Desemprego – Uma Questão Capitalista Ou Tecnológica?

Com a industrialização, a formação da classe operária passou a representar a principal decorrência social do desenvolvimento das forças produtivas.  O processo de industrialização que até hoje está em marcha no terceiro mundo, foi inaugurado por uma série de mudanças tecnológicas, econômicas e sociais, induzidas pela revolução industrial, por volta de 1770 se disseminando nas primeiras décadas do século seguinte pelo continente europeu e pelos Estados Unidos. A partir de então a difusão dessas mudanças foi se ampliando incessantemente, até abarcar a segunda metade do século XX, quase todos os países.

O paternalismo é uma das tradições mais fortes de nossa história brasileira. Por séculos e séculos os senhores da casa grande usaram essa estratégia para poder continuar dominando. É mais fácil dominar pelo afeto do que pela força. Agora, a dominação pelo afeto, que é justamente o paternalismo e o assistencialismo, é a pior forma de dominação, porque usa o que existe de mais sagrado e íntimo na pessoa para escravizar, faturar política e economicamente (GUARESCHI E RAMOS, 2000, p. 29).

Singer (1994) coloca que do ponto de vista econômico, a Revolução Industrial acarretou um aumento contínuo e incrivelmente da produtividade de trabalho. Para ele, esse diferencial de produtividade se traduzia num diferencial de custos, onde quer que a produção estivesse organizada de modo capitalista. De modo que o proprietário de uma fábrica mecanizada podia vender seu produto a um preço muito menor do que o concorrente, e ainda ter uma margem muito maior de lucro. Tal assertiva só vem a confirmar que é nesse contexto que nasce a fábrica como organização e meio de produção, ressaltando que, em termos de produção, anteriormente a ferramenta de trabalho era o homem com sua força física (produção manufatureira), ou seja, o trabalho braçal. O que se configura hoje é transferência desse esforço braçal por uma força mecanicista (produção industrial). Por isso, a proletarização do produtor autônomo tornou-se inevitável.

Tal qual aconteceu no início do século XX, em que o indivíduo enfrentou a angústia de ser substituído pela máquina, ocorreu no final do mesmo século, só que o medo, se configura no indivíduo ser substituído pela tecnologia. Esse comportamento decorre da insegurança que o sujeito tem diante de novos cenários, nesse caso, novas formas de processos de automação na produção industrial.

Harman e Hormann (1997) colocam que no final do século XX o poder tecnológico das sociedades industriais assumiu proporções espantosas, com benefícios que impressionam. Nessa mesma direção, os autores verificaram que a maioria dos problemas atuais, críticos de ordem social e global são advindos, direta ou indiretamente, dos êxitos do paradigma industrial do Ocidente.

Dreyfuss e Gonçalves (1995) afirmam que tecnologia consiste em um conjunto integrado de conhecimentos, técnicas, ferramentas e procedimentos de trabalho, que pode ser manual, aplicados na produção econômica de bens e de serviços. Para clarificar, a nova tecnologia é utilizada em substituição a procedimentos anteriormente adotados numa empresa, podendo ser exemplificada pela mudança de procedimentos manuais para o uso de antigas máquinas sendo substituídas por computadores.

Assim sendo, Harman e Hormann (1997) abordam sobre o poder da tecnologia podendo ser tanto uma heroína como uma vilã dependendo apenas do ponto de vista, pois a tecnologia é um processo dinâmico de utilização de instrumentos, recursos, corpos e mentes para se alcançarem objetivos determinados pelos seres humanos. Sendo assim os avanços tecnológicos causam não só impactos no modo de vida como acarretam mudança social. Logo o problema nos dias atuais é que as microdecisões plenamente razoáveis segundo todos os critérios vigentes no passado vêm se transformando em macrodecisões indesejáveis. Em seu mais amplo sentido, isso constitui o dilema fundamental da sociedade contemporânea. Reconhecer este quadro é interromper a busca de alguém a quem culpar e começar a busca dos tipos de mudanças que fariam o processo tornarem-se de novo possível.

