O filme nos apresenta de uma maneira extremamente original a maneira como lidamos com o mundo que nos cerca quase que propriamente acelerado e avassalador. A medicalização no trânsito reflete parte desse processo, ao analisarmos os avanços científicos das indústrias farmacêuticas na estabilização emocional, desde aspectos de ansiedade, estresse e insegurança à aspectos relacionados à agressividade humana.
Os aspectos sociais no mundo moderno envolvem inclusive a utilização de psicofármacos na busca por estimularem positivamente suas condutas, desde o seio familiar ao âmbito social. O ser humano no mundo moderno está cada vez mais sujeito ao uso de psicofármacos, sendo que para muitos, estas tidos como problemáticos são acometidos por transtornos que são descritos a partir das suas atitudes ou rendimento pessoal e social.
O filme traz uma revolta de máquinas, mas assimila-se à revolta medicamentosa que vivemos atualmente. Xavier et al (2014) destaca que:
O uso racional de medicamentos permite aos pacientes receber a medicação adequada às suas necessidades clínicas, nas doses correspondentes aos seus requisitos individuais, durante período e tempo adequados, ao menor custo possível para eles e para a comunidade. Ainda menciona que a utilização regular dos psicofármacos representa um dos maiores desafios no tratamento das pessoas com transtornos mentais, as causas da rejeição à medicação variam de acordo com as singularidades dos indivíduos, mas, frequentemente, devem-se aos efeitos colaterais desagradáveis, que afetam vários aspectos da vida pessoal, ou a não aceitação do uso diário destes fármacos, por um período prolongado de tempo.
Rocha e Werlang (2013) ressaltam que a utilização de psicofármacos tem aumentado nas últimas décadas, e este crescimento pode ser atribuído à maior frequência de diagnósticos de transtornos psiquiátricos na população, à introdução de novos medicamentos no mercado farmacêutico e às novas indicações terapêuticas dos psicofármacos já existentes.
O crescente uso de psicofármacos no mundo moderno está ligado diretamente aos diversos diagnósticos de transtornos psiquiátricos criados na atualidade, objetivando compreender e explicar parte dos comportamentos tidos como inadequados pela sociedade. Ambos ainda citam que os psicofármacos, assim como todos os medicamentos, devem ser utilizados de uma forma racional, tendo em vista que podem produzir diversos efeitos adversos, causar dependência e o seu uso prolongado pode gerar diversos problemas à saúde da população.
Rosa e Winograd (2011, p.2) mencionam em seus achados que a medicalização do mal-estar é uma realidade efetiva, atual e crescente, que se expande, inclusive, para campos diversos do médico-científico. Ao oferecerem produtos que prometem alívio ou melhoramento de estilo ou condição de vida, diversos meios de comunicação, tais como a literatura e os programas de televisão, funcionam como verdadeiros manuais de autoajuda, atendendo a uma crescente demanda de cuidado para cada sofrimento ao qual podemos estar submetidos.
A medicalização no mundo moderno está inserida em um contexto amplamente capitalista onde a singularidade do indivíduo é deixada em segundo plano, relevando-se a necessidade de expandir ligeiramente a indústria farmacêutica, tornando o indivíduo um ser dependente da medicalização, consequentemente, de uma forma quase irônica, gerando uma receita financeira dentro do quadro de conduta e sanidade humana.
Referências:
Rocha, B.S; Werlang, M.C (2013). Psicofármacos na estratégia saúde da família: Perfil de utilização, acesso e estratégias para a promoção do uso racional. Porto Alegre- RS
Rosa, B.P.G.D; Winograd, M.(2011). Palavras e Pílulas: Sobre a medicalização do mal estar psíquico na atualidade. Rio de Janeiro-RJ.
Xavier, L.; Galera, S.A.F (2014). Adesão ao tratamento psicofarmacológico. Ribeirão Preto- Sp.
FICHA TÉCNICA:
A FAMÍLIA MITCHELL E A REVOLTA DAS MÁQUINAS
Título: The Mitchells vs. The Machines
Distribuidora Original Netflix
Ano produção: 2021
Dirigido por: Jeff Rowe – Michael Rianda
Gênero: Animação – Aventura
País de Origem: Estados Unidos da América