, oportunizando a permanência dos genitores nos lares, ensejo para estarem mais presentes na vida de seus filhos. Momento oportuno para compensar dias, meses, anos de ausência, nos termos das justificativas das ausências retromencionadas.  E, diante dessas justificativas simplistas, ignoram os prejuízos já evidenciados na vida de seus rebentos e ainda dizem, que as crianças nascidas na era digital, são mais espertas, já nascem sabendo manusear um celular. 

Fonte: Imagem de Adnan Photography por Pixabay

Irrefutável que para os pais, seja mais cômodo deixar os pequenos terem acesso ao entretenimento digital, pois, eles se distraem de forma quieta. Bem como, embora adultos, os pais também sentem a necessidade de fazerem uso dessa distração.

Neste diapasão, não muito raro, deparamos com famílias juntas, fisicamente, onde cada um dos membros, isola-se, mesmo que aparentemente estejam juntos, com seus aparelhos, individualmente, sem trocarem uma palavra, um afeto ou mesmo um olhar entre si, atitude esta, denominada atualmente de “distração parental”.  

Fonte: Imagem de StartupStockPhotos por Pixabay

No entanto, pode-se dizer que (in)conscientemente esses pais já evidenciam prejuízos causados pela exposição exacerbada e precoce,  pois, as queixas desses mesmos pais ocorrem de forma recorrente e avolumam-se nos consultórios médicos e clínicas psicológicas, que seus filhos estão cada dia mais agitados, nervosos, irritados, choro fácil, não dormem bem, possuem sonos agitados, comportamentos idem, estão com retardos na fala, na aprendizagem escolar, deficiência intelectual, estão sedentários  e concomitantemente,  obesos.

Um fator gravoso, os pais diagnosticando seus filhos com Transtorno do Espectro Autista (TEA)- Segundo o DSM-5 — Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais — o autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por dificuldades de interação social, comunicação e comportamentos repetitivos e restritos  e Transtorno  do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH)- o qual classifica -se entre os transtornos do neurodesenvolvimento, que são caracterizados por dificuldades no desenvolvimento que se manifestam precocemente e influenciam o funcionamento pessoal, social, acadêmico ou pessoal. 

Vale elencar que, a exposição, o excesso e a velocidade de informações geradas pelas mídias digitais, estas ações sofridas, promovem excitações e agitações desnecessárias e prejudiciais ao processo cognitivo de uma criança, uma vez que não conseguem assimilar e/ou processar tantas informações. Haja vista, que seus olhinhos pululam inquietamente quando no uso de telas.

Fonte: Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

A construção da aprendizagem de uma criança merece atenção e zelo e, os genitores são os engenheiros, arquitetos e decoradores dessa nova construção projetada por eles, sendo que as primeiras experiências de vida afetam a arquitetura estrutural do pequeno infante, definindo-se , se positiva ou negativa. 

Ao permitir o uso de telas sem controle, é expor o cérebro da criança a uma dose imensurável diariamente de dopaminas e, estando o organismo, ainda “in natura” e ávido pelo novo, acaba sempre exigindo mais, pois, este neurotransmissor está ligado diretamente ao sistema de recompensa do cérebro, quando na verdade, o custo benefício do contato da criança com novas informações e experiências, para que haja aprendizagem real, necessário sejam elas apresentadas de forma moderada e gradativa, respeitando a velocidade individual. É uma construção diária que ser-lhe-ão o alicerce para as fases subsequentes a cada etapa da vida. Atropelá-las, por certo os prejuízos serão percebidos, quiçá a curtíssimo prazo, como já pode ser observado pela agitação e inquietude de uma criança quando distante de suas telas.

Fonte: Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Muitas dessas crianças desconhecem as brincadeiras mais pueris, não conseguem criar brincadeiras a partir do nada nas mãos. Nossas crianças estão perdendo a criatividade do improviso, do criar da infância do pretérito. Crianças necessitam socializar para criarem vínculos e trocarem experiências, interagirem e desenvolverem a comunicação responsiva, fundamental para o desenvolvimento de funções executivas. Eis uma estratégia, exequível para os pais retirarem-nas da rota cibernética.  

