Hoje o mundo amanheceu mais triste. A tragédia que aconteceu na boate em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, estampou todos os noticiários desde ontem, abalando o país. Por todos os lados, não se fala em outra coisa. O incêndio que matou mais de 240 pessoas e deixou centenas feridas, física e psicologicamente, foi uma catástrofe, humana, de grandes proporções.
Diferentemente das catástrofes naturais, o incidente foi um fenômeno que combinou as marcas do capitalismo voraz com um liberalismo econômico e político. Um capitalismo que prioriza os valores, financeiros, que fique claro. As portas da boate foram fechadas, mesmo sob o conhecimento de que havia um incêndio. Esperavam que os clientes pagassem a conta antes de sair. E centenas deles pagaram, com a vida.
Um capitalismo que prioriza o lucro, em detrimento das pessoas, e de sua segurança. Não haviam saídas de emergência. Por onde esperavam que as pessoas saíssem em caso de força maior? Isso não era importante. O mais importante é que a casa estivesse cheia, e o bar funcionasse a todo vapor.
Os disciplinadores, na porta da boate, que serviam para manter todos na fila, dóceis e organizados, ao bel prazer dos proprietários do estabelecimento, se tornaram mais um obstáculo para que as pessoas pudessem se salvar.
Marcas de um capitalismo que privilegia o espetáculo, a despeito das suas consequências. Como não supor que o uso de fogos de artifício poderia não terminar bem? Mas todo e qualquer recurso era útil para tornar o show mais atrativo. Quanto mais animado o público estivesse, melhor.
Aliado a este aparente caos, para reforçar a ideia de que tudo está sem controle, há um liberalismo, sobretudo político. O governo fecha os olhos. Não só para as casas de show, mas todo tipo de entretenimento. Como o alvará de funcionamento estava vencido desde agosto? Não só em Santa Maria, mas por todo o país, há uma ausência de total de fiscalização e legislação.
Fica claro que o acontecido, ainda que se trate de um “acidente” foi fomentado pela lógica capitalista baseada no consumo e na produção de desejos, e pela negligência, sempre crescente, do poder público. É evidente que quando a produção e a direção da economia não são planejadas, quando não há regulação por parte do governo, muitas incoerências e contradições internas se criam. Às vezes com efeitos devastadores.
Nota: a fotografia utilizada na chamada do texto foi retirada do site http://noticias.uol.com.br