Respeito à livre orientação sexual e reconhecimento ao nome social. Duas grandes bandeiras do movimento LGBT do Amazonas, reunidos no Seminário Norte de Humanização em Manaus. O evento foi realizado pelo Coletivo Norte de Humanização, apoiado pelo Ministério da Saúde. Apesar do nome oficial, anotado em registro de nascimento e em outros documentos oficiais, o movimento pela livre orientação sexual em Manaus quer reverter os casos de constantes constrangimentos, vividos, sobretudo, nas instituições públicas.
O Portal (En)Cena entrevistou Bruna La Close, presidente da Associação Amazonense de Lésbicas e Travestis, que destacou o trabalho na Capital.
Bruna La Close em entrevista ao portal (En)Cena
(En)Cena – Na primeira roda do Seminário Macro Norte de Humanização em Saúde você pautou a importância do nome social para o movimento LGBT. Quais as implicações que a não observação desse direito traz para o usuário do SUS?
Bruna La Close – A Humanização em Saúde faz parte de todos os direitos humanos, não somente dos direitos de gênero. O não respeito ao nome social acontece somente na esfera da saúde, na educação e em várias outras políticas públicas onde o travesti é usuário. Existe, a prática de você chegar no local de atendimento e irem sempre pelo nome do RG [Carteira de Identidade]. Essa é uma luta que o travesti traz: o nome social, como eu me identifico naquele momento, esse é o principal empecilho que a gente encontra. O constrangimento, onde eu estou e como vou ser chamada e é isso que acontece. É o nome social o principal, porque representa o respeito: Como ela deve ser chamada? Como ela gosta de ser chamada? Como ela deveria ser chamada?
Bruna La Close – Foto: Divulgação
(En)Cena – Você acredita que os profissionais na hora dos atendimentos, em todas as esferas do serviço público, são maus orientados para o trato com as pessoas representadas pelo movimento GLBT, por exemplo?
Bruna La Close – Quando a gente fala em movimento, tem que tratar movimento com todas suas especificidades, ou seja, colocar um hétero para falar com um gay, evidentemente, ele vai ter empecilhos tanto da parte dele, quanto da parte do gay. Porque ele não tem uma capacitação por questões de linguajar diferenciado. Inicia desde o tratamento. O travesti gosta de ser tratado como ela, e não como ele. Por aí já inicia a falta de respeito e, às vezes, o diretor, gestor da pessoa que está atendendo, já discrimina sem saber. É onde entra a falta de humanização, de conhecimento e capacitação dessas pessoas para atender a comunidade LGBT.
(En)Cena – Sobre essas demandas, quais os impactos que a mobilização social já produziu nas políticas públicas aqui no Amazonas?
Bruna La Close – A gente já tem aqui no estado do Amazonas, através da Secretaria de Assistência Social – SEAS, e da SEMARG, um pequeno projeto que busca a inclusão do nome social dos travestis. Ele foi concretizado através do governo do Estado, foi sancionado, só que não tem prática. Aliás, o setor público municipal não reconhece, por mais que você exija, mas não reconhece, ou seja, foi publicado, mas não foi trabalhada essa questão dentro das próprias esferas para que seja resolvida, colocada em prática.
(En)Cena – Qual o tipo de ação quando há um tratamento que vocês não aceitam?
Bruna La Close – A gente denuncia, porque às vezes, através dessa situação de constrangimento, gera uma discriminação, gera uma fobia. Qual é o nosso principal parceiro de denúncia? É a imprensa, quando a gente denuncia na imprensa, rapidamente tem uma resposta, mas daquela situação localizada.
(En)Cena – É algo pontual, momentâneo?
Bruna La Close – Cito um exemplo: Universidade do Estado do Amazonas – UEA, uma universidade muito forte dentro do estado, que discriminou barbaramente um homossexual, foi resolvido e o professor se retratou, mas através do movimento. Mas como? O “Movimento La Close” chegou à Universidade e informou a denúncia.
(En)Cena – São conquistas no dia-a-dia?
Bruna La Close – Então, não são conquistas que se diga que o governo, a prefeitura e demais esferas estejam com o movimento, mas o movimento lutando paralelamente que conseguiu a conquista tal, no momento tal.
Bruna La Close em entrevista para a Rede Bandeirantes durante a Parada do Orgulho LGBT 2012 – Foto: Divulgação
(En)Cena – Teria mais alguma coisa que você gostaria dizer sobre a humanização em saúde? Como essa política pode ser fortalecida?
Bruna La Close – Política de humanização, como eu disse anteriormente, é chamar! Você não vai tratar de uma política de humanização sem chamar o usuário, a população, a pessoa que sofre na pele. É o usuário que vai saber discutir o que ele passa, a situação do posto de saúde, do hospital. O usuário tem que estar presente, por que discussão de gestor para gestor, diretor para diretor, vai ser só discussão, um apoiando o outro e não se tem resultado de nada. O caminho é trazer a população para discussão.