LAFARGUE, Paul. O Direito à Preguiça. São Paulo: Editora Claridade, 2003.
O Direito à Preguiça, de Paul Lafargue, é uma crítica social atual, apesar de abordar o regime capitalista no seu molde inicial. O livro narra uma sociedade alienada e emudecida pelo calor de sua própria ignorância e falta de critícidade, tal qual a da nossa contemporaneidade.
O livro divide-se em um prólogo e quatro capítulos, ordenados em uma sequencia lógica, inicialmente situando o leitor no contexto histórico à medida que segue com a descrição das problemáticas acarretadas pelo trabalho.
A sociedade descrita por Lafargue corresponde a um período da história em que, a supervalorização da moeda e o intento de empresários em tornarem-se uma potência capital, moviam o mundo. O autor defende que os burgueses, com a benção da igreja, eram os que detinham o controle sobre o capital, assim como o domínio sobre trabalho e a força bruta dos operários, estes por sua vez, atuavam passivamente, barganhando a troco de pão por seu suor. Para Lafargue, a igreja é uma das principais responsáveis por essa sociedade vendida, e voltada unicamente para o trabalho, por ele, tão criticado.
Seria ela, a igreja, a criadora e mantenedora do “Dogma Desastroso”, mistificado e fantasiado pelas belas palavras dos sacerdotes, que estimulavam e cegavam os homens em busca de um prazer ilusório, creditado no trabalho.
Uma estranha loucura dominou as classes operárias, das nações onde reina a civilização capitalista […]. Essa loucura é o amor ao trabalho, a paixão moribunda que absorve as forças vitais do individuo e de sua prole até o esgotamento. (LAFARGUE, p.19, 2003).
O autor afirma que o trabalho excessivo nas indústrias, cega, embrutece e adoece o homem. É uma medida de controle social, pois se o homem não tem forças, ele não luta. Para Lafargue, o patriarcado burguês retira do homem seu direito à liberdade, e cria uma cultura toda voltada à satisfação monetária, onde fantasiosamente é pregado que: quanto mais suor gasto, mais dinheiro e melhores condições de vida. E a classe proletária, a fim de atingir um estado ilusório de felicidade, fundamentado no capital, adere aos modelos e parâmetros burgueses.
No capitulo seguinte, a “Benção do Trabalho”, o autor expõe que os regimes de 14 horas de trabalho diários nas fabricas, levou os operários a adoecerem, e a morrerem, cada vez mais cedo. Para calar o proletariado, a burguesia falsamente prega o infortúnio do ofício como uma benção. E, sem perceber, o homem se vê imerso num regime neoescravocrata e sem escapatória, em um ciclo vicioso, onde ele é, em toda a sua ignorância, senhor e servo, ao ser obrigado a consumir o seu próprio produto, e sem poder questionar. Era uma atividade ironicamente injusta e igualitária, que não dispensava e não distinguia homens, nem mulheres, e nem crianças. Todos eram bem vindos e podiam contribuir com a produção.
No capitulo “Depois da Superprodução”, Lafargue demonstra como o homem desperta para sua condição miserável e alienada. Pois quanto mais suor e mais tempo gasto, mais pobre e miserável o homem se torna. Consumido pelo seu sonho nunca alcançado, o homem cada vez menos é dono de seu próprio destino, e frustrado, perde a vontade de lutar, de ser, de buscar.
[…] Sublimes cérebros que abarcavam todo o pensamento humano, que fim levaram? Estamos muito diminuídos e muito degenerados. As privações, a batata, o vinho com fucsina e a aguardente prussiana, sabiamente combinados com o trabalho forçado, debilitaram nosso corpo e diminuíram nosso espírito. (LAFARGUE, p.42, 2003).
No capitulo final, segundo Lafargue, nasce a sociedade moderna, “Dançando conforme a música”, criticada e bestificada pelo autor. Lafargue defende uma sociedade onde homens e mulheres trabalhem não mais que 3 horas por dia, onde crianças tenham o direito de serem crianças, e de se apropriem de sua ingenuidade. Uma sociedade onde pessoas vivam mais, sem serem abusadas e/ou exploradas em função do capital. Um regime onde as pessoas não são um mero acaso da evolução, como uma macrossistema em expansão, mas, seres abençoados e dotados de direitos e de uma vida. Pois uma sociedade doente, nada mais é que o reflexo da doença de nossos homens.
Paul Lafargue, nasceu em 1842. Era um marxista e totalmente contrário ao sistema do trabalho que escravizava, sem pudor algum, o corpo e a alma dos homens. Fez, em seu livro, uma crítica ao sistema do capital, que previa os rumos e mazelas nas quais à sociedade atual se perderia. Suicidou-se em 1911 juntamente com sua esposa.