Dinheiro na mão é vendaval
Na vida de um sonhador
Quanta gente aí se engana
E cai da cama
Com toda ilusão que sonhou
E a grandeza se desfaz
quando a solidão
É mais…
(Pecado Capital – Paulinho da Viola)
I. A semente do PECADO
Não é pelo Jardim do Éden que esta história começa (tampouco termina). Se há um ponto de partida interessante para se falar do sagrado, ou mesmo de religião, esse ponto é desde quando e como os preceitos religiosos católicos intensificaram e atravessaram gerações, ao constar-se que tal religião perdura fortemente até os dias de hoje e introduziu a noção dos 7 Pecados Capitais, tratados nessa série.
Os preceitos religiosos católicos, por vários vieses, foram-se adentrando na relação humana com o pecado. Quando a confissão pública perdeu sua mágica, pois a época da Idade Média já previa uma leve alteridade ao antropocentrismo, a noção de confissão privada ganhou terreno através da consciência do pecador. O pecador, portanto, devia reavaliar suas ações, julgá-las através de sua consciência, arrepender-se das ações “erradas”, confessá-las às autoridades (nesse caso, os padres) e pagar as penitências impostas por essas autoridades, de acordo com a gravidade do pecado.
Para o Catolicismo, o pecado representa uma prisão ou falta de liberdade, bem como a incapacidade que alguém tem de agir conforme a razão. O homem em pecado é tido como o homem escravo do diabo.
De acordo com Ferreira (1999) pecado significa “transgressão de preceitos religiosos”, “vício”, “culpa”, “falta” e “demônio” (FERREIRA, 1999, p.411).
No Catolicismo, a origem do mal está no homem. O mal é fruto do pecado e ocorre através do livre-arbítrio dado por Deus ao homem que, infortunadamente, faz uma má escolha. A partir disso, Rocha (2011) destaca que o auge da confissão privada trouxe consigo a distinção de dois pecados:
“[…] o primeiro seria aquele que o homem traz consigo sem conhecimento ativo, cuja punição é a perda de visão de Deus; já o segundo que, dependeria do livre-arbítrio, poderia acarretar a punição eterna, no Inferno.” (ROCHA, 2011, p.10 apud LE GOFF, 1987: 276).
Com isso os Sete Pecados Capitais surgem oficialmente no Catolicismo no século XIII da Idade Média:
“A igreja criou uma lista de pecados particularmente graves que acarretam a danação do pecador, morto sem penitência. Esta lista se fixou em sete pecados capitais: soberba, inveja, avareza, cupidez, luxúria, ira e preguiça” (ROCHA, 2011, ps. 10 e 11).
Embora os pecados capitais tenham sido listados pela Igreja Católica somente no século XIII, outras civilizações, anteriores à época do Cristianismo, já abordavam os pecados. Os gregos já enxergavam a depressão e melancolia como um vício, mas somente no Catolicismo essa depressão foi associada ao pecado da Preguiça.
Daqui elucida-se uma questão: os pecados são estados ou atos? Rocha (2011) defende que enquanto estados, eles são vícios e enquanto atos são pecados consumados em si.
Antes da lista dos sete pecados capitais, os pecados eram conhecidos como: pecado atual, da carne, habitual, mortal e original. Hoje a distinção se dá pela falta de consciência ou não para cometê-los. Como já dito e repetido em outros textos da série, o termo “Capital” é derivado da palavra em latim “caput” (cabeça) que se refere aos pecados que, se cometidos, podem originar outros tipos de pecados.Em outras religiões (como Judaísmo e Protestantismo) há referências ao pecado, mas o termo “capital” foi originalmente criado e adotado pelo Catolicismo no século XIII.
Para a religião Católica, há dois remédios para o pecado: o arrependimento e a confissão. Os combatentes para os 7 Pecados são as 7 Virtudes (em breve em outra série, aqui no (En)Cena).
