Longe de ser um sinal de fraqueza, buscar ajuda psicológica é um ato de coragem e autocuidado. É investir na sua saúde mental, na sua capacidade de ser feliz e de se relacionar de forma mais saudável.
O dia do Psicólogo é celebrado no dia 27 de agosto. Essa data foi escolhida por remeter à data de regulamentação da profissão no Brasil através da Lei nº 4.119, de 1962 e não se refere apenas a uma formalidade: é o marco de reconhecer a relevância da Psicologia na sociedade e o impacto real da saúde mental e na vida de cada pessoa.
No dia a dia, cuidamos do corpo com exercícios e alimentação. Checamos a saúde em exames de rotina. Mas e a mente? Como cuidamos das nossas emoções, dos nossos pensamentos e dos pesos que carregamos sem perceber?
É aí que a Psicologia se revela não como um luxo, mas como um pilar fundamental da saúde integral. O psicólogo é o profissional qualificado para ser esse guia na jornada do autoconhecimento. Ele oferece um espaço seguro, sigiloso e livre de julgamentos.
No entanto, comumente usa-se o termo Psicologia no cotidiano com vários sentidos. As pessoas têm noção de um conhecimento da Psicologia, mesmo que superficialmente, e fazem uso não científico do termo, denominado de senso comum. (Bock et al, 2018). Muitas falas do cotidiano revelam um entendimento distante da Psicologia, como: “hoje eu tive de ser psicólogo no meu trabalho”; ou “às vezes me confundem com psicóloga e vivem me contando os problemas”, “lá em casa eu sei usar a psicologia”. Essas falas demonstram como ainda há desconhecimento sobre a Psicologia como ciência e a profissão. A popularização de imagens equivocadas — como “lê mentes”, “dá conselhos” ou “só vai ao psicólogo quem é doido” — reforça a necessidade de valorizar o que a Psicologia realmente é: ciência, estudo, técnica, ética e compromisso com a dignidade de quem sofre.
A Psicologia não é uma ideia genérica; quando falamos em Psicologia estamos nos referindo a um conjunto de saberes, regulamentados por lei, que exige formação universitária de cinco anos e registro nos Conselhos Regionais. É preciso compreender que o psicólogo é um profissional que utiliza técnicas e conhecimentos científicos, sempre defendendo a saúde mental e a subjetividade como fundamentos do cuidado humano.
Mas como é o trabalho de um psicólogo?
A prática clínica de atendimento individualizado é, sem dúvida, o trabalho mais conhecido da Psicologia e constitui um espaço onde se busca compreender sentimentos de medo, tristeza, ansiedade ou angústia; envolve desenvolver ferramentas para enfrentar desafios e adversidades; lidar com traumas e dores do passado; melhorar nossos relacionamentos (conosco e com os outros) e ainda, fortalecer a saúde mental e promover o bem-estar.
O exercício da psicoterapia possui diferentes “escolas de pensamento”, chamadas de abordagens que guiam o trabalho do psicólogo. Cada profissional deve escolher uma abordagem teórica a ser seguida e essa escolha envolve questões técnicas e também a forma como o profissional compreende o ser humano, sua visão de mundo e sua leitura do sofrimento psíquico e possibilidades de mudanças.
E entre as abordagens teóricas, cada uma tem suas especificidades e formas de compreender o sofrimento, aumentar o bem-estar e construir uma vida com mais significado. Não existe uma única “melhor” abordagem — existem maneiras diferentes de entender a mente e escolher o caminho que melhor acolhe cada pessoa.
Dentre as abordagens teóricas, destacam-se:
Psicanálise (Sigmund Freud): foca no inconsciente, conflitos internos e impulsos reprimidos; o terapeuta interpreta desejos e traumas através da fala em um ambiente de escuta profunda.
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC, Aaron Beck): pensamentos, emoções e comportamentos estão conectados; identifica distorções cognitivas e modifica padrões de pensamento para melhorar o bem-estar.
Psicologia Analítica (Carl Gustav Jung): vai além do inconsciente pessoal, explorando o inconsciente coletivo e arquétipos; busca a individuação para tornar a pessoa mais integrada e autêntica.
Humanismo (Carl Rogers): valoriza o potencial de crescimento humano; terapeuta é empático, acolhedor, presente no aqui e agora, favorecendo a liberdade e a congruência.
Sistêmica (Ludwig Von Bertalanffy): o sofrimento nasce de padrões relacionais e contextuais; foca nas interações em família, casais e grupos; trata o sistema como um todo, não apenas o indivíduo.
Gestalt (Fritz Perls): enfatiza o aqui e agora; o todo é maior que a soma das partes; busca integração e resolução de pendências para viver o presente plenamente.
Análise do Comportamento / Behaviorismo Radical (Skinner): psicólogo como cientista do comportamento; reforços e punições para modificar padrões observáveis; foco no ambiente e na funcionalidade do comportamento.
Dessa forma, vale dizer que escolher uma abordagem, implica em decidir como você quer compreender e intervir na experiência humana. Vale ressaltar que a Psicologia é um campo vasto e complexo, com várias teorias e linhas de pensamento, não apenas essas abordagens citadas acima.
A Psicologia se resume a clínica e a prática da psicoterapia?
A resposta é não. O papel do psicólogo vai muito além da prática clínica em consultórios. Essa é apenas uma das frentes de trabalho. A psicologia tem um papel social relevante com atuação em diversas áreas, como a educação, saúde, empresas, hospitais, esporte, grupos terapêuticos, avaliação psicológica e em políticas públicas, contribuindo para a sociedade em diversos níveis. Por essa razão, seria melhor falar em “PsicologiaS”, como destacou Bock, et al (2018).
Não é possível falar do dia do Psicólogo e importância da Psicologia sem destacar o papel do Conselho Federal de Psicologia – CFP e todo o sistema de conselhos formado por 24 Conselhos Regionais existentes em todo território nacional.
Ao longo dessas cinco décadas, o CFP tem demonstrado sua relevância e potência, posicionando o Brasil como o país com o maior número de psicólogas e psicólogos no mundo. É um Conselho atento às transformações do país e às transformações do fazer da profissão”, destaca o presidente do CFP, Pedro Paulo Bicalho. (CFP, 2023)
Este pequeno texto não comportaria abordar o tamanho do trabalho que o CFP tem desempenhado nos últimos anos como guardião da ética, da qualidade da formação e da prática profissional, entre outras defesas, como a Luta Antimanicomial, buscando a superação do modelo hospitalocêntrico e a ampliação dos serviços comunitários de saúde mental, como os CAPS. Além disso, o CFP se posiciona firmemente na defesa dos Direitos Humanos, combatendo todas as formas de opressão e discriminação, incluindo o racismo e a LGBTfobia. A entidade também luta pela promoção da saúde e qualidade de vida, defendendo a ciência e o acesso a serviços de qualidade. O CFP atua também, de forma estratégica em Políticas Públicas, buscando garantir a presença e a atuação de psicólogos no SUS, no SUAS e em outras áreas para promover a transformação social.
Enfim, neste Dia do Psicólogo, precisamos ir além de parabenizar os mais de 450 mil psicólogos e psicólogas do Brasil. Vamos lembrar da importância crucial desse profissional que dedicam suas vidas a ouvir, acolher e transformar outras vidas e trabalham na construção de uma sociedade mais empática, acolhedora e mentalmente saudável.
Referências:
BOCK, Ana Mercês Bahia, et al. Psicologias – 15.ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Jornal do Federal. Ano XXXIII, nº 118. Brasília – Dezembro, 2023
