A resenha desenvolvida a seguir, tem como objetivo principal descrever alguns pontos demarcados como preponderantes, bem como trazer reflexão e ao final fazer um apanhado geral, com base no livro, dentre outros artifícios que foram utilizados para melhor compreensão, a partir da visão das acadêmicas da disciplina de Antropologia e cujo tema central é a obra de Rita Barradas Barata: “Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde”. Saúde e produção de doenças têm estrita relação com desigualdades sociais em saúde. Alguns Grupos ficam em desvantagem com relação às oportunidades de ser e se manter sadio. Na Constituição Brasileira de 1988, ficou estabelecido que a saúde é um direito de todos e que deve ser garantido mediante ações de políticas públicas.
Muitas teorias verificam essas desigualdades e que estas não desaparecem naqueles países em que existem sistemas nacionais de saúde com garantia de acesso universal para todos os grupos sociais. Nos indagamos o por quê as desigualdades vêm aumentando ao invés de diminuírem com o passar do tempo. Na teoria estruturalista, a falta ou insuficiência de recursos materiais, para enfrentar de modo adequado os estressores ao longo da vida, acaba produzindo a doença e diminuindo a saúde. Neste modelo, o montante de renda ou riqueza dos países, grupos sociais ou indivíduos, é o principal determinante do estado de saúde do indivíduo. No entanto, nem sempre a riqueza de um país vem acompanhada de melhor nível de saúde, principalmente nos países cujas populações têm as suas necessidades básicas atendidas.
Na teoria psicossocial a percepção da desvantagem social é tida como desencadeador de estresse e de doenças. Em grupos sociais com necessidades básicas atendidas, as diferenças relativas na posse de bens e nas posições de prestígio e poder, passam a ser mais relevantes para a produção e distribuição das doenças do que simplesmente o nível de riqueza material. Essas duas teorias não se contradizem, o que as diferencia é o enfoque baseado na idéia de privação absoluta e relativa e seus determinantes. Já a teoria da determinação social do processo saúde-doença, os impactos da estrutura social sobre a saúde, são pensados nos processos de participação ou exclusão, associados às diferentes posições sociais e sujeitos a transformações em função de processos históricos. Com ênfase no modo de vida, estão englobados aspectos materiais e simbólicos que refletem características de produção, distribuição e consumo e relacionadas ao modo de vida.
A teoria ecossocial, considera impossível separar os meios biológico, social e psíquico. Soma aspectos sociais e psíquicos predominantes nas situações que os indivíduos vivem e trabalham. Portanto, as relações econômicas, sociais e políticas afetam a maneira como as pessoas vivem e seu contexto ecológico e acabam por moldar padrões de distribuição de doença. Todos devem utilizar suas demandas específicas de saúde, com provisão de serviços prioritários para grupos com maiores necessidades, a fim de minimizar ou anular as desigualdades.As explicações sobre as desigualdades em saúde têm como base a ideia de que a saúde é um produto da sociedade, e então algumas organizações são mais saudáveis do que outras. O capítulo dois desse livro trata sobre como as posições sociais influenciam na saúde de cada sujeito.
Para a autora, o foco central das abordagens sócio-históricas sobre as desigualdades em saúde são os processos de reprodução social que resultam na propagação de diferentes domínios da vida. O primeiro domínio é a reprodução biológica do indivíduo, que certifica suas características como espécie que é marcada pela interação genética e o meio social. Vivemos em um ambiente sócio-interacional, onde compartilhamos tempo e espaço, tal reprodução social resulta na produção do segundo domínio: o das relações ecológicas dos grupos, ou seja, sua relação com o social constituído por comunidades que é onde estamos inseridos. Essas comunidades compartilham interações que nos leva ao terceiro e último processo de reprodução segundo Rita: o cultural.
Todos esses processos e reproduções causam impactos sobre a saúde e a doença dos indivíduos. Desigualdades nas condições de vida decorrem das diferenças nos processos de reprodução social que então ira refletir na saúde das pessoas. As vantagens de alguns grupos sobre outros, causa a exclusão, o que os afeta em todos os âmbitos da vida social. Desigualdades sociais em saúde podem estar associadas ao estado de saúde e ao acesso e uso inadequado de serviços de saúde para ações preventivas ou assistências da população. Existem várias investigações do meio científico que expõe a existência das desigualdades sociais em saúde, essas mesmas investigações buscam compreender os processos sociais e os mediadores entre as condições concretas de vida e a saúde no âmbito populacional.
