O filme ‘Se enlouquecer, não se apaixone’ conta a história de Craig, um garoto de 16 anos que sofre com as difíceis decisões e situações da adolescência. Ao perceber que é um paciente com ideação suicida, decide se internar na ala psiquiátrica de um hospital, lá que se aproxima de Bobby um novo amigo que ajudará a compreender suas angustias e a conquistar Noelle que também está internada.
Essa trama leva a refletir que muitos conflitos internos, quando não resolvidos ou minimizados, podem prejudicar a saúde mental e reduzir a qualidade de vida não só de adolescente, mas em qualquer pessoa que não encontre recursos para elaborar suas demandas subjetivas. Apesar de tratar sobre o assunto de doenças mentais e internações psiquiátricas, o filme mostra que mesmo com diversos diagnósticos encontrados, ainda sim existe identidade, perspectivas de sonhos e desejos a serem conquistados.
A partir dos principais sintomas de cada colega do hospital, o adolescente passa a refletir e questionar, juntamente com a psiquiatra responsável pelos pacientes, quais recursos poderiam ser utilizados para resolver ou compreender os problemas de cada um deles. Então, o garoto também passa a analisar a real importância e influência das coisas que antes o perturbavam.
Entende-se que isso foi resultado de uma pressão e angústia intensificadas pelas decisões que precisavam ser tomadas em relação a sua vida, seus estudos, seus amigos e a sua paixão. Ao longo dos atendimentos com a psiquiatra, percebe quais eram seus verdadeiros sonhos, e a partir dessas identificações é que passa a planejar como alcançá-las. O principal ensinamento que o filme deixa é a sensibilidade e respeito com que são tratados o sofrimento e cada sintoma dos pacientes.
Mas afinal, o que realmente o filme vem nos mostrar nos tempos atuais?
Foi por volta de 1970 que o Brasil começou a perceber mudanças no cenário psiquiátrico, assim como um novo olhar para as pessoas em sofrimento mental. Foram diversas modificações ao longo do tempo que atingia a toda sociedade (PORTELA, 2005). O autor ainda cita que:
Compreendida como um conjunto de transformações de práticas, saberes, valores culturais e sociais, é no cotidiano da vida das instituições, dos serviços de saúde e saúde mental e das relações interpessoais que o processo da Reforma Psiquiátrica avança, marcado por impasses, tensões, conflitos e desafios (POPRTELA, 2005, p. 5).
Denunciava além do preconceito e da cristalização dos corpos das pessoas com transtornos mentais, mas também aos maus tratos, muitas vezes, sofridos durante a internação, que eram medidas comumente tomadas naquela época, aos valores limitantes e anuladores aos pacientes psiquiátricos, entre outros. Esse movimento no Brasil teve grande inspiração aos acontecimentos vindos da Itália, que enfrentava um episódio que passou por uma revolução antimanicomial. E a primeira vitória brasileira foi por meio do II Congresso Nacional do Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM) quando houve a criação do CAPS em São Paulo em 1987 (PORTELA, 2005).
Atualmente, sob fortes influências da Reforma Psiquiátrica, a partir da criação de Centro de Atenção Psicossocial, CAPS, apoio aos familiares e cuidados dos pacientes, foi possível recuperar de forma mais harmônica a identidade e qualidade de vida dos usuários dos serviços de saúde mental oferecidos de forma privada e pública (PORTELA, 2005).
Conquistar espaço para valorização à saúde mental nem sempre foi prioridade para sociedade. E para tratar da de saúde mental, não basta apenas uma área do conhecimento, pois abrange a psiquiatria, psicologia, enfermagem, assistência social, técnico em enfermagem, entre outros profissionais, além da colaboração dos amigos e familiares, bem como o meio social em que o paciente vive. Pois um transtorno psiquiátrico vai além de um diagnóstico, é preciso compreender que em primeiro lugar existe uma pessoa com sua personalidade, seus valores, desejos e sentimentos, que posteriormente, possui psicopatologia (AMARANTO, 2007).
A partir das conquistas ao longo do tempo, que foi e continua sendo permitido a modificação dos padrões de comportamento, julgamento e percepção sobre o saber psiquiátrico. Assim como no filme demonstra claramente que para além de uma doença, existe uma potência de conquistas e mudanças a serem alcançadas. Para que essa luta continue sendo conquistada a cada dia, é fundamental a participação de todos, para que em conjunto com políticas públicas e serviços oferecidos possam alcançar ainda mais visibilidade a causa.
FICHA TÉCNICA DO FILME
Direção: Ryan Fleck, Anna Boden
Roteiro: Ryan Fleck, Anna Boden
Elenco: Keir Gilchrist, Zach Galifianakis, Emma Roberts
Título original: It’s Kind of a Funny Story
REFERÊNCIAS
AMARANTO, Paulo. Saúde Mental e Atenção Psicossocial. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007.
PORTELA, Pietro Navarro. A Reforma Psiquiátrica no Brasil sua história e impactos na saúde brasileira. Centro Educacional Novas abordagens terapêuticas. 2005.