Segundo Eliade (2008), o homem se relaciona no mundo de duas maneiras diferentes, sendo uma delas o sagrado – enquanto modalidade de ser no mundo – e o profano. O sagrado e o profano constituem“duas situações existenciais assumidas pelo homem ao longo da sua história” (ELIADE. 2008, p. 20). Estas formas de se relacionar com o mundo se dão porque o mundo permite que haja esse jogo dual na existência humana. A dualidade referente a esse texto se dá entre a abundância e a avareza. A segunda é considerada como pecado porque é profana e se mantém oposta àquilo que é sagrado, que seria a abundância.
Vilém Flusser (2006), em seu livro “A história do Diabo”, defende que os pecados são praticamente inócuos:
Soberba é a consciência de si mesmo. Avareza é economia. Luxuria é instinto (ou afirmação da vida). Gula é melhora do standard de vida. Inveja é luta pela justiça social e liberdade política (FLUSSER, 2006, p.25).
Os pecados ainda são distintos quanto à forma como afetam o ser humano em sua existência. A gula e a luxúria afetam a carne ou o corpo; a vaidade e a soberba afetam a mente ou intelecto humano, a ira e a avareza afetam o coração, as emoções e os sentimentos.
II. Prelúdios sobre Avareza
De acordo com Brandão (1997), Avareza (Avaritia), em latim Avarus, está relacionada ao verboAvare, que significa “querer muito” ou “desejar desesperadamente”.
A palavra em si não designa que este “querer muito” está associado ao dinheiro e ao acúmulo de bens materiais.
Seriam, pois, avarentas as mulheres que “desesperadamente desejam” ter um filho? Seriam avarentas as pessoas que abdicam do pecado da Preguiça -não para adquirirem bens – mas para realizarem o “querer muito viver confortavelmente”? Seria avarento o Amor que dele mesmo se alimenta e se nutre aumentando-se cada vez mais em abundância?
A questão não está no “querer muito”, mas sim no que se faz para que esse querer seja alcançado. Eis a brecha para o tal do pecado. Santo Agostinho foi quem associou a Avareza ao acúmulo de bens.
III. Personalidade Avarenta e a Teoria Psicanalítica
Outro aspecto da Avareza é que ela não designa somente ganância em acumular bens materiais, mas também designa o medo que a pessoa avarenta tem em perder algo que já possui. Neste caso, a avareza é vista como um apego exagerado ao que se possui, além referir a incapacidade que a pessoa avarenta tem em conceber perdas, principalmente no campo material.
O avarento tem dificuldades em fazer trocas e investimentos. Tem uma crença de que a maioria dos negócios é desvantajosa e que a maioria das pessoas, se puder, lhe “passará a perna”. Eles são também chamados de egoístas, ambiciosos, gananciosos e sovinas.
O dinheiro para o avarento é, segundo Freud (1917), um objeto de desejo. Para o pai da psicanálise, em sua obra “As transformações do instinto exemplificadas no erotismo anal”, de 1917, o erotismo anal (advindo da retenção de fezes – encoprese – e incontinência fecal na fase da primeira infância) tem equivalência simbólica ao dinheiro.
Freud (1917) apontou que alguns indivíduos se distinguem de outros por determinados traços de caráter e que esses traços se referem à:1) ordem, 2) parcimônia e 3) obstinação. No caso do avarento, o traço da parcimônia é o que prevalece através de um exagerado esmero a assuntos econômicos e financeiros.
