histórias cruzadas

Histórias Cruzadas: o poder do preconceito e dos determinantes sociais

Entramos pela porta dos fundos a conhecer tais histórias cruzadas. Vidas que se configuram como redes, entrelaçadas. Mississipi, década de 1960, em meio a luta pelos direitos civis, travada pelos negros, somos convidados a adentrar no dia-a-dia dos personagens. Um filme que difere e emociona, de tom dramático e por vezes leve.

Skeeter é uma garota da sociedade, recém formada e sonhadora. Almeja tornar-se jornalista. Consegue emprego no jornal local, onde se limita a escritos em uma coluna sobre limpeza doméstica. Não sendo uma garota típica da época, para os padrões sociais, encontra dificuldade para traçar caminhos. Difere da maioria de suas amigas, em visão e comportamento.

A mulher, dentro dos padrões da época, predestinada a tornar-se tão somente e bela mãe, esposa e dona de casa.

Há um drama, que perpassa a história. Um drama vivido pelas domésticas, negras, mulheres, guerreiras. Elas quem verdadeiramente cuidam das casas de mulheres brancas, ricas, da sociedade, hipócritas. Criam, amam e se dedicam a criação dos filhos dessas mulheres. Entretanto lhes é negado o direito aos afetos, a voz, muitas vezes o simples direito de ir e vir. Tratadas pelos patrões quase que como coisa, que não reage, não sente, tratadas como inferiores. Há aqui uma sociedade que pela cor, delimita o ser, encaixota e declara: esse é bom e esse é ruim.

Skeeter, como não poderia ser diferente, foi criada por uma dessas negras (Constantine), ao qual tem muita admiração e afeto. Seu comportamento diferenciado, com relação a inúmeros papéis instituídos pela sociedade, vem de um olhar mais amplo, para além daquilo que convém.

Não satisfeita com o emprego e tão pouco com as determinações sociais, Skeeter decide entrevistar e pesquisar a vida das mulheres negras, domésticas, a fim de escrever um livro sobre o cotidiano. O inusitado é que o ponto de vista adotado, foi o das empregadas domésticas.

Ousada e cautelosa, consegue a ajuda de duas significantes figuras na trama, Aibileen, vivida pela atriz Viola Davis e Minny, vivida pela atriz Octavia Spence. Negras e domésticas que aos poucos se convencem em ajudar a jovem, se convencem a dar voz e forma as suas próprias vivências da realidade cotidiana.

Os encontros e entrevistas tem o intuito de conhecer o que verdadeiramente essas mulheres vivenciam, com a arrogância e prepotência de seus patrões, com a indiferença da sociedade. Gira em torno de verdades dramáticas, que reveladas, causam grande alvoroço. A figura das damas de uma sociedade, que se reúnem em prol da caridade e de um suposto cuidado social, vai desmoronando.

As histórias vividas e logo contadas, são de singelo fascínio. Ao mesmo tempo em que máscaras sociais começam a ser desconstruídas, principalmente pelas revelações quanto ao tratamento hostil das patroas brancas para com as domésticas, podemos ainda observar o cuidado e carinho real dedicado as famílias, o silêncio e a aceitação imposta, vemos mulheres fortes!

O preconceito não é algo somente do passado, não é algo somente da sociedade revelada pelo filme. Carregamos preconceitos ao longo dos anos, está enraizado na história, na nossa história. Algumas configurações diferem e os atores também. Trata-se de um assunto, de uma vivência, atemporal. Colocamos correntes naquilo que julgamos diferente, incapaz, torto. Um poder social de exclusão, que tem feito história, que tem feito reféns.

Por um ponto de vista agradável e dramático, ao mesmo tempo, o filme pincela um recorte, um momento da história em que imperou tal poder social de exclusão, o preconceito.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

HISTÓRIAS CRUZADAS

Título Original: The Help
Direção: Tate Taylor
Roteiro: Tate Taylor – Baseado no romance de Kathryn Stockett
Elenco: Emma Stone, Viola Davis, Bryce Dallas Howard, Octavia Spencer, Jessica Chastain;
País: EUA
Ano: 2012
Gênero: Drama