Percebe-se uma movimentação científica para a situação de risco cibernético para com as crianças. Para alguns estudiosos, classificam-na como saúde pública. A Sociedade Brasileira de Pediatria, não recomenda uso algum, até os 2 anos de idade. E, dos 2 aos 5, com exposição controlada de 1 (uma) hora diária, no máximo. 

Para Michel Desmurget, contrariando os pais (que sustentam que as crianças digitais já nascem sabendo usar uma mídia digital), versa que não há dados científicos os quais credencia que crianças nascem com habilidades digitais, os ditos nativos digitais, na verdade são crenças coletivas, onde os pais validam o uso de telas como autojustificativa para a liberação do uso das mesmas. As crianças estão ávidas pelo conhecimento, cheias de interrogações, adaptando-se ao mundo em que estão experienciando seus desejos e vontade, construindo- se.

Fonte: Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

Alerta sobremaneira, que as crianças expostas a ambiente digital, sofram com prejuízos cognitivos, inclusive, assevera que crianças expostas a uso de telas antes de 1(um) ano ,  período este em que as sinapse de uma criança, aumentam mais de 10 vezes, têm maior risco de autismo aos 3  ( três) anos de idade. 

Ainda prematuro, talvez este fato ocorra em virtude do processo acelerado do próprio cérebro infantil, o qual ocorre entre 2 e 3 anos, quando a criança tem cerca de 15 mil sinapses por neurônio,  sendo que nos 3 primeiros anos  o cérebro aumenta seu tamanho e desenvolve , em média de 3 vezes  seu tamanho, são as sinapses mais altas da vida de um ser humano em “ construção” cognitiva.

Esse alto índice de produção neural nos primeiros anos de vida, pode ser a resposta para o conflito entre a tecnologia e o biológico, podendo ser a causa do “colapso” cognitivo de uma criança exposta às telas digitais. 

Contudo, ratificando o que fora dito, alguns pais digitais, não cogitam a hipótese de todos esses problemas de ordem psiconeurológica  elencados,  estejam  vinculados  e gerados a partir do mau uso e/ou uso exacerbado e inadequado de mídias digitais. Assim sendo, pode-se aferir que um dos primeiros prejuízos em que os “nativos digitais” estejam experienciando, seja a interação/educação familiar, um vez que a primeira sociedade, a base para um adulto seguro, menos problemático e uma sociedade mais empática, esteja sendo terceirizada às telas e, quando os genitores perceberem, já terão perdido seus filhos para o processo digital.

Referências

CARVALHO, Rafaela e Roberta Ferec- Tela com Cautela. Um guia prático para criar filhos na era digital ( sem perder a sanidade). Editora Matrescência: 2019.

DESMURGET, Michel. A fábrica de cretinos digitais- os perigos das telas para nossas crianças. Editora Vestígio-2021.

DSM-5: autism spectrum disorder diagnosis, 2021. Disponível  em: https://raisingchildren.net.au/autism/learning-about-autism/assessment-diagnosis/dsm-5-asd-diagnosis. Acessado em: 25 fev.2023.

Compartilhe este conteúdo:

Mulheres contemporâneas rompem com a cultura de ser mãe

Compartilhe este conteúdo:

Do pretérito à era contemporânea, a mulher ainda é sobrecarregada de críticas quando não é e/ou não tem interesse na maternidade.

Não há como falar do assunto da ruptura com a maternidade sem a contextualização sociocultural da imposição da maternidade sobre a mulher. A mulher-mãe, o símbolo da perfeição e do amor incondicional. Mãe, o ser impoluto.

Fonte: arquivos próprios

Anne em visita ao museu do Louvre em 2013.A Sagrada Família, Rafael Sanzio.

A Virgem da Misericórdia é uma das mais importantes temáticas representadas nas artes sacras: nela, a Virgem Maria, frequentemente retratada com um uma criança de colo, desempenha papel central na pintura. A obra mais antiga contendo essa temática, Madonna dos Franciscanos, retrata a maternidade como sagrada e remonta ao século XIII.

