Documentário “O dilema das redes”: consequências do uso excessivo das redes sociais

Por Karen Keller Barra De Oliveira – karenkelleroliveira@rede.ulbra.br

O documentário “O Dilema das Redes”, lançado pela Netflix em 2020 e dirigido por Jeff Orlowski, aborda de forma crítica o impacto das redes sociais nos seres humanos. O drama descreve, através de especialistas em tecnologia, a maneira perigosa e alarmante que as redes sociais estão controlando e manipulando as pessoas o tempo todo no presente e projetando suas ações e futuro e como isso impacta no social e na democracia.

Com uma perspectiva problematizadora, o documentário é narrado por especialistas que trabalharam em grandes empresas como Google e Facebook a fim de alertar sobre a forma que essas empresas realizam planejamentos e operam com algoritmos para controle de comportamentos sociais com o intuito de resultar em uma produção que renda cada vez mais dinheiro para elas. Como isso é feito? Através da manipulação. A narrativa aborda como o avanço das tecnologias alavancou o capitalismo e adverte, em uma dos relatos dos especialistas: “se você não está pagando pelo produto, então você é o produto”.

Nicolaci-da-Costa (2002) defende que os efeitos do uso da Internet podem ser exemplificados em três grandes categorias: (a) registros de alterações superficiais de comportamento, passíveis de serem detectados; (b) relatos de comportamentos considerados problemáticos, bem como de conflitos internos gerados pelo uso da internet; e (c) registros, descrições e análises das transformações que ocorrem na própria organização subjetiva dos sujeitos em seus dias.

Fonte: encr.pw/yW3xu

Os especialistas que abordam sobre como todo o sistema funciona são os próprios criadores de diversas mudanças promovidas nessas redes ao longo tempo para o controle dos usuários nas redes sociais. Entre eles estão o ex-presidente do Pinterest, Tim Kendall, o ex-engenheiro da Google e do Facebook, Justin Rosenstien, ex-gerente de operações do Facebook, Sandy Parakilas, ex-especialista em ética de design da Google, Tristan Harris.

Dentre as diversas preocupações desses especialistas, sem dúvidas uma da maior delas é quais são os impactos mentais ocasionados pelas redes e o manipulação de pensamentos, sentimentos e comportamentos que elas possuem sobre as pessoas e a forma com que isso tem determinado seus comportamentos. Inclusive, os próprios expressam grandes preocupações ao admitir que estão viciados nas redes sociais e não conseguem sair delas, por mais que já tenham tentado, conscientemente, por diversas vezes.

MOROMIZATO et. al. (2017) define o uso descontrolado e desadaptativo das redes como adicção por internet (AI), que aponta estar relacionado a transtornos de ansiedade e de humor, depressão, comportamento compulsivo, transtornos de personalidade, diminuição da felicidade e vitalidade subjetivas, além de danos à saúde mental.

Os narradores expressam que quando algumas ferramentas foram criadas, como a opção de “like” no Facebook, a pretensão era que as pessoas se sentissem bem, mas os efeitos contrários não foram considerados. O crescimento desenfreado das redes sociais é simultâneo ao armazenamento de dados pessoais que funciona como uma indústria de venda de informações para o capitalismo, portanto é através desta inteligência artificial que as empresas programam e manipulam as ações das pessoas. Essas programações têm afetado a saúde mental e o comportamento, causando inúmeros prejuízos pessoais e sociais. Segundo um dos narradores, este é um novo tipo de mercado. É um mercado que nunca existiu antes. E é um mercado que negocia exclusivamente o futuro do ser humano”.

De que forma as redes sociais programam esses comportamentos? Os narradores citam que o trabalho é feito da seguinte forma: enquanto cada pessoa acessa a Internet, algoritmos são lançados nos eletrônicos para colher informações do que é feito nas redes e fora delas, como estilo de vida, pensamentos, desejos de compra e relacionamentos, para que as páginas sejam construídas com interesses pessoais e você fique sempre conectado e seja controlado nas suas ações por conteúdos sugeridos, o que gera mais lucro para o mercado.

Os problemas relacionados à saúde mental e comportamental são caracterizados pelas alterações de pensamentos, comportamentos e humor, devido a uma disfunção desses fatores, que atingem o funcionamento psíquico global. O uso das redes sociais é um hábito relativamente recente, porém já é possível identificar a influência que esse hábito tem na vida das pessoas (ABJAUDE et al., 2020).

Desta forma, o documentário “O Dilema das Redes” demonstra de forma crítica que com o avanço da tecnologia houve a potencialização de emoções negativas provocadas por esse sistema, que tem resultado em prejuízos na saúde mental, física e comportamental dos seres humanos. Nesse contexto, a produção traz inúmeras reflexões sobre o uso excessivo das redes sociais e se, de fato, é possível, como citado pelos próprios criadores de diversos recursos e que temem os efeitos causados e admitem o vício, que mudanças certas possam salvar o que há de bom nas redes sociais, pois os próprios citam, ainda, falta de ferramentas para a solução desses problemas provocados pelo vício e controle das redes sociais.

De fato, o que fica nítido é que o avanço tecnológico tem se tornado cada vez mais presente e indispensável e alavancado a necessidade de aprovação pessoal, sentimentos negativos, manipulação e o sistema de informações falsas criado para o rendimento de likes e lucro para o mercado. Portanto, é evidente a necessidade da criação de medidas e políticas públicas que objetivem tornar a consciência e vivência dessas novas realidades, formas de comportamento e práticas de consumo de forma mais saudável no âmbito biopsicossocial para a diminuição dos efeitos psicológicos e comportamentais nocivos ocasionados pelo uso excessivo das redes sociais.

REFERÊNCIAS

MOROMIZATO, M. S.; et al. 2017. O uso da Internet e das redes sociais e a relação com os sintomas de ansiedade e depressão entre estudantes de medicina. Acesso em: 08 março. 2023.

ABJAUDE, Samir Antonio Rodrigues; PEREIRA, Lucas Borges; ZANETTI, Maria Olívia Barboza; PEREIRA, Leonardo Régis Leira. Como as mídias sociais influenciam na saúde mental? Acesso em: 12 março. 2023.

NICOLACI-DA-COSTA, Ana Maria. Revoluções Tecnológicas e Transformações Subjetivas. 2002. Acesso em: 12 março. 2023.