Transtorno de Tourette – O primeiro aluno da classe

“O primeiro da Classe” é um filme estadunidense que narra a história verídica de Brad Cohen, um educador americano que tem a Síndrome de Tourette desde os seis anos de idade. A história reflete a luta e o preconceito sofridos por Cohen, em virtude do seu transtorno, mas também o acolhimento por parte da mãe e de algumas outras pessoas, que tornaram possível uma vida mais funcional ao protagonista.

A Síndrome de Tourette é um transtorno que envolve movimentos repetitivos ou sons não desejados, difíceis de controlar. Por exemplo, piscadelas repetitivas, encolher os ombros, proferir sons incomuns ou mesmo palavras ofensivas. Os sintomas costumam surgir entre os dois e quinze anos de idade, e os homens têm entre três e quatro mais probabilidade de desenvolver o transtorno, comparados às mulheres, segundo a Mayo Clinic.

Por não controlar seus sons estranhos e movimentos atípicos, o jovem Brad era ridicularizado, repreendido e ainda sofria castigos na escola. Numa época onde a síndrome era pouco conhecida, a mãe ouvia sobre a possibilidade de o filho sofrer alguma possessão demoníaca. No contexto familiar, seu pai era o mais intolerante, e não acreditava que o menino não tivesse capacidade de parar aquele comportamento típico da síndrome, cujos tics irritavam o homem.

Contudo, convencida de que o filho realmente não tem controle sobre aquelas manifestações, a mãe investiga, através de livros, o que vem a ser aquilo. E, delineando os sintomas, descobre sobre a Síndrome de Tourette. A essa altura, o filme implicitamente mostra a importância de uma rede de apoio – familiar ou institucional – que se mostre compreensiva e tolerante para com pessoas que vivam com transtornos, assim evitando o preconceito e suas danosas implicações.

Fonte: encurtador.com.br/elxJW

No que tange ao contexto do filme, e a considerar o que diz Vigo (2015), os estereótipos resultam em preconceitos, e lhes dão base de sustentação. Julgar precipitadamente – como fazia o pai, colegas e diretores – é concluir antes de ter conhecimento cabal e fundamentado. Quanto à mãe de Brad, mesmo sem saber o que viriam a ser aqueles sintomas, não julgou o filho como responsável por aquilo, o tendo como caprichoso, contudo, reconhecendo que não sabia, investigou.

Embora a mãe fosse parte de uma minoria que o acolhia em termos quantitativos, era demasiadamente significativa porque era sua mãe. Ser aceito como tal pela genitora e pelo irmão menor era um contraponto, atenuando as ridicularizações dos colegas, além da impaciência dos professores e diretores. Contudo, é inegável como a intolerância no âmbito escolar prejudica não apenas o desempenho como aluno, ela também adoece a saúde mental, graças ao estigma social.

Também é clara a importância do conhecimento como arma contra preconceitos. Quando o diretor de sua nova escola, inesperadamente, chama Brad, quem está com seus tics exacerbados, para subir ao palco e, a uma grande plateia de alunos, diga o que é seu transtorno, e como os colegas podem ajudá-lo, trata-se de uma oportunidade de conhecimento e empatia. Brad diz a todos querer ser tratado como os demais. Tal mudança de tratá-lo, por parte de sua escola, resultará numa melhor convivência para o protagonista.

Em uma sociedade onde todos priorizam o falar e a produtividade em termos de tempo e dinheiro, é um tanto subversivo propiciar ambientes de escuta àqueles desconsiderados por suas deficiências ou transtornos. Ao mesmo tempo, isso é um convite à mudança social, ao afrontamento contra os preconceitos, e à quebra de paradigmas. Pode ser que a mudança para uma sociedade melhor esteja a poucas palavras muito bem ouvidas e consideradas.