Duccio, expoente no cenário artístico da região italiana da Toscana, pintou a Madona dos Franciscanos por volta de 1280. Nela mostra a Virgem Maria estendendo seu manto em um gesto protetivo sobre um grupo de pessoas, enquanto segura uma criança em um dos joelhos. A partir dessa obra de arte, o tema encontrou eco não apenas na pintura, mas também em outras manifestações artísticas, alinhavando um forte simbolismo entre a maternidade e o divino.

Além da arte sacra, representações seculares mais modernas tais como Self-portrait with her daughter Julie, 1789 (‘Autoretrato com sua filha’) de Elisabeth Louise Vigée Le Brun; Camille Monet and child, 1875 (‘Camille Monet e filho’), de Claude Monet; Three ages of woman, 1905 (‘Três idades da mulher’) de Gustav Klimt; e Mother and child, 1921 (‘Mãe e filho’) de Picasso, reforçam a iconografia sublime da maternidade.

Em contrapartida, o caminho natural e ineludível da maternidade que sempre esteve atrelado ao contexto socioeconômico e cultural no decorrer dos séculos, modernamente vem se defrontando com as profundas transformações advindas das novas estruturas familiares.

O debate no tocante à opção de furtar-se a seguir o caminho outrora natural da maternidade encontra cada vez mais eco na sociedade e vai lentamente acomodando-se nas fissuras do novo estrato social. Hodiernamente, grande parcela de mulheres não está mais adstrita ao espaço doméstico. Elas ocupam postos no mercado de  trabalho, têm liberdade para escolher seus companheiros – ou companheiras – e permanecer solteiras quando lhes convém.

Desta forma, o conceito de maternidade ‘natural e sagrada’ vai sendo paulatinamente modificado para acomodar a nova realidade. Cada vez mais, vale ressaltar, é dada a mulher a alternativa de retardar a gravidez para um momento em que considere mais oportuno a constituição de sua prole. Ademais, os métodos modernos de planejamento familiar e a tecnologia propiciam que mulheres possam optar em que fase da vida desejam ser mães. Ou não.

Por conseguinte, fortalece-se o fenômeno da ‘não maternidade’ (Bonini-Vieira, 1996) como escolha consciente. E ele não é adstrito ao Brasil, é um fenômeno mundial que ocorre em maior ou menor grau a depender do corpo social em que está inserido.

Na Língua Portuguesa, o termo genérico usado na tentativa de se fazer uma leitura da nova realidade muitas vezes é: ‘sem filhos’. O termo é utilizado para designar mulheres que desejam, mas por alguma razão biológica não podem gerar filhos ou para as que, não obstante sua fertilidade, escolheram não gerá-los. No entanto, em outros idiomas há uma distinção entre essas duas circunstâncias.

Fonte: arquivos próprios

Anne e Theodora (in memoriam).

A título de exemplo, em neerlandês a palavra kinderloos designa a parcela de mulheres que desejam ser mães, contudo, por infertilidade – ou do parceiro – não engravidam; enquanto a palavra kindervrij é atribuída àquelas que conscientemente escolhem, seja qual for a razão, a ‘não maternidade’.

Seguindo na mesma esteira, a Língua Inglesa possui termos que foram cunhados para diferenciar as mesmas circunstâncias já citadas: childless e childfree. Essas são palavras usadas pela psicóloga estadunidense Kate Kaufmann e autora do livro Você Tem Filhos? — Como as Mulheres Vivem Quando a Resposta é Não (Editora LeYa, 2021), onde childless é a mulher que queria ter filhos, mas nunca os teve, enquanto childfree, é usado para designar as que optaram por não ter.

Naturalmente, há outros termos para diferenciar mulheres sem filhos, tais como by choice ou by chance – ‘por escolha’ ou ‘por acaso’ usados pela também estadunidense Karen Malone Wright, que em 2012 fundou o website theNotMom (‘As não mães’ – tradução livre), um ponto de encontro e apoio para mulheres sem filhos do mundo inteiro.

Qualquer que seja o termo usado, o fenômeno não se altera. A necessidade do ser humano de classificar, organizar categorias e criar grupos com representações ou interesses idênticos, é, segundo Bauman (2005), um aspecto fundamental da cognição humana para facilitar a vivência da sensação de pertencimento, favorecendo a construção da identidade, já que as referências tradicionais estão se diluindo.

