A arte que desperta memórias: o cuidado que floresce no tempo

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Há um instante silencioso e profundo quando um idoso segura um pincel pela primeira vez em muitos anos, ou quando ouve uma canção que marcou a juventude. É como se o tempo, tão rígido e linear, de repente amolecesse, permitindo que algo adormecido voltasse à superfície. Nesse gesto simples, há muito mais do que uma atividade lúdica. Há reencontro, acolhimento e presença. A arteterapia com idosos é exatamente isso: um caminho delicado que resgata memórias, dignidade e humanidade.

Com o passar dos anos, a sociedade tende a reduzir o idoso ao que ele já não consegue mais fazer. Esquecem-se de suas histórias, de seus desejos, de sua criatividade ainda viva. Aos poucos, muitos deles passam a viver em silêncio, sufocados por rotinas repetitivas, pelo isolamento social e por sentimentos de inutilidade. A saúde mental se fragiliza, muitas vezes sem ser percebida. A solidão se instala com um peso que poucos ousam nomear. E, então, num canto calmo de uma sala qualquer, a arte acontece e transforma.

A arteterapia não exige habilidades técnicas. Não é preciso saber pintar, cantar ou esculpir. Basta estar disposto a se expressar. É uma linguagem que vai além das palavras, acessando emoções e lembranças que, por vezes, a fala não alcança mais. Para o idoso, esse espaço de expressão representa liberdade: liberdade de sentir, de recordar, de construir novos sentidos para si mesmo.

Fonte: https://encurtador.com.br/O8Kl8

Cada traço desenhado, cada cor escolhida, cada objeto moldado carrega fragmentos de histórias que pareciam esquecidas. Surgem lembranças da infância, da família, dos amores e até das perdas, mas agora vistas sob outra luz, com mais compreensão e menos dor. A arte cria pontes entre passado e presente, entre o idoso e o outro, entre o que foi e o que ainda pode ser.

No aspecto emocional, a arteterapia estimula funções cognitivas, motoras e sensoriais. Ela promove concentração, coordenação, memória e autonomia. Mais do que isso, ela oferece sentido. Em um mundo que tantas vezes negligencia o envelhecimento, a arte reafirma: você ainda importa, você ainda cria, você ainda sente.

E quando o idoso encontra um grupo, uma roda de expressão, um espaço seguro onde pode partilhar sua produção com outros, nasce também a socialização. Laços são criados, olhares se cruzam, sorrisos tímidos se transformam em cumplicidade. A arte, então, deixa de ser apenas expressão individual e torna-se afeto coletivo.

Promover arteterapia na terceira idade é mais do que oferecer uma atividade. É um ato político, terapêutico e profundamente humano. É garantir que o idoso continue se sentindo parte do mundo, autor da própria história. É cuidar com beleza, com respeito e com amor. Porque a velhice não é o fim da criação, é, muitas vezes, o momento em que ela floresce com mais verdade. 

Fonte: https://encurtador.com.br/QWLQf

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