“Quando um médico passou a ser mais do que um amigo de confiança e conhecimento, que visita e trata dos doentes?”
Patch Adams
Após se internar em uma clínica psiquiátrica por tentar suicídio, Hunter Adams descobre em si um potencial e vontade para ajudar os outros, dando-lhes atenção e ouvindo suas queixas. A partir de então, um dos amigos que faz enquanto esteve na clínica passa a chama-lo de Patch Adams, devido a sua capacidade de ajudar e curar as outras pessoas, assim como o ajudou. É neste momento, então, que decide ir para a faculdade de medicina onde se depara com a desumanização da profissão a partir dos preceitos pregados aos estudantes, através de pressupostos extremamente ortodoxos onde os alunos decoram estruturas biológicas e evita-se a dita transferência, ou seja, ligação emocional que se forma entre médico e paciente, dentre outros fatores, que leva o futuro médico a tornar-se próximo de um ser humano. Ao ingressar na faculdade de medicina, Patch visita regularmente o hospital conhecendo e fazendo amizade com as enfermeiras, e visitando os pacientes.
No presente momento no qual estamos vivendo, onde se gera uma discussão a respeito da aprovação do Senado sobre a Lei do Ato Médico, o filme nos mostra uma realidade ainda muito presente, a hierarquia entre a medicina e as demais profissões da área da saúde. Hunter Adams constrói uma imagem absolutamente diferente do estudo da medicina vigorada na época. Através do acolhimento e do afeto, Patch defende a qualidade de vida dos pacientes, buscando conhecê-los, realizando sonhos e mostrando a medicina como uma forma prazerosa de tratar das enfermidades. Uma das cenas marcantes do filme é quando em sua primeira visita ao hospital, Patch acidentalmente entra na ala pediátrica e se depara com diversas crianças deitadas. Utilizando-se de ferramentas médicas, faz um nariz de palhaço para divertir as crianças.
No momento de seu ingresso, ainda, Patch Adams apaixona-se por Carin Fischer, sua colega de faculdade e uma das poucas mulheres no curso de Medicina. No entanto, Carin não se demonstra interessada em prosseguir com o romance e, no decorrer do filme, Patch Adams conquista sua confiança e seu coração com o afeto que demonstra com as demais pessoas e a paixão pela verdadeira prática da medicina. Conhece, ainda, Truman Schiff, um simpático jovem rapaz que torna-se seu amigo de imediato, instigado a conhecer seus métodos.
Apesar de seus métodos pouco convencionais, Patch Adams é o primeiro da turma, com ótimo desempenho escolar. Todavia, suas notas não são o suficiente para convencer o reitor da universidade de medicina de seu enorme potencial como médico inovador das políticas da medicina. Enquanto Adams convive diariamente com os pacientes do hospital, tornando-os mais acessíveis, alegres e saudáveis através do elo emocional que é construído, a sociedade médica, em especial o mesmo reitor, sente-se ameaçado por esta atitude, repudiando-a e levando a juízo.
É através desse paralelo entre humanização da prática da medicina e o “endeusamento” do profissional que atua na medicina, que o filme nos mostra a importância da aproximação do profissional com o paciente, pois, desta forma, a qualidade de vida do paciente melhora exponencialmente, além da aceitação do tratamento. E é com esta paixão por exercer a profissão, esta humanização e melhoria da qualidade de vida através da atenção ao doente, que Patch Adams nos transmite a mensagem “o amor é contagioso”, pois este é o sentimento que um médico deve transmitir a seus pacientes.
No momento culminante do filme, quando Carin é assassinada por um dos pacientes que Patch ajuda, ele passa a se culpar por tê-la ensinado a medicina de ajudar a todos sem descriminação, assim como seu ideal de ser humano. Decide, então, desistir de seguir com seu sonho. Só então, quando coloca-se em reflexão, percebe a provação pela qual teve que passar para compreender o que é ser médico. Lidar com a morte como uma parte inevitável da vida e torná-la o menos dolorosa possível, não como o inimigo indestrutível. O verdadeiro inimigo da saúde é a indiferença que acarreta a falta de saúde, ou seja, a falta de qualidade de vida o que inclui dignidade, decência, condições saudáveis de existência e não simplesmente a ausência de patologias.
É com a paixão em ajudar ao outros que Patch finaliza o filme formando-se com mérito em medicina, levando consigo diversos outros médicos que apoiam seus métodos e sua causa.
Gosto de pensar neste filme como uma lição de vida, não só para futuros médicos, como também para todos os profissionais da área da saúde – e demais áreas que lidem diretamente com o ser humano -, pois, como estudante de psicologia penso no impacto que minhas palavras e atos causam no outro e a importância de transmitir afeto às pessoas que nos procuram. Além do mais, a proposta de igualar a figura do médico aos demais profissionais é crucial, pois, somente assim, é possível pensar na saúde através de uma equipe multidisciplinar.
FICHA TÉCNICA DO FILME:
PATCH ADAMS
Título original: Path Adams
Diretor: Tom Shadyac
Roteiro: Steve Oedekerk
Elenco: Robin Williams, Daniel London, Monica Potter, Philip Seymour Hoffman;
Ano: 1998
País: EUA
Gênero: Drama