No terceiro capitulo, intitulado “Ser rico faz bem à saúde?”, a autora Rita Barradas Barata, promove uma análise acerca das relações entre riqueza e saúde, demonstrando que nem sempre o nível de riqueza está intrinsecamente ligado a melhores condições de vida, tais como saúde de qualidade, maior expectativa de vida e, por conseguinte baixa mortalidade. Entre o século XIX e o XXI no mundo, houve um déficit na distribuição de riquezas bem como, um aumento nas desigualdades sociais. Segundo Barata (2009), quanto mais rico um país mais saudável é a sua população não é uma observação simples, visto que pesquisas evidenciam que a ligação entre a esperança de vida e o PIB (Produto Interno Bruto) per capita tem a representação gráfica de uma parábola, e por isso a partir de um certo ponto o aumento da riqueza não resulta em mais saúde. Um exemplo claro dessa realidade, é que não são os países mais ricos que apresentam maior longevidade.
Nesse sentido, a má distribuição de riquezas, eleva as desigualdades, o que afeta diretamente a saúde. Dessa forma, a adoção de sistemas universais de saúde que promovam o acesso similar desses serviços pode reduzir as diferenças nas condições de vida da população, uma vez que sociedades mais equânimes possuem melhores índices de saúde e uma maior coesão social. Outra justificativa para situações de menores divergências apresentarem melhor nível de saúde se dá aos hábitos saudáveis adotados por parte da população. Estudos ingleses, sobre o risco de morrer por Doença Isquêmica do Coração (DIC) constatam que os tradicionais comportamentos de riscos são menos importantes que as relações de trabalho relacionadas a uma maior/ menor autonomia sobre o controle dos processos laborais.
Segundo a autora, a noção que se tem de raça é construída socialmente e não biologicamente. A perspectiva de que há etnias superiores a outras foi reforçada pelas teorias evolutivas, sendo que povos que eram considerados mais aptos exerciam um domínio sobre aqueles considerados inferiores, visando manter privilégios para esses grupos. Os grupos étnicos devido à bagagem de desvalorização cultural por parte daqueles que se consideram superiores, também sofrem com dificuldades de inserção no mercado de trabalho, escolarização e várias outras áreas que levam à econômica. Área essa que, em países capitalistas dificultam ainda mais a vida dessa população, afetando significativamente a saúde dos mesmos. Tal exposição à discriminação e racismo trazem junto problemas de saúde como: transtornos mentais, hipertensão, baixo peso, prematuridade e várias outras. Junto com esses problemas ainda moram em lugares com condições mínimas de uma vida saudável, e com acesso a saúde precário, causando um stress maior. Neste cenário, pessoas que passam por esse tipo de situação têm uma maior dificuldade em confiar nas outras pessoas e instituições.
Em relação à saúde e o gênero, os homens em grande parte possuem uma maior taxa de mortalidade, pois ao longo da vida é exposta a situações insalubres de risco, tanto com acidentes e violências, quanto a maior propensão em ingerir exageradamente álcool e cigarros. Isso de deve também a construção social e cultural de gênero. As mulheres por sua vez apresentam uma maior taxa de morbidade, que também pode ser atribuída à dupla jornada de trabalho que é a doméstica e a fora de casa. Excesso de trabalho e remuneração menor que a dos homens, mesmo ocupando os mesmo cargos, sendo expostas a assédios psicológicos e emocionais e funções sem muita autonomia geram stress que acabam levando ao adoecimento tanto físico quanto psíquico.
A obra de Barata nos mostra as diferenças culturais e raciais que enfrentamos e os riscos causados pelas mesmas. Nos apresenta de forma clara conceitos bastante relevantes e significativos na nossa sociedade atual, como raça, grupos étnicos diferentes, a desvalorização cultural, discriminação, entre outros. Também nos traz dados importantes que vem acontecendo com o hiper agendamento do tempo, onde nos tornamos mais suscetíveis ao adoecimento, podendo causar a morte, principalmente em mulheres. É importante ressaltar que, segundo a obra, vivemos em constante desigualdade, seja racial, cultural, socioeconômica, de gênero, etc. Se uma classe é mais favorecida financeiramente que a outra, não significa que a mesma viva mais, seja mais feliz. Portanto, não devemos ser etnocêntricos, não temos o direito de julgar alguém como sendo menor nós pelo fato de que eu tenho mais dinheiro ou mais saúde. Diante disso, essa obra é de muita relevância para entendermos aspectos sociais e culturais em que estamos vivendo.
FICHA TÉCNICA
Como e por que as Desigualdades Sociais Fazem mal à Saúde
Autora: Rita Barradas Barata
Editora: FIOCRUZ
Páginas: 118
Ano: 2009
REFERÊNCIA:
BARATA, Rita Barradas. Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2009.