A fixação de Logos e Eros e suas consequências na contemporaneidade

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Matheus Vale Campagnac

 

Carl Gustav Jung foi um psiquiatra suíço que fez uma grande contribuição para a ciência da psicologia com os construtos de sua teoria. Sua maior conquista fora a descoberta da existência de uma instância psíquica mais profunda que o inconsciente proposto por Sigmund Freud, o inconsciente coletivo. Para Jung, o inconsciente coletivo é todo o conteúdo herdado filogeneticamente e que é culturalmente passado de geração em geração.

Retoma ainda, elencando conteúdos presentes dentro do inconsciente coletivo que são denominados de arquétipos, padrões mentais instintivos que representam toda a multiplicidade de ações humanas já reproduzidas anteriormente à vida daquele indivíduo. Jung complementa que os arquétipos são representados por imagens que se materializam em conteúdos oníricos, fantasias e também por meio de um mergulho dentro dessa instância psíquica mais profunda.

Existe um arquétipo para diferentes ações humanas inconscientes, e esta multiplicidade é fruto de tudo que já fora reproduzido inexoravelmente em todas as gerações e eras anteriores ao surgimento do indivíduo contemporâneo. Nesse sentido, arquétipos são metáforas que representam sentimentos, ações e imagens específicas. Jung reafirma que como existem milhares de arquétipos, eles precisam ser pesquisados, analisados e descobertos por estudiosos focados no tema. Contudo, ele contribuiu com a descoberta de arquétipos perceptíveis na sociedade de maneira geral, e que embasam os conteúdos de sua teoria.

Inicialmente Jung descobre a existência de arquétipos básicos à natureza humana, tais como a Persona, Anima, Animus, a Sombra, o Ego, o Self, Logos e Eros, dentre outros. A Descoberta de Jung sobre os arquétipos de Logos e Eros, iluminou uma perspectiva revolucionária e na contemporaneidade gera reflexões incríveis sobre como o conceito do que socialmente é definido como papel de gênero, é incongruente e incorreto.

Foto: PixaBay

Atualmente é perceptível a ideia de que a mulher e o homem possuem papéis pré-definidos e que precisam seguir cegamente as regras propostas pela sociedade e caso as contrariem, são rejeitados pela mesma e vítimas de constantes preconceitos e embates. Essa perspectiva redutiva, determinista e autoritária pregada a séculos é errônea e gera consequências desastrosas na atualidade. A contribuição de Jung enfrenta completamente essas perspectivas e explica sobre as consequências caso a sociedade permaneça nessa centralização dos papeis delimitados para cada gênero.

            Os arquétipos de Logos e Eros representam esquemas presentes em todos os seres humanos, todos os indivíduos possuem essa dualidade dentro de si. O arquétipo de Eros é uma metáfora relacionada a um padrão comportamental afetivo e emocional, já o arquétipo de Logos é voltado para um comportamento mais reflexivo, analítico e lógico. Na sociedade contemporânea, compreende-se que existe uma criação voltada a perspectiva de papéis de gênero e fixação de ambos os arquétipos em determinados gêneros.

Na mulher, observa-se que desde os primórdios da civilização ocidental, e até a contemporaneidade, são estimuladas em sua criação a seguirem cegamente esses papeis afetivos, nutritivos, emocionais e pouco focados em sua parte mais lógica, analítica. Isso não significa que o arquétipo de Logos não esteja presente, contudo, está inconsciente e é pouco estimulado, essa falta de atenção voltada a uma parte da psique, também gera sofrimento. Em contrapartida, homens são estimulados a serem pouco emocionais, afetivos e mais lógicos, racionais, frios.

            Esse delineamento enraizado de papéis gera sofrimento para ambas as partes, pois a psique precisa manter um equilíbrio entre todas as suas funções psíquicas, arquétipos e complexos. A falsa sensação da existência de papéis de gênero é milenar e desde sua elucidação leva indivíduos a negarem partes importantes de si, o que influenciou e corrobora para desastres, guerras, preconceitos.