A retenção feita na fase anal é transformada através do mecanismo de sublimação, fazendo com que o avarento despenda bastante tempo de sua vida para a superação dessa fase através da retenção de dinheiro. É quando Freud (1917) relaciona dinheiro às fezes:
[…] onde quer que tenham predominado ou ainda persistam as formas arcaicas do pensamento – nas antigas civilizações, nos mitos, nos contos de fadas e superstições, no pensamento inconsciente, nos sonhos e nas neuroses – o dinheiro é intimamente relacionado com a sujeira. Sabemos que o ouro entregue pelo diabo a seus bem-amados converte-se em excremento após sua partida, e o diabo nada mais é do que a personificação da vida instintual inconsciente reprimida. Também conhecemos a superstição que liga a descoberta de um tesouro com a defecação, e todos estão familiarizados com a figura do ‘cagador de ducados’ [Dukatenscheisser]’. Na verdade, segundo as antigas doutrinas da Babilônia, o ouro são ‘as fezes do Inferno’ (Mammon = ilu manman). Assim, aqui como em outras ocasiões, a neurose, acompanhando os usos da linguagem, toma as palavras no seu sentido original e significativo; parecendo utilizá-las em seu sentido figurado, está na realidade simplesmente devolvendo a elas seu sentido primitivo […] (FREUD, 1917, 162-164).
Para Freud (1917) acontece com o sujeito a transferência da impulsão primitiva para o objetivo emergente, pois ele enxerga os caráteres citados acima como prolongamentos inalterados dos instintos originais ou mesmo a sublimação desses instintos como reações contra eles mesmos. O autor afirma que “a defecação proporciona a primeira oportunidade em que a criança deve decidir entre uma atitude narcísica e uma atitude de amor objetal. Ou reparte obedientemente as suas fezes, ‘sacrifica-as’ ao seu amor, ou as retém com a finalidade de satisfação” (FREUD, 1917, p.139).
Assim, as fezes, que são tidas pelo bebê como o seu primeiro presente concreto, transferem-se simbolicamente à coisa mais valiosa do mundo: o dinheiro. Disso surge o prazer parcimonioso do avarento em guardar dinheiro como lembrança do prazer inconsciente infantil de reter as fezes.
IV. O pecado da Avarenta Avareza
A avareza enquanto apego à fortuna foi convencionada como pecado, segundo Testa (2001), frente a uma desigualdade social marcante:
Realizando uma leitura sob um viés sócio-político, as composições podem representar o embate entre classes, ou seja, aqueles que detêm o pão: os ricos; a classe dominante (uma minoria) e aqueles que estão à mercê desta classe dominante; os pobres, os dominados (a maioria). Este jogo entre abundância e escassez, entre os que têm o alimento em suas mesas e os que apenas vêem o alimento, pois este está inacessível e somente pode ser olhado e desejado, configura o alimento como alvo de disputa, de lutas, sendo estas cada vez mais acirradas, alimentando a ideia dos pecados capitais, principalmente, se contextualizadas do ponto de vista da desigualdade social, que é uma das mazelas que predominam no sistema capitalista (TESTA, 2011, p.9).
Flusser (2006) defende que a tentação só escolhe onde mora o desejo. Assim, se há desejos embutidos nos pecados, há formas prazerosas de cometê-los. A Igreja Católica pondera que se há pecado e há prazer, há também castigo. Parece um embate constante entre o Hedonismo Capitalista, que costuma dizer que “a vida é uma só”, e as pregações religiosas, com suas promessas de paraíso e vida eterna. No entanto, são esses mesmos embates que adornam a existência do homem e o constrói com crenças, regras, ações, valores, ética e moral.
Assim, a avareza enquanto prazer em acumular bens materiais fere as virtudes da Generosidade (que é o dar sem esperar receber) e da Caridade (que é a manifestação de disposição ao outro, podendo esta disposição ser material). Aqui, é como se o que é tido como pecado e o que é considerado virtude não pudessem coexistir, pois um anula o outro. A generosidade é tida como o maior combatente da avareza.
Na era capitalista, em que a questão do dinheiro e da posse de bens materiais toma uma dimensão imensurável, todos os pecados – exceto a Preguiça – parecem estar exaltados, enquanto as virtudes parecem estar aniquiladas ou submergidas.
A avareza perdeu seu caráter inócuo quanto foi associada à idolatria. Via de regra, a Igreja Católica não admite que as pessoas idolatrem o dinheiro, quando somente Deus é digno de idolatria. Por não querer, com polêmicas, parecer parcial nesta questão, terminarei esse assunto da idolatria com um ponto final.
