É bem verdade que eu sou do tempo que ter coleção de selos e de papéis de carta era prioridade na vida de meninas adolescentes. E também que ter diário – um caderninho com chave(e não página na internet pra todo mundo ter acesso) – era contar segredos só para você mesma e pra Deus(que tudo sempre soube).
Sou do tempo também que sonhar com o futuro era imaginar terminando a faculdade, ter um bom emprego, viajar o mundo.
O mundo mudou (é obvio). E a gente, junto, também vai mudando.
Até os “quereres” mudaram. E como mudaram.
Na contramão de muita coisa, de repente, me vejo, quase aos 40, querendo coisas absolutamente simples. Como nunca antes imaginei, no auge dos anseios mais ambiciosos da minha simples, mas feliz adole-juventude.
Sei que muito dos desejos são frutos da ausência. Se você nunca teve um carro, certamente sonhará com um carrão de luxo. Se não teve aquele tênis da vitrine, desejará um de marca conhecida/famosa, pouco acessível.?Se não teve a presença de alguém, tentará suprí-la de outra forma. Com mais abraços, mais sexo. Mais do que teve menos. E isso, a psicologia explica, com fundamento.
Mas, voltando aos quereres. Lembro de uma música, que eu costumava dedilhar, quando estava começando a aprender a tocar violão. “Ter uma casinha branca de varanda, um quintal e uma janela só pra ver o sol nascer”. O compositor retratava um desejo que, aparentemente, era por demais singelo, saudosista. Naquele tempo eu queria um pouco isso também.
As cidades cresceram, o êxodo rural se intensificou. Muita gente, sequer, sabe mais o que é um quintal. Nas maiores cidades, não há mais espaço para este lugar tão necessário das casas das nossas infâncias(nossas, para quem, como eu, nasceu na década de 1970, até meados de 1980).?E isso, quintal, eu ainda quero. Também quero a janela. Da minha casa, não dá para ver os primeiros raios de sol, ainda no alvorecer. Mas dá para observar quando o astro-rei surge no céu, azul-lindo, intenso de Palmas.
Eu quero, agora, ainda que no auge da minha juventude – ainda não fiz 40(como já disse antes), viver intensamente. Mas quero a tranquilidade da casa no campo, da música “Casinha Branca”. Ver os meus filhos brincando na grama ou na garagem. Perceber os raios do sol ou mesmo o brilho da lua, da minha janela.
E aí, nesta lista de quereres simples, quero a pamonha, o milho, o caldo, que lembra a fazenda(que eu não tive). Mas quero ainda mais, a companhia dos meus pais, dos meus irmãos, com seus filhos, sempre por perto.
Quero o barulho da nova infância, das minhas crianças que gritam com as descobertas deste novo tempo. Quero a vida se repetindo, mas sempre inovando. Quero o marido, que ama e diz.
Não quero mais o produto, como já quis muito. A casa, o carro, a viagem, a faculdade, o emprego. Sim, são importantes. Mas o que faz muita diferença, mesmo correndo o risco de ser óbvia, é a pessoa. Gente, faz a gente ser feliz.
Nota: Texto publicado originalmente no Blog da autora: www.jocyelmasantana.wordpress.com