Fonte: encurtador.com.br/BHMR9

Adulto, Brad Cohen enfrenta os mesmos problemas de outrora, contudo no que tange à sua busca incessante por uma vaga de professor. Encontra respostas negativas, diretores pondo em dúvida sua capacidade de dar uma aula na companhia de sua síndrome ruidosa e estranha. O próprio pai duvida que ele poderá dar aula, enquanto tenta atraí-lo para o ramo da construção civil.

Diz Centeno (2020) que o capacitismo sugere haver só uma maneira de fazer as coisas, e tal maneira é mais valiosa que as outras, mais bonita e produtiva. Um professor com Tourette não condizia à “norma” de um educador sem problema ou deficiência, pois não se enquadraria na “forma oficial” de fazer a profissão.

Contudo, em busca de ser o professor que ele nunca teve, Brad persiste até conseguir uma vaga, pois quer fazer do ensino a sua vida. É recusado por vinte e quatro escolas. Durante isso, passa por momentos de determinação, frustração e raiva contra o transtorno. Contudo, por fim convence responsáveis por uma escola de que é bom ser diferente, sendo ele mesmo.

Acolhido por seus novos alunos – novos em todos os sentidos – sua síndrome não deixa de ser notada, nem é ignorada, ainda mais em se tratando de estudantes tão curiosos. Brad não nega o que tem, nem procura disfarçar, antes, explica a síndrome. Com o tempo a Tourette passa a ser um detalhe do professor, embora alguns pais de alunos tenham suas desconfianças quanto à capacidade do recém-chegado professor.

Conviver com a diversidade produz nas crianças exposição à realidade no mundo. Um dado terrível e interessante é que o preconceito deve ser ensinado, as crianças não vêm ao mundo preconceituosas, contudo elas aprendem com os adultos. Assim como valores são ensinados, os preconceitos também são. Assim, cabe à escola mostrar a tamanha diversidade que há no mundo (KARNAL, 2017).

Quando Brad Cohen buscar ser o professor que ele nunca teve, prioriza pela excelência. Não se trata de uma meta revanchista, mas coerente com seus valores, que diz respeito a um mundo onde a diversidade não se limite apenas às orientações sexuais, às cores da pele, mas a toda e qualquer forma de ser, com ou sem transtorno. Por fim, o personagem agradece à mais dura e dedicada professora que ele já teve, sua companheira, a Tourette.

Fonte: encurtador.com.br/quwPR

FICHA TÉCNICA DO FILME

O Primeiro da Classe

Título original: Front of the Class

País: EUA

Ano: 2008

Gênero: Drama

Direção: Peter Werner

Elenco: Sarah Drew, Treat Williams, Dominic Scott Kay, Jimmy Wolk, Patricia Heaton, Joe Chrest, Johnny Pacar, Mike Pniewski, Charles Henry Wyson, Charlie Finn, Dianne Butler, Helen Ingebritsen, Laura Whyte, Kathleen York, Michael Cole

Duração: 95 minutos

Referências

CENTENO, Antonio. Antonio Centeno: “Mucha gente sabe más cosas de como sería um viaje a l aluna que como es tomarse um café com uma personas com diversidad funcional”. Disponível em: <http://hablemosdepoliamor.com/entrevista-a-antonio-centeno/>. Acesso em 31 de maio de 2021.

Front of the Class. Wikipedia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Front_of_the_Class>. Acesso em 25 de maio de 2021.

Mayo Clinic. Tourette syndrome. Disponível em: <https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/tourette-syndrome/symptoms-causes/syc-20350465>. Acesso em 25 de maio de 2021.

KARNAL, Leandro. “As crianças não são ensinadas”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=qh1aYS3Bs2c>. Acesso em 25 de maio de 2021.

Primeiro da Classe (Front of the Class) – Trailer legendado. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=5JwYEziQP_A>. Acesso em 31 de maio de 2021.

VIGO, Iria Reguera. ¿Son los estereotipos siempre malos? Prejuicios y estereótipos. Disponível em: <http://rasgolatente.es/estereotipos-malos-prejuicios-y-estereotipos/>. Acesso em 25 de maio de 2021.