V. Se há pecado, há, pois, castigo.
Os Sete Pecados Capitais não são expressamente tratados na Bíblia Sagrada (1982), mas inúmeras são as passagens bíblicas que dizem, em formas de metáforas, sermões ou mesmo parábolas, do que é hoje chamado de pecado, além de dizer sobre as punições. A referência mais explícita sobre a Avareza é encontrada em Êxodo 20:17, quando são tratados os 10 Mandamentos. Na lei mosaica a avareza está expressa no décimo mandamento que diz: “Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.” Neste caso, a avareza se funde à inveja, sendo o termo “cobiça” designado como um desejo imoderado e inconfessável de possuir; no caso da inveja esse desejo relaciona-se mais ao “ser” do que ao “ter”, embora se misturem.
A seguir são apresentados alguns versículos bíblicos, provenientes de várias partes da bíblia, ou de vários livros nela embutidos, que falam da avareza e do que os avarentos podem e devem esperar como castigo:
1) “Acaso alguém pode esconder fogo consigo sem que se queime a sua roupa?” (Provérbios, 6:27)
2) “Quem esconde o trigo será amaldiçoado pelo povo; mas a benção está sob os que vendem” (Provérbios,11:26)
3) “Quem confia nas suas riquezas cairá; os justos, porém, como folhas verdes germinarão” (Provérbios,11:28)
4) “Há quem seja tido por rico, e nada tem; e há quem se faz de pobre, possuindo muitos bens. A garantia da vida de um rico são as suas riquezas; quem é pobre não sofre ameaças” (Provérbios,13: 7 e 8)
5) “Quem é bom deixa herança para filhos e netos, a riqueza do pecador é guardada para o justo” (Provérbios,13:22)
6) “Para que serve o dinheiro na mão do insensato? Para comprar a Sabedoria, se ele não tem Juízo?” (Provérbios,17:16)
7) “Quem ajunta tesouros com língua mentirosa, o vento lançará nos laços da morte” (Provérbios, 21:4)
8) “Mais vale um bom nome do que muitas riquezas; acima do ouro e da prata, o bom acolhimento” (Provérbios, 22:1)
9) “Não te afadigues para enriquecer mas, com tua prudência, acalma-te. Se levantares os olhos para as riquezas, elas já desapareceram: pois se cobrem de penas como águias e voam pelos ares” (Provérbios, 23:4 e 5)
10) “Tem pressa em ficar rico o ambicioso, e não sabe que a indigência vai cair sobre ele” (Provérbios, 28:22)
11) “Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Lucas 12:15)
12) “Pois o amor ao dinheiro é uma fonte de todos os tipos de males. E algumas pessoas, por quererem tanto ter dinheiro, se desviaram da fé e encheram a sua vida de sofrimentos” (Timóteo, 6:10)
13) “Seja a vossa vida sem avareza. Se você deseja ter a salvação, uma das medidas é deixar de ser avarento, abra os seus olhos, e vigie para que este sentimento não venha amarrar a sua vida e atrapalhar o seu sonho de conquistar a salvação” (Hebreus, 13:5).
(Fonte: Google Imagens)
A maioria dos versículos fala mais da soberba associada a avareza.
No Espiritismo, no Livro dos Espíritos (1994), de Allan Kardec, também há referências (que não foram transcritas nesse trabalho) sobre a Avareza, entre as perguntas 901 e 906.
Na verdade, a avareza é vista como um dos pecados mais perigosos porque, se de um lado ela ambiciona o acúmulo de bens e de outro ela evita a tudo custo que os bens já adquiridos sejam desfeitos ou se esvaiam, as formas de nutrir a avareza (eis que é ela um pecado capital que incita outros) podem ser naturalmente outros pecados.
VI. Avarezas e avarezas
É comum e corriqueiro referir-se à Avareza a partir da ótica religiosa do Catolicismo e de suas ferramentas doutrinárias, assim como é natural existir outras óticas que falam da Avareza, como foi o caso de Flusser (2006) ao dizer da inocuidade dos pecados e como foi o caso de Freud (1917) ao associar o caráter parcimonioso daquele que junta dinheiro a um desejo inconsciente da primeira infância.