A tecnologia, por ser a geradora da mudança, abala os alicerces da sociedade, inclusive a conduta individual, problema que acaba colocando o indivíduo e às vezes a própria nação dentro de um clima de incertezas e ansiedades. […] Na sua dinâmica a tecnologia expressa, desenvolve e inova os valores culturais existentes, bem como interfere na conduta da sociedade com finalidade a marcar a interface da sua sustentação (OLIVEIRA, 1987, p. 20).

Justapondo esses dois posicionamentos percebe-se a convergência entre elas no sentido de que ao perpassar dos tempos a tecnologia altera não só o modo de vida como a cultura. Os valores invertem-se na medida em que o tempo exige. Deixam o alicerce da cultura social para a mudança geradora de angústia, ansiedade e incerteza que é nesse momento necessária para a sobrevivência.

Oliveira (1987) vem ainda colocar que o processo do trabalho estabelecido para a aquisição da tecnologia é do tipo aproximado àquele utilizado nas pesquisas e nos trabalhos da ciência aplicada, pois a tecnologia é a sua extensão.

Novas tecnologias vão sempre provocar mudanças no ambiente social da organização e é difícil imaginar alguma inovação tecnológica que pudesse ser introduzida na empresa sem provocar algum efeito. […] Considerando a amplitude dos conceitos de novas tecnologias e inovações tecnológicas usualmente adotados, é possível imaginar a enorme abrangência de seus efeitos, tanto do ponto de vista social, econômico, político e psicológico na realização do trabalho (DREYFUSS E GONÇALVES, 1995, p. 146).

Após a busca pela compreensão dessa temática tão atual, percebe-se que a questão do desemprego não é algo que acontece por um momento atual único. Os processos pelos quais reiteramos só vem a confirmar ou pelo menos elucidar que o desemprego é um problema histórico e que está longe de ser resolvido. Isso devido as configurações que se desenvolvem no que tange aos meios de produção. E, é certo que no decorrer dos tempos tal problemática foi se agravando pelas “necessidades” da vida atual. De acordo com Offe (1991) hoje nem o mercado de trabalho é suficientemente absorvente, nem as instituições e campos de atividades que viriam ao acaso para a absorção do mercado de trabalho tendo como conseqüência os mecanismos sociais de alocação, que distribuem a mão-de-obra não mais funcionando. Desse modo, afirma-se que, não há saídas disponíveis para o como se poderia trabalhar e também viver do seu trabalho, a mão-de-obra excedente continua a juntar-se onde também não encontra aplicação em escalas maiores e crescentes no mercado de trabalho.

 

Referências:

DREYFUSS, Cássio e GONÇALVES, José Ernesto Lima. Reengenharia das Empresas – passando a limpo. São Paulo: Atlas, 1995.

GUARESCHI, Pedrinho e RAMOS, Roberto. A Máquina Capitalista. Petrópolis: Editora Vozes, 2000.

HARMAN, Wilis e HORMANN, John. O Trabalho Criativo: o papel construtivo dos negócios numa sociedade em transformação. São Paulo: Cultrix, 1997.

OFFE, Claus. Trabalho e Sociedade: problemas estruturais e perspectivas para o futuro da sociedade do trabalho. Tradução: Gustavo Bayer e Margit Martincic. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1991.

OLIVEIRA, Roberto Xavier de. A Inovação na Indústria – Tecnologia e Administração. São Paulo: Ícone Editora, 1987.

SINGER, Paul. A Formação da Classe Operária. São Paulo: Atual, 2004.

Psicóloga. Doutora em Educação (UFBA). Mestre em Comunicação e Mercado (FACASPER). Especialista em Psicologia Clínica. Especialização em Gestão e Docência no Ensino Superior. Formação em Arte Terapia. Graduada em Publicidade e Propaganda (CEULP/ULBRA), em Ciências Sociais (ULBRA) e em Processamento de Dados (UNITINS). Coordenadora geral do Portal (En)Cena. Atualmente é professora e coordenadora do curso de Psicologia no Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA).  E-mail: irenides@gmail.com