O livro Cartas de um Terapeuta para seus Momentos de Crise, de Alexandre Coimbra Amaral, apresenta uma coletânea de reflexões e acolhimentos sensíveis sobre os momentos mais difíceis da existência humana. O autor, psicólogo clínico e terapeuta familiar, constrói uma narrativa afetuosa e empática, que dialoga diretamente com a dor do leitor, o que eu achei extremamente importante para quem está se formando na área da psicologia. Sua escrita é um lembrete de que o cuidado começa com o reconhecimento da vulnerabilidade, tanto a nossa quanto a do outro.
Ao longo do livro, Coimbra Amaral utiliza uma linguagem acessível, quase como se estivesse conversando com o leitor em uma sessão de escuta atenta. Isso, para mim, foi um ponto de grande valor. Na formação acadêmica, muitas vezes somos expostos a teorias e técnicas que, embora fundamentais, podem parecer distantes da realidade emocional que vivemos e acolhemos no consultório. Esse livro vem, então, como um respiro: ele reconecta o estudante de psicologia com o coração da prática terapêutica — a humanidade.
O autor fala de lutos, ansiedades, esgotamentos, fracassos, perdas e expectativas frustradas, sempre a partir de um olhar compassivo e livre de julgamentos. Em diversos momentos da leitura, me vi refletindo sobre como, no início da carreira, o terapeuta pode se cobrar perfeição, neutralidade absoluta e força inabalável — quando, na verdade, como Alexandre propõe, é a presença sincera e o afeto ético que transformam o espaço terapêutico em um lugar de cura.
Algo que me marcou profundamente foi a forma como o autor valoriza a escuta como uma forma de cuidado. Ele não oferece respostas prontas, mas caminha junto com o leitor/paciente, como quem segura a mão em meio à tempestade. Isso me fez pensar sobre como, ao atender alguém, muitas vezes o mais importante não será “o que dizer”, mas “como estar” ali. O livro reforça a ideia de que a escuta ativa, a presença afetuosa e o respeito pela dor do outro são os pilares que sustentam a prática terapêutica.
Alexandre Coimbra também toca em questões como o esgotamento emocional dos profissionais de saúde, o excesso de exigência interna e o medo de falhar. Para nós, estudantes e futuros terapeutas, isso é acolhedor e necessário. Saber que não precisamos ser invencíveis para sermos bons profissionais alivia a pressão interna e nos aproxima de um modelo mais humano de atuação.
Assim como em Cartas a um Jovem Terapeuta, há aqui uma valorização da experiência vivida e da ética relacional. Coimbra Amaral não oferece um manual técnico, mas uma coleção de cartas que poderiam ser enviadas a qualquer pessoa, inclusive ao próprio terapeuta nos momentos em que a dor ameaça transbordar. É um livro que nos ensina não só a cuidar, mas também a permitir-se ser cuidado.
A psicoterapia, como o autor mostra, é uma jornada de transformação que começa na aceitação das próprias fragilidades. Ao ler suas cartas, me senti mais próxima daquilo que realmente desejo ser enquanto profissional: alguém que acolhe, que respeita os limites, que reconhece a potência do silêncio e da escuta. Esse livro é mais do que uma leitura, é uma experiência de presença e empatia.
Cartas de um Terapeuta para seus Momentos de Crise é uma leitura essencial para quem está se preparando para atuar na clínica. Ele não fala apenas de pacientes, mas também de terapeutas, de humanos, de encontros. Amplia nossa visão da psicologia, nos convidando a sermos mais honestos com nossas dores e mais gentis com nossos processos dentro e fora do consultório.
Ficha Técnica
Título: Cartas de um Terapeuta para seus Momentos de Crise
Autor: Alexandre Coimbra Amaral
Editora: Paidós (Grupo Planeta)
Ano de publicação: 2020
Edição: 1ª
Número de páginas: 190
Idioma: Português
ISBN-10: 6555351071
ISBN-13: 978-6555351071
