As Vantagens de Ser Invisível: emoção, amizade e pertencimento

“Então, eu acho que nós somos o que somos por uma série de razões. E talvez nunca saberemos a maioria delas.” (As Vantagens de Ser Invisível)

O significado de pertencer a um lugar ou a alguém é um sentimento que não há como expressar. E é também o gancho norteador para o espectador de As Vantagens de Ser Invisível. Afinal, tudo o que o personagem principal Charlie (Logan Lerman) mais quer é pertencer a algum grupo, e, assim, experimentar outra vez as alegrias e desventuras de ter um amigo.

No primeiro dia de aula o ensino médio, Charlie só tem um desejo: que aquilo acabe logo! E para atingir sua meta ele traça um plano: não ser notado pelos demais alunos da escola pelos próximos 1.385 dias.

Assim, tentando ser invisível, ele acaba conhecendo Patrick (Ezra Miller), Sam (Emma Watson) e seus amigos. O grupo mais improvável e desajustado da escola, com quem Charlie desenvolve uma amizade instantânea.

A trama gira em torno dos traumas e alegrias da vida destes três adolescentes que estão empenhados em reescrever suas histórias, em criar um futuro com possiblidades. Assim, aos poucos, eles vão se descobrindo e descobrindo a vida.

Patrick, um excêntrico e divertido homossexual, pleno de suas possibilidades e desejo, talvez seja o mais individuado1 dos três. Ele tem um só pensamento: alcançar sua felicidade! E o consegue, em vários momentos da trama. Mesmo quando ele rompe seu relacionamento e se vê, pela primeira vez, sozinho e distante do único homem a quem amou, vivendo a dor da separação, ele parece consciente de toda sua potencialidade. Vemos nesse ponto da trama como ele pratica a resiliência, construindo uma nova história de vida, a partir da superação do sofrimento.

Sam é o elo do grupo, talvez por ser a figura feminina, tem um perfil mais doce e delicado entre os demais. É com seu jeito meigo, delicado e atencioso que ela consegue acalmar Charlie, e resgatá-lo de suas alucinações, trazendo-o de volta à realidade. Ela é a figura maternal do grupo, sempre preocupada com todos e, individualmente, consegue ajudar a cada um.

E o que dizer de Charlie, tímido, inseguro, idealista, sonhador e com sérias crises psicóticas. Sua vida é marcada por perdas, em especial a da tia – com quem demonstra uma relação de amor, dependência e culpa – e seu melhor amigo, que cometeu suicídio no último ano do ensino fundamental. Após passar tanto tempo sozinho, e ao ser acolhido pelo novo grupo (Os desajustados) Charlie encontra nos novos amigos um referencial de identificação e dá inicio a um processo de transferências cruzadas e de adequação para com o grupo. Apesar de ter uma família presente e preocupada com sua recuperação emocional e saúde mental, Charlie não acha isso suficiente, buscando na relação com os amigos uma forma de se identificar consigo mesmo.

A empatia entre Charlie e Sam é instantânea, desde o primeiro encontro, mas há muito mais que simples afeição por detrás dessa história de amor. Eles se entendiam e se completavam porque partilhavam de uma história de vida similar.

Ao entrar em contato com esse novo grupo, Charlie se sente parte de algo novo, algo que está acontecendo no aqui e agora2, iniciando um processo de mudança por meio da autoanalise. No ponto em que ele é obrigado a se distanciar dos novos amigos, temendo a solidão, Charlie entra em surto, e nem mesmo a escrita é mais capaz de sorver todos os traumas e angústias mal resolvidas de sua infância. Somente ao tornar-se consciente dos eventos traumáticos de sua infância, como o abuso sofrido pela tia e a culpa que sentia pela morte dela, ele consegue superar seu passado, e seguir em frente. Chegando a experimentar um sentimento de “infinito”, como ele próprio afirma nesse ponto do filme.

Não há como não se emocionar com a história inspirada no romance do escritor e diretor americano Stephen Chbosky, e com as diversas histórias de vida dos personagens que se cruzam ao longo da trama.

Referências:

JUNG, Carl Gustav. Psicologia do inconsciente. São Paulo. Editora Vozes. 1984.

Notas:

1 Para o psiquiatra, criador da abordagem analítica, C. G. Jung, individuação é o processo no qual o indivíduo tornar-se um ser único. É o status onde o sujeito ao alcançar sua singularidade ao tornar-se Si-mesmo (1984).

2 O termo “aqui-e-agora” é aplicado na Gestalt-Terapia para exemplificar o potencial humano de se auto-realizar e desenvolver suas habilidades no momento presente.


FICHA TÉCNICA DO FILME

AS VANTAGENS DE SER INVISÍVEL

Diretor: Stephen Chbosky
Produção: Lianne Halfon, John Malkovich, Russell Smith
Roteiro: Stephen Chbosky
Fotografia: Andrew Dunn
Trilha Sonora: Michael Brook
Duração: 103 min.
Ano: 2012
País: EUA
Gênero: Drama
Cor: Colorido
Distribuidora: Paris Filmes
Estúdio: Summit Entertainment / Mr. Mudd
Classificação: 14 anos