E aqui no terceiro filme chegamos ao desfecho da história.
Vimos em As Duas Torres que um reino havia sido ignorado, o reino de Mordor, cujo rei é Sauron o Senhor do escuro.
Sobre Sauron é importante acrescentarmos uma nova interpretação para enriquecer nossa compreensão sobre o filme.
Nos contos de fadas europeus a figura do Mago representa o aspecto do sombrio da imagem de Deus que não foi reconhecido pela consciência coletiva (Von Franz, 1985).
Infelizmente a sociedade ocidental tem uma imagem do divino extremamente equivocada. Temos Deus como summum bonum (ele é só o Bem), o que exclui, a priori, o Maligno (Jung, 1979). E isso reflete diretamente em nossa própria percepção acerca de nós mesmos. Vemos-nos como seres melhores do que realmente somos. Nossas sombras são projetadas no outro, assim como o lado sombrio da divindade cristã foi projetada no diabo.
Além disso, no filme As Duas Torres tivemos uma modificação significativa em Gandalf. Ele passou de mago cinzento a mago branco. Esse embranquecer simboliza a estado da alquimia denominado albedo. O albedo é uma purificação, um renascimento. Ou seja, além de representar o aspecto benéfico da divindade, o Mago Gandalf agora representa uma nova ordem renascida na consciência coletiva.
E a ação continua.
Frodo, Sam seguem rumo a Mordor para a destruição do anel, sendo guiados por Gollum.
O herói Frodo antes que consiga destruir o anel de poder terá que enfrentar seu aspecto sombrio, representado pelo Hobbit Sméagol que se transformou em Gollum e nessa luta com sua sombra, ele perde um dedo.
Isso significa um enorme sacrifício. Aqui o herói teve de aceitar o sofrimento concreto e pagou com sua própria carne pelo desenvolvimento de sua personalidade e da psique coletiva. Frodo sacrifica as projeções do ego e o desejo de poder e de segregação que qualifica uma consciência centrada no ego.
Gandalf, Aragorn, Legolas e Gimli acompanhados do rei de Rohan e sua comitiva, chegam em Isengard onde se encontram com Merry e Pippin.
Após isso o grupo de divide: Gandalf parte com o hobbit Pippin para Minas Tirith, onde não consegue convencer o regente Denethor a acender os faróis e pedir socorro aos aliados.
Denethor é o regente de Gondor, reino esse que deve ser assumido por Aragorn, o regente legitimo. Mas Denethor está gravemente doente. Ele está completamente insano a ponto de querer queimar a si próprio e o filho Faramir vivos.
Nos contos de fadas geralmente o rei se encontra doente ou velo demais e deve ser substituído. Aragorn agora deve aceitar quem ele realmente é, o rei que trará a renovação à consciência coletiva. O rei que unificará os povos e fará com que todos lutem sob sua bandeira e que trará de volta o elemento faltante e desprezado: o feminino.
Se no filme anterior ele viveu um impasse entre duas mulheres, aqui ele se decide pelo seu verdadeiro amor, a elfa Arween.
Ele se decide por ela quando recebe a visita de Elrond, o pai de Arween, que lhe entrega a espada de Isildur reforjada e lhe diz que sua filha retornou a Valfenda, após uma visão onde ela vislumbra seu filho com Aragon, mas que ela está morrendo, pois seu destino agora se encontra ligado ao do Anel.
Ao aceitar a espada, Aragorn aceita seu destino de rei.
A criança que Arween vê simboliza representa as promessas de renovação, uma vez que a consciência coletiva está doente.
O fato de Arween estar morrendo representa justamente a desvalorização do feminino vista no texto anterior. Se o Anel e Sauron não forem destruídos ela e a própria natureza irão sucumbir, uma vez que Sauron destrói as florestas sem piedade.
O princípio do Eros, da fertilidade e da sensualidade desaparecerão da consciência coletiva. E é nesse instante que Aragorn assume o compromisso de defender o reino para auxiliar a sua amada a não sucumbir. Aragorn, Legolas e Gimli partem para as minas Tirith. E Aragorn deve convencer o exército de mortos a lutar por ele. Os três então partem para a Senda dos Mortos.
Aragorn entra em uma caverna para se encontrar com os mortos, remetendo a uma descida ao Hades. Isso psicologicamente significa que ele deve se acertar e honrar os espíritos ancestrais. Os orientais são hábeis conhecedores dessa arte de reverenciar os ancestrais. Infelizmente nós ocidentais perdemos esse hábito.
Quando os Cavaleiros de Rohan partem para auxiliar Gondor na guerra, Merry e Éowyn, disfarçados, se juntam as tropas.
Éowyn que foi preterida por Aragorn agora luta e derrota o Rei Bruxo de Angmar e se torna a Rainha de Rohan, simbolizando a ascensão novamente do feminino.
E por fim O Anel é destruído. Frodo e Sam são resgatados pelas Águias de Gandalf. Aragorn é coroado rei de Gondor e se casa com Arween.
Agora a consciência foi renovada e o reino dos homens se firma.
O fato de Sauron ter morrido significa que quando um complexo morre nos contos, ou em sonhos, a energia (libido) que antes o avivava será investida em outro aspecto psíquico.
Os Hobbits retornam a sua terra. Tempos depois, Frodo se dirige aos Portos Cinzentos e junto de Bilbo, Gandalf, Elrond e Galadriel parte da Terra-Média para sempre. A missão deles foi cumprida!
E assim se finda a saga do Senhor dos Anéis.
FICHA TÉCNICA
O SENHOR DOS ANÉIS – O RETORNO DO REI
Título Original: The Lord of the Rings: The Return of the King
Direção: Peter Jackson
Música composta por: Howard Shore
Canção original: Into the West
Ano: 2003