A educação falhou e os jovens sabem disso

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14Durante décadas, o sistema educacional foi vendido como o passaporte para o sucesso. Estude, tire boas notas, entre numa boa faculdade, conquiste um bom emprego e tudo dará certo. Só que, infelizmente, essa não é a realidade de muitos. Os jovens de hoje não só duvidam desse caminho, como também perceberam, com clareza, que a escola e a universidade tradicionais já não preparam ninguém para o mundo real. Cresceram ouvindo que “a educação muda tudo”, mas quando olham ao redor, veem profissionais qualificados desempregados, jovens formados em boas universidades entregando currículo em locais não correspondentes com o que poderiam entregar, ou presos a empregos medíocres com dívidas estudantis que levarão anos para quitar. A promessa foi quebrada e a frustração é coletiva.

Eles estão em salas de aula do século XIX, com professores do século XX, tentando entender um século XXI que muda em tempo real. Aprendem fórmulas, datas e teorias, mas saem sem saber lidar com a ansiedade, sem entender como funcionam os próprios direitos, ou como encontrar uma direção em meio a tanta incerteza. A escola tradicional, em muitos casos, ainda finge que o mundo é previsível, linear, controlável. Mas os jovens vivem uma realidade completamente diferente, totalmente hiperconectada, instável, cheia de transições e atravessada por crises globais climáticas, políticas e emocionais. Eles percebem que aprender a decorar conteúdos para provas não os ajuda a navegar a vida. Sentem, com desconforto crescente, que estão sendo preparados para um mundo que não existe mais.

Mais do que isso, os jovens sabem que muitos dos conhecimentos mais valiosos para suas vidas, como programação, marketing digital, inteligência emocional, empreendedorismo, arte, autocuidado ou política, estão fora da escola. Eles aprendem com vídeos no YouTube, fóruns online, cursos independentes, influenciadores especializados, ou simplesmente errando e tentando de novo. Essa geração não quer apenas empregabilidade, ela quer sentido. Quer aprender coisas que dialoguem com sua identidade, seus dilemas e seus sonhos. Quer saber como se posicionar no mundo, como empreender, como construir algo que tenha impacto real. Quer aprender a lidar com saúde mental, desigualdade, tecnologia, colaboração, inteligência artificial. Mas encontra um sistema que ainda separa “vida pessoal” de “conhecimento acadêmico”, como se o aprender não fosse, antes de tudo, humano.

O respeito automático à autoridade acadêmica já não existe. Não basta ter diploma, é preciso ter repertório, visão e, acima de tudo, escuta. Jovens valorizam quem ensina com propósito, quem atualiza o conteúdo, quem reconhece que também está aprendendo. Para essa geração, o bom professor não é o que tem todas as respostas, mas o que sabe fazer boas perguntas. Há um abismo entre o que os jovens querem aprender e o que o sistema ainda ensina, e nesse vácuo de relevância nasce uma nova consciência, a de que a educação precisa ser reinventada e não apenas reformada. Não basta ensinar conteúdo, é preciso formar consciência, autonomia, imaginação crítica. E isso só acontece quando se respeita o jovem como protagonista da sua própria formação, não como um receptor passivo de normas ultrapassadas.

A crise na educação é, na verdade, uma crise de relevância. E os jovens não querem um ensino que os prepare para o mercado, querem um ensino que os prepare para a vida.

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