Educação Socioemocional e Bem-Estar: Uma dupla imbatível

As habilidades socioemocionais são verdadeiras ferramentas para a vida

Por Débora Gerbase, Professora e Tradutora –  missgerbase@gmail.com

 

 

A Educação Socioemocional e o bem-estar são dois temas muito abordados ultimamente nas escolas. Embora possam parecer serem diferentes, eles estão extremamente ligados e trabalham mutuamente para converter a jornada educacional em algo verdadeiramente enriquecedor.

Além do conteúdo acadêmico, necessário para a aprendizagem dos alunos, existe um segredo sutil escondido entre as linhas do currículo escolar: as habilidades socioemocionais. Estas habilidades são aquelas que não ganham destaque nas provas ou nos livros, mas que são as verdadeiras ferramentas para a vida. Elas cooperam para que os alunos tenham mais sucesso, estabeleçam melhores conexões e usufruam do bem-estar naquilo que desejarem realizar.

Linda Lantieri e Daniel Goleman (2008) explicam que essas habilidades são o “elo perdido na educação”. Em seu livro “Building Emotional Intelligence”, eles destacam que a educação vai além do intelecto. Elas se referem à capacidade dos alunos em conseguirem compreender e controlar as emoções, trabalhar em equipe, construir relações sólidas, resolver conflitos e saber comunicar-se de forma clara, assertiva e eficaz, cruciais para uma vida plena, em uma sociedade em constante transformação.

O que é a Educação Socioemocional?

                                                                                Fonte: Pixabay.com

A educação socioemocional fortalece os alunos para enfrentar a vida acadêmica e profissional

 

O Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning (CASEL) descreve a aprendizagem socioemocional como:

 “o processo pelo qual todos os jovens e adultos adquirem e aplicam conhecimentos, habilidades e atitudes para desenvolver identidades saudáveis, gerenciar emoções e atingir metas pessoais e coletivas, sentir e demonstrar empatia pelos outros, estabelecer e manter relacionamentos positivos e tomar decisões responsáveis e cuidadosas” (CASEL, 2019).

Em outras palavras, ela é como a estrutura invisível que dá sustentação às pontes que construímos com os outros e nós mesmos. Ela propõe-se a ensinar ao aluno a lidar com a raiva, a tristeza, a empatia e a resiliência, fortalecendo-o para enfrentar os desafios que se apresentam em sua vida acadêmica e pessoal.

As “Habilidades do século XXI” foram agrupadas na Education For Life and Work (2012) em três domínios:

  • Habilidades Cognitivas: Capacidades mentais como pensamento crítico e criativo para resolver problemas e compreender conceitos complexos.
  • Habilidades Intrapessoais: Competências internas como autoconhecimento, autorregulação e resiliência para lidar com emoções e desafios pessoais.
  • Habilidades Sociais: Capacidades interpessoais para interagir eficazmente, expressar empatia, colaborar e construir relacionamentos saudáveis e produtivos

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As principais habilidades do século XXI são as cognitivas, sociais e intrapessoais

 

O que é bem-estar?

O bem-estar, nesse contexto, pode ser definido como um estado de harmonia e satisfação que abrange diversas dimensões da vida, incluindo: o emocional, o social, o físico e o psicológico. De acordo com o modelo PERMA, desenvolvido pelo psicólogo Martin Seligman (2012), o bem-estar é composto por cinco elementos essenciais: Emoções Positivas, Envolvimento, Relações Significativas, Sentido e Realização.

Como a Educação Socioemocional e o bem-estar se conectam?

Desta forma, a Educação Socioemocional e o bem-estar se conectam e se entrelaçam de maneira inseparável, como fios de uma mesma trama, em uma trilha de um terrenos desconhecido, explorada por um viajante. Para esta jornada, o viajante precisa estar equipado com as ferramentas essenciais para navegar pelas complexidades do mundo acadêmico e das relações intra e interpessoais. Esse encontro começa quando se percebe que a educação não é apenas um acúmulo de fatos, dos estudos, mas uma jornada de autodescoberta.

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A educação não é apenas um acúmulo de fatos, dos estudos, mas uma jornada de autodescoberta.

 

Por exemplo, no seu percurso de aprendizado, esse viajante carrega uma bússola interna, representando a autorregulação. Assim como um navegador habilidoso ajusta sua bússola para se orientar, a autorregulação capacita-o a ajustar sua mentalidade, mantendo-se no rumo certo mesmo diante dos desafios acadêmicos, emocionais, desafios interpessoais e autodescoberta.

