Menopausa: rompendo o silêncio sobre uma fase natural da vida feminina

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Falar sobre menopausa ainda é um desafio. O tema tem ganhado espaço no meio científico e entre mulheres 40+, mas não há diálogo de forma natural e acessível sobre essa fase da vida com todas as mulheres, em diferentes idades. Diferente da puberdade e da gravidez, que costumam ser tratadas com naturalidade e, em muitos casos, até com entusiasmo, este período continua cercado de silêncio e tabus. Essa forma de encarar uma etapa natural da vida pode trazer peso e solidão para quem vivencia, gerando a sensação de que seus sintomas emocionais e físicos são invalidados, além de dificultar partilhas de suas experiências. 

Por isso, romper o silêncio inclui também educar companheiros, familiares e amigos, pois somente assim será possível construir redes de apoio sólidas, capazes de acolher e fortalecer durante essa transição. A verdade é que todas, em algum momento, passaremos pelo climatério e, quanto mais cedo começarmos a conversar e compreender essa fase, mais preparadas estaremos para enfrentá-la de forma leve, consciente e menos sofrida.

Mas, afinal o que é a menopausa? Trata-se de uma das três etapas do climatério, que geralmente ocorre entre os 45 a 55 anos das mulheres. Entendida também como uma transição neuroendócrina, 44 anos marca a redução progressiva, ainda que não linear, da função dos ovários, responsáveis pela produção de estrogênio, progesterona e testosterona. As outras duas etapas do climatério são a perimenopausa (que antecede a menopausa) e a pós-menopausa (fase posterior, em que alguns sintomas se estabilizam, mas os riscos de comprometimentos podem aumentar).

Hoje, a ciência reconhece que existem mais de 70 sintomas diferentes associados ao climatério, em grande parte decorrentes das oscilações hormonais. É, de fato, uma verdadeira montanha-russa hormonal, que pode provocar desde ondas de calor até fadiga mental. Nem todas as mulheres sentem esses sintomas de forma intensa, mas todas passam por essa transição. Muitas relatam dificuldade em se reconhecer diante das mudanças físicas, emocionais e cognitivas.

Pesquisas como as da Dra. Lisa Mosconi, cientista e autora do livro O cérebro e a menopausa, mostram que a queda do estrogênio pode reduzir em até 30% a energia do cérebro após a menopausa, causando a chamada “névoa mental” ou fadiga mental, responsável por desconforto, confusão e irritabilidade nas mulheres. Após essa fase de constante instabilidade, chega a pós-menopausa, quando esses sintomas tendem a diminuir. Ainda assim, a busca por acompanhamento profissional e mudanças de hábitos é essencial, pois o impacto dessa fase vai além da saúde física, atingindo também relações, autoestima, produtividade e saúde mental. Nesse contexto, informação torna-se uma ferramenta poderosa de empoderamento.

No Brasil, cerca de 30 milhões de mulheres estão passando pela perimenopausa ou menopausa. Vale destacar, ainda, que essa é a única fase da saúde feminina sem política pública estruturada. Há, no Brasil, o Instituto Menopausa Feliz que tem lutado para mudar esse cenário, e já existem iniciativas, como manuais lançados pelo SUS, e em alguns estados a oferta de terapia de reposição hormonal, no entanto, esse tratamento ainda não é acessível a todas. Cabe aos estados reconhecerem que discutir menopausa é discutir qualidade de vida e saúde mental.

Além do tratamento médico, hábitos como boa alimentação, prática regular de atividade física e suporte emocional são aliados poderosos para atravessar esse processo com mais leveza. Normalizar a menopausa é um ato de cuidado entre as mulheres. Quanto mais falamos sobre ela, mais mulheres terão a chance de viver essa transição de forma consciente, com mais leveza e dignidade.

Referências

MENOPAUSA: o que dizem os cientistas sobre a terapia hormonal. Fantástico, TV Globo, Rio de Janeiro, 17 ago. 2025. Reportagem (16:44 min).

Souza, Natália;  Araújo, Cláudia. Marco do envelhecimento feminino, a menopausa: sua vivência, em uma revisão de literatura. Revista Kairós Gerontologia,  São Paulo, pp. 149-165, 2015.

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