A origem da aludida distinção semântica possivelmente originou-se da pressão social pela escolha da maternidade que ainda impera, em maior ou menor intensidade, nas diferentes partes do mundo. Em países como a Nigéria, e. g., mulheres sem filhos são olhadas com desdém e oprimidas por seus companheiros e familiares. São as ‘árvores sem frutos’ (BBC, 2020), que apenas dão sombra, mas ‘não alimentam’.

Dessa forma, o termo ‘sem filhos por acaso’ muito provavelmente poderia funcionar como uma espécie de escudo contra a discriminação; uma espécie de ‘explicação’ social para a circunstância da ‘não maternidade’. Não se esquecendo de que mulheres ainda podem ser negativamente responsabilizadas não importando a razão da ausência de prole, visto que a ‘não maternidade’, em outras palavras, significa o ‘fim da família’ para os defensores do modelo tradicional.

Coube à Simone de Beauvoir (1949), importante pensadora do século XX, iniciar o movimento do ‘segundo sexo’, argumentando que a mulher deveria abraçar sua identidade humana aliada à sua condição feminina. Tal conceito de igualdade entre homem e mulher considerando suas diferenças naturais foi revolucionário no fim da idade moderna e início da era contemporânea.

Ironicamente, a arte, dessa vez encabeçada pela literatura, iniciou o movimento de desconstrução da mulher agrilhoada pela obrigação de realizar suas escolhas reguladas pelo viés da maternidade e distanciá-la da mãe mítica retratada na pintura cristã. Desde Simone de Beauvoir, centenas de obras abordando o tema da ‘não maternidade’ são publicadas a cada ano, reforçando o interesse da mulher em recolher informações necessárias que darão suporte à decisão consciente de ser ou não ser mãe.

A realidade brasileira, seguindo a trajetória mundial no que respeita a experiência da maternidade como escolha, vêm quebrando barreiras, oportunizando às mulheres o direito de repensar seu papel como ser humano e, querendo, poder sopesar sem constrangimento as razões pela sua decisão, seja ela qual for.

Dados estatísticos recentes revelam que a mulher brasileira tem cada vez menos filhos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – (2023), a taxa de fecundidade total das mulheres brasileiras vem diminuindo, já que nos anos 2000, girava em torno de 2,5 filhos por mulher; no ano de 2007, passou para 1,99, e em 2015, atingiu o patamar de 1,72.

As condições socioeconômicas e culturais de cada mulher possuem impacto tremendo em suas escolhas. São diversas variáveis a serem consideradas. Idade, a escolha de ter um parceiro ou não, carreira profissional, situação financeira e rede de apoio familiar são alguns dos aspectos que podem fazer parte do arcabouço argumentativo para sustentar a opção por uma prole menor ou partir para a ‘não maternidade’.

Fonte: arquivos próprios

Anne e o marido André.

Dessa forma, a imposição da maternidade, na sociedade contemporânea vêm sendo diluída. Ademais, a mudança do paradigma da mãe natural pode repousar em vários fatores, sendo um deles o desenvolvimento tecnológico que disponibiliza métodos contraceptivos impensáveis no século passado, e informação gratuita e ampla no que concerne à sexualidade feminina.

Sem olvidar, naturalmente, do impacto provocado pelas mídias sociais na construção da realidade contemporânea. Nos ambientes públicos virtuais, onde qualquer pessoa com acesso à internet pode frequentar,  existe um debate constante sobre alguns aspectos inerentes à maternidade tais como a amamentação,  filhos com necessidades especiais e educação formal, etc., permitindo a troca de informações em escala mundial e em tempo real.

Ao olhar em retrospectiva para a mulher da Idade Média, que tinha em média de quatro a oito filhos, e comparar com as altas taxas de mortalidade do mesmo período: 15-20% no primeiro ano e 30% até a idade de 20 anos, considerando que a mortalidade entre meninos era bem mais alta do que entre meninas, é compreensível e até justificável a existência de proles numerosas. Hoje, após a descoberta de vacinas, antibióticos e tratamentos médicos, o ser humano goza de saúde e longevidade inimagináveis para os padrões medievais.

Fonte: arquivos próprios

Anne, Theodora (in memoriam) e Vincent van Dog.

