Estratégias de Educação Alimentar e seu Impacto no Desempenho Escolar no Contexto Brasileiro
Fernanda Iunes – drafernandaiunes@gmail.com
A interação entre alimentação e desempenho escolar é um campo de estudo significativo que abrange várias disciplinas, incluindo nutrição, psicologia educacional e saúde pública. Nutrientes essenciais como vitaminas, minerais, proteínas e carboidratos são cruciais para o desenvolvimento cerebral. Uma nutrição inadequada pode levar a deficiências cognitivas, afetando a memória, a atenção e a capacidade de resolver problemas. Segundo Benton (2008), deficiências nutricionais, especialmente durante fases críticas de desenvolvimento, estão relacionadas a atrasos no desenvolvimento da linguagem e dificuldades de aprendizagem.
O papel do café da manhã na melhoria do desempenho acadêmico também é notável. Adolphus et al. (2013) demonstraram que o consumo regular de um café da manhã nutritivo está associado a um melhor desempenho em tarefas escolares que exigem atenção e habilidades de memória. Essa refeição fornece energia e nutrientes essenciais após o jejum noturno, sendo fundamental para a manutenção da função cognitiva durante o dia.
Por outro lado, padrões alimentares não saudáveis, como o consumo excessivo de alimentos processados ricos em açúcares e gorduras, mas pobres em nutrientes, estão relacionados a um desempenho escolar inferior. De acordo com Florence et al. (2008), esses hábitos podem resultar em problemas de concentração, hiperatividade e comportamentos disruptivos, que são prejudiciais ao aprendizado e ao desempenho acadêmico.
Intervenções nutricionais nas escolas, como a oferta de refeições equilibradas e programas de educação nutricional, têm mostrado resultados positivos. Murphy et al. (1998) observaram que a disponibilização de um café da manhã balanceado nas escolas está vinculada a melhorias no desempenho acadêmico e no bem-estar psicológico dos alunos. Tais intervenções são especialmente valiosas em comunidades carentes, onde os alunos podem não ter acesso regular a alimentos nutritivos.
A relação entre alimentação e desempenho escolar tem sido amplamente estudada no Brasil, com foco na educação alimentar e nutricional como estratégia para promover hábitos alimentares saudáveis. Uma revisão de literatura realizada sobre estudos de intervenção no campo da educação alimentar e nutricional em escolares no Brasil, entre 2000 e 2011, apontou melhorias no conhecimento em nutrição e nas opções alimentares dos alunos. No entanto, a maioria dos estudos que realizaram avaliação antropométrica não encontrou mudanças significativas no estado nutricional dos estudantes. Os estudos tendem a adotar metodologias baseadas em estudos epidemiológicos de intervenção, indicando a necessidade de abordagens mais inovadoras em educação em saúde e modelos de pesquisa adaptados aos objetos de estudo (Santos et. al., 2012).
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Além disso, foi desenvolvida uma série de materiais de apoio para profissionais de educação e de saúde, visando integrar a educação alimentar e nutricional ao currículo de educação infantil e ensino fundamental. Esses materiais se baseiam em uma matriz de temáticas de alimentação e nutrição, promovendo atividades educativas que oportunizam uma abordagem ampliada sobre alimentação e nutrição, integradas de forma transversal ao currículo. Essa iniciativa fortalece as ações de educação alimentar e nutricional no âmbito escolar, contribuindo para a ampliação do repertório dos educadores sobre a temática e sua inclusão no currículo de forma cotidiana e transversal (Gubert, 2013).
No contexto global, a alimentação escolar é reconhecida como uma política importante para o desenvolvimento infantil, apoiando a nutrição adequada e aprimorando as habilidades cognitivas dos estudantes, além de contribuir para a diminuição da evasão escolar. O ambiente escolar é visto como um espaço estratégico para a promoção da segurança alimentar e nutricional (SAN) entre os estudantes, possibilitando o fornecimento de refeições e a formação de hábitos alimentares saudáveis. Globalmente, 169 países fornecem alimentação escolar a cerca de 368 milhões de estudantes, com a Índia, Brasil e Estados Unidos liderando em número de beneficiados (Silva, 2012).
No Brasil, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é regulamentado pela Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, e pela Resolução nº 26, de 17 de junho de 2013, do Fundo Nacional de Desenvolvimento e Educação (FNDE). O PNAE visa garantir a todos os estudantes matriculados em escolas públicas e entidades filantrópicas uma alimentação adequada e saudável, contribuindo para o crescimento, desenvolvimento biopsicossocial, aprendizagem, rendimento escolar e a formação de hábitos alimentares saudáveis, por meio de ações de educação alimentar e nutricional e da oferta de refeições que atendam parte das necessidades nutricionais dos estudantes durante o período letivo (Pepe, 2012).
Esses estudos e iniciativas demonstram a importância da alimentação escolar na promoção da saúde, do bem-estar e do desempenho acadêmico dos estudantes, enfatizando a necessidade de políticas públicas e práticas educacionais que integrem a nutrição ao ambiente escolar.
REFERÊNCIAS
- BENTON, D. (2008). The influence of dietary status on the cognitive performance of children. Molecular Nutrition & Food Research, 52(4), 457-470.
- TARAS, H. (2005). Nutrition and student performance at school. Journal of School Health, 75(6), 199-213.
- ADOLPHUS, K., Lawton, C. L., & Dye, L. (2013). The effects of breakfast on behavior and academic performance in children and adolescents. Frontiers in Human Neuroscience, 7, 425.
- Florence, M. D., Asbridge, M., & Veugelers, P. J. (2008). Diet quality and academic performance. Journal of School Health, 78(4), 209-215.
- MURPHY, J. M., Pagano, M. E., Nachmani, J., Sperling, P., Kane, S., & Kleinman, R. E. (1998). The relationship of school breakfast to psychosocial and academic functioning: Cross-sectional and longitudinal observations in an inner-city school sample. Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine, 152(9), 899-907.
- SANTOS, L. M. P. dos; GOMES, F. S.; SOUZA, A. M. de; SANTOS, S. M. C. dos; SANTOS, L. A. dos; SANTOS, C. L. F. dos. Educação alimentar e nutricional em escolares: uma revisão de literatura. Revista Brasileira de Epidemiologia, São Paulo, v. 15, n. 3, p. 605-615, set. 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v15n3/16.pdf. Acesso em: 5 dez. 2023.
- GUBERT, M. B.; SOUSA, D. A. de. Proposta de educação alimentar e nutricional integrada ao currículo de Educação Infantil e Ensino Fundamental. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 18, n. 4, p. 1153-1162, abr. 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v18n4/v18n4a33.pdf. Acesso em: 5 dez. 2023.
- SILVA, D. O. da; RECINE, E.; BRASIL, B. G. de M.; GOMES, R. C. F.; SCHMITZ, B. A. S. Alimentação na escola e autonomia: desafios e possibilidades. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 91-98, jan. 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n1/12.pdf. Acesso em: 5 dez. 2023.
- PEPE, M. S. V. E.; ARAÚJO, M. L. G. de; O’CONNOR, T. M. Alimentação Escolar no Brasil e Estados Unidos: uma revisão integrativa. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n. 5, p. 1273-1284, maio 2012. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n5/25.pdf. Acesso em: 5 dez. 2023.