Manejo clínico dos transtornos de ansiedade pelo olhar da Gestalt-terapia

Gustavo Vinicius Martins Leal – Psicólogo clínico- gestalttocantins@gmail.com- Instagram: @gestalttocantins

 

A Gestalt-terapia (GT) é uma abordagem em psicologia, que se encontra no que é conhecido como “terceira força em psicologia”. Sua compreensão de ser – humano se baseia nas filosofias humanistas e existencial-fenomenológico, ou seja, acredita que cada pessoa possui em si um potencial positivo, capacidade e responsabilidade de lidar com as consequências das suas escolhas de vida.

Do ponto de vista evolutivo, a ansiedade é uma resposta que ocorre na interação organismo-ambiente, que ocorre no momento em que o mundo é percebido como hostil ou ameaçador. De forma prática, a ansiedade é um mecanismo de sobrevivência. Entretanto, a ansiedade pode ser engatilhada mesmo em situações onde a ameaça ou perigo estejam ausentes. Isso pode levar a episódios excessivos ou crônicos de ansiedade.

Diferente das ciências médicas, principalmente por causa de sua compreensão fenomenológica, a GT não compreende a ansiedade como uma patologia. Para a psicopatologia tradicional, a ansiedade é um mal a ser erradicado, já para a GT, a ansiedade é um impulso, uma resposta a ser compreendida e que pode contribuir para o próprio crescimento da pessoa (Pinto, 2017).

Fonte: Imagem retirada do site Pixabay

A GT compreende que a ansiedade surge quando existe um conflito entre o “novo” e o “velho”. Quando o organismo não possui suporte para “assimilar” a novidade no ambiente, ela vai “sufocar” esse conflito com a finalidade de preservar o seu funcionamento diante uma situação que, para ele, pode parecer ameaçadora para sua existência. (Perls, Hefferline e Goodman, 1997).

Para Perls (1977), a ansiedade pode ser também uma preocupação, uma fantasia catastrófica em relação ao futuro. Para o autor:

“uma pessoa apenas acredita que não dispõe de recursos. Ela apenas impede a si mesma de usar estes recursos conjeturando uma porção de expectativas catastróficas. Ela espera alguma coisa má do futuro. … Nós temos todas essas fantasias catastróficas pelas quais nos impedimos de viver, de ser. Estamos continuamente projetando no mundo fantasias ameaçadoras, e estas fantasias nos impedem de assumir riscos razoáveis que são parte e parcela do crescimento e do viver.” (Perls, 1977, p 63)

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A ansiedade pode ser vivenciada quando a pessoa imagina que não tem ou recursos para lidar com determinada situação (Pinto, 2018). Neste sentido, a GT busca ajuda a pessoa a se tornar mais consciente de suas próprias capacidades e de suas potencialidades positivas, assim, ela pode aprender a confiar o suficiente em si mesma, se permitir “correr o risco” e com isso, assimilar a experiência vivida que contribuirá para seu crescimento.

A GT enfatiza a importância de compreender a experiência “aqui-agora”. E com base na fenomenologia, deixamos de lado o “porquê” e nos preocupamos mais com o “como” e “o que”. Neste sentido,  o foco gestalt-terapeuta é compreender como a pessoa experiencia a ansiedade no momento presente e o que ela tem de recurso para lidar com a ansiedade. A tentativa é de fazer com que o cliente pare de evitar a novidade ou reprimir a ansiedade, que aceite-a e se torne mais consciente dos padrões de comportamento que o impedem de crescer.

Por fim, GT enfatiza a importância de assumir a responsabilidade pela própria ansiedade e a necessidade de se envolver ativamente com o ambiente para criar um senso de conexão e integração. Isso pode envolver enfrentar medos, estabelecer limites e assumir riscos para se envolver totalmente com o mundo e superar a ansiedade.

 

Referências:

Em  L. M. Frazão, K. O.Fukumitsu (orgs), Quadros clínicos disfuncionais e Gestal-terapia (pp. 93-115). São Paulo: Summus Editorial

Disponível em: https://www.eniobritopinto.com.br/wp-content/uploads/2019/02/2018-Ansiedade-e-vida-consagrada.pdf

Perls , F.  S. Gestalt-terapia Explicada (Gestalt therapy verbatim). São Paulo: Summus.

Perls, F. S.; Hefferline, R.; Goodman, P (1997). Gestalt-terapia. São Paulo: Summus.

Pinto, E. B. (2018). Ansiedade e vida consagrada, apontamentos de um psicoterapeuta.

Pinto, E. B. (2017). A ansiedade e seus transtornos na visão de um Gestalt-terapeuta.