Como já debatido também, o termo Avareza em sua natureza genuína ou etiológica, não pode ser considerada como pecado quando ainda não associada ao dinheiro.
Sartre (1963), ateu convicto, em sua obra “Reflexões sobre a questão judaica”, discute sobre a avareza judaica e a avareza cristã, as distinguindo substancialmente. Para Sartre (1963) o judeu (assim como todo homem) é diferente e singular. O Judaísmo em si é peculiar dando caráter distinto à avareza tradicional dos judeus. Para o autor, a avareza judaica é uma tradição, não um pecado. A avareza judaica foi condenada pelo intuito de universalizar o homem a uma só regra (neste caso, a católica). Essa universalização do homem já foi e ainda é pretexto para dizeres e práticas anti-semetistas (como no caso de inquisições, cruzadas e o marcante holocausto).
Para Sartre (1963), que considera o homem enquanto umser em situação, os sujeitos não possuem essência que possa ser considerada inata, boa ou má. Para ele, a avareza não é uma natureza de traços componentes de um indivíduo, que remanesce idêntica em todas as circunstâncias, mas sim algo que diz de valores maiores, como a forma que um povo tem de compor sua família, de fazer suas riquezas, suas economias e seu desenvolvimento. Para o filósofo não existe natureza humana senão situacional e se há pecado no mundo é aquele que tenta universalizar o que é singular, pecado que, segundo Sartre (1963), dissolve a “riqueza simbólica” do ser humano.
VII. Avareza no meio artístico
Assim como a Bíblia se disseminou para falar de um saber, assim como Flusser, Freud e Sartre escreveram livros para dizerem de seus argumentos, outros autores, de diversas áreas, usaram-se de seus meios para contar-nos sobre a Avareza. Muitos desses contos classificam-se na comédia-trágica, numa mistura de humor e lamento.
Hoje em dia, ao associar Avareza ao telejornalismo, encontramos, por vezes, um “furo de reportagem, o esconde-esconde dos fatos para que o telejornal se destaque a partirde uma notícia bombástica que nem sempre é devidamente apurada” (JUNIOR, 2008, p.1).
No teatro (e também em livro), encontramos a peça e obra L’Avare (1668), em português “O Avarento”, do dramaturgo francês Jean Baptiste de Molière (1622 – 1673), onde Harpagon é o personagem que tem ouro enterrado no quintal e vive o terror de ser roubado, além de não deixar sua filha casar com um pobretão. A moral dessa obra é a de que a avareza traz discórdia e desentendimento familiar.
Harpagon, O Avarento, de Jean Baptiste Molière – peça teatral (Fonte: Google Imagens)
Outro avarento destacável é Shylock, da obra Shakespeareana “O Mercador de Veneza (1596-1598). Shylock é um agiota judeu que faz um contrato instigante com o protagonista Antonio. A obra é parcialmente criticada como anti-semetista.
Al Pacino como Shylock no filme O Mercador de Veneza (2004) – (Fonte: Google Imagens)
Não poderia faltar o rabugen… ops, avarento Ebenezer Scrooge, do romance “A Christmas Carol” (Um conto de Natal – 1843) do romancista inglês Charles Dickens (1812-1870). Scrooge é um homem que, a princípio, odeia tudo e todos, mas há em sua vida uma reviravolta, como uma lição da remissão dos pecados.
Personagem Scrooge, no filme A Christmas Carol (2008) – (Fonte: Google Imagens)
Na dramaturgia brasileira, destacam-se dois personagens: Nonô Correia, da novela “Amor com Amor se paga” (1984), interpretado pelo ator Ary Fontoura, e Conde Claus, da novela “Chocolate com Pimenta” (2003-2004), interpretado por Cláudio Correia e Castro. Na primeira novela, o personagem levava uma vida miserável e mesquinha mesmo contendo uma fortuna escondida. A comicidade estava em trancar sua geladeira para que ninguém roubasse sua comida. Já o Conde Claus era um banqueiro egoísta que costumava aplicar golpes nas pessoas para acumular dinheiro.
