Matheus Vale Campagnac
Carl Gustav Jung foi um psiquiatra suíço que fez uma grande contribuição para a ciência da psicologia com os construtos de sua teoria. Sua maior conquista fora a descoberta da existência de uma instância psíquica mais profunda que o inconsciente proposto por Sigmund Freud, o inconsciente coletivo. Para Jung, o inconsciente coletivo é todo o conteúdo herdado filogeneticamente e que é culturalmente passado de geração em geração.
Retoma ainda, elencando conteúdos presentes dentro do inconsciente coletivo que são denominados de arquétipos, padrões mentais instintivos que representam toda a multiplicidade de ações humanas já reproduzidas anteriormente à vida daquele indivíduo. Jung complementa que os arquétipos são representados por imagens que se materializam em conteúdos oníricos, fantasias e também por meio de um mergulho dentro dessa instância psíquica mais profunda.
Existe um arquétipo para diferentes ações humanas inconscientes, e esta multiplicidade é fruto de tudo que já fora reproduzido inexoravelmente em todas as gerações e eras anteriores ao surgimento do indivíduo contemporâneo. Nesse sentido, arquétipos são metáforas que representam sentimentos, ações e imagens específicas. Jung reafirma que como existem milhares de arquétipos, eles precisam ser pesquisados, analisados e descobertos por estudiosos focados no tema. Contudo, ele contribuiu com a descoberta de arquétipos perceptíveis na sociedade de maneira geral, e que embasam os conteúdos de sua teoria.
Inicialmente Jung descobre a existência de arquétipos básicos à natureza humana, tais como a Persona, Anima, Animus, a Sombra, o Ego, o Self, Logos e Eros, dentre outros. A Descoberta de Jung sobre os arquétipos de Logos e Eros, iluminou uma perspectiva revolucionária e na contemporaneidade gera reflexões incríveis sobre como o conceito do que socialmente é definido como papel de gênero, é incongruente e incorreto.
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Atualmente é perceptível a ideia de que a mulher e o homem possuem papéis pré-definidos e que precisam seguir cegamente as regras propostas pela sociedade e caso as contrariem, são rejeitados pela mesma e vítimas de constantes preconceitos e embates. Essa perspectiva redutiva, determinista e autoritária pregada a séculos é errônea e gera consequências desastrosas na atualidade. A contribuição de Jung enfrenta completamente essas perspectivas e explica sobre as consequências caso a sociedade permaneça nessa centralização dos papeis delimitados para cada gênero.
Os arquétipos de Logos e Eros representam esquemas presentes em todos os seres humanos, todos os indivíduos possuem essa dualidade dentro de si. O arquétipo de Eros é uma metáfora relacionada a um padrão comportamental afetivo e emocional, já o arquétipo de Logos é voltado para um comportamento mais reflexivo, analítico e lógico. Na sociedade contemporânea, compreende-se que existe uma criação voltada a perspectiva de papéis de gênero e fixação de ambos os arquétipos em determinados gêneros.
Na mulher, observa-se que desde os primórdios da civilização ocidental, e até a contemporaneidade, são estimuladas em sua criação a seguirem cegamente esses papeis afetivos, nutritivos, emocionais e pouco focados em sua parte mais lógica, analítica. Isso não significa que o arquétipo de Logos não esteja presente, contudo, está inconsciente e é pouco estimulado, essa falta de atenção voltada a uma parte da psique, também gera sofrimento. Em contrapartida, homens são estimulados a serem pouco emocionais, afetivos e mais lógicos, racionais, frios.
Esse delineamento enraizado de papéis gera sofrimento para ambas as partes, pois a psique precisa manter um equilíbrio entre todas as suas funções psíquicas, arquétipos e complexos. A falsa sensação da existência de papéis de gênero é milenar e desde sua elucidação leva indivíduos a negarem partes importantes de si, o que influenciou e corrobora para desastres, guerras, preconceitos.
Portanto, compreende-se que o objetivo primordial para que ocorra uma mudança de cenário, seria conscientizar os indivíduos desses padrões inconscientes sociais que o impedem de exercer a si mesmo, com clareza e sinceridade, promovendo assim uma sociedade mais livre e forte para lidar com seus conflitos psíquicos internos. Nesse sentido, a maior conquista seria fazer com que a sociedade se ilumine nessa perspectiva da não existência de papéis, e que no final todos podem exercer qualquer tipo de ação, independente de gênero e cor.