Capitão Phillips: tensão psicológica em momentos de vida ou morte

Com seis indicações ao Oscar:

Melhor Filme, Ator Coadjuvante (para somali Barkhad Abdi), Edição (Christopher Rouse), Roteiro Adaptado (Billy Ray), Edição de Som (Oliver Tarney) e Mixagem de Som (Chris Burdon, Mark Taylor, Mike Prestwood Smith e Chris Munro).

Uma história real provoca, em 134 minutos de filme, um sem número de emoções a quem assiste “Capitão Phillips”, envolvendo a todos em momentos de medo, ansiedade, angústia, desespero e uma sofrida claustrofobia, especialmente dolorosa a quem, como eu, sofre deste mal. Sim, são mais de duas horas de filme, a maior parte centrada na atuação mais uma vez brilhante de Tom Hanks que consegue dividir com o público o peso de cada decisão tomada pelo Capitão Phillips. E não são poucos os momentos que cobram do pobre Capitão uma decisão de vida ou morte.

O filme é baseado no livro de memórias do próprio Capitão Phillips que, em 2009, comandou o cargueiro Maersk Alabama através da conturbada costa da Somália, região em que ocorrem frequentes ataques de piratas somalis aos navios que por ali se aventuram. A história começa com uma corriqueira cena familiar como se buscasse nos preparar emocionalmente para as agruras que virão pela frente.

A história, em si, acaba expondo dois grupos que acabam por se confrontar: os profissionais que trabalham em alto-mar, que expõem as dificuldades inerentes a este tipo de trabalho; e os piratas somalis, apresentados como reflexo da pobreza vivida pela população da Somália, situação essa explorada por milícias locais que os levam a se envolver com a pirataria. Entre estes dois grupos encontra-se o Capitão Phillips, a quem cabe zelar pela segurança da sua tripulação enfrentando a frieza dos piratas somalis.

 

O filme ocupa uma pequena parte do seu tempo para mostrar a formação dos grupos que tentarão invadir o navio mercante. Longe de querer justificar os atos criminosos, as imagens da penúria vivida pelo povo do litoral somali permitem que se crie o mal-estar necessário para uma reflexão crítica sobre a situação vivida pelos países africanos, algo bem distante dos nossos olhares. Ciente do perigo que envolve a tarefa de levar a mercadoria por aqueles mares, o capitão Richard Phillips busca reforçar a segurança, porém todas as medidas tomadas não são o suficiente para que em breve ele se veja frente a frente com frios piratas que demonstram não estar para brincadeira, ainda que às vezes mostrem-se extremamente amadores em suas ações.

O estranhamento que ocorre no momento em que o Capitão Phillips se depara com os piratas tem um fundo de realidade oriundo de uma engenhosidade do diretor do filme: Tom Hanks, bem como o restante do elenco, não havia tido contato algum com os atores somalis até o momento do confronto face a face. A frieza e o amadorismo dos piratas são o que justamente assusta o capitão levando-o a buscar as melhores saídas para evitar que as vidas de seus subordinados sejam ameaçadas por eles. Quando a situação chega a um ponto crítico, em que vidas estão em risco, o Capitão Phillips acaba oferecendo-se como refém em troca da liberdade da tripulação.

Passa-se, então, a parte do filme de grande tensão psicológica. Uma longa e difícil negociação se dá entre os piratas, agora na posição de sequestradores, e os serviços especiais dos EUA. Por várias vezes, a pressão aflora a tal ponto que parece que é dada ao espectador a tarefa de tomar as decisões no lugar dos negociadores americanos, do Capitão Phillips e até mesmo dos piratas. E, em momento algum, o diretor nos dá o direito de achar que teríamos a saída em nossas mãos, como poderia pensar qualquer pessoa que está do lado de cá da tela. Somos de tal forma envolvidos pelo calor, pela claustrofobia, pelo medo, que acabamos achando, justamente, que não há uma saída factível, ainda que saibamos qual é o desfecho da história.

 

O desenlace da situação se dá de tal forma que não há realmente mais nada a esperar a não ser a reação emocionada do capitão, em uma belíssima e comovente interpretação de Tom Hanks que por si só mereceria uma indicação ao Oscar, o que acabou não acontecendo.

FICHA TÉCNICA:

CAPITÃO PHILLIPS


Direção: Paul Greengrass
Roteiro: Billy Ray
Elenco: Tom Hanks, Barkhad Abdi, Barkhad Abdirahman, Catherine Keener
Ano: 2013

Bacharel em Psicologia. Graduado, Especialista e Mestre em Ciência da Computação pela UFSC. Professor dos cursos de Ciência da Computação, Sistemas de Informação e Engenharia de Software so CEULP/ULBRA.