Adolescência e a Eco-ansiedade: O Medo e Desesperança Frente à Crise Climática de uma Perspectiva Psicossocial

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A humanidade, com o passar das eras, se tornou algo mais do que uma espécie que habita esse planeta e passou a atuar como um agente modificador global. No momento, a maneira como nos estruturamos como sociedade não visa o bem-estar geral da humanidade enquanto espécie. Atualmente, o sistema que rege nossas sociedades é o capitalismo, que tem como base o lucro e o consumo desenfreado. Por consequência, chegamos a uma contradição: o nosso planeta não possui recursos infinitos.

A temperatura global se eleva ano após ano, o que acarreta diversas problemáticas: aumento do nível do mar, inundações, queimadas, extinção de espécies, diminuição da produção de alimentos, disseminação de doenças, aumento de complicações respiratórias e mais uma enorme quantidade de fatores. A nossa geração está sofrendo algo que nenhuma anterior enfrentou: o provável fim de nossa espécie.

Trarei à discussão o conceito de eco-ansiedade, que está ganhando destaque para descrever o medo e a ansiedade diante da crise climática iminente. “A eco-ansiedade pode ser vista como uma experiência de sentimentos de impotência, imprevisibilidade e incerteza acerca do futuro devido às alterações climáticas” (Jaques, 2023, p. 9). Ao contrário da ansiedade posta como transtorno, o medo quanto a esse futuro está baseado em probabilidades feitas por um método científico, e os reflexos já estão influenciando as nossas vivências, dificultando negar as projeções como fatos.

A geração atual de jovens está em vulnerabilidade quanto à eco-ansiedade, principalmente os de países de zonas tropicais, que são potencialmente mais atingidos pelas consequências da crise global. O bem-estar psicológico dos jovens é impactado por uma variedade de fatores, principalmente por serem eles que vivenciarão as consequências dos atuais acontecimentos a longo prazo. Além disso, diversos sujeitos já estão vivenciando os desastres associados às mudanças climáticas.

Diante dos fatos, é observável que as novas gerações de jovens estão experimentando diversos dilemas sobre mortalidade em uma fase na qual não possuem um repertório e maturidade suficientes para lidar de maneira psicologicamente saudável. Pode haver para o jovem uma falta de sentido em suas vidas, já que consideram que acabarão em breve, o que afeta diretamente sua motivação quanto às demandas apresentadas a eles, seja na escola, trabalho ou até em suas relações.

As mudanças quanto ao aquecimento global são reflexos de decisões tomadas pelos governantes das nações e estão à mercê dos próprios, pois as ações individuais não conseguem afetar esse macro tão efetivamente. O que causa no adolescente uma sensação de impotência, preocupação, medo e, principalmente, traição, visto que o governo que deveria representá-los invisibiliza ou invalida as opiniões dos mesmos, mesmo que, no Brasil, a Constituição Federal garanta o meio ambiente como patrimônio público.

Os indivíduos que estão entre os 1% mais ricos do mundo, no ano de 2019, foram responsáveis pela emissão de carbono equivalente aos 66% da população mais pobre, descreve a jornalista Beatrice Mesiano (2023). Entretanto, a forma como a mídia e as políticas públicas tratam a problemática busca alienar a população de que os principais causadores da poluição são as grandes empresas e indústrias. A todo momento, tentam atribuir a causa como um problema individual, com as famosas frases “gaste menos água” ou “troque seu carro por uma bicicleta”, o que acaba contribuindo para que o sujeito tenha uma sensação de culpa quanto à piora da situação climática.

Dessa maneira, as respostas quanto à eco-ansiedade, que causam prejuízos significativos na psique dos jovens, podem, sim, ser uma tentativa de psicologizar através do uso de métodos com foco em resiliência e regulação emocional. Entretanto, dessa forma, a crise climática prossegue até um eventual colapso. Outro modo mais efetivo, entretanto complexo, seria uma abordagem mais social quanto às demandas, buscar a conscientização da população sobre a realidade material do que de fato estamos enfrentando e, assim, a transformação da raiva, impotência e medo em revolta, para que os governos e nossos representantes efetivamente levem em consideração as nossas reivindicações.

 

Referências

DOS SANTOS, Cristiano Lange; DOS SANTOS BRAGA, Juliana Toralles. Capítulo 02 – Eco-ansiedade: reflexões sobre a angústia da juventude relacionada à crise ecológica. Direitos de Juventude, v. 88815, p. 36.

JAQUES, Ana Catarina Lomba. Os jovens e a eco-ansiedade: fatores preditores. 2023. Tese (Doutorado).

MESIANO, Beatrice. 1% mais rico do mundo emite tanto CO2 quanto os 66% da parcela mais pobre. Brasília, 21 nov. 2023. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/1-mais-rico-do-mundo-emite-tanto-co2-quanto-os-66-da-parcela-mais-pobre/. Acesso em: 22 set. 2024.

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