Nonô Correia (Ary Fontoura) em Amor com Amor se paga (1984)- (Fonte: Google Imagens)
Conde Claus (Cláudio Correia e Castro) na novela Chocolate com Pimenta (2003-2004) – (Fonte: Google Imagens)
Por fim, mas não por ser menos importante, mas sim para fecharmos com chave de ouro, já que em se falando de ouro é dele mesmo que estamos falando, está o conhecido personagem “Srooge McDuck”, ou melhor “Tio Patinhas”, inspirado no Scrooge de Dickens, criado pelo cartunista Carl Barks (1901-2000) em 1947. Tio Patinhas é a figura engraçada do avarento. Tem uma mansão onde toda a sua fortuna está guardada num imenso cofre. Há pensamentos persecutórios de que as pessoas vão cortar sua garganta e roubar seu dinheiro.
Tio Patinhas (Scrooge McDuck) – (Fonte: Google Imagens)
Uma das maiores características associadas aos personagens avarentos é a miséria, onde eles abdicam de outros prazeres, como o da luxúria, por exemplo, para acumularem bens. Assim vemos que na avareza – enquanto extravagância de um pecado – há também prazer, punição (ou privação) e comicidade!
Para terminar: se a avareza é, em si, um pecado acumulativo, pois se consubstancia pelo acúmulo de bens materiais, será também o pecado mais pecaminoso e, portanto, mais passível de punição?
Fontes primárias:
BIBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução: Centro Bíblico Católico. 34. ed rev. São Paulo: Ave Maria, 1982.
BRANDÃO, Junito. Dicionário Mítico-Etimológico. Petrópolis: Vozes, 1997, vol. 1.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. 2008. Trad. Rogério Fernandes. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio eletrônico: século XXI. Riode Janeiro: Nova Fronteira/Lexicon Informática, 1999.
FLUSSER, Vilém. A história do Diabo. São Paulo: Annablume, 2006.
FREUD, S. As transformações do instinto exemplificadas no erotismo anal. 1917. In: Obras psicológicas completas. Ed.Standard Brasileira (ESB). Rio de Janeiro: Imago, 1996, v. XVII.
JUNIOR, R. Os sete pecados capitais e o telejornalismo. VI Simpósio de Ensino de Graduação. São Paulo. 2008.
LE GOFF, Jacques. Pecado. em Enciclopédia Einaudi, Vol. XII por ROMANO, Roggerio. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1987.
ROCHA, Tereza. Os homens, o pecado e a misericórdia divina na Legenda Aurea (2ª Metade do Século VIII). São Paulo: Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH. 2011.
SARTRE, Jean Paul. Reflexões sobre a questão judaica. SãoPaulo: Europeia do Livro, 1963.
TESTA, Eliane. Lendo as representações do sagrado e do profano “No pão nosso de cada dia”, de Marcos Dutra. Revista Entreletras. nº 2. 2011.
Obra citada:
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. FEB, Rio de Janeiro, 1994.
Sites consultados:
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CONTEÚDOS DIVERSOS. In: Wikipédia: a enciclopédia livre. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org> Acesso em: 24 de Fevereiro de 2013.
CONTEÚDOS DIVERSOS. In: Google Images. Disponível em: <https://images.google.com> Acesso em 24 de Fevereiro de 2013.
QUAL A ORIGEM DOS SETE PECADOS CAPITAIS – Revista Mundo Estranho. Disponível em: <http://mundoestranho.abril.com.br/materia/qual-a-origem-dos-sete-pecados-capitais> Acesso em 24 de Fevereiro de 2013.
CAPUT. In: Dicionário de Latim. Disponível em: <http://www.dicionariodelatim.com.br/> Acesso em 25 de Fevereiro de 2013.