Diante das garantias legais acima descritas para que a mulher possa exercer sua sexualidade, incluindo a escolha de ser mãe ou não, resta inequívoco que uma nova era foi inaugurada: a da escolha consciente pela ‘não maternidade’, o que só trará benefícios para as novas estruturas familiares. A escolha pensada e cuidadosamente refletida pela maternidade fortalece o vínculo emocional entre mãe e filho, enquanto a opção pela ‘não maternidade’ oportuniza a realização de outros aspectos da natureza humana, o sonho de Beauvoir. A pensadora francesa afirmava que mulheres são perfeitamente capazes de tomar decisões sobre seus corpos e suas vidas se a estas forem oferecidas as mesmas oportunidades que são proporcionadas aos homens.

Tal pensamento datado do século passado ainda não se perfez em sua inteireza, contudo, observando as estatísticas decrescentes de fecundidade e o número cada vez maior de mulheres que optam pela ‘não maternidade’ de forma consciente, é ainda possível observar A Madonna dos Franciscanos de Duccio e admirar a beleza artística que ficou no passado. Uma vez que frutos não são o único aspecto relevante de uma árvore.

MINIBIO

Anne van den Bedum é bacharel em Direito pela Universidade Federal do Tocantins, leitora crítica, tradutora e escritora. Naturalizada holandesa, mudou-se para o Reino dos Países Baixos em 2015, onde vive atualmente com sua família, o marido, e o pequeno pug Vincent van Dog. Instagram: @anne.vd.bedum. / E-mail : anebedum@gmail.com

Anne van den Bedum é autora da coletânea de contos Xeque-mate e Outras Histórias, publicada pela editora Kotter Editorial em 2021. Uma coletânea perfeita para quem aprecia o lado obscuro dos contos de fadas e a iconografia de Edgar Allan Poe.

A autora também contribui com a revista brasileira de suspense, mistério e terror: Mystério Retrô. Edições anteriores contam com A Sexta Vítima (edição 9), O Olho do Morcego (edição 11) e Morte na Hospedaria (edição 13).

 

Referências:

BAUMAN, Zigmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Tradução Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

BBC NEWS, 2020. Niger: What’s it like to be a childless woman? URL: https://www.bbc.com/news/av/world-africa-51589542. Acesso em: 30 de março de 2023.

BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

BONINI-VIEIRA, Annunciata. Definidas pela negação, construídas na afirmação: a perspectiva de mulheres não mães sobre a maternidade e seu projeto de vida. Rio de Janeiro: UFRJ, 1996. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1996.

CARVALHO, Rafaela e Roberta Ferec- Tela com Cautela. Um guia prático  para   criar filhos na era digital ( sem perder a sanidade). Editora Matrescência- 2019.

DESMURGET, Michel. A  fábrica de cretinos digitais- os perigos das telas para nossas crianças. Editora Vestígio-2021.

DSM-5: autism spectrum disorder diagnosis, 2021. Disponível  em: https://raisingchildren.net.au/autism/learning-about-autism/assessment-diagnosis/dsm-5-asd-diagnosis. Acessado em: 25 fev.2023.

GOVERNO BRASILEIRO. Saúde reprodutiva da Mulher. URL: https://www.gov.br/pt-br/temas/saude-reprodutiva-da-mulher. Acesso em 30 de março de 2023.

HANSON, Marilee. Children in the Middle Ages. URL: https://englishhistory.net/middle-ages/children-in-the-middle-ages/#:~:text=The%20period%20of%20the%20Middle,the%20age%20of%2020%20years. January 12, 2022. Acesso em: 30 de março de 2023.

KAUFMANN, Kate. Você Tem Filhos? — Como as mulheres vivem quando a resposta é não. Editora LeYa, 2021.

REID, Dane. Forget having kids. I am having fun. 1000 random reasons I chose to be #childfree. Amazon, 2022.

VOOR EN DOOR BEWUST KINDERLOZEN. Geen kinderen, wel vrijheid: dat is kindervrij. URL: http://www.kindervrij.nl/. Acesso em: 29 de março de 2023. (Pela consciência de escolher não ter filhos. Sem filhos, significa liberdade: isso é ser livre de filhos. Tradução livre.)

 

 

 

Compartilhe este conteúdo: