Luto: perder e ver quem você ama perdendo

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“A única certeza que temos na vida é a morte, e ainda assim passamos a vida inteira tentando evitá-la, em vez de aprender com ela.”

— Ana Claudia Quintana Arantes, A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver.

O primeiro contato com a morte é sempre assustador, instável, incompreensível. Para algumas pessoas é doloroso, para outras, nem tanto, para algumas é o pior dia e, para outras, um alívio. Todos esses sentimentos dependem de um fator crucial que é a relação que tinha com a pessoa ou se as pessoas que você ama amavam a pessoa que faleceu. O que percebi no meu contato com a morte e luto é que por mais que você entenda a situação, por mais que saiba sobre a finitude da vida, quando se vê todos que você ama sofrendo com a perda, as formas racionais que tinha encontrado para lidar com aquilo e todo o entendimento sobre a morte simplesmente desaparecem, ou seja, a intensidade do luto depende da relação com quem partiu e de como essa perda afeta aqueles que amamos.

A autora da frase diz que deveríamos aprender com a morte, apesar de achar que o conceito de aprendizado é amplo pelo fato de aprendermos em qualquer situação, onde sempre é absorvido algum tipo de informação nova e levando em consideração que pode ser subjetivo, ou seja, todas as pessoas aprendem, aprendem sobre a dor, sobre o luto, e com mais intensidade aprendem sobre a saudade e como lidar com ela, e é tentando ao máximo evitar essa saudade que muitos não aceitam a morte e outros aproveitam todos os últimos momentos quando já sabem que ela está próxima.

O que eu aprendi quando perdi meu avô há 7 anos foi que ver o meu pai se acabar em sofrimento e saudade teve um impacto tão grande ou talvez até maior do que a morte em si,  e foi aí que o luto ganhou um novo significado para mim, pois, à medida que eu me recuperava e entendia, todo o resto desabava ao meu redor, me fazendo voltar à estaca zero. Cheguei a pensar que passei pelo luto muito rápido, mas nos momentos em que me sentia bem, a culpa emergia, e eu sentia que precisava me manter triste por mais tempo em respeito àqueles que ainda sentiam com intensidade, de certa forma, luto também é empatia, altruísmo, recomeço e redescoberta.

Apesar de ter aprendido tanto, entendo que a próxima vez que o luto bater na minha porta ele pode ser totalmente diferente, pode ser ainda mais devastador, pode ser suportável. A certeza que tenho é que será incerto e inevitável e saber disso é uma forma de preparação, de aprender com a morte e de tentar lidar com ela do melhor jeito. Que jeito é esse? Impossível saber, e talvez nem seja necessário saber, pois ter todos esses antecedentes pode ser uma forma de querer controlar o destino, coisa que não está sob o nosso alcance e nunca vai estar.

De qualquer forma, o luto também ensina que a vida segue, mesmo quando parece impossível. Ele nos transforma, nos torna mais conscientes da fragilidade do tempo e do valor das memórias. No fim, aprendemos que a dor não some, mas se transforma em saudade, em lembranças que aquecem o coração ao invés de feri-lo. E, de alguma forma, seguimos adiante, carregando dentro de nós aqueles que partiram, não apenas na tristeza da ausência, mas na beleza daquilo que viveram e deixaram em nós.

REFERÊNCIAS:

ARANTES, Ana Claudia Quintana. A morte é um dia que vale a pena viver. 10. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.

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