O livro “Irresistível”, do professor de Psicologia e Marketing Adam Alter, nos convida a confrontar uma realidade social sobre o uso excessivo de telas ao nos mostrar que não é falta de força de vontade, mas sim o design intencional que nos mantém presos a elas. O livro é um estudo aprofundado sobre o vício comportamental que não envolve uma substância química, mas um comportamento, e que se tornou onipresente na era digital.
Na primeira parte do livro, o autor faz uma linha do tempo histórica sobre a nossa compreensão tradicional de vício, que antigamente se limitava ao abuso de substâncias, mas que, atualmente, percebemos que o ciclo de recompensa e o desejo por alívio ou prazer podem ser igualmente ativados por um jogo, por scrollar o feed das redes sociais ou pela expectativa de um like (que se tornou uma etiqueta social).
Além de trazer a biologia do vício comportamental, ele explica que a dopamina ou o comportamento em si não são viciantes, mas sim a forma como os usamos. Geralmente, eles servem como um bálsamo para nossas necessidades psicológicas não atendidas; a experiência comportamental traz uma dose de gratificação que gera alívio à curto prazo, mas que acaba trazendo prejuízos à longo prazo.
O livro traz pesquisas, referências bibliográficas e exemplos interessantes que ilustram como passamos a usar as telas não apenas para nos comunicar, mas como uma estratégia de enfrentamento (muitas vezes, disfuncional) para lidar com o tédio, a ansiedade e as tensões não resolvidas da vida real.
Na segunda parte do livro, o autor desvenda o mecanismo engenhoso por trás do vício em telas, jogos e redes, o condicionamento intermitente, que são utilizados em seis grandes eixos:
- Metas atrativas que estão sempre um pouco além do alcance (pense no próximo nível do jogo).
- Feedback positivo irresistível e imprevisível (a notificação que pode ser algo incrível ou nada, o que gera uma “recompensa de sorteio”).
- Uma sensação de progresso e melhoria lenta, mas constante.
- Gamificação: tarefas que se tornam gradualmente mais difíceis (passar de fase).
- Tensões não resolvidas que exigem solução (o ponto vermelho da notificação que incomoda).
- Ligações sociais fortes (a necessidade de pertencimento e validação nas redes).
Esses elementos são aplicados de forma deliberada para capturar nossa atenção e intenção, explorando nossa necessidade humana por pertencimento, validação e recompensa. Durante a leitura, ele nos convida a uma autoavaliação: quanto do nosso tempo é gasto em função das telas? E a resposta a essa questão impacta a nossa saúde mental, a dificuldade em manter a atenção sustentada até o impacto no sono e nas relações interpessoais.
Na terceira parte do livro, Alter nos apresenta ferramentas para a transformação do nosso comportamento, por meio das escolhas e das mudanças ambientais, como:
- Definir limites claros de tempo (e usar aplicativos para fazer isso).
- Criar “Zonas Livres” de tecnologia (como o quarto e a mesa de jantar).
- Encontrar “Vícios Comportamentais Positivos” (atividades que tragam satisfação e progresso, mas sejam menos destrutivas, como exercícios físicos ou hobbies analógicos).
“Irresistível” é um livro importante para todos os profissionais de saúde mental nessa era digital e não é um livro contra a tecnologia, pelo contrário, ao expor todo o mecanismo que há por trás da ferramenta, ele nos traz o conhecimento necessário para a autonomia psicológica, o uso consciente e saudável.
Ficha Técnica:
- Título: Irresistível – Por que você é viciado em tecnologia e como lidar com ela
- Autor: Adam Alter
- tradução: Cássio de Arantes Leite
- Ed.: 1ª edição
- Editora: Objetiva
- Local: Rio de Janeiro
