Meu eterno talvez: a dor e os sabores de uma mulher executiva

Pesquisa aponta que quanto mais bem-sucedido é um homem maior é a chance de que ele encontre uma parceira amorosa. Por outro lado, verificou-se que quanto mais bem-sucedida for uma mulher, mais difícil será para que ela consiga um parceiro amoroso.

Meu eterno talvez’ é mais uma das muitas produções realizadas pela gigante do streaming contemporâneo, Netflix, no ano de 2019. O longa conta com a atuação de grandes nomes do cinema como: Ali Wong, Randall Park e o protagonista da famosa trilogia Matrix, Keanu Reeves.

Sasha (Ali Wong) e Marcus (Randall Park) são grandes amigos de infância desde quando a família de Marcus passou a cuidar de Sasha, devido o fato de seus pais sempre passarem o dia fora de casa trabalhando e não darem o mínimo de atenção para ela. Dessa forma, a relação que Sasha tinha com a mãe e o pai de seu amigo, era uma relação de paternidade, que se intensificava especialmente com a senhora Kim, com quem aprendeu a cozinhar.

A convivência dos dois amigos perdurou as fases da primeira infância até a adolescência, sendo neste último período o momento do falecimento da senhora Kim, estreitando ainda mais os laços entre Marcus e Sasha. Como fruto dessa intensificação, os dois acabaram se envolvendo amorosamente e perderam a virgindade. No entanto, após esse acontecimento eles não souberam lidar com seus sentimentos e acabaram se separando.

Sasha se mudou para L.A e 15 anos depois se tornou uma chefe de cozinha muito talentosa, famosa e bem-sucedida. Sua carreira lhe concedia prêmios frequentes das mais conceituadas empresas do ramo da culinária, e a excelência da sua comida possibilitou que ela abrisse restaurantes em vários lugares dos Estados Unidos.

Fonte: encurtador.com.br/jtE35

Já Marcus continuou morando com o pai em São Francisco e juntos trabalhavam com instalação de ar-condicionado. A vida de Marcus há 15 anos atrás era semelhante a de 15 anos depois, na qual ele tocava na mesma banda e vivia no mesmo quarto de adolescente.

O reencontro de Sasha e Marcus acontece 15 anos depois quando ela vai abrir um restaurante em São Francisco, e então eles acabam se envolvendo por perceberem que o sentimento de amor sobreviveu ao tempo. Contudo, as dificuldades de se adaptarem um ao outro vão surgindo com a convivência.

A primeira dificuldade, que por sinal o filme retrata muito bem e de forma assertiva, é o fato de Marcus se sentir amedrontado com o sucesso de Sasha e se recusar em um primeiro momento a acompanhá-la por todo os Estados Unidos lhe dando suporte em sua carreira profissional. Prova disso é uma fala de Sasha onde ela diz: “Por que não? Por que você não pode me acompanhar me dando suporte na minha carreira? Se fosse ao contrário ninguém falaria nada!”.

A fala retratada anteriormente remete ao processo de inversão de papéis que muitas vezes não é bem recebida pela sociedade machista, que tem como norma a figura da mulher como aquela que precisa abdicar de sua vida para acompanhar o homem na sua carreira profissional. É muito comum que mulheres executivas não ascendam em suas carreiras como poderiam, pelo fato de não aceitarem o processo de constantes viagens, colocando em primeiro lugar o bem estar do marido e dos filhos (NETO; TANURI; ANDRADE, 2010).

Fonte: encurtador.com.br/nEQ67

No entanto, o longa coloca em xeque essa prática machista, na medida em que Sasha não abdica de sua carreira profissional para atender aos anseios de Marcus. Pelo contrário, ela afirma para ele que não deixará de construir sua carreira estando ele ou não ao seu lado e deixa bem claro que o sentimento de amor existe e que a escolha será dele.

Essa dinâmica de trabalho que não é mais baseada em estar fixado em um único lugar mas sim trabalhar fora da região geográfica em que vive, é conhecida como expatriação (GLANZ; WILLIAMS; HOEKSEMA, 2001 apud NETO; TANURI; ANDRADE, 2010). Nesse sentido, a literatura aponta que o homem que acompanha a esposa expatriada se sente perdido, entediado e inferiorizado, experimentando uma sensação de diminuição da sua influência social.

Outro ponto a ser observado diz respeito à diferença existente para que um homem executivo e uma mulher executiva consiga encontrar um parceiro amoroso. Hewlett (2002) apud NETO, TANURI, ANDRADE (2010) constatou em um pesquisa realizada nos Estados Unidos que, quanto mais bem-sucedido é um homem maior é a chance de que ele encontre uma parceira amorosa. Por outro lado, verificou-se que quanto mais bem-sucedida for uma mulher, mais difícil será para que ela consiga um parceiro amoroso.

Marcus deixa Sasha ir embora e decide não acompanhá-la, no entanto, a inquietação do seus sentimentos em relação a ela, faz com que ele repense algumas práticas de vida que há muito tempo havia deixado de se preocupar. A verdade é que Marcus teria se acostumado com a zona de conforto que era morar com o pai e nunca tinha investido em um futuro que fosse mais arriscado e potencialmente lhe inserisse em novas experiências.

O desfecho da trama foge a regra e adere a nova onda que as mídias têm adotado, onde as mulheres estão sendo colocadas como protagonistas e ocupado espaços e papéis que antes eram destinados apenas aos personagens masculinos. Ao final, Marcus procura Sasha e decide estar ao seu lado amorosamente e ainda acompanhá-la na sua carreira profissional.

A reflexão que o filme traz possibilita ao telespectador repensar mais essa prática machista que perdura no meio corporativo, onde a mulher ainda enfrenta grandes dificuldades em ocupar cargos de alto escalão, por sofrer pressões sociais, empresariais, maritais entre outras. O desejo que fica é de que casos como o de Sasha e Marcus não sejam apenas exceções, mas passem a ser comuns, assim como o oposto é!

FICHA TÉCNICA DO FILME:

MEU ETERNO TALVEZ

Título original: Always Be My Maybe
Direção:  Nahnatchka Khan
Elenco: Ali Wong, Randall Park, Keanu Reeves
País:  EUA
Ano: 2019
Gênero: Comédia, Romance

REFERÊNCIAS:

CARVALHO NETO, Antonio Moreira de; TANURE, Betania; ANDRADE, Juliana. EXECUTIVAS: CARREIRA, MATERNIDADE, AMORES E PRECONCEITOS. Raeeletronica, Minas Gerais, v. 9, n. 1, p.1-23, jun. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/raeel/v9n1/v9n1a4>. Acesso em: 06 jun. 2019.

HEWLETT, Sylvia Ann. Executive Women and the Myth of Having It All. Harvard Business Review, Estados Unidos, v. 1, n. 1, p.1-8, abr. 2002. Disponível em: <https://hbr.org/2002/04/executive-women-and-the-myth-of-having-it-all>. Acesso em: 06 jun. 2019.