Com duas indicações ao OSCAR:
Melhores Efeitos Especiais e Melhor Maquiagem e Cabelo
O filme conta a história de um herói atípico, Peter Quill. E é ao redor dessa figura que a análise será feita. Peter quando criança perde sua mãe e após isso é sequestrado por um grupo de piratas espaciais. Ele se torna então um fora da lei e mercenário se auto-intitulando: Senhor das Estrelas.
No começo do filme ele rouba uma esfera metálica para um cliente e é interceptado pelo vilão Ronan, que envia ao encalço do rapaz a assassina Gamora. É bastante comum nos contos e mitos a orfandade do herói. Isso significa que simbolicamente a mãe boa morreu e o rapaz deve deixar a casa materna para desenvolver sua masculinidade.
Quill como disse anteriormente não é um herói típico – ele é um ladrão! Ele pode então ser associado a um representante humano do deus grego Hermes. Deus traquinas, que adorava pregar peças nos outros. Deus da inteligência, sagacidade, da negociação e padroeiro dos ladrões. Roubou o rebanho de Admeto, guardado por seu irmão Apolo. E ainda fabricou a lira, com as tripas das novilhas sacrificadas e a carapaça de uma tartaruga. Mostrando que também está associado à música.
Sobre isso é interessante notar que Quill herda de sua mãe um toca fitas o qual nunca abandona e ouve suas músicas favoritas. Em alguns contos de fadas é comum após a morte da mãe a heroína ou o herói herdarem algo da mãe. São objetos que representam uma espécie de fetiche onde permanece o espírito da mãe. E a música torna Quill mais hermético e mais leve e divertido ainda. A música mostra a sua essência.
Peter é então perseguido por Gamora, uma guerreira assassina que na verdade tem a pretensão de trair Ronan, pois não quer deixá-lo usar o poder do orbe preso na esfera metálica para destruir planetas inteiros como Xandar. Ela apresenta uma personalidade bastante forte e uma ética profunda. Ele também conhece o guaxinim geneticamente modificado Rockete a árvore humanóide Groot.
Esse grupo é levado à prisão de segurança máxima Kyln. Lá eles se unem ao grandalhão Drax, que perdeu sua família em um ataque de Ronan. E assim o grupo que irá destruir o inimigo e se tornar os guardiões da galáxia está formado. Quill, que era mulherengo e não se apegava a ninguém, começa a se envolver com Gamora e a desenvolver sentimentos por ela. Esse relacionamento traz uma nova dimensão de Quill, ainda desconhecida. Gamora começa questiona a ética do herói fazendo-o olhar para si mesmo e se aprofundar e questionar o que vem fazendo. Ela possui uma função sentimento bastante desenvolvida.
Gamora pode, do ponto de vista de Quill, ser uma representação de sua anima. No processo de individuação é no contato com a anima/animus, projetados em relacionamentos amorosos, que passamos a ter um conhecimento mais profundo de nós mesmos, uma vez que essas são figuras arquetípicas que fazem a ponte entre a consciência e o Self. No filme Gamora coloca Quil no caminho de sua individuação e ele passa a seguir o caminho o qual estava destinado a seguir.
As outras figuras que o acompanham também são muito interessantes. O guaxinim que fala. Mais uma vez vemos que o herói vem sempre acompanhado de um animal “mágico” que o auxilia. O guaxinim é um animal ligado ao bom humor, inteligência, mas também ao roub, e. Rocket assim como Quill, é uma figura bastante inteligente e fora da lei.
Os animais que se ligam ao herói nos contos de fadas representam instintos que pertencem aquele sujeito. O instinto de roubo e inteligência de Quill agora passa a auxiliá-lo em sua jornada para salvar um planeta da devastação. Há aqui um paradoxo: o roubo e astucia características negativas agora se tornam eficientes e positivas. Mostrando que o inconsciente é amoral e que nossa vida é cheia de contradições. Vivemos cercados pelos opostos e as vezes aquilo que é ruim pode ser bom e o que é bom pode ser muito ruim.
A árvore Groot é retratada como um ser extremamente boçal, que diz apenas uma frase e que serve como força bruta a Rocket. Entretanto ela se faz extremamente importante para a missão, pois em determinado momento ela se sacrifica para proteger o grupo. A árvore na psicologia analítica é um símbolo do processo de individuação, pois para crescer e alcançar os céus, sua raiz deve crescer proporcionalmente até o inferno. Ou seja, para crescermos e nos expandirmos precisamos conhecer nossas sombras mais profundas, nossos medos e infernos pessoais.
A árvore também apresenta um aspecto hermafrodita, uma vez que possui um aspecto fálico ela também possui a seiva da vida e é uma dispensadora de alimentos, sendo então um símbolo da totalidade. Ela protege o grupo mostrando que juntos eles estão no caminho da inteireza e totalidade.
O grandalhão Drax pode ser interpretado como um aspecto de Quill reprimido. Ele é a força bruta, que o herói, não possui projetada, pois Quill tem desenvolvida a habilidade de pensar e negociar. Pode ser um aspecto sombrio de Quill que agora funciona em seu auxilio. É muito comum que jovens mais voltados para a intelectualidade possuírem amigos fortes e voltados a exercícios físicos, é como se um compensasse o outro.
E o grupo consegue o seu intento, destruindo Ronan e salvando o planeta Xandar da destruição. E assim eles se tornam Os Guardiões da Galáxia. Os mitos, histórias e contos que traz uma jornada do herói nos apresenta o processo de individuação. Claro que o herói é uma figura arquetípica e que não iremos sair por ai salvando galáxias em nosso processo de individuação. No entanto, os heróis nos mostram caminhos os quais podemos nos inspirar em nossa vida diária.
Nos mostram como seguir nossos instintos, como o relacionamento com o sexo oposto nos leva a dimensões mais profundas de nós mesmos e como sempre precisamos encarar nossa sombra projetada em inimigos exteriores para aprendermos mais sobre nós mesmos. E além de tudo, como é importante seguirmos nossos dons e o nosso próprio caminho e colocarmos, com a nossa própria individualidade, a serviço do coletivo.
Trailer:
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FICHA TÉCNICA DO FILME
GUARDIÕES DA GALÁXIA
Título Original (EUA): Into the Woods
Direção: Rob Marshall
Música composta por: Stephen Sondheim
Produção: Callum McDougall, Rob Marshall, John DeLuca, Marc E. Platt
Duração: 124 minutos
Ano: 2014