Não sinto falta do mundo quando olho as páginas passadas do calendário, mas sim dos óculos escuros que eu usava aos treze anos. O mundo de lá pra cá, a cada virar de páginas transformou-se apenas um amontoado de produtos a custo benefício. Vender, comprar, revender, jogar fora e depois comprar mais uma vez.
É sempre assim, a gente nunca sabe o que virá depois dos dezoito, ou dos vinte, trinta, quarenta, sabe-se lá, qualquer ano, qualquer aniversário. Ficamos apenas idealizando, quando tiver tal idade faço isso, em tal idade faço aquilo, aí quando a tal idade chega tudo o que queremos mesmo, de verdade, é voltar pra página vinte do livro da vida. Então para que avançar no calendário? Para que comemorar?
Óculos como aquele dos treze anos, eu jamais terei. Eles eram a ilusão de um mundo perfeito, todo encaixado, feito pra você, igual à propaganda, mas aí agente olha no espelho e já não tem mais aquela cara, não vai combinar. Escrever um livro? Plantar uma árvore? Ter um filho? Alguém ainda faz esse tipo de conta ano a ano enquanto espera o bendito calendário virar e mais uma ruga nascer em sua face? Se fosse realmente escrever o tal livro, o que contar? Algumas histórias tristes de quem não teve sorte alguma no amor e em outras coisas a mais? Uma vida e um trabalho que não te levaram a lugar algum, mas pagaram as tuas contas? Ou uma vida que te levou para qualquer lugar, menos de volta a página vinte.
Falar que o tempo passa é fácil, difícil mesmo é ver que ele realmente passou e não se emocionar, ou se revoltar com as fotos comprovando o fato. Em tempos de redes sociais então, onde está tudo lá estampado na sua timeline. Aí nos resta lembrar, e da forma mais nostálgica possível de que no meu tempo, nos anos oitenta, na época em que refrigerante tinha rolha e não tampinha, e por aí vai, tecendo um corolário de lamentações como se o tempo bom para se viver não fosse agora, esquecendo que a cada comemorar de uma nova data, você queria mesmo era o tal futuro.
O futuro é agora! E agora? Mais um ano chegou, mais uma rede social explodiu, mais uma chance que passou. Falar do hoje, bem agora olhando a data de feliz aniversário rindo da sua cara, sem esboçar uma expressão de insatisfação ou de preocupação, é uma tarefa pra lá de difícil, quem sabe daqui uns dez anos, quando olharmos para aquela selfie daquele aniversário cheio de esperança, agente não para frente e diga que aquele olhar de ontem enxerga exatamente tudo o que se é agora.