À medida que o aventureiro avança, encontra outros viajantes que compartilham a mesma estrada, cada um trazendo consigo uma bagagem única de experiências. Aqui, a empatia atua como um guia silencioso, permitindo com que ele se coloque lugar dos outros ao enfrentarem desafios na sua jornada. A empatia, então, emerge como um elemento vital do bem-estar, nutrindo relacionamentos saudáveis e cultivando um ambiente de apoio mútuo.

Mas a jornada não é sempre fácil. Segundo Haim Ginott (1972): “As crianças são como navios; as águas tranquilas não as formam. São as tempestades.” E é aqui que entra a resiliência, outro pilar do bem-estar, como a mochila resistente do viajante. Ela abriga as ferramentas necessárias para enfrentar terrenos acidentados e tempestades emocionais com determinação e continue avançando, não apenas na estrada acadêmica, mas também na estrada da vida.

Quando o indivíduo domina as habilidades socioemocionais, é como se ele estivesse criando uma armadura de equilíbrio emocional. As pressões da educação e da vida não o derrubam facilmente, porque ele aprendeu a equilibrar o intelecto com o coração. Entretanto, dominar essas habilidades não acontece da noite para o dia. É preciso consistência e perseverança no ensino e na sua prática.

 

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Quando o indivíduo domina as habilidades socioemocionais, é como se ele estivesse criando uma armadura de equilíbrio emocional

Sendo assim, a Educação Socioemocional reflete-se no bem-estar, uma vez que o aluno se torna um viajante habilidoso, percorrendo sua trajetória da aprendizagem e pelas complexidades das emoções humanas. Tal como um explorador que acumula histórias valiosas em cada parada, o estudante coleciona habilidades que não apenas enriquecem sua jornada acadêmica, mas também tecem uma rede de bem-estar duradouro e que envolve sua mente, coração e espírito, para si mesmo e para o outro.

Nas encruzilhadas da educação, onde mentes jovens florescem, uma conexão profunda ganha vida. É uma jornada não apenas de conhecimento, mas de autodescoberta e equilíbrio emocional. Nesse enredo, a Educação Socioemocional e o bem-estar encontram-se como parceiros inseparáveis, tecendo a trama de vidas mais plenas e resilientes.

Biografia:

Débora Gerbase é uma professora e tradutora que atua nas áreas de inglês, português e português para estrangeiros. Atualmente, reside em São Paulo, onde concluiu sua formação em Letras – Tradução e Pedagogia e, posteriormente, obteve pós-graduações em Psicopedagogia e Formação de Docentes para o Ensino Superior.

Além de seu trabalho como educadora, Débora é autora dos livros “Sem pé nem cabeça – Expressões idiomáticas em português” e “Manual de Sobrevivência para o Professor Esgotado”, e coordenadora e coautora do livro “A realidade diversa na sala de aula: como lidar com a inclusão e a educação Socioemocional nas escolas” e coautora do livro “Alfabetização Bilíngue: benefícios e mitos na formação de crianças bilíngues”. Tem paixão pelo ensino e aprendizagem, bem como por seu compromisso com o sucesso de seus alunos.

Referências Bibliográficas:

CASEL. CASEL guide: Effective social and emotional learning programs—preschool and elementary school edition. Chicago, IL: Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning, 2019.

Education for Life and Work: Developing Transferable Knowledge and Skills in the 21st Century. National Research Council, 2012.

Fredrickson, B. L. The role of positive emotions in positive psychology: The broaden-and-build theory of positive emotions. American psychologist, 56(3), 218-226, 2001.

Goleman, D. Inteligência Emocional: A Teoria Revolucionária que Redefine o que é Ser Inteligente. Objetiva, 2012.

Ginott, H. Between Parent and Child: New Solutions to Old Problems. Macmillan, 1972.

Greater Good Science Center. Student Well-Being: Practices for cultivating the social, emotional, and ethical well-being of students. Disponível em: https://ggie.berkeley.edu/student-well-being/. Acesso em 26 ago.2023.

Lantieri, L., & Goleman, D. Building Emotional Intelligence: Techniques to Cultivate Inner Strength in Children. Sounds True, 2008.

Seligman, M. E. P. Florescer: Uma Nova Compreensão sobre Felicidade e Bem-Estar. Editora Objetiva, 2012.