Luiz Henrique Fernandes Coelho (Acadêmico de Psicologia) – lzhfernandes@rede.ulbra.br
A tapeçaria cultural da América Latina, tecida com os fios da diversidade e da resistência, apresenta um desafio contínuo à narrativa colonial que por muito tempo tentou homogeneizar suas cores vibrantes. A descolonização do pensamento, um processo vital para a reafirmação da identidade cultural, emerge como um campo de batalha onde o passado colonial e o presente pós-colonial se encontram. Bruno Simões Gonçalves, em sua análise perspicaz, nos convida a mergulhar nas profundezas da psique latino-americana, explorando as nuances de uma região que luta para se libertar das amarras de uma história marcada pela dominação e pela subjugação (BONTEMPI, et al 2022).
A conferência de Bandung, como Gonçalves aponta, foi um marco histórico que catalisou o movimento de descolonização, inspirando nações a reivindicar sua soberania e identidade (GONÇALVES, 2023). No entanto, a descolonização não se encerra com a obtenção da independência política; ela se estende à necessidade de descolonizar as mentes e as culturas que foram moldadas e, muitas vezes, distorcidas pelo colonialismo. A América Latina, neste contexto, enfrenta o desafio de desvendar sua identidade autêntica, uma identidade que reconhece e integra as múltiplas vozes de seus povos originários e de suas comunidades afrodescendentes.
O barroco latino-americano, segundo Gonçalves, é uma expressão artística que encapsula a resistência cultural da região. Ele não é simplesmente uma réplica do barroco europeu, mas uma reinterpretação enriquecida pelas texturas das tradições africanas e indígenas (GONÇALVES, 2023). Este barroco é um símbolo da capacidade de síntese cultural da América Latina, uma manifestação de como a arte pode servir como um veículo para a descolonização, celebrando a complexidade e a singularidade da experiência latino-americana.
Fonte: Imagem gerada por DALL·E
A língua, como Gonçalves enfatiza, é um elemento central na construção da identidade cultural. A imposição das línguas coloniais — o português e o espanhol — sobre as línguas indígenas e africanas é um reflexo do projeto colonial de apagamento e subordinação (GONÇALVES, 2023). A recuperação e a valorização dessas línguas originárias são atos de descolonização que permitem a expressão de uma identidade mais plural e fiel às raízes da América Latina. Gonçalves nos faz imaginar como seria a comunicação no continente se as línguas indígenas tivessem sido preservadas e misturadas com as línguas dos colonizadores, criando um mosaico linguístico que refletisse verdadeiramente a diversidade cultural da região.
A descolonização do pensamento, portanto, é um convite para uma viagem de retorno às origens, um processo de desaprender para reaprender, de questionar para entender. Gonçalves nos lembra que “a descolonização é um processo de cura, é reconhecer as feridas e trabalhar para cicatrizá-las” (GONÇALVES, 2023). A América Latina, com sua história de resistência e sua busca por autenticidade, está na vanguarda dessa jornada de cura, procurando formas de expressar sua identidade de maneira que seja inclusiva, justa e representativa de todos os seus povos.
A descolonização do pensamento na América Latina é um processo complexo e multifacetado que requer uma reavaliação contínua das heranças culturais, linguísticas e artísticas. Através das reflexões de Bruno Simões Gonçalves, somos convidados a participar ativamente deste processo, reconhecendo a riqueza e a complexidade da identidade latino-americana. Ao abraçar a diversidade e ao resistir à uniformização, a América Latina pode continuar a trilhar o caminho da descolonização, celebrando sua herança cultural única e forjando um futuro onde todas as vozes são ouvidas e valorizadas.
Referências:
BONTEMPI, Rhennan Mecca; CAMARGO NETO, Lauro de; ALVARADO, Hylma Élida dos Reis. BEM VIVER: MOVIMENTO ESTRUTURAL PARA O ESTUDO DECOLONIAL NA AMÉRICA LATINA. In: Conferência da Terra – fórum internacional do meio ambiente. Objetivos do Desenvolvimento Sustentável no Mundo Pandêmico. Evento Virtual, 23 a 26 de Novembro de 2022. TERRA: Objetivos do Desenvolvimento Sustentável no Mundo Pandêmico. ISBN: 978-65-87563-41-1, p. 80.
QUEM SOMOS NÓS? Pensamento Descolonial: Descolonização e decolonização, com Bruno Simões Gonçalves. [S.l.: s.n.], 13 fev. 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8HKVl1G3agI. Acesso em: 05 nov. 2023.