Quando se vive em demasia no virtual, as habilidades sociais são perdidas ou não aprendidas e a tolerância e empatia com o diferente acabam não se desenvolvendo.
Pode-se observar claramente uma dependência que fica evidente nas redes sociais, onde usuários buscam que outros façam uma averiguação, avaliação e validação de suas vidas e isso pode demonstrar, em alguns casos, que apenas não estão convencidos do que são virtualmente ou da forma como vivem no real. Essa fragilidade pode ser anterior ao uso da internet e, com esta, apenas eclodiu com o uso das ferramentas de redes sociais que, implicitamente, mostram a insatisfação e a insegurança das pessoas consigo mesmas.
Vê-se todos os dias pessoas fazendo postagens onde exibem algo da sua vida no intuito de buscar uma auto-afirmação: “eu tenho o melhor carro”, “eu tenho amigos importantes”, “eu sou uma pessoa religiosa”, “eu sou uma pessoa linda”. Esse ego exagerado tem a função de compensação que acaba criando uma pessoa com fixação em agradar e ser agradada o tempo todo e que busca nos “likes” uma gratificação e exaltação de que ela aparentemente tenta construir nas postagens.
Dessa forma as redes sociais podem funcionar como um escudo protetor que na verdade nos priva de ter um real contato com a vida, pois podemos ser quem idealizamos ao mesmo tempo que falamos o que queremos, podendo apenas bloquear o perfil daquele que vai contra nosso ego. Bauman (2001) fala que tudo o que era sólido se liquidificou, o que reverberou também nas relações sócio/afetivas, agora regidas a partir de acordos temporários, passageiros, válidos até uma segunda ordem.
Neste sentido, quando ocorre uma frustração com algo ou alguém, ao invés de ter um diálogo, as pessoas recorrem às redes para despejar palavras na intenção de achar outro que apóie seu discurso que acaba sendo apenas um eco da própria voz – as chamadas bolhas políticas. Então quando se vive em demasia no virtual, as habilidades sociais tendem a ser perdidas ou não aprendidas e a tolerância e empatia com o diferente acaba não se desenvolvendo.
A rede social Instagram retirou a quantidade de “likes” na tentativa de resgatar o que foi proposto no início, que era mostrar momentos da sua vida sem a importância da popularidade. A idéia é que os usuários possam buscar por conteúdos que realmente sejam atrativos e não porque determinado perfil é famoso, se desprendendo desse mundo de números e recompensas.
Na psicanálise existe o conceito de gozo imagético que está relacionado com a imagem que o sujeito constrói de si, e o tipo de prazer que a pessoa sente com isso. Mas quando se fala de gozo, na psicanálise, acaba se remetendo a Lacan que fala que o gozo vai além do prazer, pois a pessoa deseja ser mais especial que todas as outras.
Portanto, o uso de qualquer rede social deve ser um ponto de reflexão, se estamos usando ou sendo usados a fim de perceber se o prazer que temos ali é real. Se existe espaço para autenticidade e aceitação das diferenças como algo comum e assim preservar a saúde mental. Compreendendo que o virtual não é de todo mal, mas não deve ser substituto das relações fisicamente próximas, pois é com o embate de ideias e com o diferente que se aprende.
Referências
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.