Imagine uma pessoa idosa. Quais são seus traços? O que ela faz no dia a dia? Onde ela vive? E seus sonhos, quais são? Provavelmente, algumas das características imaginadas são fruto do desenvolvimento previsível da vida; outras, talvez sejam representações sociais do que seja alguém mais velho em uma determinada cultura e momento histórico.
No curso do desenvolvimento humano, é esperado da vida adulta tardia mudanças específicas dessa fase, como: físicas (pele menos elástica e cabelo mais fino), cognitivas (declínio na velocidade de processamento de informações, porém mais ativação na atividade cerebral pré-frontal, ou seja, decisões mais lentas, mas melhores) e nas funções sensoriais e motoras (mais sensibilidade à luz, perda da força muscular e da flexibilidade) (Papalia; Martorell, 2022).
Já outras características podem derivar das representações sociais, sendo “teorias sobre saberes populares e do senso comum, elaboradas e partilhadas coletivamente, com a finalidade de construir e interpretar o real” (Oliveira; Werba, 2013). Possivelmente, muitas delas alimentadas por estereótipos ao enxergar as pessoas idosas como fracas, sexualmente inativas, resistentes a mudanças e tecnologicamente incompetentes (Opas, 2022). Esse preconceito tem nome, chama-se idadismo.
O idadismo, conhecido também como etarismo e ageismo, consiste nos “estereótipos e discriminação contra indivíduos ou grupos com base em suas idades” (OMS, 2015). Ele possui “três dimensões – estereótipos (pensamentos), preconceitos (sentimentos) e discriminação (ações ou comportamentos); três níveis de manifestação – institucional, interpessoal e contra si próprio; e duas formas de expressão – explícito (consciente) e implícito (inconsciente)” (Opas, 2022).
Os impactos psicológicos do idadismo são constatados por várias pesquisas condensadas em estudo de Cervera e Schmidt (2022), a exemplo: redução do desempenho cognitivo, diminuição da vontade de viver, sentimento melancólico, estresse, perda de laços sociais e dúvidas sobre sua própria possibilidade de realização.
Fonte: https://encurtador.com.br/Cuaua
Felizmente, na contramão de representações sociais baseadas em preconceitos, há muitas histórias de pessoas idosas prontas para serem ouvidas, auxiliando a atualizar ou refazer o conceito de envelhecimento. A escritora brasileira Conceição Evaristo, 77 anos, começou a publicar seus textos aos 44 anos, estando hoje em um dos momentos de mais reconhecimento na carreira (Borges, 2020), a gamer Doris Self, 81 anos, foi recordista mundial no jogo Twin Galaxies (Sodré, 2015); Yuichiro Miura subiu o Everest aos 80 anos (Sodré, 2015); Tolkien tinha 60 anos quando publicou O senhor dos Anéis (TAG, 2018).
Então, sim, pode ser gamer, escritora, alpinista e muito mais depois dos 60 anos. Cabe a cada um, individualmente e enquanto sociedade, refletir sobre o que fundamenta seu pensamento quando imagina uma pessoa idosa, observar seus comportamentos e repensar as relações com o processo de envelhecimento do outro e de si próprio.
REFERÊNCIAS:
BORGES, Luciana. 7 escritoras que começaram carreira na maturidade e estão entre as mais poderosas do mundo. Marie Claire, São Paulo, 8 out. 2020. Disponível em: https://revistamarieclaire.globo.com/idade-sem-tabu/noticia/2020/10/7-escritoras-que comecaram-carreira-na-maturidade-e-estao-entre-mais-poderosas-do-mundo.html Acesso em: 20 set. 2024.
CERVERA, Daniel Mateus de Barros; SCHMIDT, Maria Luiza Gava. (2022). Impactos psicológicos do ageismo em idosos e estratégias para prevenção: estudo de revisão. Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, 11, e4349. Disponível em: https://www5.bahiana.edu.br/index.php/psicologia/article/view/4349/4752 Acesso em: 20 set. 2024.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). World report on ageing and health (Relatório mundial sobre envelhecimento e saúde). Genebra: Organização Mundial da Saúde, 2015. Disponível em: https://iris.who.int/bitstream/handle/10665/186463/9789240694811_eng.pdf?sequence=1. Acesso em: 20 set. 2024.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE (OPAS). Global report on ageism (Relatório mundial sobre o idadismo). Washington, D.C.: OPAS, 2022. Disponível em: https://iris.paho.org/handle/10665.2/55872. Acesso em: 20 set. 2024.
OLIVEIRA, Fátima O. de; WERBA, Graziela C. Representações sociais. In: JACQUES, Maria da Graça Corrêa et al. (Orgs) Psicologia Social Contemporânea. Livro-texto. 21ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. E-book.
PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Richard D. Desenvolvimento humano. Tradução: Francisco Araújo da Costa. 14. ed. Porto Alegre: Artmed, 2022.
SODRÉ, Raquel. 6 conquistas incríveis feitas por pessoas idosas. Super Interessante, São Paulo, 5 out. 2015. Disponível em: https://super.abril.com.br/coluna/superlistas/6-conquistas incriveis-feitas-por-pessoas-idosas Acesso em: 20 set. 2024.
TAG Livros. 10 escritores que tiveram sucesso tardio. Porto Alegre, 1 nov. 2018. Disponível em: https://www.taglivros.com/blog/10-escritores-que-tiveram-sucesso-tardio/ Acesso em: 20 set. 2024.
Autores: Rafaela Mariene Teza Mazzola e Luiz Gustavo Santana.