            Portanto, compreende-se que o objetivo primordial para que ocorra uma mudança de cenário, seria conscientizar os indivíduos desses padrões inconscientes sociais que o impedem de exercer a si mesmo, com clareza e sinceridade, promovendo assim uma sociedade mais livre e forte para lidar com seus conflitos psíquicos internos. Nesse sentido, a maior conquista seria fazer com que a sociedade se ilumine nessa perspectiva da não existência de papéis, e que no final todos podem exercer qualquer tipo de ação, independente de gênero e cor.

 

 

 

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Individuação Vs Adaptação: Perspectivas Queer de gênero e sexualidade a partir do olhar junguiano

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Matheus Vale Campagnac – matheusvalecampagnac@gmail.com

 

O presente texto tem o intuito de apresentar discussões da palestra ministrada pelo grupo Thiasos. O tema da palestra foi apresentado por um grande autor da psicologia analítica, George Taxídes. O autor levantou discussões de relevância sobre o tema de “Individuação Vs Adaptação – Perspectivas de gênero e sexualidade”.

Inicialmente o autor introduz sua perspectiva sobre a razão do tema; George enfatiza que sua maior descoberta pessoal, foi encontrar uma obra inteiramente queer, e como o mesmo coloca, “talvez a maior e mais antiga obra Queer de todas”. George se refere ao Livro Vermelho de Jung. Carl Gustav Jung introduziu todas as suas perspectivas e ideias voltadas aos sonhos, dentro de “The Red Book – O Livro Vermelho”, o qual além de elucidar alguns construtos teóricos da psicologia analítica, trás consigo os relatos pessoais e análises profundas dos sonhos do próprio Jung. George, interliga o contexto apresentado no livro de Jung referente a multiplicidade, a qual contém todas as possibilidades para um indivíduo, e isso perpassa caminhos como comportamentos e identidade de gênero.

A individuação, ele explica, é um processo do qual o indivíduo se tornará único a partir do meio. “É individuando-se que o ser encontra o seu próprio caminho”. Nessa perspectiva, o autor também discute a Adaptação, que descreve como um processo de se juntar ao meio: “De desadaptações e adaptações, formulo o meu Eu”. Nessa perspectiva o autor trás reflexões voltadas ao desenvolvimento do indivíduo, focando especificamente na parte do convívio social e a diferenciação do meio, essa relação de vertentes, origina a personalidade individual do ser.

Imagem: PixaBay

Ele traz a reflexão de que a luta não se trata sobre gênero ou raça, e sim sobre a promoção da liberdade individual como consequência da vida, que todos tenham essa possibilidade de exercerem a si mesmos com todo o ímpeto. Além disso, gera discussões sobre como a sociedade influencia negativamente por meio do preconceito as vivências dessa individuação do indivíduo Queer.

Durante a discussão, George traz a reflexão de que o processo de individuação se volta dentro de uma perspectiva de reflexão profunda e lenta. Nesse sentido, ele discute a respeito de um texto onde Jung coloca que “O indivíduo se pergunta constantemente a sua alma o que fazer”, e tem sua resposta sendo “Wait – Esperar”. George faz uma ligação direta com o tema Queer, onde o indivíduo precisa esperar, e durante esse tempo de espera, busca por um processo de integração com todos os seus “Eus”.

Por fim, George debate sobre como todos somos unidos e próximos, possuímos um grau de unicidade dentro de cada um de nós. Nesse sentido ele enfatiza uma perspectiva de aceitação do humano como ser humano, por meio de uma frase: “Aquilo que é humano, não me é estranho”. Ele termina sua discussão promovendo a ideia de que, “se todos somos únicos dentro de nossas peculiaridades e vivências, não existe um jeito universal, cada uma precisa encontrar a sua própria estrela azul, para que possa se guiar.”

Todos possuem conteúdos individuais e únicos, vivências, pensamentos e experiências. Toda essa multiplicidade que formula o indivíduo é o cerne de toda a questão. O objetivo final é simplesmente apresentar a ideia de que todos precisam ser livres para poderem atuar sobre o mundo como indivíduos libertos e sem medo de ser quem são.

Imagem: PixaBay

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